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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

FILOSOFIA NO FACEBOOK

A investigação filosófica tem sim muitas peculiaridades. Algumas delas são técnicas, temáticas e outras são retóricas ou estilísticas. Não há um modelo ou paradigma por excelência da argumentação filosófica. Seus modelos não são tão compartilhados assim e mesmo em algumas correntes em que há um grande elogio a clareza, objetividade ou concisão, ou a uma separação entre argumentação filosófica e texto literário isso já foi razoavelmente superado.

 Eu creio que há uma ideia em geral corrente de que filosofia só se faz em meio a debates técnicos, com jargão especializado ou mesmo dentro de um regime predeterminado de questões, soluções alternativas e uma agenda comum de problemas que devem ser dominados, tratados e mesmo abandonados em uma prateleira de problemas sem solução. Porém isso não sobrevive ao que tem sido feito com filosofia por ai não.  Mas não há um discurso filosófico por excelência muito menos a linha de divisão de reflexão filosófica, discurso científico e literatura ou poesia não é mais tão nítida assim. Há, para resumir a questão aqui, arte na reflexão filosófica, e muita reflexão filosófica na arte.  

Também é excessivamente persistente a ilusão de que você não pode argumentar filosoficamente no Facebook. Porém isso abre uma grande controvérsia, porque o fato é que temos conversado e trocado muitas ideias filosóficas no facebook. Talvez elas não tenham sido tratadas como deveriam nem apresentadas como deveriam. Eu mesmo de vez em quando me vejo em guerra com o teclado do meu celular, o corretor ortográfico e o tamanho dos meus dedos para digitar uma ideia, expressão ou desenvolver algum argumento em um debate. Mas mesmo assim, é corrente o uso já filosófico do Facebook. Não foi postada nenhuma autorização expressa de Mark Zuckerberg sobre isso, muito menos um impedimento. E aqui o fato é que nossa virtude tagarelante se faz presente, dando de ombros para as eventuais dificuldades de redação, expressão e discussão das ideias, argumentos e eventuais teorias apresentadas. A verdade é que eu tenho notado um uso filosófico das redes sociais desde o Orkut e mesmo quando não há desenvolvimento de argumentos ainda assim há divulgação de fontes, de locais onde eles estão e quais seus portadores.

Alguns dos filósofos mais importantes de língua  inglesa e também brasileiros tem disseminado e  ocupado este espaço aqui para divulgar suas obras. Recebo por aqui links para diversos artigos, resenhas de obras e meu primeiro convite para o dropbox, nuvem e depois para o site academia.edu veio por aqui.  Então, se está divulgado obras aqui, mas também tem sido feitas citações, muitas paráfrases, reapresentado e debatido problemas com mais amplidão do que nunca aqui. E os debates aqui não tem sido uma entrevista de uma hora com o orientador, mas em alguns casos longas discussões de semanas em postagens compartilhadas. Já tive casos de retomar discussões de dois ou mais anos atrás que sofreram certo renascimento no interesse dos seus conteúdos.

Então ocorre bem o contrário de um mutismo aqui.  Ou, eu diria, que alguns prefeririam que você não possa dizer nada relevante após qualquer tipo de reflexão rápida, mas que isso não tem sido o caso. Especialistas, doutores, mestres, professores, estudantes de todo tipo, auto-didatas, leigos, interessados, curiosos e qualquer um de certa forma qualquer um aqui inclui meu amigo de infância que é pipoqueiro e outro que é eletricista, um brigadiano aqui ou ali, donas de casa, idosos e todo o tipo de gente que é interessada e que tem acesso a isso aqui toma parte, dá uma olhada, mete um pitaco ou não, curte ou não curto, lê com mais ou menos atenção tudo que é postado aqui. Creio que as reflexões profundas ou sagazes não tem tipo uma maternidade privilegiada ou mídia privilegiada para nascerem sobre qualquer assunto que seja. Eu penso que desapareceu este lugar privilegiado aonde as questões filosóficas em geral, humanas em particular, políticas, culturais, morais e mesmo religisosas, ppodem ser tratadas com mais ou menos precisão, clareza e também gênio.

Não dá para dizer que é impossível  alcançar uma conclusão que seja ao mesmo tempo: a) rigorosa, b) relevante e c) informativa, só porque um ou outro não consiga fazer isso. O que tem ocorrido de mais interessante para  mim nas redes socais é que o debate continua.  


Depois de um bom tempo de dedicação e pesquisa séria sobre isso, o que envolve observar muitos debates para além de sua própria timeline, lista de blogs, e etc, para que você consiga reduzir postagens a uma duas ou três qualidades ou gêneros literários e filosóficos. Há de tudo aqui no Facebook  e eu já me conformei em não ficar predeterminando o que vai ser, como vai ser, como pode ser ou o que é necessário que seja. Trata-se de um ambiente intenso de muitas bobagens, confissões e trocas pessoais, reflexões, compartilhamento de velhas ideias, reapresentação, invenção, descobertas, muitos diálogos – e a gente sabe ou deveria saber quanto e como os diálogos são propícios a geração de boas reflexões – saem disso piadas, insights, ideias mal elaboradas, mas também ótimas intuições. 

Tenho lido muita coisa que tem brilho próprio e é original por aqui, em blogs, em twitter até mesmo o exercício de concisão e m 140 caracteres tem suas desvantagens e sua vantagens (é quase uma arte de haicais, sendo que os haicais são mais concisos ainda .)  

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