A pintura abaixo é uma entre muitas maravilhas de VASCO
PRADO, e se encontra na exposição Vasco Prado: a escultura em traço, no
SANTANDER CULTURAL de Porto Alegre que vai até 28 de fevereiro de 2016.
Uma amiga filósofa diletante que
admiro muito – com a distância e concisão que as redes sociais impõem - afirmou no final do ano passado – que parece
ter sido já esquecido por estes dias que vivemos, que estava decidindo que
texto escolheria para postar no Natal ou final de ano. Eu também andava
pensando e decidindo o que escrever sobre este ano. No final escrevi e não
publiquei, mas revisando meus docs resolvo publicar agora.
A amiga afirmou que estava
indecisa entre Nietzsche, Schopenhauer ou Beltrand Russell...por um acaso tenho lido com mais tempo e atenção os três
neste ano, seja em obras deles mesmos seja em comentários e exegeses por conta
de meus interesses difusos e no caso dos três até mesmo por certas relações cruzadas
bem interessantes que vou deixar em suspenso por hora. O tema ao fim e ao cabo
diz respeito a certa concepção de filosofia da história e eu tenho a impressão
de que no fundo ele envolve também nossas concepções metafísicas e cosmológicas
ainda que tentando resumir em um conceito ou chave ou jargão um ano de 365 dias
que é somente um período de história natural – afinal tem um ciclo natural –
sobre o qual tentamos atribuir um significado ou aplicar um sentido eivado de
um pensamento ou reflexão filosófica. Assim, mesmo que seja por analogia, tal
atribuição vai ter que envolver algumas adequações, torções e ajustes para ser
de fato adequada. Como é mais fácil criar metáforas para o ano, corremos o
risco de fazer simplesmente isto com alguma nota erudita ou com alguma implicatura
que, honestamente, pode ser bem mais do que frouxa e rigorosamente analisada,
apenas mais uma versão das tantas falácias do nosso tempo.
Para o primeiro eu me desviaria
porque seria meio inverossímil, por exemplo, dizer que é uma determinada época ou
ano tem um quê e expressa alguma clareza num sentido nietzschiano. Ainda que se
possa achar aqui ou ali na obra dele alguma citação dele que seja ou bem
reconfortante ou bem desesperadora para epigrafar o nosso tempo ou o nosso aninho
que passou.
Falei já e escrevi aqui sobre a
faculdade ou fertilidade de um uso licencioso e pouco refletido de Nietzsche
para qualquer coisa que dê na telha de alguém. Não é um ano propício para
tratar de eternos retornos. Mas vou aproveitar para seguir e adiantar uma
provocação aqui em relação a isso. Se vivemos um eterno retorno, então, só
podemos mudar nossas ideias a respeito das coisas, jamais nossas reações ou
atitudes. – e olha que às vezes eu
tenho uma sensação como que sintonizada com isso e minha percepção até mesmo me
faz pensar nisso quando me distancio um pouco da ordem dos fatos ou penso no que
poderia alternativamente estar acontecendo no lugar do que efetivamente ocorre.
Penso como é que as coisas seriam se tivessem sido diferentes. E os exemplos
para isto me levam tanto para a literatura, a ficção, quanto para a história.
Ao mesmo tempo, penso neste tema em sua dimensão lógica.
Também não é um ano para nenhum grande
arroubo de pessimismo metafísico, caso houvesse alguma das diversas tendências
schopenhauerianas para tal em voga em nosso tempo. Aliás, andei lendo e
lecionando com os três autores neste ano bem mais do que de costume por sinal e
se tem algo desconecto e visível para mim, no balanço geral do nosso tempo,
pelo menos naquele que consigo fazer para além da fábula e para além da trama.
Bem, eu pensei com meus botões e
anotações mentais a respeito deste ano que a melhor opção era Bertrand Russell
por diversas razões diretas, mas também por certas ironias deste ano. Pelo
menos para mim – e isto envolve meus estudos, descobertas, confirmações,
andanças, idéias, lutas e mesmo questões pessoais.
Até a metade do ano eu resisti
bravamente em admitir que era um ano atípico, como meu amigo e colega definiu
por conta de certos eventos já no início do ano, mas a partir da primeira
semana de agosto não tive mais por onde contra argumentar em relação ao que a
realidade mostrava. E o tema não era de pessimismo ou de fatalismo, mas a realidade
se impôs de forma inegável. Em todas as esferas da minha vida o ano saiu da
normalidade ou tipicidade. Fui confrontado sistemática e persistentemente por
diversos desafios. No meu caso boa parte destes desafios foram compartilhados
com muitas pessoas, alguns outros foram mais de ordem pessoal e familiar. E os de ordem familiar
com extremas reservas e discrições.
Em minha resposta para a colega e
amiga afirmei primeiramente que Russell era o mais indicado. Foi um lance de
intuição, mas depois me dei conta do porque de uma forma mais relaxada. Vejo
que o ano de 2015 merece uma nova teoria dos tipos e dos nomes próprios...
Apareceram tipos novos e o ano
foi atípico e também surgiu muita coisa para a qual não tínhamos nomes próprios
neste ano o que talvez enseje a criação de nomes novos que deem conta destas
coisas novas e talvez até mesmo uma nova teoria dos nomes próprios. Me explico
melhor em seguida. Pois a ironia tem aqui, como, aliás, em outros casos, um
quesinho ou pesinho de verdade.
Foi, então, um ano metafísico, atípico
e do inominável
Então o meu texto pós fim de ano
vai aqui todo orientado por isto, mas só escrevo ele mesmo passado um mês do dia
31 de dezembro, haja visto o desenrolar de acontecimentos inomináveis e
atípicos dos últimos dias de dezembro e janeiro que me parecem estar na mesma tônica
plutoniana de levar embora seus mensageiros
e substituí-los imediatamente por outros novinhos em folha ou nem tanto assim. E
tudo isto à quente, no calor da disputa e com intensas crises conceituais sobre
os nossos destinos. Para lembrar Nelson Rodrigues – não somente pela procura do
pathos brasileiro, foi um ano em que o tal Sobrenatural de Almeida teve lá seus
trabalhos para nos surpreender, mostrar que não é bem assim e que há mais coisas
entre a planície e a montanha do que nossa vã filosofia ousa comentar.
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