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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A FLOR QUER DIZER ALGUMA COISA


A FLOR QUER DIZER ALGUMA COISA



Olá, tudo bem?

Eu sou uma flor.

Você vê duas flores, mas eu vou falar pela minha irmã contigo.

Provavelmente você nunca conversou com uma flor, mas fique sabendo que eu também nunca conversei com um humano.

Mas hoje tive vontade de dizer algumas coisas, às vezes isso acontece, é imaginado por alguém e acontece.

E enquanto era carregada por estas mãos gentis, para minha futura dona pensei na gente.

Fui adquirida e escolhida, em meio a diversas outras espécies, para presentear a minha atual dona.

Sou agora um presente de amor.

Quem tirou esta minha foto ficou tirando fotos de mim até achar esta que ele achou legal.

É esta então minha primeira foto e estas são minhas primeiras palavras.

Isso para mim não é tão comum assim.

Minha espécie e meu filo recebem muitas deferências, tiram muitas fotos da gente, nos manipulam e nos levam para lá e para cá, mas dificilmente falamos.

Aliás, não há notícias sobre tal proeza conhecidas em nosso mundo vegetal. Salvo alguns desenhos e fantasias exageradas.

O máximo que eu faço é levar minha vida, no tempo que ela existe, na duração que ela tem.
Sou impermanente.

Na verdade, veja bem, sou parte de uma outra vida.

Sou parte de uma planta ou de um vegetal.
Mas também sou parte da vida na terra como você

A minha maior honra é saber que somos chamados de um reino e que este reino é o da flora.

Assim, devo ser importante.

Assim como você que é humano.

Eu floresço e desapareço e vem outra flor no meu lugar e floresce ao meu lado.

Com o tempo, mesmo minha planta, desaparece e ai uma irmã dela ou parente - poderíamos dizer assim? você deixa eu me expressar assim? pode ser? - aparece ao lado, se assim lhe for permitido pelo jardineiro ou jardineira ou pelos animais, inclusive você humano.

Talvez você não saiba, mas existem milhares de flores como eu que nunca viram um ser humano como você e só conhecem ou tem experiências de outros animais e outras plantas.

Muitas experiências interessantes e diferentes poderiam ser narradas aqui.

Vou ficar só nas boas.

Nós também nos damos muito bem com os minerais.

Porque eles ficam ali no lugar deles, na deles, por assim dizer.

Bem, eu vim aqui dizer para você que me acha bela: aproveite sua vida, no tempo que ela durar, porque um dia você também vai desaparecer e seu retrato vai ficar, seu selfie vai ficar, mas aquilo que deve ser mais belo de você, seu movimento, sua animação, suas cores, peles, brilhos e graças vão desaparecer.

Então, enquanto você olha para mim e me acha bela lembre-se que você é bela ou belo também e que enquanto houver alguém que te admira e que fica feliz contigo talvez faça algum sentido estar aqui.

Cresça, floresça e apareça em todo seu ser.
Este é o melhor conselho, o melhor que eu posso te dar.

Amanhã, depois de amanhã e daqui há muito tempo outros estarão no seu lugar ou no meu lugar e daí será, então, a vez deles ou delas fazerem ou não as outras pessoas, flores, animais, minerais, a vida nessa terra, mais felizes.

Te mando um perfume imaginário para que penses o quanto minha cor expressa em silêncio todo o meu ser.

Receba de mim essa beleza como um conselho.

Seja belo e seja bela, em tua vida, em tua existência.

SOBRE CONTRA INTUITIVOS


SOBRE CONTRA INTUITIVOS



Esse é com certeza um baita tema. Para a Vida, a História, a Filosofia, a Literatura e as Artes e todo resto que pudermos pensar, refletir, narrar e agir.

Ocorreu o diverso do que esperávamos. Isso nos surpreendeu por que estávamos habituados a ver o curso natural ou normal das coisas seguindo sempre em certa direção. Com nossas expectativas frustradas descobrimos, porém, como foi boa essa surpresa, porque apesar da estranheza que se abateu em muitos de nós, nós começamos a considerar, com razoável espanto, mas também certa satisfação, que as coisas podem ser diferentes.

Concluímos, então, que talvez a História inteira, muitas vidas e acontecimentos só possuem alguma originalidade e graça, contrariando a repetição tediosa das coisas, situações e papéis ao infinito, justamente por serem contra intuitivas, não se segurirem mecanicamente das mesmas causas conhecidas os mesmos efeitos. Talvez o artífice da vida e também o bom escritor ou escritora tenham isso em comum. Contrariam as nossas expectativas.

Mas também há algum refinamento naqueles que percebem essas diferenças e as compreendem como possíveis, mesmo naqueles momentos em que apenas sinais muito modestos e discretos pronunciam a reversão em algum curso dos acontecimentos. É fascinante observar isso.

Mas é mais fascinante ainda ser capaz de fazer isso e escapar do raciocínio linear e mecânico a que muitos de nós seguem prisioneiros, escravos e guiados cegamente sem maior reflexão e liberdade de pensamento.

Adoro isso.

O texto foi suscitado por um reclame da amiga, também artista nesse tema, em traduções ou na maneira de abordar as questões, minha cara Denise Botmann.

A imagem é da grande amiga que me surpreendeu e alegrou muitas e muitas vezes Marilza Alves Eches  - in memoriam.

A INDIGNAÇÃO DE LULA


A INDIGNAÇÃO DE LULA



Depoimento do criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro - Kakay

“Saímos agora do interrogatório do Lula em um processo criminal na 10 Vara em Brasília. Somos advogados de um empresário, corréu e estávamos acompanhando o interrogatório por dever profissional. Foi impressionante a postura do Lula durante a audiência. A dignidade com que se porta, a eloquência, a inteligência, a coragem no enfrentamento, a ousadia na defesa pessoal.

Ao final fez um eloquente discurso. O Procurador fez questão de frisar que não era o autor intectual da Denúncia, que era um negro vindo da periferia, quase que agradecendo ao Lula pelos avanços conseguidos pelo Governo no período Lulista. Ao final o Lula o abraçou. Ao ver esta audiência eu passo a entender por que parte deste MP político o perseguiu e o denunciou.

Passo a ter certeza da posição política, parcial, maldosa deste juiz que hoje é Ministro. Se não o prendessem não teria ninguém para fazer frente ao Lula numa eleição democrática.

Usurparam, roubaram, estupraram a verdade, a democracia. Este fascista completamente inepto, despreparado e ignorante que preside o país deve ao grupo que dá sustentação ao Ministro da Justiça ter chegado à Presidência.

Na verdade, é o mesmo grupo, este bando que leva o país ao caos. Tudo milimetricamente pensado.

Ou resistimos ou todos os avanços serão liquidados. Se tiveram a ousadia de tramar este golpe, com o Judiciário, mídia e tudo mais, não vão parar. A fibra do Lula no interrogatório e a dignidade com que se portou são um estímulo à resistência . Mesmo sem ser Lulista ou petista é necessário fazer parte de uma discussão lúcida que nos afaste deste obscurantismo e deste desastre.”

DO OSSO DURO AO CORAÇÃO


DO OSSO DURO AO CORAÇÃO

O famoso osso duro do peito fica bem no centro superior do nosso tórax, e alguns para dar demonstração de força afirmam que tem que matar tudo no osso duro do peito.

Ora, mas quem realmente segura as pontas na nossa vida é aquele que fica um pouco mais à esquerda do peito, ou da linha mediana, o nosso querido e magnânimo coração.



Esquecer dele é imperdoável e por mais forte que tu seja meu caro e minha cara, sem ele você não vai mesmo fazer nada de qualidade nesta vida.

É dele que parte o amor para derrubar toda a maldade do mundo, é dele que parte a boa vontade para desarmar o mau humor e perdoar as ofensas e é dele que partem também a gratidão e a generosidade, para dar mais ou devolver a quem merece e também para dar a quem precisa.

Essas coisas que ele faz com a gente tem duas direções. Para cima e para frente. Para cima até o nosso pensamento e para frente ou para fora em relação ao próximo ou ao outro.

Assim, a melhor resposta aos golpes da vida, a dureza do coração do outro ou a dureza do destino, às fatalidades e tragédias, às infelicidades e desconfortos, é mais amor.

Quando se aprende a responder assim não há de haver mal que não termine e mesmo a nossa compreensão se transforma em proteção da vida, da liberdade e da dignidade de si e do próximo.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

O DÓLAR, O SR. MERCADO, HITLER E OS LEÕES


O DÓLAR, O SR. MERCADO, HITLER E OS LEÕES



Tem uma coisa que me chama muita atenção na maior parte das pessoas que gosta de ficar construindo boas ou más expectativas e receitas para satisfazer o Sr. Mercado. Adoram afirmar que as reformas, privatizações e controle da dívida pública resolve o problema.

Essas pessoas devem ficar imaginando o Sr. Mercado como um menino guloso, mas cheio de boa vontade e que se satisfaz com uma alimentação balanceada, equilibrada e comedida.

O primeiro problema é que o Sr. Mercado, não é um menino que foi convidado para um lanchinho ou um almoço. Se observar bem ele é mais de um personagem. O Sr. Mercado é um conjunto diverso de indivíduos. Porém, há um problema aí. Ele não é um conjunto diverso de indivíduos cujos interesses são regulados por alguma racionalidade ponderada ou justa.

É um conjunto de indivíduos pouco colaborativos e que em sua maioria são absolutamente insaciáveis. Tão insaciáveis que se observarmos mais de perto seus comportamentos veremos que eles nunca estão satisfeitos e muitos deles tem tendências criminosas e perversas e que são absolutamente despreocupados em relação às consequências dos seus atos.

Para o terror de quem me lê aqui: o mercado é na verdade uma quadrilha de serial killers. E eu não preciso dizer o que eles fazem quando não há nada que imponha a eles algum limite, regra ou punição.

Então, é de uma ingenuidade atroz aqueles que procuram dizer que estão negociando com o mercado e que vão conseguir deixar ele satisfeito ou que vai dar certo qualquer tipo de acordo com eles.

Isso, para terminar, me lembra muito a dura opinião de Churchill sobre Hitler: não há acordo possível porque você botar a cabeça na boca de um leão e acreditar que vá sair a salvo disso, é pura tolice.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

ARY VANAZZI É UM SERVIDOR PÚBLICO


ARY VANAZZI É UM SERVIDOR PÚBLICO



O atual prefeito de São Leopoldo, Ary José Vanazzi, disputa eleições desde 1988.
Eleito em duas eleições de vereador: 1988 e 1992.

Três eleições para deputado federal: 1994, 1998 e 2002. Sendo suplente nas duas primeiras, toma posse na segunda e é eleito na última.

Uma eleição na condição de vice-prefeito: 1996. Não eleito.

Três eleições como candidato a prefeito: 2004, 2008 e 2016. Sendo eleito nas três eleições.

Em 2001 e 2002 foi Secretário Estadual de Habitação.

Ora, somando os anos em exercício de mandato, devemos considerar que ele exerceu mandato público seja via eleição, seja via delegação de eleito, de 8 anos de vereador, 6 anos de deputado e/ou secretário, mais 11 anos, a completados em dezembro de 2019, totalizam 25 anos de serviço público praticamente ininterruptos e sempre legitimados pelas urnas e pela vontade majoritária dos eleitores.

Além disso exerceu mandato de Presidente da Famurs em 2012-2013 e Presidente Estadual do Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul, de 2013 a 2017. Em 2019 foi eleito Presidente da Associação Brasileira dos Municípios. Nesta função, representa e cuida das pautas de interesse dos municípios de todo o Brasil.

Em todas as eleições que disputou e venceu foi reconhecido pelos eleitores e legitimado nas urnas.

Para constar, Ary Vanazzi é atualmente o prefeito da maior prefeitura do Partido dos Trabalhadores no Brasil e a cidade de São Leopoldo é a cidade com maior geração de empregos no estado do Rio Grande do Sul nos últimos três anos que equivalem a esse período de sua gestão corajosa e determinada em recuperar a cidade do caos e da destruição implantada pela gestão anterior do PSDB e MDB.

Ou seja, Ary Vanazzi serve com dedicação e exerce seus mandatos dando resultados para os eleitores e o povo de São Leopoldo e do Rio Grande do Sul.

Então, não precisa adorar ele, mas é preciso respeitar!

Contra aqueles que forjam Fake News, a verdade vai triunfar!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

AS ILUSÕES BURGUESAS DA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA


AS ILUSÕES BURGUESAS DA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA

– PEQUENO ESBOÇO DE UM PROBLEMA DE ANÁLISE SOCIAL –

Meu amigo, colega e Professor de Filosofia Alexandre Noronha Machado, fez uma analogia muito especial sobre a teoria de Thomas Kuhn presente na obra As Estruturas das Revoluções Científicas. Vou usar ela aqui para ilustrar talvez o que ocorre com a classe média no mais das vezes. Como ela funciona em relação a sua aderência às crenças e valores das classes superiores. Em sua adesão à burguesia e à elite.

Isso talvez sirva para explicar porque muitos mesmo na penúria, no fracasso, no aumento do desemprego, no aumento do gás e da gasolina, do diesel e da luz, no aumento da contribuição previdenciária e em todas as coisas, m....s e lixos que se escuta por aí, ainda continuam embarcados na nau dos insensatos cujo timoneiro tem mudado de Serra para Aécio, de Cunha para Temer, de Moro para Bolsonaro e deste para o que mais vier, porque é um problema de adesão a crenças.

Como diz o Alexandre, em sua analogia excelente a Thomas Kuhn:

 "mesmo que o barco esteja fazendo água, se ele ainda está flutuando, você não se atira no mar."

Trata-se, portanto, de um paradigma e talvez só uma nova geração dentro da classe média possa mudar ele. E para isso a nova geração vai ter que romper com a geração dominante desse estrato social. Será que isso é possível?

Isso dependerá da dissolução do que tenho chamado de ilusão burguesa da classe média brasileira. Para ajudar na esperança da gente. Isso já ocorreu antes. Entre 1960 e 1980. E poderá ocorrer de novo. Naquela época havia de um lado um ciclo de urbanização, industrialização combinado com ditadura militar e crise econômica. Na atual quadra ocorrem outras mudanças também. Alguns acreditam que se faz o movimento inverso. Para verificar isso precisamos olhar para o regime de adesão a crenças e examinar quais as tendências dominantes.



Uma das formas mais claras de identificar as ilusões burguesas da classe média se apresenta na sua adesão, indiferença ou aversão a determinadas causas das classes superiores ou inferiores.

O que eu chamo de ilusões burguesas aqui é simplesmente a ideia de pertencimento a elite ou a burguesia que ocorre com muita frequência com a classe média, seja por melhoria das condições materiais, seja por inserção em atividades laborais ou intelectuais mais elaboradas, seja por sedução ou alguma espécie de engajamento em que fica flagrante a fantasia de pertencimento a uma classe superior. A classe média parece ter uma identificação natural a burguesia por uma espécie de desejo de sucesso e projeto comum. A classe média olha para o burguês e a elite e pensa de forma consciente ou inconsciente: eu vou ser você amanhã.

Uma forma de verificar esse intento aparece na adesão ou defesa  de crenças que representam os interesses de sustentação desse segmento superior. Ou seja, quando ela é capaz de aderir mecanicamente em defesa das demandas da burguesia que não lhe atendem nenhum interesse material concreto.

Inversamente, observamos o quanto ela quer se afastar das condições inferiores, quando ela se comporta sendo completamente avessa a qualquer forma de solidariedade real às classes inferiores. Mas essa adesão ou afastamento não é linear em todas as questões ou pautas. Pode ocorrer que um mesmo setor ou estrato seja capaz de ser solidário em algumas causas e indiferente em outras ou avesso a outras.
Nos últimos anos, as políticas de inclusão – cotas de todos os tipos – as políticas de distribuição de renda, as políticas de universalização do acesso a educação e a saúde e as políticas habitacionais efetivas, para ficar nesses poucos exemplos de adesão, indiferença ou aversão, tem representado um teste de corte da classe média em alguns fragmentos ou setores específicos.

Para não ser brutal com a classe média inteira – o que infelizmente é uma tendência corrente - com uma simplificação e generalização que desconhece ou não reconhece suas mutações e diferenças dentro dela, vou dividir ela em três seções ou estratos. No estrato superior da classe média, aqueles que tem as tais ilusões burguesas e são conservadores de um status quo, desde que se sintam, nem que em mera fantasia, inseridos nele. Esse é o estrato conservador que avalia a ascensão social por mérito individual. O segundo estrato me parece intermediário. Ele poderia ser caracterizado como indiferente.

Mas é bom lembrar que tanto a posição conservadora quanto indiferente não é integrada ou definidora perante todas as causas. Pode ocorrer de ser avesso a uma causa e aderir a outra ou, mesmo, ser avesso a uma e indiferente a outra. Em todas as combinações possíveis em relação as causas podemos encontrar sujeitos e estratos mais rígidos e consistentes ou mais flexíveis e idiossincráticos.    
 
Essa adesão, entretanto, não se dá de forma linear porque nem toda classe média possui ilusões burguesas. Há um elemento de desagregação intraclasse que pode ser medido por influências culturais mais críticas ao establishment ou ao status quo. A classe média é confusa de um ponto de vista do seu pertencimento. Talvez essa seja uma constatação artificial e contestável, devo reconhecer, mas é o que parece. Parte do meu raciocínio e exposição de conjecturas aqui tenta explicar porquê. 

Mas tenho uma impressão, de certa forma empírica e não verificada, seja por estatística seja por observação metódica, que a classe média não constrói consciência de classe basicamente porque - ainda que essa polarização classista possa ser inaplicável aqui - porque ela sempre está num sentido de transição que pode envolver um ponto de partida Cultural ou Material e um ponto de chegada.

Ou seja, a confusão ou dificuldade de formação de uma consciência de classe específica se agrava com a aceleração de possibilidades de ascensão ou com a redução dessas possibilidades. Como esse fenômeno de aceleração e redução nunca é estável no tempo, porque envolve fatores praticamente incontroláveis e muito diversos para todos os indivíduos do mesmo segmento ou classe social, então fica essa impressão de confusão ou indefinição de consciência. O que resta é uma nesga de identidade do que se acha que é e daquilo que se quer ser.

Fatores esses que podem envolver variaco s negativas e positivas em relação a condições diversas nessa classe multifacetada, desde estrutura familiar estável, condições de escolaridade e permanência na escola e aquisição de formação profissional, condições de saúde individuais ou familiares e também acesso a informação de qualidade e relativa a oportunidades.

Todas essas questões fazem parte do que eu gostaria de chamar perfil biográfico específico do indivíduo intraclasse. 

Essa transição e esse estado dinâmico de suas posições sociais instáveis tanto para o descenso ou ascensão social é o que me parece justamente produzir essas ilusões burguesas. Fica claro e deve ser aceito como razoável que os indivíduos dentro de suas classes de pertencimento tenham desejo de ascensão social. Deve ser aceito também que este desejo se traduz em uma tentativa de pertencimento simbólico, estético e cultural a classe superior. Mas também deve ser aceito que parecer ser isso ou aquilo ou pensar ser isso ou aquilo não equivale materialmente a ser isso ou aquilo.

Nesse sentido, creio que podemos pensar sim nesse tema do pertencimento material a determinada classe social e, então, pertencer ou não a uma determinada classe social vai depender efetivamente dessa linha de corte entre classes baixas, médias e superiores. Nas classes superiores é corrente se colocar as elites e a burguesia, mas é também importante fazer uma observação aqui em relação ao termo ou categoria de elites.

Pode se pertencer a elite no sentido puro da palavra, sem pertencer as camadas superiores, porque em cada estrato social sempre vão existir ou se constituir indivíduos cuja posição em relação a própria classe original e sua posição dentro dela, podem nos levar a crer em seu caráter de elite. Não vou dar exemplos porque creio que todos que leem esse texto podem imaginar os indivíduos que possuem essa característica de ser de uma elite entre os seus iguais.

É interessante olhar assim para a classe média porque talvez se explique a baixa adesão dela às lutas dos de baixo - por um esforço de não identificação ou não aceitação de um pertencimento - e a adesão quase instantânea da classe média às demandas da camada superior burguesa ou da elite que ela almeja ser ou julga ser nessa ilusão de classe pertencer. Então, por fim, parte das ilusões burguesas da classe média está orientada pelo desejo de ascensão social, não tanto por uma consciência ideológica ou cultural, mas sim por uma adesão simbólica a características que criam a ilusão de pertencimento a classe superior ou ao almejado status social.

P.S.: Esse texto e o que ele expressa não tem caráter fechado e nem definitivo. É um ensaio que tenta acertar num ponto específico que chamou minha atenção. É apenas uma tentativa de ficar bolando essa questão das ilusões burguesas da classe média. Estará sujeito a revisão e questionamento do próprio autor ou daqueles que assim entenderem.

Daniel Adams Boeira

07/02/2020

E-mail para comentários in off: daniel_boeira@yahoo.com.br

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A DISPUTA CULTURAL CONTRA A HERANÇA COLONIAL


A DISPUTA CULTURAL CONTRA A HERANÇA COLONIAL

Eu começo a acreditar com determinação que o nosso principal desafio de conscientização da sociedade para que ela seja efetivamente justa, é tratar da estrutura de desigualdade da sociedade brasileira e desse mecanismo de restauração, reação e resistência das minorias e das elites perante a possibilidade de mudança social e da participação do povo no poder e no jogo da partilha da riqueza do nosso país.

Tratar, portanto, da herança colonial e dos costumes e hábitos discriminatórios e de submissão das elites sobre o povo e também da tradição autoritária, moralista e punitivista que sustenta essa dimensão cultural.

E é muito importante, de fato, para superar o pêndulo e deixar de lado o tal temor da Polarização e do Revanchismo, bem como, de outro lado, acabar de vez com essa pecha de que tal projeto é populista.

O antipopulismo é, no fundo, um elitismo e uma expressão de Resistência da dominação da doutrina da elite contra qualquer possibilidade do povo poder decidir o destino desse país, com liberdade, sem manipulação e em defesa da igualdade e da democracia.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

O INDIVÍDUO AUTOSSUFICIENTE E AS ILUSÕES SERVIS


O INDIVÍDUO AUTOSSUFICIENTE E AS ILUSÕES SERVIS

A modernidade é marcada pela afirmação do individualismo. Muitos filósofos plantaram nesse campo ideias de autonomia, independência, autodeterminação e autossuficiência. Seria desonesto intelectualmente dizer que é tudo a mesma coisa. As distinções entre esses termos e conceitos perante a nossa existência são razoavelmente reconhecidas semanticamente ou conceitualmente e também no jogo de linguagem da nossa vida comum. Ainda que possamos nos atrapalhar com elas. 

Basta se deter um pouco para perceber as diferenças reais e o status de cada um desses conceitos nas nossas vidas ou quando são atribuídos a nós mesmos. Isso, entretanto, por mais claro que possa ser visto, não escapa ao espírito geral do individualismo moderno.

A razão disso não é intelectual, isto é, não é por conta de falta de reflexão que esses conceitos ficam embaralhados e parecem estar entrelaçados na cabeça do indivíduo. O que ocorre de fato, ao meu ver, é que o laço que une esses conceitos na cabeça do individuo envolve duas questões aparentemente dissociadas, mas que tem relações fundamentais com esse projeto de homem ou mulher modernos. Um dos temas envolve a liberdade e correlatamente a liberdade de escolha. 

O outro tema envolve a construção de um projeto de vida e a liberdade de poder fazer essa escolha de projeto com mais ou menos independência do meio, das suas relações e daquilo que, inclusive, contra a nossa vontade e desejo, o destino e a história nos impõem.

A ideia de liberdade e de projeto individual envolve uma opção pela escolha solitária de um destino e de uma vida. Mas tem um dia em que você descobre que não faz mais mesmo certas coisas sozinho. É limite do indivíduo autossuficiente que é descoberto aí.

O limite de Nietzsche sempre é atingido na vida real. Nem Zaratustra e nem o Super Homem são reais, por mais sábios e poderosos que sejam. Ambos dependem e muito de que o agricultor plante os alimentos, que o lixeiro recolha o lixo e que, de certa forma, a humanidade inteira faça algumas coisas para que ele possa eventualmente não fazer nada ou ficar só pensando.

Ele tem, ecce homo, este limite individual que foi bem demonstrado em sua própria vida. Quando olhamos mais de perto a vida dele sempre percebemos que foi dependente de outras pessoas.

A mãe, a irmã, as mulheres, os amigos, o pai morto como uma sombra que paira em sua mente, as enfermeiras e médicos dos sanatórios, pois é que seu corpo não sobrevive sozinho e sua mente não funciona sem certos cuidados de outros.

No final, ele repousou a sete palmos com a ajuda dos outros também. E com todos nós vai ocorrer a mesma coisa, para além da terra redonda e desse mundo que dá suas voltas, para além do tempo que passa e da vida que segue. E para além também da nossa mortalidade porque atinge todos os demais. A morte é um dos fins mais justos. É como a divina providência para todos aqueles que viveram desiguais durante todas as suas vidas. Existem mortes diferentes sim. Algumas com mais sofrimento e outras com menos. Algumas de surpresa e outras esperadas. Algumas mortes cruéis e outras tranquilas. 

Parece estranho falar disso, mas é um mistério insondável relacionar a boa vida a boa morte. Às vezes é tudo ao contrário. A vida ruim sobrevém a boa morte. E a vida boa sobrevém a morte ruim. O que aparece aqui é uma espécie de motivo para reduzir a preocupação, pois se ao perverso é possível a boa morte e ao bondoso a morte dolorosa, então não há porque se preocupar com isso. E cada indivíduo há de ter o seu desfecho, ainda que talvez mal possa saber como será, como é e como foi.

Nosso mundo ocidental vive este tipo de mitologia do indivíduo, do caminhante solitário e do herói por si mesmo, mas isso tem aqui um claro limite. Isso pode ser o caso em muitos momentos, mas não é mesmo o caso o tempo todo e na vida inteira.
Esta ilusão do indivíduo acaba servindo na maior parte das vezes para tornar a vida mais difícil ainda. Então, como é possível e porque criar esta pretensão de prescindir dos outros e a julgar os outros desimportantes? 

É um erro brutal que deve ser combatido e criticado pelo bem de cada um e de todos. Pois se não há final garantido até lá vamos continuar sim dependendo uns dos outros.