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quarta-feira, 16 de outubro de 2019

UM DESAFIO CULTURAL PARA SÃO LEOPOLDO


UM DESAFIO CULTURAL PARA SÃO LEOPOLDO

Caracterizada e reconhecida como berço da imigração alemã no Brasil, a cidade de São Leopoldo, localizada na região metropolitana de Porto Alegre - capital do estado do Rio Grande do Sul - pode ser definida, de fato, pela diversidade étnica e cultural de seu povo, sua resistente e forte economia e sua importância regional. Tal aspecto, a diversidade, não se limita às questões étnicas e/ou sociais. Há, além disso, outras duas questões importantes: a territorial e, por conseguinte, a cultural. A territorial se destaca pela proximidade e inserção na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), podendo São Leopoldo ser considerada uma cidade conturbada. Isto é, uma cidade cuja população está envolvida e relacionada territorialmente a população de outras cidades, cujas fronteiras são transpostas com facilidade devida a ampla mobilidade dessa população e da rede de transportes articulados da RMPA, o que gera demandas e desafios político administrativos novos e também uma importante demanda de espaços culturais e para moradias, indo para muito além da dimensão meramente econômica.

Mas a dimensão cultural apresenta um desafio de integração que perpassa a cidade. Uma parcela muito elevada dos moradores dessa cidade provem ou são naturais de outras cidades e outros estados. Hoje, sobre essas camadas de povoamento e imigração do território, já existe também um amplo contigente de novos imigrantes de outros paises, que num novo ciclo de imigração chegam a essa cidade em busca de uma vida melhor.

A partir dos anos 60, muitas famílias de outras cidades e estados brasileiros - principalmente de localidades rurais - migraram não só para São Leopoldo, mas também para a região do Vale do Sinos, pois esta cidade faz parte daquilo que foi chamado na caracterização de sua inserção na região metropolitana de polo de atração. O referido processo de migração se manteve por seis décadas e trouxe, junto às bagagens e demais pertences dessas famílias, traços e costumes característicos de suas regiões. Esta demanda por espaço e migração combinada com certo desenraizamento cultural e identitário apresenta um importante desafio para as políticas culturais, ou seja, o desafio de integrar culturalmente e socialmente esses novos cidadãos e cidadãs valorizando suas identidades e os situando na cidade com a formação e a articulação de trocas simbólicas e culturais que permitam o seu reconhecimento e abram espaços para a sua manifestação e contribuição cultural as relações sociais, econômicas e políticas na cidade.  

Instalados na periferia da cidade, inicialmente de maneira precária, estabeleceram relações de trabalho, de amizade e assim criaram seus filhos. É justamente a partir das novas gerações que, fundindo antecedentes remotos com a adoção de novos hábitos, sistema de habitação, manifestações de recreação e relações com outras pessoas, assumem outro tipo de integração. Diferente dos antepassados, as novas gerações realizam essa integração de maneira progressiva e irreversível a partir dos diversos fenômenos culturais do século XXI.

Na atualidade, muitos dos jovens de periferia dedicam boa parte de seu tempo - e alguns quase que integralmente - com afazeres culturais das mais distintas linguagens. Tais atividades surgem das mais variadas formas: estímulo das escolas formais, oficinas de arte, organizações que dispõe de professores de arte em contraturnos, redes sociais e demais plataformas midiáticas.

A literatura, especialmente a poesia através do movimento Hip-hop, do tradicionalismo gauchesco, das escolas de samba e demais movimentos paralelos é desenvolvida nas ruas e nos bairros. Além disso, a música, como característica e linguagem mais presente no município, apresenta um universo de diversidades de estilo, temas e técnicas que precisam ser reconhecidas e encontrar espaços de manifestação e integração para ampliar as trocas e fortalecer os laços no tecido social da cidade. O mesmo ocorre com as artes cênicas, teatro e dança e, também com as artes visuais, donde se destaca a fotografia e a imagem em movimento através de vídeos.

O problema que se observa é a falta de integração com as culturas regionais próximas, principalmente no que se refere à América Latina. Os jovens da região metropolitana de Porto Alegre não têm qualquer relação e nem mesmo intercâmbio cultural – como em outros tempos, nos anos 60, 70,80, com a cultura dos países que fazem divisa com o estado, o Uruguai, Argentina e Paraguai. Da mesma forma, o contrário também ocorre.
Deve-se considerar as especificidades desses países e regiões compondo a área latino-americana, embora é preciso considerar nessa busca de traços comuns que permitam maior proximidade e cooperação, e o conjunto de fatores externos que influem sobre ela e sobre outras regiões do mundo. A identificação dos traços comuns contribuirá para a adoção de medidas que facilitem as soluções e a criação de alternativas de trocas simbólicas e culturais. A inquietude intelectual, no entanto, pressiona por mudança de atitude e uma nova forma de adoção de medidas que permitam aumentar a capacidade na geração de políticas comuns.

O isolamento a que estão submetidos esses atores, principalmente os jovens das localidades mais carentes, nega a possibilidade de qualquer tentativa de integração com as demais regiões de países da América Latina. Para romper essa lógica de enclausuramento intelectual e cultural, que gera um isolamento ou insulamento cultural e também uma auto alienação simbólica e identitária em pleno meio urbano, há de interferir positivamente, incentivando novas relações de troca simbólica e de reconhecimento e possibilitando à população, através da criação de novos espaços e tempos que apresentem oportunidades positivas de integração e encontros, intercâmbios para a efetiva troca de saberes experiências.

Sobretudo, para a ampliação dos horizontes e do reconhecimento recíproco, com mais diálogo e democracia sobre as possíveis soluções para os problemas comuns a comunidade a qual esses cidadãos e cidadãs jovens passam a ser integrados. Construindo através dessas novas relações, oportunidades de integração que vão gerar novas oportunidades e promover uma dinâmica positiva de interação social que possa dar curso a construção de seus projetos pessoais em espaços coletivos e, portanto, que viabilizem a produção e a geração de emprego e renda, consumo e lazer nas dimensões culturais, simbólicas, materiais e econômicas.

Obs.: Esse texto foi apresentado, em agosto de 2019, com pequenas alterações em caráter de justificativa na captação de recursos para um projeto cultural junto ao Fórum das Mercocidades. A autoria é compartilhada por Jari da Rocha – Diretor da Secretaria de Cultura e Relações Internacionais e Daniel Adams Boeira – Assessor de Planejamento Estratégico em Comunicação da Administração Municipal de São Leopoldo.        

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