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domingo, 31 de janeiro de 2016

SOBRE APRENDER A SER MÃE OU PAI


Tenho aprendido muito com minha vida em família e olhando para a vida da minha família e de meus amigos, colegas e também observando o modo como as coisas funcionam na vida real e não na vida idealizada de propagandas e aparências. Por conta disto tenho reavaliado muitas coisas. Um dia eu me vi pensando sobre como se aprende a ser um bom pai ou como se aprende a ser uma boa mãe. E esta pergunta não era por um manual nem por um guia de regras sobre tal coisa, mas sobre os sentimentos que deveriam guiar um bom pai. Imagino que deve ter uma tonelada de confissões, considerações, tormentos e sofrimentos sendo despejado em diversos lugares sobre isto.

Basicamente porque muita gente de verdade não consegue ser tudo isso que esperam deles nem sabe muito bem como ser tal ou qual pai ou mãe ideal. Há uma idealização excessiva sobre isto. E minha intuição me diz que toda vez que temos idealização excessiva sobre algo é uma boa atitude simplificar e tentar achar um fio da meada para começara tratar de tal coisa de forma concreta e objetiva. Além disso, deve ser uma boa orientação dissipar na discussão e na abordagem todas as nuvens emocionais, todas as culpas e rancores e também qualquer medida de excessiva apreciação ou crítica, porque não é de barbada e nem molezinha ser pai ou ser mãe mesmo. E a pergunta também vale para a mãe da gente ou a mãe de nossos amigos. que a real é acabar de vez com a culpa de quem não consegue ser mãe e nem pai...

Minha aluna que mais debate estes assuntos comigo me perguntou:  Quando tu fala "não consegue ser mãe e nem pai" tu tá falando sobre infertilidade ou sobre não querer e não se sentir bem sendo mãe ou pai? Bem, o problema é o último caso...

Pois, em geral podemos perceber que a gente vive numa cultura idiota que acha que toda mulher tem que ser mãe perfeita e todo homem pai perfeito e a realidade é outra. Pois, mesmo que tomemos os exemplos de nossos pais em mães, leia manuais de auto ajuda e tenha boas dicas aqui e ali, não se ensina isso e nem sempre se aprende isso. Os filhos são diferentes também e nem tudo que dá certo com uns dará certo com outros. Assim, quando as coisas dão errado e em alguns casos elas podem dar, o stress e a culpa em torno disso só piora as coisas para a gente que é pai ou mãe e para os filhos. Penso que quando a gente entende isso para de ficar esperando certas coisas dos velhos e dos novos também.

E isto envolve algo muito importante que é aprender a perdoar também e entender que não é porque eles não conseguem fazer isto ou aquilo, ou que não conseguiram, que eles não nos amam ou que não tenham tentado e simplesmente sucumbido na tarefa ou em sua disposição.

A cultura em que a gente vive nos coloca na cabeça o tempo inteiro o quanto seremos infelizes ou incompletos se não tivermos filhos. E eu não acredito que seja assim. E eu confesso que amo ser pai - adoro ver a criança crescendo, mas isso sou eu, que mesmo assim tenho minhas limitações e não crio minhas duas filhas comigo.

Mas tem também pessoas que pensam diferente, e isso não é errado. Tem pessoas que não conseguem lidar com os filhos que não somente se distanciam dos filhos, mas sequer conseguem manter uma relação constante com eles. Alguns tem problemas materiais e outros tem, apesar da abundância  de recursos, suas próprias dificuldades. 

Um outro exemplo, bem - eu amo ser professor. Esta é a profissão que eu escolhi. Mas eu também sei que poderia ter dado errado, que eu poderia não conseguir ser um professor e ter prazer com esta atividade e saber lidar com seus cavacos, dificuldades e com eventuais situações que fogem a minha formação para tal.

E não é fácil mesmo. Tanto ser pai como ser professor – e estou dando estes exemplos aqui porque são os meus, poderiam aparecer muitos outros exemplos de atividades difíceis nesta vida. E as dificuldades ou problemas são possíveis com toda preparação ou boa disposição que você tiver. Eu vejo que muitas vezes tem que ver com uma fase ou situação ou vibe da vida da gente. Nem sempre um projeto ou um desejo se realiza e em outros casos outras coisas intervém   nisto. Veja e pensa imagina a mina ou o cara que quer só transar – só pensa nisto durante uma fase da vida, em encontrar prazer, e dai vira pai e tem que ser certinho. Não tem esta garantia mesmo. Ele pode tentar com todas as forças, mas pode não conseguir. Não porque o filho é mais desejado ou não, mas simplesmente porque as operações e as ações não são só palavras ou um vocabulário que a gente passa a adquirir porque surge uma outra condição. Então, segura a onda meu amigo e  minha amiga, vai com calma, porque nada e que nada bem grande é este aqui, vai garantir uma boa paternidade ou maternidade. Você  deve tentar, você vai tentar, mas não vai conseguir sempre 

Como disse minha aluna: Às vezes eu penso que seria legal ter filho/a pra ensinar um monte de coisa legal pra ele/a. Mas ao mesmo tempo eu não sinto vontade alguma de ser mãe algum dia.

E eu digo para ela que isso talvez tenha uma hora na vida dela e que se for legal ela também pode aprender. Digo que eu acho uma coisa sobre isto eu tenho filhas e não sou casado com as mães delas, mas eu adoraria amar uma pessoa muito e ter filhos com ela - mas hoje isso me parece uma idealização brutal tipo MISSÃO IMPOSSÍVEL ou OBRIGAÇÃO DE DAR CERTO ou aquela OBRIGAÇÃO DE SER FELIZ não é assim que funciona. Todos estes canais não são tão fáceis de sintonizar ao mesmo tempo.

Minha aluna responde: Eu acho que essa obrigação de ser feliz tá sendo cada vez mais desconstruída nos dias de hoje. Não obrigação de ser feliz, mas a obrigação de estar com alguém.

Sim, eu respondo, esta obrigação e todo o resto.

Eu diria – sem forçar demais e nem querendo generalizar - que vivemos uma grande libertação ou que, pelo menos, alguns de nós vivem isto melhor. Mas que tem muita gente boiando ou pegando isso em pedaços, em partes e mal consegue ver o todo deste processo.
Ao ver em partes entende um lado e não os outros.

Ela me diz; Eu conheço meninas até mais novas que eu que ainda se sentem na necessidade de estar sempre com alguém, ou não conseguem ficar sozinhas.

E eu respondo: Mas eu acho que estamos caminhando pra geração que não terá essas obrigações e cobranças, culpas e condenações a ser isso ou aquilo, assim ou assado.

Sim - mas alguns outros obstáculos temos pela frente e são muitos.


FIM

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