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quinta-feira, 8 de julho de 2021

MILITARES, PANDEMIA E GOVERNO

 

MILITARES, PANDEMIA E GOVERNO

 

A situação mais crítica que a nossa nação já enfrentou em toda a sua história é essa da Pandemia que iniciou em janeiro e fevereiro de 2020.

Dizem que são nos momentos difíceis e desafiadores como esses que se põem a prova todos os homens e mulheres, lideranças, instituições e organizações. E uma Pandemia nessa dimensão é como uma Guerra Mundial. Ou seja, é um teste absoluto para todos. Não se passa por isso sem grandes provações, mudanças profundas e uma espécie de seleção natural de instituições e lideranças.

Assim, além da grave perda dos seres humanos, é possível que se percam também diversos hábitos, costumes e rotinas. Isso coloca a prova todas as instituições. Ao mesmo tempo, uma situação como essa não pede mudanças ou clama por mudanças. É usada corretamente a expressão de que o vírus não negocia com ninguém, pois podemos dizer que uma situação como essa não negocia mudanças, mas impõe mudanças. Tanto para de sobreviver quanto para se reconquistar alguma qualidade e segurança, é necessário mudar. Me parece que no Brasil pós Pandemia muita coisa vai ter que mudar.

E as forças armadas no Brasil não passam incólumes por isso. Como qualquer ser humano sensato e razoável deve saber, a principal exigência do atual cenário que se desenrola desde janeiro de 2020 é o sentido de responsabilidade.

Com o comportamento claramente irresponsável do Presidente e do seu Governo, a resposta das Forças Armadas, o que inclui a participação de mais de sete mil oficiais da ativa e inativos no Governo Federal, é trágica, vergonhosa e vexatória. Os dados estão escancarados todos os dias no noticiário. Na CPI da Pandemia a cadeia de erros estratégicos, escolhas equivocadas, omissões e condutas de negligência, incompetência ou pura insensatez fica mais e mais escancarada. E a conduta, as falas do Presidente concentram tudo isto em uma única personagem.

Não há argumento que justifique mais a atual situação, a conduta e a baixa qualidade das nossas forças armadas que acompanham e pelo visto respaldam esse presidente mais do muitos outros por escolha e opção ideológica. É muito certo dizer que qualquer civil, cidadão ou cidadã, esperava muito mais e uma resposta melhor de um exército que é profissional e que é mantido às expensas de nossos impostos. E não se trata somente de Garbo ou Asseio, de ter uma farda bonita, um cabelo bem cortado e saber atirar, obedecer ordens e ter disciplina. Isso nunca bastou para um exército realmente eficiente.

É preciso ter engajamento real, e é preciso ter esclarecimento,  é preciso usar a máxima inteligência, adotar conduta de interpretação rigorosa de informação e planejar, dirigir e executar ações com melhor uso dos recursos disponíveis, buscando também a suplementação e a previsão de mais recursos.

E isso não ocorreu, não ocorre em não vai ocorrer, enquanto estiverem ocupados com essas quimeras da guerra fria, adotarem a conduta interesseira e corporativa exclusivamente ocupada com seus ganhos pessoais, vantagens e soldos, e enquanto persistirem em seguir um Irresponsável e genocida, os militares vão persistir colocando em risco não somente o seu papel pessoal na história brasileira na presente quadra, mas arriscando no declínio das instituições em que atuam de modo profissional.

 

Não adianta nada, assim, ter certas distinções e empilhar medalhas no peito, ostentar medalhas e condecorações, enquanto mais de 500 mil brasileiros e brasileiras sucumbem ao vírus que não recebeu combate e Enfrentamento adequado do Governo Federal.

Vejam o caso das escolas militares. Hoje muitos defendem por aí a transformação de escolas públicas em escolas militares. Se for para reproduzir isso que eu está escancarado aos nosso olhos, é melhor não. Acredito que os quartéis precisam mais da escola pública do que a escola pública de quartéis, e uma prova disso é tudo que eu disse antes.

Para terminar com a nossa paciência e tolerância mesmo vejo bem isso: qualquer um que observa a conduta, a retórica, as mentiras e a incompetência gritante do ex-ministro Pazuello e que descobre que este cidadão é um General de Brigada, deve concluir imediatamente que há algo de muito errado na formação e na carreira militar no Brasil. E deste General de Brigada e de sua conduta surgiu justamente o maior caso de indisciplina e de falta de respeito a hierarquia na história do exército brasileiro. Para a desonra de todos, os dois maiores atributos necessários às forças armadas, disciplina e respeito a hierarquia, segundo a doutrina atual foram abandonados.

Resta evidente que tem algo errado nisso e que talvez essa doutrina esteja ultrapassada ou a formação atual e a qualidade dessa formação atual é insuficiente.

COMO CHEGAMOS A ESSA MONSTRUOSIDADE?

 

COMO CHEGAMOS A ESSA MONSTRUOSIDADE?

A História que leva ao que vivemos hoje no Brasil é longa. Ela envolve momentos do final da ditadura militar, momentos e episódios da redemocratização e a retomada dos monstros, a partir da descontrução midiática, jurídica e política dos governos do PT. Já no primeiro governo Lula as operações entraram em modo automático com o Mensalão, mas antes disso já haviam sinais do uso de fake News e da mídia hegemônica contra o Governo de Olívio Dutra no período de 1999 a 2002. Parte das medidas adotadas para obstaculizar o Governo Olívio Dutra no RS, foram colocadas em jogo contra os governos federais do PT. A direita, o centrão e parte da social democracia no Brasil, não suportaram a derrota para Lula em 2002, mas com as quatro vitórias de Lula e Dilma, para eles o quadro se tornou insuportável.   

Já na terceira derrota do PSDB em 2010, para a presidência da República, e já naquela época e campanha, a adoção pelo Zé Serra do terrorismo e do vale tudo ao estilo Steve Bannon na campanha contra a Dilma nos meios digitais, incluso com Fake News, geraram o despertar dos monstros que hoje governam o país. Chegamos até aqui por esse caminho sim. Mas temos alguns sinais anteriores, tanto na Anistia, quanto no pacto social da nova República, quanto no lawfare do Mensalão. A perda ou o abandono dos escrúpulos, é exatamente o que gerou todo esse despudor que assistimos horrorizados com a morte de mais de 520 mil Brasileiros e Brasileiras nessa Pandemia.

Os monstros assassinos genocidas viram que dava para sair do armário com tranquilidade já ali. Mas antes disso, teve o tal do Mensalão que lançou a tese do domínio do fato, já dando sinais de que a justiça no Brasil avançava para o arbítrio e começava a ter posição, interesses e ações de natureza exclusivamente política, incluso em retaliação por ressentimentos corporativos e salariais e também por um terceiro no turno dissimulado contra os seus interesses eleitorais.

Depois disso o Aécio avançou definitivamente o sinal com sua atitude na campanha e no pos derrota de 2014. No meio disso, tivemos 2013 e o uso de uma estratégia muito perversa para derreter as bases da política brasileira. Frente ao cenário pesado, o MDB resolveu primeiro, logo após as manifestações de junho de 2013, não apoiar uma reforma política e, em segundo, trair Dilma para construir a ponte para o nada, a negação e a mais plena monstruosidade que se manifestou no Impeachment, no Golpe, no Governo Temer que podia ser corrupto, desde que fizesse as reformas. São os mesmos que cerraram fileiras no apoio vergonhoso a Bolsonaro contra Haddad no segundo turno. E assim foi dado o último sinal de civilidade no segundo turno de 2018.

No meio disso tudo, voltamos ao sistema judiciário, quando o partido do Lava Jatismo e seu LawFare - ou seja, justiça e poder a qualquer preço, e a mídia, imprensa e comunicadores sociais que adoraram a toada do “precisamos destruir o PT" afundaram o país na mais completa barbárie moral.  Não vou falar aqui de militares e pastores e nem de caminhoneiros ou classe média e outros setores específicos, mas foi com mais isso. A questão é: como sair disso e como criar as condições para que isso nunca mais aconteça?

Com a Pandemia, esse espetáculo de horrores e essas monstruosidades conseguiram a façanha no Brasil de, mesmo com a potência do SUS, tornar o Brasil o cenário da maior tragédia, morticínio e genocídio por negligência, irresponsabilidade e canalhice.

 Aquela perda de escrúpulos lá atrás e as canalhices e monstruosidades perversas que se seguiram nos levaram direitinho até isso.

Não há um vínculo diretamente causal entre todos esses pontos. Mas há um espírito geral e um modus operandi inescrupuloso que paira sobre tudo. E enquanto alguns progressistas, pseudo democratas e pseudo republicanos degenerados não recuperarem o juízo vai continuar assim.

E o problema não é mesmo polarização ou se tem ou não terceira via, o problema é reparar integralmente o mal feito e aceitar mesmo de uma vez por todas a vontade majoritária do povo brasileiro, sem fazer uso de mentiras, golpes, manobras ou uma retórica tortuosa contra isso. 

Esses dias disse que a Alemanha do Pós Guerra extinguiu o Partido Nazista e colocou no ostracismo todos que levaram a Europa e o Mundo para a maior guerra da história da humanidade, em prejuízo do povo alemão e também com o sacrifício de mais de 80 milhões de seres humanos, incluso aí os 6 a 7 milhões de vítimas do holocausto e da fábrica de extermínio dos campos de concentração, em que judeus, ciganos e muitas outras etnias, homossexuais, deficientes físicos e mentais e também membros das resistência e lideres políticos e simpatizantes de esquerda foram assassinados, bem como, nós massacres de Hiroxima e Nagasaki, em que mais de 240 mil japoneses foram dizimados em dois dias e muitos outros  instantaneamente foram feridos de morte para o que sobrou de suas vidas. Essa não é.uma questão subjetiva, nem uma questão de moral do tipo dou perdão ou compreendo ou não dou perdão e não aceito.

A outra questão que se apresenta nesse inquérito aqui: é se aceitando a necessidade de uma punição rigorosa tanto criminal, quanto política e institucional qual a linha de corte no juízo de responsabilidade sobre os eventos acima? É um problema muito grande e muito semelhante ao que foi provocado pela Anistia ao final da ditadura no Brasil, essa mesma que colocou no armário os monstros que reapareceram depois em 2010 e que em 11 anos nos levaram até essa tragédia atual.

A velha solução intermediária de um novo pacto social pela democracia e em defesa da República no Brasil, se coloca de novo. Mas como em todo Contrato Social outra velha questão retorna: quem será o fiscal desse contrato e em que instância a correção às violações de suas cláusulas serão corrigidas, punidas e reparadas. No pacto anterior, me parecia tácito que isso estava colocado tanto sobre todos os partidos quanto nas posições majoritária dos três poderes, incluso no Judiciário e no Executivo, cuja síntese se limita a 11 juízes e um ou uma presidente.

Então, aquela expressão golpista sintetiza plenamente o tamanho da responsabilidade de todos já no golpe e nos processos paralelos: com Supremo e com tudo e a democracia e o direito a vida digna e a vida de milhões de brasileiros se foi.

Quando Lucianinho Hulk falou esta semana que a democracia está ameaçada, me dei conta do Rubinho da Política brasileira ou do tamanho prejuízo que essa cegueira causada por falta de escrúpulos provoca. E não se trata somente de uma faísca atrasada ou de uma reflexão tardia desse retardado, o nosso problema, porque na mesma semana quatro ministros do STF disseram que o Impeachment dessa monstruosidade poderá prejudicar a imagem do país no exterior. E é assim que esse vírus do faz de conta e da insensibilidade se mostra presente como sustentáculo máximo dessa monstruosidade. Não somente foram tolerantes com aquilo que jamais poderia ser aceito ou tolerado, quanto continuam a ser tolerantes com isso.

E alguém ainda acredita que a culpa de toda essa insensatez é do PT? Ora, convenhamos. Essa estupidez e covardia toda me cansam a moleira.

#ForaBolsonaro

#SóPráComeçar

Pondé naturalizando a corrupção

 

Pondé naturalizando a corrupção

 

Diz ele no título e no subtítulo do artigo:

 

"O Brasil é inteiramente rasgado pela corrupção; sem ela, ele não anda"

 

&

 

"A natureza humana tende ao corrompimento pelas mãos do poder, do dinheiro e do sexo"

 

 

Assim fica fácil ser intelectual no Brasil.

 

Quanto papo furado e retórica para naturalizar desvios de caráter e ficar fazendo sombra na realidade brasileira.

 

Em qualquer outro país do mundo corrupção é obra de corrupto e é punida, mentira é obra de mentiroso e é punida e desonestidade intelectual é desmascarada sem papo furado relativista ou retórica tortuosa.

 

Aqui no Brasil nós temos uma escola de naturalização de desvios que ganha espaço em mídia e posa de compreensiva.

 

Essa é a base para o fascismo e a impunidade. Só falta arguir a ausência de culpa ou responsabilidade.

 

Cara de pau é pouco.

A Grama é Verde: as Forças Armadas e as Ilusões Políticas e Símbólicas

 A Grama é Verde: as Forças Armadas e as Ilusões Políticas e Símbólicas




 

As forças armadas ou melhor, uma fração das forças armadas, adotaram uma posição política e ideológica.  Essa posição levou elas à certos agravos, em parte por ambições e de outra parte, por certas ilusões de imagem e de narrativas.

 

Mas não se resumiram em apoiar esse ou aquele candidato, apoiaram, construíram um programa e assumiram um lado com todos os riscos que isso impunha. E os riscos eram muito grandes e notórios.

 

Na sua grande maioria, eles só observaram as vantagens. De um lado, garantiram vantagens que nenhum outro servidor garantiu, tanto na reforma da previdência, quanto na reforma administrativa. De outro lado, conquistaram espaços na administração pública federal, tanto em postos chave, quanto em postos técnicos, muitas vezes sem competência e expertise algum para esses cargos. São, estima-se, mais de 6 mil cargos que militares da ativa e aposentados ocuparam. É praticamente uma ocupação. Então, eles obtiveram êxito nos seus propósitos. Porém, os resultados são terríveis.

 

Do ponto de vista militar, porém, entramos em uma Guerra e nesta guerra que é a Pandemia, os militares e o seu presidente não poderiam ter tido pior atitude. Num primeiro momento, houveram negligências consideráveis. A desculpa de que não havia como fazer barreiras sanitárias nos portos e aeroportos por falta de servidores na vigilância sanitária - a desculpa Mandetta, é pífia e vergonhosa. O próprio Exército, a Aeronáutica e a Marinha - mais Polícia Federal e outros órgãos federais e estaduais organizados e articulados poderiam ter feito isso muito bem. Porém, para tristeza nossa, de todos nós civis e militares, não havia senso de disciplina e responsabilidade e nem visão estratégica para fazer isso. Muitos poréns e senões em sucessão não levam a boa coisa.

 

Depois começou o ciclo de boicote ao isolamento e às medidas sanitárias dos estados e municípios com um presidente dando show em cercadinho, nas ruas e em passeios contra as medidas. Na sequência disso, boicotes em caravanas da morte e ataques com manifestações em frente aos quartéis pela "volta do AI5", pelo fechamento do supremo e do congresso e todas essas besteiras que somente irresponsáveis e soberbos tem a coragem de defender com sacrifício da sua própria vergonha. O resultado está aí. Há uma psicose coletiva que foi longe de mais. Parcela dos brasileiros estão embaraçados nessa ilusão e embarcaram nessa canoa furada.

 

Porém, não foi só isso que aconteceu. A CPI da Covid19 no Senado Federal, malgrado eles, revela a cada dia que passa, um escândalo na compra das vacinas e um claro crime de lesa pátria. No meio disso tudo, desses mais de 500 mil mortos por Covid, temos um banho de incompetência e imperícias de toda ordem.  O problema é que temos - e isso não pode ser negado - militares em diversas posições e situações envolvidos com essa corrupção. Na linha de comando que vai do Presidente até os ministros, passa por diretores e também pela intromissão e interferência clara de senadores e deputados de situação, temos um escândalo. Isso não pode ser mais negado.

 

E não falei nada das rachadinhas contumazes da quadrilha Bolsonaro, dos usos e abusos do poder por parte de outros ministros e apoiadores do governo.

 

A verdade, então, é que os militares deveriam abandonar de vez qualquer pretensão em defender essas ações irresponsáveis tanto para salvar a dignidade da maioria deles, quanto para contribuir para tirar o Brasil desde inferno.

 

Se as vaidades e as veleidades deles são tão grandes que os impedem de enxergar essa flagrante realidade, se preferem prosseguir nas suas Ilusões e fantasias corporativas, se preferem manter seus interesses pessoais ao preço de prejudicar todo o povo brasileiro, então devem ser corrigidos mesmo, pelos órgãos a quem cabe fazer isso. E aqui incluímos o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal podem fazer exatamente isso. E a opinião pública acompanhar e contribuir nessa correção, se manifestando sem medo e com respeito.

 

Quando falam em seus exercícios de retórica em Disputa de Narrativa, exibem que estão embaraçados no maravilhoso mundo das fakenews. Eles acreditam deliberadamente em suas próprias quimeras e ilusões de si mesmos e dos demais. Porém, é bom levar em consideração mais uma vez os limites dessas fantasias deles que os fazem desejar se manter impunes por suas escolhas.  Aí já é demais.

 

Não basta a mulher de Cesar ser honesta, é preciso que ela pareça honesta.

 

Ora, com esse comportamento dos militares, tudo que eles tem feito e no modo como se manifestam, as coisas não estão nada boas para a mulher de Cesar. Quanto mais ameaças eles fazem, mais se aprofunda o vexame pelo qual estão passando. Tentar constranger aqueles que observam isso, é parte desse mergulho nas profundezas da tragédia brasileira.

 

Está na hora de dissipar essas nuvens do céu e ajudar a corrigir os rumos do nosso país. Está provado já que ninguém fará isso sozinho.

 

As consequências estão aí.

O SENHOR DO TEMPO

 O SENHOR DO TEMPO

 




O senhor do tempo é impiedoso e age sem aviso. 

Ele que encerra ciclos e abre novas semeaduras, que faz tremer aos tolos e dá conforto aos sensatos, que surpreende a todos, ao chegar sem aviso e que nos lembra o quanto esta passagem precisa ser comemorada, aproveitada, refletida e produtiva. 

Todo dia é preciso lembrar que pode ser o último. 

O tempo cuja verdade é a primeira filha vem te lembrar o teu valor. 

O resto é o silêncio...

Pela eternidade...

Pluralismo e Democracia e o Pessimismo Necessário

 

Pluralismo e Democracia e o Pessimismo Necessário

 

Está obra singular do mestre Norberto Bobbio (1909-2004). Cujo título, As Ideologias e o Poder em Crise, remete diretamente ao tema das democracias e seus limites em artigos de Jornal publicados em meio às polêmicas, críticas e graves situações cotidianas da democracia italiana e que conectam essas situações as análises de filosofia política de Bobbio.

 




Tanto os clássicos políticos, quanto as conjunturas de crise são analisadas a partir de uma abordagem acessível aos leitores comuns, não familiarizados com as teorias mais fundamentais ou progressistas da ciência política. Assim, pluralismo, socialismo, comunismo, terceira força e terceira via são pela conjuntura desafiadora de construção de consenso ou dissenso no regime democrático testadas no laboratório representativo da Democracia nacional italiana. É importante dizer que a obra foi escrita entre 1976 e 1980, período no qual a democracia italiana enfrentou crises e situações violentas que culminaram com o assassinato de Aldo Moro em 9 de maio de 1978.

 

Me surpreendi com um artigo em especial "O dever de sermos pessimistas" (pp. 177-181), em que o mesmo aponta a necessidade de reconhecermos que o pessimismo é um "dever civil porque só com um pessimismo radical da razão pode despertar com uma sacudidela aqueles que, de um lado ou de outro, mostram que ainda não se deram conta de que o sono da razão gera monstros."

 

É um clássico da hora e do século XX que se aplica ainda hoje e claramente ao Brasil e aos países democráticos do mundo que sofrem o desafio de enfrentar os monstros criados pelo sono da razão e acordar em meio aos pesadelos que ameaçam as democracias em que o desespero e as fragilidades dos estados nacionais e suas instituições aos interesses selvagens e irracionais presentes em suas sociedades.

O CONTRATO INFELIZ: NOTAS SOBRE ROUSSEAU

 

O CONTRATO INFELIZ EM ROUSSEAU

Vou pegar algumas notas e estou redigindo uma espécie de mapa crítico dessa questão que parece nos levar para a derrocada do contratualismo no seu núcleo essencial.

Talvez o mais interessante seja explicar a posição de Rousseau como uma espécie de sacrifício teórico em virtude de outras ideias contratuais e do eixo liberdade e submissão sob o conceito de vontade geral.

É uma condição curiosa do contratualismo e das teorias do contrato social que por mais que se elogie a constituição de um contrato como superação de uma condição prejudicial, perigosa ou desconfortável anterior, na condição posterior permanece uma marca infeliz nos traços fundacionais e na duração dos contratos.

Os contratos, como todos dizem, podem ser feitos, podem ser voluntários e deliberados racionalmente por dois ou mais pessoas – no casamento monogâmico por dois, no contrato social por muitos ou vários, mas podem ser rompidos porque em todos paira uma clausula de encerramento da relação contratual.

As relações consubstanciadas nos contratos mudam de caráter do modo natural e informal para o modo institucional ou formal. Todas elas tentam superar uma certa situação original desfavorável ou infeliz, em que o livre jogo das vontades ocorre sem uma pactuação explicita e sem regras escritas ou implícitas. Assim, o contrato está propondo um novo regramento dessas relações naturais, introduzindo um controle e constituindo um poder formal na pactuação com regras, incluso a regra de encerramento desse contrato.

A Metafísica ocidental parece ser autocentrada num sujeito e este sujeito estabelece suas relações segundo seus interesses e valores. É um fato curioso que os temas da intersubjetividade e da alteridade na filosofia começam a tratar da questão do outro apenas na modernidade. Mas isso se arrasta ainda muito por séculos e tem suas recaídas.

De qualquer modo, a relação estabelecida entre o eu e o outro tem sido diferente de fato quando se trata de uma relação entre dois homens ou entre um homem e uma mulher. Na relação entre os homens os contratos procuram preservar algo anterior e garantir algum ganho. Nas relações entre os homens e as mulheres, parecem mesmo que os ganhos a serem produzidos e o que procura ser preservado parecem ser macho centrados também.  

Estou às voltas, nesse momento, com o caso de Rousseau, por exemplo, que em sua concepção de casamento colocava a mulher na condição de satisfazer as necessidades do homem e lhe ser subserviente. E fico pensando também que talvez essa seja uma condição comum ao pensamento de que em todo o pensar poderia haver uma espécie de "lado sombra" não resolvido, em que os filósofos são incapazes de escapar a condição de seu tempo, por mais que tentem ir além de seu tempo, atingir a totalidade do real e serem capazes de interpretar a história do pensamento.

E eis que então vai dar para liquidar com a concepção de Rousseau da relação homem e mulher e descobrir, que horror, que essa contradição no núcleo essencial do contratualismo é tão brutal, que não sobra nada. Vejo que quanto mais estudo, mais piora a situação. E só piora.  

Vejamos o núcleo da teoria de Rousseau no Emílio:

"Na união dos sexos cada qual concorre igualmente para o objetivo comum, mas não da mesma maneira.”

"Dessa diversidade nasce a primeira diferença assinalável entre as relações morais de um e de outro."

"Um deve ser ativo e forte, o outro passivo e fraco: é necessário que um queira e possa, basta que o outro resista pouco."

Dependência, passividade e submissão são parte do destino das mulheres em relação aos homens. A educação de Sofia no Emilio tem por objetivo garantir a sua submissão e confinamento na esfera privada do lar.

A impressão que nos passa essa passagem é que a igualdade e a liberdade é concebida como restrita ou exclusiva dos homens. Cabendo às mulheres preservar a desigualdade natural e adotarem a submissão de uma possível liberdade contratual a liberdade do homem. O contrato matrimonial e sexual faz, então, a mulher abdicar de sua liberdade natural a partir da sua inferioridade física natural e a consolida a partir da sua desigualdade original como submissa. Ou seja, uma assimetria física natural é uma espécie de base que vai consolidar a submissão n o contrato.

Eu acho que, na verdade, o casamento, essa instituição, como contrato, é uma instituição, que tem um caráter aberto, está sempre sob avaliação. E o problema de estar sob avaliação, significa que nem sempre a avaliação é compartilhada, o efeito tem como forma como comungada, digamos assim, como através de um diálogo. Às vezes o momento do diálogo não aparece. E há um outro elemento importante é que, o problema é que o abre ali, me parece claro, é que as pessoas mudam, né? As crianças crescem, os homens envelhecem, as mulheres também a libido e várias outras questões aparecem em jogo. O que talvez explica a instabilidade ocultada durante muito tempo das relações matrimoniais.

Ou seja, o casamento é uma instituição artificial. Mais artificial tem menos que estado, porque a sustentação dela depende de dois, da vontade, entre aspas, soberana, autônoma e reflexiva, sentimental, através de paixões, através de razões de cada um por si no fundo, ela se torna, fecha aspas, estável. Casamento no fundo de uma instituição aberta. A minha inspeção contrata infeliz tem a ver com isso, talvez, com o fato de que esse contrato não é tão livre esclarecido o quanto a gente gostaria. E a submissão é forçosamente uma situação que tanto o homem resiste a ela, porque o homem também tem essa questão da submissão, portanto, essas obrigações matrimoniais, como a mulher.

E assim se entende que os seres humanos não suportam a submissão por muito tempo ou todo o tempo. Talvez aí tenha uma um, digamos, um grito do nosso homem primitivo, ou um grito da nossa mulher primitiva. Que a submissão não é uma situação confortável, ou pelo menos não é confortável durante o tempo todo. Durante algum tempo, talvez sim, mas era o tempo todo, não.

Grande abraço Eduardo e parabéns pelo livro, é um livro que merece um prêmio, viu? Merece tradução, inclusive, próprias línguas, gostei muito, assim. Tem os, a erudição, que eu acho que faz parte, mas a coisa mais legal é a retórica atualizada sim senhor, um estilo irônico e bem humorado no tratamento de um tema tão desafiador quanto o casamento, que não é, não é uma instituição fechada e está como qualquer contrato sempre aberto a discussão, portanto, se eu digo que ela é aberta, não é uma instituição tão sólida, como as pessoas gostariam que ela fosse.

Algumas esperam que ela seja por causa de um contrato assinado, um papel passado. Por fim, me parece importante frisar nessa nota o tema da questão dos compromissos tácitos, implícitos. Porque, às vezes, revelar os compromissos é um desprazer. E talvez isso explique um contrato de interesse.

Grande abração, parabéns, gostei muito. Li aqui, de forma relâmpaga, o teu texto, mas eu gostei muito, quero ler com mais detalhe e eu abri um buracão aqui, acho que ele contratou a tua lista, porque tradição interna. Ao modelo de contratalismo que não inclui as mulheres, na conquista da igualdade da liberdade, não é um pecado pequeno, é de natureza essencial e como diz a Yara Frateschi, no vídeo que eu vi, amanhã vamos fazer questão de citar isso, né? É uma contradição intra-núcleo central do sistema. Se os princípios de igualdade e liberdade são fundamentais pra constituição do contrato, que se preserve os para todas as partes.

Me parece também que o velho Hegel fornece duas pistas interessantes externas a Rousseau, mas que exibem na dialética do senhor e do escravo - que eu sempre uso nesse tema das relações de dependência material, afetiva e espiritual e a necessidade de uma instituição acima dos homens em sua crítica à Vontade Geral. Mas isso fica para uma outra abordagem.

 

BIBLIOGRAFIA:

MEDEIROS, Eduardo Vicentini de. Até que a razão os separe: dez cenas sobre casamento e filosofia.1ª Ed. Porto Alegre: Abre Parêntese, 2021. E PDF

Veja também o video do nosso diálogo no link a seguir:https://open.spotify.com/episode/0iiKrWl34tMit6tDvXdfNo?si=9dUVDbVWTyKexNYzqRoOWg&utm_source=whatsapp&dl_branch=1