A investigação filosófica tem sim
muitas peculiaridades. Algumas delas são técnicas, temáticas e outras são
retóricas ou estilísticas. Não há um modelo ou paradigma por excelência da
argumentação filosófica. Seus modelos não são tão compartilhados assim e mesmo
em algumas correntes em que há um grande elogio a clareza, objetividade ou
concisão, ou a uma separação entre argumentação filosófica e texto literário
isso já foi razoavelmente superado.
Eu creio que há uma ideia em geral corrente de
que filosofia só se faz em meio a debates técnicos, com jargão especializado ou
mesmo dentro de um regime predeterminado de questões, soluções alternativas e
uma agenda comum de problemas que devem ser dominados, tratados e mesmo
abandonados em uma prateleira de problemas sem solução. Porém isso não
sobrevive ao que tem sido feito com filosofia por ai não. Mas não há um discurso
filosófico por excelência muito menos a linha de divisão de reflexão
filosófica, discurso científico e literatura ou poesia não é mais tão nítida
assim. Há, para resumir a questão aqui, arte na reflexão filosófica, e muita
reflexão filosófica na arte.
Também é excessivamente persistente
a ilusão de que você não pode argumentar filosoficamente no Facebook. Porém
isso abre uma grande controvérsia, porque o fato é que temos conversado e
trocado muitas ideias filosóficas no facebook. Talvez elas não tenham sido
tratadas como deveriam nem apresentadas como deveriam. Eu mesmo de vez em
quando me vejo em guerra com o teclado do meu celular, o corretor ortográfico e
o tamanho dos meus dedos para digitar uma ideia, expressão ou desenvolver algum
argumento em um debate. Mas mesmo assim, é corrente o uso já filosófico do
Facebook. Não foi postada nenhuma autorização expressa de Mark Zuckerberg sobre
isso, muito menos um impedimento. E aqui o fato é que nossa virtude tagarelante
se faz presente, dando de ombros para as eventuais dificuldades de redação,
expressão e discussão das ideias, argumentos e eventuais teorias apresentadas.
A verdade é que eu tenho notado um uso filosófico das redes sociais desde o
Orkut e mesmo quando não há desenvolvimento de argumentos ainda assim há
divulgação de fontes, de locais onde eles estão e quais seus portadores.
Alguns dos filósofos mais
importantes de língua inglesa e também
brasileiros tem disseminado e ocupado
este espaço aqui para divulgar suas obras. Recebo por aqui links para diversos
artigos, resenhas de obras e meu primeiro convite para o dropbox, nuvem e
depois para o site academia.edu veio por aqui.
Então, se está divulgado obras aqui, mas também tem sido feitas
citações, muitas paráfrases, reapresentado e debatido problemas com mais
amplidão do que nunca aqui. E os debates aqui não tem sido uma entrevista de
uma hora com o orientador, mas em alguns casos longas discussões de semanas em
postagens compartilhadas. Já tive casos de retomar discussões de dois ou mais
anos atrás que sofreram certo renascimento no interesse dos seus conteúdos.
Então ocorre bem o contrário de
um mutismo aqui. Ou, eu diria, que
alguns prefeririam que você não possa dizer nada relevante após qualquer tipo
de reflexão rápida, mas que isso não tem sido o caso. Especialistas, doutores,
mestres, professores, estudantes de todo tipo, auto-didatas, leigos,
interessados, curiosos e qualquer um de certa forma qualquer um aqui inclui meu
amigo de infância que é pipoqueiro e outro que é eletricista, um brigadiano
aqui ou ali, donas de casa, idosos e todo o tipo de gente que é interessada e
que tem acesso a isso aqui toma parte, dá uma olhada, mete um pitaco ou não,
curte ou não curto, lê com mais ou menos atenção tudo que é postado aqui. Creio
que as reflexões profundas ou sagazes não tem tipo uma maternidade privilegiada
ou mídia privilegiada para nascerem sobre qualquer assunto que seja. Eu penso
que desapareceu este lugar privilegiado aonde as questões filosóficas em geral,
humanas em particular, políticas, culturais, morais e mesmo religisosas, ppodem
ser tratadas com mais ou menos precisão, clareza e também gênio.
Não dá para dizer que é
impossível alcançar uma conclusão que
seja ao mesmo tempo: a) rigorosa, b) relevante e c) informativa, só porque um
ou outro não consiga fazer isso. O que tem ocorrido de mais interessante
para mim nas redes socais é que o debate
continua.
Depois de um bom tempo de
dedicação e pesquisa séria sobre isso, o que envolve observar muitos debates
para além de sua própria timeline, lista de blogs, e etc, para que você consiga
reduzir postagens a uma duas ou três qualidades ou gêneros literários e
filosóficos. Há de tudo aqui no Facebook e eu já me conformei em não ficar
predeterminando o que vai ser, como vai ser, como pode ser ou o que é
necessário que seja. Trata-se de um ambiente intenso de muitas bobagens,
confissões e trocas pessoais, reflexões, compartilhamento de velhas ideias,
reapresentação, invenção, descobertas, muitos diálogos – e a gente sabe ou
deveria saber quanto e como os diálogos são propícios a geração de boas
reflexões – saem disso piadas, insights, ideias mal elaboradas, mas também
ótimas intuições.
Tenho lido muita coisa que tem brilho próprio e é original
por aqui, em blogs, em twitter até mesmo o exercício de concisão e m 140
caracteres tem suas desvantagens e sua vantagens (é quase uma arte de haicais,
sendo que os haicais são mais concisos ainda .)
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