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terça-feira, 29 de outubro de 2019

A OBSTRUÇÃO


A OBSTRUÇÃO – V1


Momento de recolhimento

de cuidar dos seus

refazer os exércitos

preparar para batalha


estamos na frente da muralha

estamos bloqueados

todos os batalhões e quadros

estão fazendo suas armas


reconstruindo seu sentido

conversando


alguns bebem

outros dormem

e outros amam


muitos estão agora olhando para o céu

a lua está cheia

o momento oportuno

será dado pelo luar


nada mais será como antes

confie na sua intuição.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

MARK ON THE WORLD


- MARK ON THE WORLD -

"A significant life leaves its mark on the world. 
A significant life is, in some sense, permanent; 
it makes a permanent difference to the world- 
it leaves traces."

in Philosophical Explanations, by Robert Nozick.


Esta era a principal filosofia do meu pai que era só um eletricista, mas sabia muito bem como e o que queria fazer da vida. Dizia assim "meu filho a gente vem para este mundo para deixar uma marquinha registrada nele. Pode parecer pequenina para alguns, mas é a sua marca e uma parte da vida a gente gasta para descobrir qual e aonde e na outra a gente faz esta marca. Para alguns demora, é difícil e é muito duro, para outros é mais fácil. Sorte e azar entram aqui, mas quem procura encontra e é por isto que eu te digo isto. Vá procurar a sua marca. Não desperdice a tua vida sem deixar algo de bom por aqui. O mundo já tem problemas demais, maldade demais, precisamos mudar isto." E eu continuo procurando ter uma vida significativa e deixar uma marquinha neste mundo.

HOBBES E A LEITURA DE SI E A SEMELHANÇA DAS PAIXÕES DE TODOS NÓS - dezembro de 2016


HOBBES E A LEITURA DE SI E A SEMELHANÇA DAS PAIXÕES DE TODOS NÓS  

NÃO É NADA DIFÍCIL COMPREENDER O QUE VIRÁ

Para mostrar que minha capacidade de me ocupar com filosofia de forma permanente e persistente - apesar da estupidez que vivo e estou a sofrer como servidor público com meus colegas e familiares - ainda não está nenhum pouco esgotada e que ainda abrigo muitas sementes de reação e impulso de sentido.

Vou postar aqui uma passagem que citei no meeting com meus colegas de estudos universitários de Hobbes, da Introdução ao Leviatã, que me fascina por seu conteúdo temático e por, talvez, dar ensejo ao estudo de uma moral hobessiana.

Aliás, todos nós que estudamos Hobbes com nossos mestres da UFRGS – o preciso Balthazar Barbosa Filho in memoriam e o sagaz e desafiador João Carlos Brum Torres, dos quais nós temos diversos episódios de debates, leituras e registros, sendo que alguns até mesmo prosseguiram suas carreiras com trabalhos sobre o autor e sua contribuição para a filosofia política. Em especial, meu querido colega e amigo Marcelo Villanova que fez seu doutorado sobre Hobbes e meu outro colega e amigo Eduardo Vicentini de Medeiros que fez sua monografia de graduação com um belo trabalho intitulado Makers Knowledge.

Essa passagem faz, ao meu ver, uma bela ressonância também a Sócrates e ao conhecimento de si. Mas se aplica também ao quadro atual em que tanto a sedição, quanto a resistência, a desobediência civil e todas as formas de reação me parecem racionalmente justificadas e necessárias para fazer frente "à barbara conduta dos detentores do poder para com seus inferiores."

"...há um ditado que ultimamente tem sido muito usado: que a sabedoria não se adquire pela leitura dos livros, mas do homem. Em consequência do que aquelas pessoas que regra geral são incapazes de apresentar outras provas de sua sabedoria, comprazem-se em mostrar o que pensam ter lido nos homens, através de impiedosas censuras que fazem umas às outras, por trás das costas. Mas há um outro ditado que ultimamente não tem sido compreendido, graças ao qual os homens poderiam realmente aprender a ler-se uns aos outros, se se dessem ao trabalho de fazê-lo: isto é, Nosce te ipsum, Lê-te a ti mesmo. O que não pretendia ter sentido, atualmente habitual, de pôr cobro à bárbara conduta dos detentores do poder para com seus inferiores, ou de levar homens de baixa estirpe a um comportamento insolente para com seus superiores. Pretendia ensinar-nos que, a partir da semelhança entre os pensamentos e paixões dos diferentes homens, quem quer que olhe para dentro de si mesmo, e examine o que faz quando pensa, opina, raciocina, espera, receia, etc., e por que motivos o faz, poderá por esse meio ler e conhecer quais são os pensamentos e paixões de todos os outros homens, em circunstâncias idênticas. Refiro-me à semelhança das paixões, que são as mesmas em todos os homens, desejo, medo, esperança, etc., e não à semelhança dos objetos das paixões, que são as coisas desejadas, temidas, esperadas, etc. Quanto a estas últimas, a constituição individual e a educação de cada um são tão variáveis, e são tão fáceis de ocultar a nosso conhecimento, que os caracteres do coração humano, emaranhados e confusos como são, devido à dissimulação, à mentira, ao fingimento e às doutrinas errôneas, só se tornam legíveis para quem investiga os corações. E, embora por vezes descubramos os desígnios dos homens através de suas ações, tentar fazê-lo sem compará-las com as nossas, distinguindo todas as circunstâncias capazes de alterar o caso, é o mesmo que decifrar sem ter uma chave, e deixar-se as mais das vezes enganar, quer por excesso de confiança ou por excesso de desconfiança, conforme aquele que lê seja um bom ou um mau homem."

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

MARCOS JUSTO TRAMONTINI: UMA LEMBRANÇA E HOMENAGEM


MARCOS JUSTO TRAMONTINI: UMA LEMBRANÇA E HOMENAGEM

"A maioria dos seres humanos atua como os historiadores: só em retrospecto reconhece a natureza de sua experiência"

Eric Hobsbawn

A Organização Social dos Imigrantes: a Colônia de São Leopoldo na Fase Pioneira 1824-1850, é uma tese de doutorado defendida em 1997 na PUC-RS e publicada em 2000, pela Editora Unisinos. Uma das obras mais importantes sobre a história de São Leopoldo já publicadas. Esta Opus Magna de Marcos Justo Tramontini (1958-2004), se destaca pelo tratamento crítico da bibliografia existente sobre o tema dos imigrantes alemães nas primeiras décadas e renovou os estudos sobre a imigração e colonização alemã no Rio Grande do Sul, conforme afirma Marcos Witt em homenagem póstuma.



O orientador da tese, Rene Ernaini Geertz, aponta seu caráter e relevância, no prefácio da publicação:

“os imigrantes não eram pobres coitados abandonados pelo poder público nacional/regional que tinham que resolver sozinhos seus conflitos. Sua leitura do período inicial da imigração em São Leopoldo mostrou que os conflitos eram parte do processo de organização social dos imigrantes. Para ele, a história social e a história político-cultural não podiam ser separadas. Sendo assim, sua reflexão conduziu-se no sentido de deixar claro que a teoria do enquistamento social do imigrante não tem qualquer sustentação, se não for vista como parte integrante da realidade econômica e social da colônia. Tramontini demonstrou ser lenda a tese de auto-isolamento, de o imigrante ser avesso à integração e indiferente à política. Evidenciou, ainda, que, desde os primórdios, a sociedade do imigrante é brasileira, é plural e tolerante, mas também rebelde.”

Esse estudo do historiador leopoldense, promoveu o reconhecimento da dinâmica dos conflitos e da mobilidade social na formação histórica da cidade, que antes era vista e analisada como uma condição passiva e estática de submissão dos imigrantes e das etnias na história da cidade. Quando, num certo dia de sua vida, ainda na adolescência, Marcos decidiu ser professor de história e se lançou com todo o seu espírito a estudar a história e a pesquisar alguns temas intocados no vasto campo de estudos por onde se enveredou, talvez ele não imaginava que fosse conseguir destrinchar toda essa trama. Porém, é bem possível pressupor que este jovem que viveu os anos de ditadura militar e de lutas por democracia em São Leopoldo, participou de movimentos sociais e culturais locais e que dialogava com militantes sociais, intuía que o conflito social encoberto e quase invisível para a história oficial não era apenas de seu tempo e que a tal passividade de classes ou de segmentos sociais escondia apenas uma tentativa de apagar as diferenças e reconhecer as desigualdades sociais, religiosas, étnicas e culturais que formaram as organizações sociais, os ideias e as lideranças de diversos segmentos que representavam interesses em conflitos desde o povoamento, colonização e disputa da terra nessa região abrangida pela colônia de São Leopoldo.

Quando iniciou sua graduação em História na Unisinos em 1977, vivíamos o início das lutas urbanas contra a ditadura que combinavam sindicalistas, lideranças religiosas, camponesas, culturais e intelectuais que reagiram massivamente em todos os espaços sociais ao regime decadente. Quando ele concluiu o curso de História, em 1983, já estávamos em outro patamar e promovendo a luta pelas eleições diretas em todos os níveis no Brasil. Naquela época ou período de transição de 1977 a 1983, São Leopoldo vivia um turbilhão de movimentos sociais de base dentro da universidade, nas escolas, nas comunidades religiosas e também no meio cultural.

Após um período de ocupação local, dois anos após a conclusão do curso de graduação, em 1985, Marcos, então professor já, iniciou o Mestrado em História na PUC de São Paulo e concluiu o mesmo em 1989, com uma dissertação sobre o Clube de Gravura de Porto Alegre de 1940-1950. Onde ele inaugura uma nova abordagem de história cultural e intelectual que depois será seguida em muitos outros estudos sobre esse grupo que articulava arte, política e uma concepção social. Em 1990 iniciou sua carreira de professor na Unisinos. E em 1997 já estava defendendo sua Tese de Doutorado na PUC-RS como foi apontado acima. Também deve constar numa biografia mínima de sua trajetória que parte de seu enfoque de análise social estava fundado em interpretações e revelações sobre os processos de aquisição, disputa e luta pela posse da terra em nossa região por diversos agentes e interesses, demonstrando assim que a disputa ideológica ou cultural repousa principalmente na luta pela sobrevivência e uma busca de um chão e uma terra para viver, morar, plantar e existir plenamente.

Em novembro de 2007, Marcos recebe uma homenagem que marca o reconhecimento de suas atividades minuciosas e notáveis de pesquisa em arquivos públicos que embasaram sua tese e seu trabalho de pesquisa e de seus orientados, o auditório do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul passou a se chamar Marcos Justo Tramontini, atendendo à sugestão da direção da seção gaúcha da Associação Nacional de História (Anpuh) da qual Marcos também foi Presidente de 1998 a 2000.

A importância de Marcos como historiador também passa por ter tido assento no Instituto Histórico Visconde de São Leopoldo-IHVSL, ocupando a cadeira 13, nessa instituição que congrega historiadores da imigração, colonização e história da região do vale dos sinos.

Marcos se despediu desse mundo de conflitos e afetos Históricos, Políticos, Culturais e Sociais, em 1° de Dezembro de 2004.

Agora, em 2019, teremos em São Leopoldo um possível Local de Memória na Rua Brasil - próximo a Antiga Sede da Prefeitura e ao lado do Hotel Kleinville onde está sendo construído um centro de eventos com auditório.

Este lugar, servirá para referir a este importante historiador de nossa cidade, tendo em vista que o Conselho Municipal de Patrimônio Artístico e Cultural chegou a um termo na negociação sobre intervenção e edificação que preserva parte relevante da residência em que Marcos Justo Tramontini viveu desde sua nascença até sua emancipação intelectual. O inicio dessa imporante trajetória de um historiador que contribuiu tanto na compreensão da história da cidade quanto na formação de uma legenda de historiadores e historiadoras através de suas pesquisas, lições, orientações e também provocações à reflexão sobre história social, política e cultural do povo brasileiro, gaúcho, portoalegrense e leopoldense .

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A PAIXÃO É UMA CEGUEIRA


A Paixão é uma Cegueira

Como é bom se apaixonar por alguém

Você vê nessa pessoa a coisa mais atraente do mundo

Você não pensa direito em mais nada na vida

Você perde o interesse por qualquer outra coisa

Você passa a não se ocupar na mente com mais nada

Você acorda mais cedo todos os dias para procurar nela aquilo que nunca encontrou

Você esquece os detalhes mais relevantes do seu orgulho

Você quer deitar com ela, acordar com ela e viver com ela

Você passa a contar cada passo que ela dá ao teu lado

Você deixa de dar bola para todo o mais

Você passa a amar uma pessoa e sabe disso

Você passa a querer ser guiado por ela para toda parte

Você aceita tudo dessa pessoa, até que chega um ponto em que você não vê mais ela direito

Você começa a adquirir uma cegueira danada e pede até um cão guia para ajudar

Mas você não encontra

Você vira um cego e abandona todas as muletas da vida

Você começa a andar devagar

E cada segundo dessa vida passa a ser eterno

E você tem uma paixão

E você tem uma Cegueira

Até que para de andar e desaparece desse mundo com ela ao teu lado

E daí você parte para outra dimensão e passa a ver tudo que já viu de uma outra forma

Você está cego

Você está apaixonado

Você não quer mais nada

Não precisa de mais nada

Fim😎

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

UM DESAFIO CULTURAL PARA SÃO LEOPOLDO


UM DESAFIO CULTURAL PARA SÃO LEOPOLDO

Caracterizada e reconhecida como berço da imigração alemã no Brasil, a cidade de São Leopoldo, localizada na região metropolitana de Porto Alegre - capital do estado do Rio Grande do Sul - pode ser definida, de fato, pela diversidade étnica e cultural de seu povo, sua resistente e forte economia e sua importância regional. Tal aspecto, a diversidade, não se limita às questões étnicas e/ou sociais. Há, além disso, outras duas questões importantes: a territorial e, por conseguinte, a cultural. A territorial se destaca pela proximidade e inserção na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), podendo São Leopoldo ser considerada uma cidade conturbada. Isto é, uma cidade cuja população está envolvida e relacionada territorialmente a população de outras cidades, cujas fronteiras são transpostas com facilidade devida a ampla mobilidade dessa população e da rede de transportes articulados da RMPA, o que gera demandas e desafios político administrativos novos e também uma importante demanda de espaços culturais e para moradias, indo para muito além da dimensão meramente econômica.

Mas a dimensão cultural apresenta um desafio de integração que perpassa a cidade. Uma parcela muito elevada dos moradores dessa cidade provem ou são naturais de outras cidades e outros estados. Hoje, sobre essas camadas de povoamento e imigração do território, já existe também um amplo contigente de novos imigrantes de outros paises, que num novo ciclo de imigração chegam a essa cidade em busca de uma vida melhor.

A partir dos anos 60, muitas famílias de outras cidades e estados brasileiros - principalmente de localidades rurais - migraram não só para São Leopoldo, mas também para a região do Vale do Sinos, pois esta cidade faz parte daquilo que foi chamado na caracterização de sua inserção na região metropolitana de polo de atração. O referido processo de migração se manteve por seis décadas e trouxe, junto às bagagens e demais pertences dessas famílias, traços e costumes característicos de suas regiões. Esta demanda por espaço e migração combinada com certo desenraizamento cultural e identitário apresenta um importante desafio para as políticas culturais, ou seja, o desafio de integrar culturalmente e socialmente esses novos cidadãos e cidadãs valorizando suas identidades e os situando na cidade com a formação e a articulação de trocas simbólicas e culturais que permitam o seu reconhecimento e abram espaços para a sua manifestação e contribuição cultural as relações sociais, econômicas e políticas na cidade.  

Instalados na periferia da cidade, inicialmente de maneira precária, estabeleceram relações de trabalho, de amizade e assim criaram seus filhos. É justamente a partir das novas gerações que, fundindo antecedentes remotos com a adoção de novos hábitos, sistema de habitação, manifestações de recreação e relações com outras pessoas, assumem outro tipo de integração. Diferente dos antepassados, as novas gerações realizam essa integração de maneira progressiva e irreversível a partir dos diversos fenômenos culturais do século XXI.

Na atualidade, muitos dos jovens de periferia dedicam boa parte de seu tempo - e alguns quase que integralmente - com afazeres culturais das mais distintas linguagens. Tais atividades surgem das mais variadas formas: estímulo das escolas formais, oficinas de arte, organizações que dispõe de professores de arte em contraturnos, redes sociais e demais plataformas midiáticas.

A literatura, especialmente a poesia através do movimento Hip-hop, do tradicionalismo gauchesco, das escolas de samba e demais movimentos paralelos é desenvolvida nas ruas e nos bairros. Além disso, a música, como característica e linguagem mais presente no município, apresenta um universo de diversidades de estilo, temas e técnicas que precisam ser reconhecidas e encontrar espaços de manifestação e integração para ampliar as trocas e fortalecer os laços no tecido social da cidade. O mesmo ocorre com as artes cênicas, teatro e dança e, também com as artes visuais, donde se destaca a fotografia e a imagem em movimento através de vídeos.

O problema que se observa é a falta de integração com as culturas regionais próximas, principalmente no que se refere à América Latina. Os jovens da região metropolitana de Porto Alegre não têm qualquer relação e nem mesmo intercâmbio cultural – como em outros tempos, nos anos 60, 70,80, com a cultura dos países que fazem divisa com o estado, o Uruguai, Argentina e Paraguai. Da mesma forma, o contrário também ocorre.
Deve-se considerar as especificidades desses países e regiões compondo a área latino-americana, embora é preciso considerar nessa busca de traços comuns que permitam maior proximidade e cooperação, e o conjunto de fatores externos que influem sobre ela e sobre outras regiões do mundo. A identificação dos traços comuns contribuirá para a adoção de medidas que facilitem as soluções e a criação de alternativas de trocas simbólicas e culturais. A inquietude intelectual, no entanto, pressiona por mudança de atitude e uma nova forma de adoção de medidas que permitam aumentar a capacidade na geração de políticas comuns.

O isolamento a que estão submetidos esses atores, principalmente os jovens das localidades mais carentes, nega a possibilidade de qualquer tentativa de integração com as demais regiões de países da América Latina. Para romper essa lógica de enclausuramento intelectual e cultural, que gera um isolamento ou insulamento cultural e também uma auto alienação simbólica e identitária em pleno meio urbano, há de interferir positivamente, incentivando novas relações de troca simbólica e de reconhecimento e possibilitando à população, através da criação de novos espaços e tempos que apresentem oportunidades positivas de integração e encontros, intercâmbios para a efetiva troca de saberes experiências.

Sobretudo, para a ampliação dos horizontes e do reconhecimento recíproco, com mais diálogo e democracia sobre as possíveis soluções para os problemas comuns a comunidade a qual esses cidadãos e cidadãs jovens passam a ser integrados. Construindo através dessas novas relações, oportunidades de integração que vão gerar novas oportunidades e promover uma dinâmica positiva de interação social que possa dar curso a construção de seus projetos pessoais em espaços coletivos e, portanto, que viabilizem a produção e a geração de emprego e renda, consumo e lazer nas dimensões culturais, simbólicas, materiais e econômicas.

Obs.: Esse texto foi apresentado, em agosto de 2019, com pequenas alterações em caráter de justificativa na captação de recursos para um projeto cultural junto ao Fórum das Mercocidades. A autoria é compartilhada por Jari da Rocha – Diretor da Secretaria de Cultura e Relações Internacionais e Daniel Adams Boeira – Assessor de Planejamento Estratégico em Comunicação da Administração Municipal de São Leopoldo.        

terça-feira, 15 de outubro de 2019

A NEGAÇÃO DA CONTRADIÇÃO


Eu tenho notado tanto que falam em competências e habilidades, leitura do mundo e compreensão da realidade, mas tem um grande furo ligado a uma espécie de negação da dialética, da contradição e do conflito social de interesses. Essa negação parte de uma rejeição do diálogo com o diverso ou a uma negação do reconhecimento do outro. Parece tudo muito psicologizado e voltado ao êxito individual e não a se enfrentar a trama tensa dos coletivos. E isso implica também uma negação da síntese coletiva e exterior. Se passou para uma fase em que o consenso coletivo é imposto e não negociado ou dialogado e os indivíduos que se defendam.

domingo, 13 de outubro de 2019

O IMPULSO DE DAR SENTIDO ÀS COISAS


O IMPULSO DE DAR SENTIDO ÀS COISAS

Mas fiquei pensando numa possível posição entre o "não sei" ou a negação e o "eu acredito nisso" ou "penso assim". Na verdade, fiquei relacionando isso às teorias ou tipos de teorias epistêmicas ou mesmo atitudes epistêmicas que, ao longo da história, tem sido dominantes sobre as nossas crenças.

Eu aceito a crítica a essa minha tendência a tentar dar sentido às coisas e às situações. Esse esforço psíquico - por assim dizer - que é muito persistente em mim de dar sentido a experiência em palavras, numa narrativa e com significado. É um habito adquirido que eu creio que tem me mantido equilibrado na vida e em todas as situações e que envolve um esforço de compreensão e aceitação da realidade. Me parece compensatório e me faz manter uma abordagem positiva das situações.

Aceito essa crítica, por que de fato de um ponto de vista afetivo é muito difícil dar sentido às perdas e ao sofrimento.

Não se fecha as questões da vida e da existência por decreto ou racionalização. Nenhum argumento explica a violência, o desamor, a dor e a morte. E os argumentos ou narrativas que explicam só dão conta da dimensão causal ou fatual, não do sentimento ou do modo como isso fica embolado em nossa cabeça ou trancado na garganta e roendo o nosso coração.

Eu entendo quando você diz que esse sentido ou narrativa não resolve. Porque penso que se eu me confrontar a mim mesmo com as narrativas que eu uso para assimilar ou acomodar as dores do mundo na minha experiência ou biografia, eu sei que posso erguer uma profunda e dolorosa dúvida e pôr abaixo o edifício inteiro da minha personalidade.

Eu fico imaginando que esse enfrentamento é o mesmo que nos coloca numa grande encruzilhada em que as opções são: racionalizações e imposição de um sentido construído com um esforço de compreensão, as mistificações ou construções religiosas ou psíquicas que nos levam a um esforço criativo e interpretativo em que a ficção e a credulidade ficam muito acima de uma racionalidade - que pode até chegar ou carregar para um dogmatismo ou fanatismo, e, por fim, o ceticismo mais negativo que rejeita absolutamente as duas opções anteriores, ou seja, nem a crença crítica e nem a crença desmedida resolvem a explicação da realidade. Uma, porque se satisfaz com pouco e oferece muito pouco e algo insuficiente para nós termos algum conforto, e a segunda porque aposta demais, para muito além dos limites de possibilidade de demonstração ou verificação.

Isso é uma das questões filosóficas - de fundo - mais centrais na história do pensamento humano. Mas temos bons exemplos em todos os três casos. E quase todos eles se resolvem por um único conceito ou juízo bem simples: opto por essa versão porque para mim é melhor assim, ou, para mim tal perspectiva me traz mais conforto.

Eu, por exemplo, adoto a racionalização e a construção de sentido, mas muitas vezes me relaciono com a mistificação e a credulidade e mesmo com a negação ou o ceticismo. É um processo dinâmico na minha cabeça. De fato, o que me ocorre é uma adaptação às três perspectivas dependendo de o quanto elas me trazem conforto. Sobre o término de uma análise disso com um juízo desse tipo: assim está bom, me sinto seguro assim, faz sentido assim ou assim posso esperar ou, em casos muito graves e difíceis, admito minha impotência e incapacidade de responder e aceito a negação ou a incerteza incorporando ela a esse lugar na minha vida ou experiência. Parece que o sentido da negação e da desmedida são irmãos. Nesse último caso, eu aceito a melhor a minha falibilidade ou incapacidade, dou de ombros e me curvo ao imponderável e ao absurdo. Digo: tá legal, não consigo explicar, não há argumentos que resolvam, não posso fazer nada. E suspiro.

Eu creio que Freud, por exemplo, com a interpretação dos sonhos, fica na linha de divisão entre as duas primeiras posições. E, curiosamente, ele é muito autoconsciente disso. 

Com uma outra característica que me chama muita atenção que é a de compreender muito bem no seu pessimismo sobre o destino da humanidade nos anos vinte, em especial, sobre O futuro de uma ilusão e Mal estar da civilização.




"Há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer."

Carlos Drummond de Andrade, Passeios na Ilha.



HARMONIA DO MUNDO


HARMONIA DO MUNDO

Uma lembrança transformada de 2011.

Parece haver uma grande Harmonia no meio do caos e da grande confusão entre as ideias, as imagens, os pensamentos, palavras, canções, ações, emoções e teorias. Em meio ao desacordo geral, dessa sinfonia do mundo que anda aparentemente desafinada e descompassada no tempo, vemos ela toda em fragmentos, eu vejo um sentido especial ou essencial nisso. Vejo que tudo, por mais absurdo, insensato ou sem sentido, acontece exatamente como deve acontecer. E você não precisa aceitar, você não precisa entender, você só precisa aprender a perceber. Veja que, às vezes, a nossa sensibilidade tem mais equilíbrio que a nossa razão para olhar para o mundo.



LEITURA DA REALIDADE ATRAVESSADA


LEITURA DA REALIDADE ATRAVESSADA - 13/10/2017

Ter uma percepção clara e uma leitura correta dos acontecimentos, dos personagens e do quadro geral em que eles estão inscritos é bem importante. Talvez te leve a perceber uma determinada realidade da forma mais pessimista de todas as possíveis, porém, talvez seja mesmo isso que precisa ser feito para convencer as pessoas de que certas mudanças são necessárias, inadiáveis e que lutar por elas é um imperativo não só moral, mas existencial. Chamo esta realidade de atravessada, porque ela parece estar num tempo em que certas barreiras e determinadas portas precisam ser atravessadas completa e definitivamente.

Os fatos, os agentes e a conjuntura são elementos essenciais e decisivos para a interpretação e explicação dessa realidade e para a projeção do futuro. Podemos mudar a interpretação dos fatos, corrigir e descobrir mais detalhes ao longo do tempo e compreender aspectos que antes não tinham sido bem divisados. Podemos também compreender melhor os agentes, descobrir agentes e outros personagens que antes não tínhamos percebido, ou que os interpretes não tinham compreendido. Assim como, também, na leitura da conjuntura outros elementos nos escapam e são negligenciados. É cada vez mais difícil ter uma visão de totalidade que não tenha que aceitar no retrato dessa realidade algumas contradições de métodos, conceitos e também de interpretações e explicações. Tenho notado que temos que conviver com o desafio de fazer uso de paradigmas e modelos diversos e conflitivos para ser capaz de enfrentar a realidade e suas dimensões e dinâmicas próprias de um mundo mais complexo e multidimensional.

Na história desse mundo, é comum pensarmos que nossa inteligência e o conjunto de nossas capacidades de produzir uma leitura do mundo e de divisar as coisas é suficiente, pensamos que temos uma ciência adequada e que nossas leituras são suficientes e que com elas encontramos uma saída ou solução aos desafios e problemas do presente, porém, não é bem assim e cada vez tem sido maior o desafio para quem quer ou julga que há de vencer os obstáculos impostos.

Mas a vida numa realidade atravessada não será fácil para ninguém. Entramos com ela, pelos impasses dela numa depressão política muito profunda. Nossa disposição e confiança entra em crise e com isso ficamos numa espécie de impasse. Alguns por conta deste impasse e insegurança não fazem nada, temendo arriscar-se e mergulhar nos mesmos insucessos de outros que tentaram antes. Nesse quadro, lamentos, lamurias, queixas e críticas genéricas abundam, Não vai dar certo e ninguém quer aceitar que de certo. Mergulha-se na desesperança confortável, pois alguns julgam que seu ceticismo ou pessimismo possam manter sob abrigo seguro suas vidas. É uma grande ilusão julgar que alguém escape do destino ou daquilo que tuas condições de existência te impõem. E ilusão maior ainda é julgar que a sorte vá te livrar do destino ou do futuro que está sendo construído e reservado para teu povo. Nesse momento parecem surgir as razões para abandonar as virtudes e as boas considerações. O desespero guia os desesperados para uma tragédia maior. É o reino da barbárie. As qualidades, pois, e as posturas adequadas, tem sido amassadas pela barbárie. Não há espaço para a civilidade e a tolerância e a realidade vai ficando cada vez mais atravessada. O mundo está selvagem e nós não temos as armas e as precauções necessárias. Talvez seja preciso abandonar todos os métodos e abordagens tradicionais para encontrar a saída dessa grande situação em que estamos.

A superação desse quadro é possível, mas não vai ser com as mesmas formas que vamos vencer. Por maior, convenhamos todos, que seja a sabedoria ensinada e acumulada por séculos, o tempo é novo e a saída precisa ser nova. Para dissipar essa noite vamos ter que ver com olhos e medidas novas essa tragédia.

Foto de autor desconhecido de uma rua após o último temporal arrasador que atravessou São Leopoldo, num domingo a noite.

Após a tempestade...



quinta-feira, 10 de outubro de 2019

OS PODEROSOS - COMO É BOM ENFRENTAR ELES

Ah! Os poderosos. Como é bom enfrentar aqueles que não acostumados passam sob a sombra de seus males e perversidades protegidos e abrigados em seus privilégios e prerrogativas, em seu status e plenos poderes. Como é bom apontar na direção deles aquilo que lhes constrange e lhes fere a alma moral e imoral de seus disfarces. Pobre homem daquele que passar uma vida inteira submisso a esse covarde constrangimento da tradição e da autoridade imposta. Bem aventurados sejam todos que ousarem enfrentar eles todos com as únicas armas que a razão lhes oferece: as palavras, os argumentos, as ideias e os pensamentos.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

VULCÕES, PLUTÃO E POLÍTICA


VULCÕES, PLUTÃO E POLÍTICA

Minha filha Antônia me disse ontem no almoço que os vulcões são necessários porque equilíbram a natureza fazendo o sistema do nosso planeta expelir os gases em excesso no subterrâneo e acomodando as placas sobre as quais vivemos. Ela usou outras palavras é claro, mas conclui dizendo que eles também são perigosos e que as pessoas deveriam evitar morar perto deles. E eu pensando com ela sobre isto e no meu sub texto no fato de que os vulcões são uma espécie de cano de descarga do mundo, ou seja, ninguém mete a mão no cano de descarga de uma moto ligada sem se queimar. E me veio então à lembrança a regência de Plutão na astrologia e seu famoso e atual trânsito em Capricórnio que aconteceu pela última vez a aproximadamente 240-260 anos atrás (1764-1778). Naquele ciclo que vai da independência americana até as independências latinas e revoluções francesas e de outros países ocidentais viu se a dissolução ou explosão de velhos sistemas políticos. A política, todavia, estável ou não é uma espécie de vulcão da sociedade pode torrar e pode ser geradora de equilíbrios, mas isso dependerá de nossa posição em relação a ela. Ela é o que é e nos que temos que saber compreender isto. Se Bismarck gostava de falar dela comparando com a fabricação de salsichas eu, por meu turno prefiro comparar com as caldeiras que forjam o aço com o qual constituímos tantas coisas duráveis. Não é porque isso ocorre em temperaturas altas e insuportáveis que não precisamos forjar o aço. Temos que entender também isto para não colocar no poder pessoas ineptas e incapazes de controlar com equilíbrio e razão o uso da força e da paixão em seus processos. Os vulcões e a política não são bons ou ruins em di mesmos, passam a ser isso ou aquilo de acordo com a forma como nos relacionamos e nos posicionamos em relação a eles. Para terminar, apenas um detalhezinho. A terra nos exige tanto cuidado que deveríamos impedir e regular imediatamente e rigorosamente toda as formas de manejo dela. Assim como a política precisa estar sob controle dos cidadãos e estes precisam assumir sua responsabilidade nela de fato e de direito. Senão ela explode na nossa cara.

ERIC HOBSBAWN EM PORTO ALEGRE: É BOM LEMBRAR


ERIC HOBSBAWN EM PORTO ALEGRE: É BOM LEMBRAR



Eric Hobsbawn em Porto Alegre no início dos anos 90.  A foto tirada entre os leões, em frente à Prefeitura Municipal de Porto Alegre lembra um tempo em que essa cidade fazia história construindo o futuro, construindo o orçamento participativo e promovendo melhorias estruturais em toda a cidade. Inclusive com a Reforma do Mercado Público que já havia sido ameaçado de demolição. Gosto muito dessa foto porque ele data um tempo de superação e de construção do futuro com cidadania e redução da igualdade, sob o testemunho de quem foi talvez o maior historiador do século XX. Um pensador marxista que lecionava História na Universidade de Londres, também na New School for Social Research, em Nova York, e que muito mais do que isso escreveu obras completas sintetizando os eventos históricos em suas eras com uma análise, interpretação e explicação minuciosa dos fatos. Foi um dos últimos historiadores a ousar fazer grandes leituras da história, como os grandes clássicos e os fundadores da disciplina, dando atenção aos conflitos, contradições e dinâmicas que cada processo possuía de mais singular e exemplar. Na cidade que um dia já fez história e no tempo desta história, ele esteve lá para avaliar e compreender o que acontecia e também para deixar lições aos milhares de jovens e professores que assistiram suas palestras. Por fim, é importante dizer que nessa passagem por Porto Alegre, ele fez questão de conhecer e testemunhar como é que funcionavam as assembleias do orçamento participativo e também conhecer as comunidades e as lideranças comunitárias que atuavam nesses processos. À época Olívio Dutra era o prefeito e Tarso Genro o vice prefeito da cidade, que tinha acabado de ser eleito o sucessor de Olívio nas eleições de 1992.

P.S.: Anexo abaixo a imagem da matéria do Jornal Zero Hora. Texto do falecido Ricardo Carle.





As ótimas fotos são de Adriana Franciosi, da agência RBS e foi publicada no Segundo Caderno de Sábado.

Evolução da População Idosa no Município de São Leopoldo: 1991, 2000, 2010, com projeção para 2020.


Evolução da População Idosa no Município de São Leopoldo: 1991, 2000, 2010, com projeção para 2020.

Este artigo pretende contribuir para a análise do envelhecimento populacional em São Leopoldo e seus impactos nas décadas de 2020 e 2030.

Geralmente, é considerada idosa a população com mais de sessenta anos. O IBGE adota essa idade para marcar essa passagem e outras instituições também para caracterizar a terceira idade. Aqui também adotamos os sessenta anos respaldados no IBGE, no Estatu do Idoso e também no fato de que esta população exige atenção especial do poder público em relação aos equipamentos urbanos, aos serviços públicos em geral e cuidados de saúde, proteção e atenção social. Na Lei 10.741-2003, Estatuto do Idoso, o artigo primeiro expressa ou caracteriza como idoso as pessoas com idade igual ou superior aos sessenta anos.

A população idosa tem crescido bastante em percentuais dentro da população brasileira, gaúcha e leopoldense. No Brasil, o IBGE estima que o envelhecimento da população em 2060, vai fazer com que tenhamos mais idosos do que jovens  (Na manchete: UM EM CADA QUATRO BRASILEIROS TERÁ MAIS DE SESSENTA ANOS EM 2060.) No Rio Grande do Sul a estimativa é de que isso ocorra já entre 2030 e 2040. Em São Leopoldo, se nossos dados se confirmarem no próximo Censo Demográfico, isso pode ocorrer já entre 2020 e 2030. Diz se que esse processo marca o fim da transição demográfica e a chegada num outro estágio populacional, em que a população do nosso país, nosso estado e nosso município passa a ser considerada sob outros critérios em relação ao sistema produtivo e aos serviços públicos.

Os meus cálculos iniciais apontam que a população de idosos agora em 2020 vai atingir a cifra de aproximadamente 15% da população da cidade, isso significa que o número de idosos aumentou bastante e que por conta da nossa avaliação de que há crescimento a maior do que a média nesse último período de 2000 a 2010 e de 2010 a 2020, teremos exigências de maior oferta de serviços na área de saúde e assistência, garantia de direitos e também nos temas ligados ao lazer, a cultura e aos espaços de convivência. É condizente com esse aumento a maior demanda e oferta de serviços de saúde, a necessidade de manutenção de espaços públicos de lazer, esportes e culturais, bem como, a adoção de novos parâmetros para o acolhimento e a atenção a essa população.    

Em 1991, a população idosa representava 6,28% do total da população de São Leopoldo; em 2000 representava 7,60 desse total; já em 2010 chegou ao número de 10,80% do total da população. Esse último dado de 2010 já marca um crescimento considerável dessa população. Portanto, crescimento de 4,20 na participação desse segmento, no total da população e esse dado indica, também, que esse novo padrão de crescimento (acima do 1,5% por década), há de se manter nas próximas décadas. Para projetar o crescimento até 2020, usamos um parâmetro de projeção específico.

Para chegar nos quase 15%, adotamos uma espécie de regularidade que aparece quando se levantam e analisamos também os números de habitantes nas duas faixas etárias anteriores aos 60 anos, a saber, o  numero de habitantes nas duas faixas etárias de 50-54 e 55-59 anos que são antecedentes .

A análise do número populacional dessas faixas anteriores aos sessenta anos também permite interpretar de forma combinada os índices de mortalidade e datar quando as gerações nascidas em períodos históricos específicos, decenais ou qüinqüenais atingem a terceira idade. No primeiro caso, podemos investigar o grau de avanço geracional e os índices de mortalidade e de sobrevivência dos idosos. No segundo caso, por exemplo, podemos datar o ingresso de gerações que sofrem efeitos de políticas públicas específicas e tópicas e também de efeitos da industrialização e da urbanização sobre os contingentes populacionais de caráter mais geral. Por exemplo, os nascidos entre os anos 20 e 30 – do século XX, atingiram os sessenta anos entre 1980 e 1990, os nascidos entre 30 e 40, nos anos de 1990 e 2000, os nascidos entre 40 e 50, nos anos entre 2000 e 2010, os nascidos entre 50 e 60, nos anos entre 2010 e 2020 – nosso caso de projeção atual. Ora, a geração que atinge os 60 anos em 2020 é justamente a geração que viveu de forma mais intensa o processo de urbanização e desenraizamento por efeito das grandes migrações desse período e dos períodos posteriores. No caso de São Leopoldo, dado o elevadíssimo índice de crescimento populacional por efeito migratório nos anos 80, a população que chega aos sessenta anos a partir de 2020 é largamente e predominantemente de imigrantes que vieram para a cidade seja em sua infância e juventude, mas principalmente em sua vida adulta e que faziam parte da população economicamente ativa ou produtiva. Que gerou o maior surto de crescimento populacional na cidade.

O que tem ocorrido é que a população da década posterior de idosos sempre fica próxima do acréscimo da faixa (a) de 55-59 anos aos com mais de 60 anos, faixa (b) como ilustrarmos abaixo.


1991
50-54 = 5.976
55-59 = 4.696 (a)
+ 60 = 10. 548 (b) - (6,28% sobre o total do censo)

Total = 167.907

2000
50-54 = 8.991
55-59 = 6.270 (a)
+60 = 14.717 (b) - (7,60% sobre o Total de habitantes; Diferença a soma de 1991 a + b = 15.244 (– 14.717 = - 527)).

Total = 193.547

2010
50-54 = 13.267
55-59 = 10.382 (a)
+ 60 = 23.125 (b) (10,80 sobre o Total; Diferença a soma de 2000 a + b = 20.987 (– 23.125 = + 2.138)).

Total = 214.087

Então, em 2020 próximo, podemos estimar, segundo o modelo de projeção adotado já pelo IBGE que fecha em 2018 com 234.947, com uma taxa de crescimento nessa década com média de 1,2 ao ano , com as estimativas e correções dos anos intermediários e a projeção de crescimento demográfico que tem se confirmado, uma população total próxima de 240.000 habitantes em São Leopoldo.

Somando a e b de 2010, (2000 a + b = 20.987 (– 23.125 = + 2.138 diferença a maior), para 2020 55-59 = 10.382 (a) + 23.125 (b),  teremos uma população que vai ultrapassar os 33.507 mil idosos com mais de 60 anos. Com 33.507 mil idosos, o resultado será de 13,91% sobre o total da população. Como a evolução de 2000 para 2010, já demonstra uma evolução acima da soma de a e b de 2000, é razoável supor que a tendência é que o número de idosos com mais de 60 anos em 2020 já seja a maior do que a soma de a e b de 2010 (ano base por assim dizer). Nesse sentido, é razoável supor que a população de idosos em São Leopoldo vá atingir no mínimo 13,91% ou 33.507 (mesma evolução soma de a + b) e, na média, até  15,14% ou 36.336,  ou, na máxima, 17,02% da população total ou 40.848 idosos, usando uma progressão igual em percentuais de evolução de 2000 a 2010 aplicados sobre a base inicial da projeção e considerando um fator de aceleração desse processo.

Fonte dos dados: SIDRA/IBGE para as faixas 50-54, 55-59 anos e mais de 60 anos para 1991, 2000,  2010.

Projeções:

1.            conjectura nossa para população idosa em 2020.
2.            conjectura  nossa para o total da população em 2020.

São Leopoldo, 21 de maio de 2019.

Daniel Adams Boeira

Esse Brasil Arcaico


Esse Brasil Arcaico

Tem uma combinação muito estranha de certos elementos nesse fenómeno que me deixa realmente intrigado. Porém, preciso dizer que as forças progressistas no Brasil jamais estiveram com a bola toda ou tinham a sociedade inteira ao seu lado. E mesmo entre as forças progressistas nós temos um componente elitista e arcaico muito forte. O autoritarismo e a defesa da desigualdade entre os brasileiros, sempre aparece com seus elementos competitivos e individualistas. Meritocracia e esse desejo burguês básico de ser superior a plebe é um componente absolutamente marcante. A questão da corrupção que marca a sociedade brasileira desde o Brasil colônia e mesmo império também sempre esteve presente como um recurso das elites para se mobilizar em favor não de uma moralidade saneadora, mas sim na preservação de privilégios e de uma hierarquia social necessária. O autoritarismo faz festa com isso. E a elite brasileira parece ter uma profunda aversão a democracia. A elite não quer dar audiência e direito ao pobre, a elite não quer construir um Brasil com "os de baixo". Soma isso a uma pitada impressionante de psicologia das massas e manipulação da informação. E temos essa bestialidade consagrada. Vejo de um lado a ignorância voluntária e deliberada e de outro lado a perversidade que é legitimada no exercício do poder desde que ele seja exercido pelos de cima, sejam eles militares, sejam eles doutores e bacharéis, sejam eles pastores ou sujeitos de sucesso na economia das trocas simbólicas e no exercício da imposição da força. Tem uma espécie de SADISMO social aí. Com uma parte do povo se deliciando com o sacrifício de Tiradentes e com o fracasso ou insucesso daqueles que ousam tentar mudar a sociedade contra essa elite.

O DESMANCHE DO ESTADO DE DIREITO E DA REPÚBLICA PELO JUDICIÁRIO


O DESMANCHE DO ESTADO DE DIREITO E DA REPÚBLICA PELO JUDICIÁRIO

Já se passaram alguns anos do processo do Mensalão, no qual o domínio do fato virou instrumento para a perseguição política. Já se passaram três anos do vergonhoso golpe contra a Presidenta Dilma Roussef. E já se passou mais de um ano do julgamento persecutório e injusto de Lula no tribunal de Curitiba e no TRF 4 de Porto Alegre. Também se passaram nove meses de gestão do governo mais vergonhoso e atrasado da história do Brasil que é produto desse primeiro abuso jurídico e teórico, do segundo abuso político e jurídico e do terceiro abuso ou Conluio do judiciário que colocou um dos maiores presidentes da História do Brasil na cadeia, mas na verdade mais fora do processo eleitoral de 2018, do que qualquer outra coisa.

Muita coisa foi escrita por juristas de muita qualidade contra tudo isso, mas mesmo assim essa escalada discricionária abusada e tendenciosa prosseguiu sua sanha sem nenhum obstáculo até a divulgação pela Intercept dos áudios e diálogos escandalosos da lava jato.

Em tudo que foi escrito contra esses abusos, não encontrei maior discordância ou algo para criticar, ao contrário,  penso que se deve avançar mais duramente nessa análise e que a cada dia que passa esse debate deve ser feito por todos os cidadãos e cidadãs que conseguem pensar, refletir e julgar com clareza e espírito justo.

Apesar de não ser jurista, sou defensor da República, de um Estado Democrático de Direito, tenho profundo compromisso conceitual e prático com justiça e justiça social e me arrepio com qualquer excesso de poder nos três poderes que pode ser pai do arbítrio, de abusos e de distorções graves no Brasil.

Eu creio que o debate de fundo está correto. O tema clássico da divisão entre os três poderes com equilíbrio e regulação nas especificidades, autonomia e respeito institucional estão extremamente prejudicadas no Brasil. As ingerências do poder judiciário nos executivos - vide judicialização e também uma espécie de sequestro das decisões políticas do legislativo por parte do judiciário tem transformado o poder judiciário em legislador e também em relação ao executivo em definidor e redefinidor das prioridades orçamentárias e programáticas.

Eu não sei como resolver isso. Mas me preocupa principalmente os prejuízos no planejamento e na tomada de decisão do executivo. Quem poderia avalizar e ser penalizado por isso - no caso da nomeação da ministra ou do chefe da casa civil, por exemplo - deveria ser o congresso. Depois que ficasse tramitando recursos contrários a tal decisão executiva no judiciário. Mas hoje tudo vira peremptório, abrupto e casuística. Creio que o problema é gravíssimo no Brasil de hoje, pois mostra a face arbitrária do judiciário, seletivo e discricionário e, ao mesmo tempo, esconde a colcha de benesses, privilégios, abusos e também desmandos do poder. Eu acabo sempre na questão final: quem regula e dá limites ao judiciário? Viraram um super poder - um poder absoluto - e tal excesso ou excedente de poder é péssimo para a República.

Juízes e Réus


Juízes e Réus

Quem serão os verdadeiros julgados pela história?

Sempre lembro do julgamento de Sócrates, do julgamento de Galileu Galilei e do julgamento de Nelson Mandela. Todos acabaram condenados e tiveram suas penas rigorosamente cumpridas.

Porém, o julgamento da história colocou ambos em pedestais de dignidade, grandeza e importância muito superior aos seus juízes, algozes e aqueles que não fizeram nada contra estas três grandes injustiças. O problema histórico real é que nenhum deles tinha atrás de si uma massa gigantesca e assombrosa convicta de suas inocências e do tamanho arbítrio que era cometido.

Assim, a lata de lixo da história poderá ser muito pior do que a disposição algozes dos três casos anteriores, com os algozes de Lula - que não  são somente  estes juízes  muito bem pagos e posicionados no judiciário brasileiro - o drama real não é ser sepultado pelo esquecimento, mas sim serem atropelados todos eles e seus demais simpatizantes pelo movimento de grande indignação que tamanha covardia e leviandade pode gerar. Não basta ter o poder como dizia Maquiavel, é preciso saber conservar o poder.

Estou genuinamente curioso e intrigado para ver como se dará a escalada dos acontecimentos. Não se trata de uma ameaça para mim a sombra que paira sobre este julgamento. É um erro pensar assim.

Trata-se de fato de uma temeridade ousar cometer este abuso contra grande parte da opinião pública esclarecida e de Bona fide que assiste e que vai assistir a esta tragédia anunciada. Desafiar a  revolta popular e a desobediência civil é um gesto altamente temerário e arriscado.

Não sei o que vai pela cabeça de toda esta gente que promove e aplaude isto tudo, mas boa coisa e bom juízo certamente não é.