HOBBES E A LEITURA DE SI E A
SEMELHANÇA DAS PAIXÕES DE TODOS NÓS
NÃO É NADA DIFÍCIL COMPREENDER O
QUE VIRÁ
Para mostrar que minha capacidade
de me ocupar com filosofia de forma permanente e persistente - apesar da
estupidez que vivo e estou a sofrer como servidor público com meus colegas e
familiares - ainda não está nenhum pouco esgotada e que ainda abrigo muitas sementes
de reação e impulso de sentido.
Vou postar aqui uma passagem que
citei no meeting com meus colegas de estudos universitários de Hobbes, da
Introdução ao Leviatã, que me fascina por seu conteúdo temático e por, talvez,
dar ensejo ao estudo de uma moral hobessiana.
Aliás, todos nós que estudamos
Hobbes com nossos mestres da UFRGS – o preciso Balthazar Barbosa Filho in memoriam e o sagaz e desafiador João
Carlos Brum Torres, dos quais nós temos diversos episódios de debates, leituras e registros, sendo que alguns até mesmo prosseguiram
suas carreiras com trabalhos sobre o autor e sua contribuição para a filosofia
política. Em especial, meu querido colega e amigo Marcelo Villanova que fez seu
doutorado sobre Hobbes e meu outro colega e amigo Eduardo Vicentini de Medeiros que fez
sua monografia de graduação com um belo trabalho intitulado Makers Knowledge.
Essa passagem faz, ao meu ver,
uma bela ressonância também a Sócrates e ao conhecimento de si. Mas se aplica
também ao quadro atual em que tanto a sedição, quanto a resistência, a
desobediência civil e todas as formas de reação me parecem racionalmente
justificadas e necessárias para fazer frente "à barbara conduta dos
detentores do poder para com seus inferiores."
"...há um ditado que
ultimamente tem sido muito usado: que a sabedoria não se adquire pela leitura
dos livros, mas do homem. Em consequência do que aquelas pessoas que regra
geral são incapazes de apresentar outras provas de sua sabedoria, comprazem-se
em mostrar o que pensam ter lido nos homens, através de impiedosas censuras que
fazem umas às outras, por trás das costas. Mas há um outro ditado que
ultimamente não tem sido compreendido, graças ao qual os homens poderiam
realmente aprender a ler-se uns aos outros, se se dessem ao trabalho de
fazê-lo: isto é, Nosce te ipsum, Lê-te a ti mesmo. O que não pretendia ter
sentido, atualmente habitual, de pôr cobro à bárbara conduta dos detentores do
poder para com seus inferiores, ou de levar homens de baixa estirpe a um
comportamento insolente para com seus superiores. Pretendia ensinar-nos que, a
partir da semelhança entre os pensamentos e paixões dos diferentes homens, quem
quer que olhe para dentro de si mesmo, e examine o que faz quando pensa, opina,
raciocina, espera, receia, etc., e por que motivos o faz, poderá por esse meio
ler e conhecer quais são os pensamentos e paixões de todos os outros homens, em
circunstâncias idênticas. Refiro-me à semelhança das paixões, que são as mesmas
em todos os homens, desejo, medo, esperança, etc., e não à semelhança dos
objetos das paixões, que são as coisas desejadas, temidas, esperadas, etc.
Quanto a estas últimas, a constituição individual e a educação de cada um são
tão variáveis, e são tão fáceis de ocultar a nosso conhecimento, que os
caracteres do coração humano, emaranhados e confusos como são, devido à
dissimulação, à mentira, ao fingimento e às doutrinas errôneas, só se tornam
legíveis para quem investiga os corações. E, embora por vezes descubramos os
desígnios dos homens através de suas ações, tentar fazê-lo sem compará-las com
as nossas, distinguindo todas as circunstâncias capazes de alterar o caso, é o
mesmo que decifrar sem ter uma chave, e deixar-se as mais das vezes enganar,
quer por excesso de confiança ou por excesso de desconfiança, conforme aquele
que lê seja um bom ou um mau homem."
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