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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

2015: UM ANO METAFÍSICO, ATIPÍCO E DOS INOMINÁVEIS

A pintura abaixo é uma entre muitas maravilhas de VASCO PRADO, e se encontra na exposição Vasco Prado: a escultura em traço, no SANTANDER CULTURAL de Porto Alegre que vai até 28 de fevereiro de 2016.



Uma amiga filósofa diletante que admiro muito – com a distância e concisão que as redes sociais impõem -  afirmou no final do ano passado – que parece ter sido já esquecido por estes dias que vivemos, que estava decidindo que texto escolheria para postar no Natal ou final de ano. Eu também andava pensando e decidindo o que escrever sobre este ano. No final escrevi e não publiquei, mas revisando meus docs resolvo publicar agora.

A amiga afirmou que estava indecisa entre Nietzsche, Schopenhauer ou Beltrand Russell...por um acaso  tenho lido com mais tempo e atenção os três neste ano, seja em obras deles mesmos seja em comentários e exegeses por conta de meus interesses difusos e no caso dos três até mesmo por certas relações cruzadas bem interessantes que vou deixar em suspenso por hora. O tema ao fim e ao cabo diz respeito a certa concepção de filosofia da história e eu tenho a impressão de que no fundo ele envolve também nossas concepções metafísicas e cosmológicas ainda que tentando resumir em um conceito ou chave ou jargão um ano de 365 dias que é somente um período de história natural – afinal tem um ciclo natural – sobre o qual tentamos atribuir um significado ou aplicar um sentido eivado de um pensamento ou reflexão filosófica. Assim, mesmo que seja por analogia, tal atribuição vai ter que envolver algumas adequações, torções e ajustes para ser de fato adequada. Como é mais fácil criar metáforas para o ano, corremos o risco de fazer simplesmente isto com alguma nota erudita ou com alguma implicatura que, honestamente, pode ser bem mais do que frouxa e rigorosamente analisada, apenas mais uma versão das tantas falácias do nosso tempo.

Para o primeiro eu me desviaria porque seria meio inverossímil, por exemplo, dizer que é uma determinada época ou ano tem um quê e expressa alguma clareza num sentido nietzschiano. Ainda que se possa achar aqui ou ali na obra dele alguma citação dele que seja ou bem reconfortante ou bem desesperadora para epigrafar o nosso tempo ou o nosso aninho que passou.

Falei já e escrevi aqui sobre a faculdade ou fertilidade de um uso licencioso e pouco refletido de Nietzsche para qualquer coisa que dê na telha de alguém. Não é um ano propício para tratar de eternos retornos. Mas vou aproveitar para seguir e adiantar uma provocação aqui em relação a isso. Se vivemos um eterno retorno, então, só podemos mudar nossas ideias a respeito das coisas, jamais nossas reações ou atitudes.   – e olha que às vezes eu tenho uma sensação como que sintonizada com isso e minha percepção até mesmo me faz pensar nisso quando me distancio um pouco da ordem dos fatos ou penso no que poderia alternativamente estar acontecendo no lugar do que efetivamente ocorre. Penso como é que as coisas seriam se tivessem sido diferentes. E os exemplos para isto me levam tanto para a literatura, a ficção, quanto para a história. Ao mesmo tempo, penso neste tema em sua dimensão lógica.

Também não é um ano para nenhum grande arroubo de pessimismo metafísico, caso houvesse alguma das diversas tendências schopenhauerianas para tal em voga em nosso tempo. Aliás, andei lendo e lecionando com os três autores neste ano bem mais do que de costume por sinal e se tem algo desconecto e visível para mim, no balanço geral do nosso tempo, pelo menos naquele que consigo fazer para além da fábula e para além da trama.   
Bem, eu pensei com meus botões e anotações mentais a respeito deste ano que a melhor opção era Bertrand Russell por diversas razões diretas, mas também por certas ironias deste ano. Pelo menos para mim – e isto envolve meus estudos, descobertas, confirmações, andanças, idéias, lutas e mesmo questões pessoais.

Até a metade do ano eu resisti bravamente em admitir que era um ano atípico, como meu amigo e colega definiu por conta de certos eventos já no início do ano, mas a partir da primeira semana de agosto não tive mais por onde contra argumentar em relação ao que a realidade mostrava. E o tema não era de pessimismo ou de fatalismo, mas a realidade se impôs de forma inegável. Em todas as esferas da minha vida o ano saiu da normalidade ou tipicidade. Fui confrontado sistemática e persistentemente por diversos desafios. No meu caso boa parte destes desafios foram compartilhados com muitas pessoas, alguns outros foram mais de ordem  pessoal e familiar. E os de ordem familiar com extremas reservas e discrições.

Em minha resposta para a colega e amiga afirmei primeiramente que Russell era o mais indicado. Foi um lance de intuição, mas depois me dei conta do porque de uma forma mais relaxada. Vejo que o ano de 2015 merece uma nova teoria dos tipos e dos nomes próprios...
Apareceram tipos novos e o ano foi atípico e também surgiu muita coisa para a qual não tínhamos nomes próprios neste ano o que talvez enseje a criação de nomes novos que deem conta destas coisas novas e talvez até mesmo uma nova teoria dos nomes próprios. Me explico melhor em seguida. Pois a ironia tem aqui, como, aliás, em outros casos, um quesinho ou pesinho de verdade.

Foi, então, um ano metafísico, atípico e do inominável


Então o meu texto pós fim de ano vai aqui todo orientado por isto, mas só escrevo ele mesmo passado um mês do dia 31 de dezembro, haja visto o desenrolar de acontecimentos inomináveis e atípicos dos últimos dias de dezembro e janeiro que me parecem estar na mesma tônica  plutoniana de levar embora seus mensageiros e substituí-los imediatamente por outros novinhos em folha ou nem tanto assim. E tudo isto à quente, no calor da disputa e com intensas crises conceituais sobre os nossos destinos. Para lembrar Nelson Rodrigues – não somente pela procura do pathos brasileiro, foi um ano em que o tal Sobrenatural de Almeida teve lá seus trabalhos para nos surpreender, mostrar que não é bem assim e que há mais coisas entre a planície e a montanha do que nossa vã filosofia ousa comentar. 

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