Powered By Blogger

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

EXPECTATIVAS E NEGAÇÃO DE EXPECTATIVAS: PRIMEIRA REFLEXÃO E NOTA – IN PROGRESS


EXPECTATIVAS E NEGAÇÃO DE EXPECTATIVAS: PRIMEIRA REFLEXÃO E NOTA – IN PROGRESS

Nas nuvens refletidas pelo Sol.



Nos tempos líquidos em que vivemos, essa expressão cunhada por Bauman, que se tornou uma caracterização de época, é muito comum e corrente o uso de expressões que tentam minimizar as expectativas e impor uma certa forma de realismo e uma abordagem finita e não duradoura das relações que passaram a ser vistas como fugazes e temporárias, passageiras e não duradouras.

Assim, no que toca, de uma lado, as ações, relações e expressões políticas e, de outro lado, no que toca também as ações, relações e expressões afetivas dizer que não devemos ter expectativas se transformou num lugar comum aceito como correto. O problema objetivo aqui é que a negação das expectativas pode apenas reproduzir a frustração das expectativas anteriores e impedir que algo melhor aconteça. Vou tentar analisar isso preliminarmente. Não estou satisfeito com meu estágio atual nessa arte, mas creio que compartilhar isso pode ajudar em algum sentido. Que seja para corrigir ou que seja para aperfeiçoar.

Para ficar em dois exemplos de aplicação da negação das expectativas que parecem se misturar no nosso jogo perante as incertezas dos tempos líquidos.  Parte da justificativa contemporânea para essa negação de expectativas se encontra ancorada numa espécie de mandamento prudencial que orienta as pessoas a não jogar todas as fichas em uma única aposta ou alternativa. A prudência aqui aponta direto para o exagero ou excesso.

Tem uma nuance que me parece importante sobre essa negação prudencial das expectativas excessivas ou demasiadas que fica razoavelmente exposta quando confrontamos nossas expectativas à respeito de certas coisas e as possíveis formas de negação dessas expectativas.

É interessante, nesse aspecto, que a gente tem que pensar também na grandeza, na medida e na qualidade dessas expectativas que são afirmadas ou negadas. Não parece razoável negar todas as expectativas no curso da vida. Mas também não parece razoável se negar expectativas de um modo absoluto, como se a vida fosse orientada somente pelo tempo presente ou sobre um balanço negativo do passado.  

Então, creio que devemos modular aqui e identificar diferenças de expectativas e me parece estar associado a isso também que temos que abordar as perspectivas diferenciadas nesse tema. Ou seja, as perspectivas daqueles que projetam expectativas e as daqueles que negam expectativas, além da grandeza ou desmedida de ambas expectativas tanto as positivas como as negativas. Aqui o ditame prudencial indica que não há porque afirmar excessivamente e nem negativamente, pois ambos contém em si um excesso.

Temos que pensar assim também nas boas expectativas, nas expectativas ruins, pois na verdade, é possível relativizar ou graduar qualquer expectativa, desde que se tenha uma interpretação de cada caso. E a questão de fixar ou estabelecer uma interpretação em comum aqui parece se impor. Pois tanto a abordagem positiva quanto a negativa precisam ser graduadas e negociadas, dialogadas e reflexionadas. Na ordem da subjetividade para a objetividade e intersubjetividade o caminho é inverso do ponto de vista da reflexão do sujeito.  

Porém, é importante pensar e lembrar porque a negação da expectativa é, na verdade, uma estratégia que constitui ou impõe também uma expectativa, com o senão desta ser de natureza negativa. Então, temos aqui uma certa contradição em termos. Se aceitamos que temos que evitar as expectativas, então, temos que evitar tanto expectativas positivas quanto as expectativas negativas.

O contra argumento mais razoável aqui é que cada um dos dois falantes que afirmam ou negam expectativas tem uma perspectiva própria. Essa perspectiva pode ser constituída por um conhecimento de si, ou uma experiência acumulada, ou também por uma certa disposição.  

Ou seja, muitas vezes a negação da expectativa é um fenômeno que nos leva para uma abordagem cuja explicação final é a disposição ou indisposição a ter certa expectativa ou tolerar certa expectativa. Assim, mesmo a negação de uma expectativa é a afirmação de uma forma se expectativa de natureza negativa. Desse modo, em relação. a expectativa temos, portanto, a afirmação de uma expectativa negativa.

Não se trata, porém, apenas de uma questão lógica que tem solução por uma análise da gramática ou do jogo de linguagem especifico em que as expectativas figuram. A questão fundamental, ao meu ver, aqui é da natureza da intencionalidade ou disposição ou, na linguagem dos afetos, de uma vontade, um querer ou um desejo.

Na lógica da nossa linguagem ter uma expectativa é esperar que algo ocorra. Ora, a disposição para esperar isso é simetricamente oposta a disposição ou negação de esperar isso, ou deixar acontecer isso. Quando há intenção contrária, nenhuma expectativa é possível ou poderá ser satisfeita, pois lidamos aqui não com um fato, mas sim com uma intenção deliberada de que tal expectativa não seja satisfeita e quando há deliberação dessa natureza não há força que faça tal coisa acontecer.

O velho adágio: quando um não quer, dois não brigam; tem aqui uma tradução simbólica que exibe essa simetria de responsabilidades que entra em desequilíbrio pela disposição de um entre dois. Quando um não quer esperar ou ter expectativas, dois não conseguem realizar elas.

Então, em conclusão, temos que reconhecer que sim, quando há negação absoluta de expectativas fica de fato impossível ter expectativas, mas a causa disso não é uma interpretação especial, mas sim uma disposição a negar seja qual for a contra argumentação que lhe for oposta.

sábado, 28 de dezembro de 2019

EXPECTATIVAS E LIBERDADE


EXPECTATIVAS E LIBERDADE



É uma doutrina libertária muito admirável. Se aplica corretamente em muitas áreas da vida. Demora para ser aceita nas áreas em que a sua regência deveria ser adotada e reconhecida. Me parece que a lição fundamental não é não esperar, mas sim não esperar demais.

Mas mesmo assim os seres humanos sempre tentam esperar mais, desejar mais, desejar ir além dos limites e dos seus domínios. Isso parece um impulso vital e existencial. Podemos ter consciência dele e aceitar seus limites, mas na ordem do desejo, da vontade e da liberdade, precisamos aprender a lidar com ele como o arqueiro ou arqueira que se prepara para lançar suas flechas ao alvo ou aos céus para saber como ele acerta ou até onde ele alcança. Assim, as expectativas ou boas esperanças são nossas flechas lançadas ao futuro que desafiam nossos limites e dos demais e desafiam o inexorável andar do tempo. Nós persistimos nesses lançamentos. E fazemos muitas coisas nas nossas vidas através deles.

Uma das razões para isso é aquilo que Nietzsche chamava de vontade de poder. Outra é o desafio de todo ser humano com cérebro de escapar do destino, dominar sua própria vida e permanecer capitão da sua alma com esperança no futuro. Todos nós lidamos com o imponderável e a incerteza, mas alguns de nós ousam prometéicamente "roubar o fogo dos deuses" e ter uma vida para além do animal. Alguns de nós tem pretensões existenciais para muito além de sua vidinha. Alguns de nós não ficam esperando acontecer. Alguns de nós, mesmo com muita paciência e sabedoria, fazem uso disso para fazer História. E o fazem. Inclusive, o próprio Osho o fez.

O ser humano almeja a totalidade do mundo e alcançar pela sua vontade e escolha a totalidade da sua existência. Sabemos que é difícil. Sabemos que é um grande desafio de xadrez com a morte e com a vida que não é vida, mas tentamos mesmo assim. Este impulso move milhões de seres humanos que tem esperança apesar de tudo, apesar de você, apesar do destino e do medo e consciência culpada de muitos outros. A vida quer da gente é coragem. Coragem para viver, para sonhar, para amar e para mudar o mundo. Claro que dessa forma não se trata mais de uma expectativa. É aquilo que John Lennon chamava de um sonho coletivo que vira realidade.

Nesse ponto, essa perspectiva é apenas aquela que torna possível construir uma outra vida, uma vida alternativa e tornar um outro mundo possível. E isso vai sendo construído da vida privada a vida coletiva, da intimidade a sociabilidade mais alargada, da perspectiva de uma ética pessoal e de uma política social. E eu tenho certeza que quando se constrói isso, se constroem também melhores expectativas, se constroem fraternidade e solidariedade entre os seres humanos. Se ergue uma nova rede de laços sociais, políticos e afetivos sob uma nova forma e modo. Nessa forma temos compromissos. Não largamos as mãos de ninguém. Lutamos juntos e vivemos juntos de uma grande família cujas fronteiras são muito mais largas que as sanguíneas. Cujos horizontes ultrapassam os limites da Cidade, do Estado e de um País. Ultrapassamos o território e tentamos sim transcender nossa banal existência no tempo e no espaço.

Então, parece importante a lição do Osho, quase como a escada de Wittgenstein, depois de subir por ela a uma outra perspectiva ou patamar, você deve jogar ela fora. E fazer isso é desafiar os limites do nosso destino, das fatalidades, das fraquezas humanas, do medo e da insegurança. E é também libertar e ser livre em cada um de nós da regra de submissão e aceitação passiva deste mundo. É decidir que esse mundo não será mais governado pelos mortos ou pelo passado, nem pelo medo e nem pelo terror.

O resto é o silêncio.

P.S.: Este meu texto toca superficialmente em muitos pontos. Precisamos pensar também que a negação das expectativas é da essência do comodismo e do conformismo. O concordino fica preso num horizonte existencial encurtado, sem perspectiva temporal aberta. Para dizer como Heidegger, ele se dobra ao destino e fica sem projeto. Na verdade, eu acredito que estou lidando aqui com uma atitude típica em uma comunidade de gente que adora dizer algo como: Ah, não vamos ter expectativas.

E por conta disso fica se lamuriando e se lamentando porque as coisas não mudam ou porque nada de melhor aparece ou acontece sob o sol. Esse pensamento te leva a não fazer ou esperar coisa alguma. Daí não votam em eleições, anulam o voto, votam em branco. Daí não fazem escolhas e nem apostas e não correm mais nenhum risco. Daí não escolhem um caminho e uma direção e no meio da vida ainda não tomaram uma decisão. Tem que brigar com eles? Creio que não. Temos que mostrar esse complexo, exibir sua nuance temerária ou arrependida, seu saudosismo passadista – um dia a vida era assim – superar a saudade e a nostalgia, superar o final infeliz das utopias. Romper com essa casca de passividade e falta de construção do futuro. Ousar violar a casca dessa humildade acovardada e ajoelhada. Entendermos que se protegendo dentro da casca do caramujo, ficar encaramujado, não vai resolver mais nada mesmo. Desacomodar esse sujeito. Nessa postura o pintinho que não sai pro mundo. E é assim que tá bem bom para um bando bem grande de barbados. E se entender que há muito tempo pela frente, que não há porque pensar que se lá atrás tiveram sonhos, que hoje não possam mais ter sonhos. Abandonar a perspectiva e a postura que o Raul Seixas designou “sentado num apartamento com a boca cheia de dentes esperando a morte chegar”. Fazer esse povo “sair da casinha” porque se é um risco de ilusão tentar fazer alguma coisa, e de fato o é, ficar se protegendo nas casinhas sem fazer nada sem ter nenhuma ação política é um risco maior ainda. Essa covardia passiva precisa ser apontada. Que não adianta e que não tem que ter nenhuma intervenção no mundo. Esse Bicho acomodado, precisa acordar e se libertar do conforto de suas crenças. Se não ele fica nessa de “não tenho expectativas.”

Aí sai isso, como um slogan ou um refrão consolador: Não podemos ter mais nenhuma expectativa. As expectativas são frustradas e é claro que ele ou ela não quer aprender a frustrar expectativas e a lidar com elas. O problema não é que a expectativa é irreal, mas que essa expectativa é efetivamente idealizada. Que a expectativa é frustrada em determinado curso de ação e não agir em relação a ela para além do que ele entende.

Então, tem uma questão bem fundamental aí, uma questão existencial e eu vejo muita gente dentro disso, aprisionada nisso. Quando as pessoas começam escapar dessa expectiva frustrada por conta de uma excessiva idealização, você começa a olhar para as coisas de forma prática. E olhar de forma prática, é começar a olhar melhor para o horizonte do possível. E começa a se perguntar o que fazer. Como é que a gente vai fazer pra destruir ou derrotar esse pesadelo que vivemos? Ou para disputar o poder e não sofrer mais esse tipo de exercício de poder. Vamos parar de ser governados por esses bandidos e esse imbecis? Então, se eu não posso ter expectativa sobre isso. O destino me venceu e isso é um comodismo covarde.

Este é um texto muito mais amplo do que parece. Eu evito o jargão e a métrica filosófica e argumentativa convencional. Porque estamos falando aqui com pessoas que precisam aprender a ouvir suas próprias mentes desaprisionadas desse mecanismo de negação. Eu tento compreender e tento ajudar elas a se compreenderem, não por soberba ou para tentar impor algo. Mas porque esse desafio também é meu. Também tenho que me confrontar com uma tentativa de ficar sem expectativas. Essa perspectiva é muito sedutora de fato. Porque parece te eximir da construção do futuro e das responsabilidades com o presente. Ela envolve justamente a conexão entre um projeto pessoal e um coletivo. Justamente essa conexão que é negada pelo desengajamento que é produto desse espancamento dos projetos. É também um probleminha mais complexo do que parece. Não dá para ser doutoral aqui. Seria um despropósito. Até porque a forma doutoral não atrai e não aponta diretamente o coração da questão que envolve justamente essa perspectiva aberta, sem a qual não se exerce a liberdade. A liberdade de não fazer nada e não esperar nada, é apenas uma liberdade negativa.

Me parece que este texto é feito e dirigido para um público bem específico com uma dimensão muito própria geracional e cultural. Um dia ele vai ter uma versão mais argumentada e hardcore. É por enquanto apenas uma tentativa de mostrar a escada. Creio que quem ler ele, vai entender muito bem. Não precisa explicar tudo. É só ir lendo e refletindo. Entrar em desacordo claro ou em acordo claro sobre o tema geral. Ele para mim parece estar muito próximo do melhor que eu queria escrever hoje sobre esse tema. Alguns podem olhar para esse tema, creio, a partir de uma certa perspectiva. Outros de outras. Não acho que seja exatamente para você que já está em desacomodação. Ele tem mais entrelinhas e subliminares do que parece a primeira vista. Se eu derivar tudo deve dar umas 500 páginas de tese. A proposta é outra, é um texto com um convite a caminhada. Não é um monumento. Começa num ponto e te leva até outro. É um passeio. Então, vem comigo. No caminho eu explico ou tu me explica melhor.

Osho é uma isca que eu mordi. Mas é uma bela isca. Eu gosto muito dele. Não por concordar com tudo. Mas por que sempre me fez pensar mais desde o primeiro contato.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Brilhar, Amar e Viver


Brilhar, Amar e Viver

Tem dias que penso ser um Sol
Os astrólogos e astrólogas me fizeram pensar assim
Mas hoje não penso mais isso

Descobri que posso ser qualquer coisa
Desde que tenha brilho e luz para tal
Desde que faça algo do que apenas vagar entre as sombras

Descobri também a Lua
Fiquei amigo dela
Com seus altos e baixos
Com sua constância instável

E olhei para o Sol de novo
Depois disso

Se consigo ser amigo da Lua
Posso ser teu amigo também
Ele me disse: tudo bem
Tudo certo prá mim também
E pensei: legal
Não deu erro
Deu sinal

Ele me disse: amo a Lua porque ela sempre 
me lembra a hora da luz e a hora da sombra
Mesmo na sombra, sei que ela existe
Está ali apagadinha, quase invisível
Mas existe
E é tão bela por ser

Ela foi feita para brilhar
O brilho não dura todo o tempo
Tem ciclos próprios
Mas está lá

Sempre sabe onde estou
Sempre sabe quem eu sou
Como eu sei dela

Assim, dessa forma, eu entendi
Gente foi feita para brilhar
Gente foi feita para ser
Gente foi feita para existir

O brilho pode não durar
O brilho pode se apagar
Mas a luz que ele deixou
Vai ficar nos meus olhos
Até meu brilho se apagar

Deixa ser
Deixa brilhar
Deixa ser o que pode ser
Deixa brilhar o que puder

Amanhã o sol levanta
O sol vai nascer amanhã
Vai se encontrar com a lua
E seu brilho pera nós vai se apagar

Mas todos nós saberemos
Exatamente e precisamente
Onde ele vai estar

Brilhar o que puder
Amar o que puder
Viver o que puder
Gente foi feita para brilhar
Esse é o meu slogan e do sol

Gente foi feita para brilhar e 
nem a lua há de se apagar

A Extraordinária Aventura vivida por Vladimir Maiakóvski no Verão na Datcha


A Extraordinária Aventura vivida por Vladimir Maiakóvski no Verão na Datcha

A tarde ardia em cem sóis
O verão rolava em julho.
O calor se enrolava
no ar e nos lençóis
da datcha onde eu estava,
Na colina de Púchkino, corcunda,
o monte Akula,
e ao pé do monte
a aldeia enruga
a casca dos telhados.
E atrás da aldeia,
um buraco
e no buraco, todo dia,
o mesmo ato:
o sol descia
lento e exato
E de manhã
outra vez
por toda a parte
lá estava o sol
escarlate.
Dia após dia
isto
começou a irritar-me
terrivelmente.
Um dia me enfureço a tal ponto
que, de pavor, tudo empalidece.
E grito ao sol, de pronto:
¿Desce!
Chega de vadiar nessa fornalha!

E grito ao sol:
¿Parasita!
Você aí, a flanar pelos ares,
e eu aqui, cheio de tinta,
com a cara nos cartazes!

E grito ao sol:
¿Espere!
Ouça, topete de ouro,
e se em lugar
desse ocaso
de paxá
você baixar em casa
para um chá?

Que mosca me mordeu!
É o meu fim!
Para mim
sem perder tempo
o sol
alargando os raios-passos
avança pelo campo.
Não quero mostra medo.
Recuo para o quarto.
Seus olhos brilham no jardim.
Avançam mais.
Pelas janelas,
pelas portas,
pelas frestas
a massa
solar vem abaixo
e invade a minha casa.
Recobrando o fôlego,
me diz o sol com a voz de baixo:
¿Pela primeira vez recolho o fogo,
desde que o mundo foi criado.
Você me chamou?
Apanhe o chá,
pegue a compota, poeta!

Lágrimas na ponta dos olhos
- o calor me fazia desvairar, eu lhe mostro
o samovar:
¿Pois bem,
sente-se, astro!

Quem me mandou berrar ao sol
insolências sem conta?
Contrafeito
me sento numa ponta
do banco e espero a conta
com um frio no peito.
Mas uma estranha claridade
fluía sobre o quarto
e esquecendo os cuidados
começo
pouco a pouco
a palestrar com o astro.
Falo
disso e daquilo,
como me cansa a Rosta²,
etc.
E o sol:
¿Está certo,
mas não se desgoste,
não pinte as coisas tão pretas.
E eu? Você pensa
que brilhar
é fácil?
Prove, pra ver!
Mas quando se começa
é preciso prosseguir
e a gente vai e brilha pra valer!¿
Conversamos até a noite
ou até o que, antes, eram trevas.
Como falar, ali, de sombras?
Ficamos íntimos,
os dois.
Logo,
com desassombro
estou batendo no seu ombro.
E o sol, por fim:
¿Somos amigos
pra sempre, eu de você,
você de mim.
Vamos, poeta,
cantar,
luzir
no lixo cinza do universo.
Eu verterei o meu sol
e você o seu
com seus versos.

¿O muro das sombras,
prisão das trevas,
desaba sob o obus
dos nossos sóis de duas bocas.
Confusão de poesia e luz,
chamas por toda a parte.
Se o sol se cansa
e a noite lenta
quer ir pra cama,
marmota sonolenta,
eu, de repente,
inflamo a minha flama
e o dia fulge novamente.
Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
Gente é pra brilhar
que tudo o mais vá prá o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.

Obs.: Amo esse poema. Maiakóvski foi uma bela descoberta para mim que completa 30 anos. Esse poema me fez pensar muito e descobrir algo interessante. O homem não é o Sol. Pode ser o amigo do Sol e como um amigo do Sol, por mais poderoso que o Sol seja, pode interpelar o mesmo sobre as suas muitas andanças. E aprender alguma coisa com isso. Além de começar a ver graça nessa figura e descobrir nela algo essencial: gente foi feita para brilhar. Deixa ser o que é e seja você também o que é e seja tudo que pode ser.

Bjos

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

A VITIMIZAÇÃO MASCARADA DE LIBERDADE


A VITIMIZAÇÃO MASCARADA DE LIBERDADE

Devemos sempre tentar quebrar o jogo da vitimização nos processos e nas relações pessoais. E a vitimização também pode começar por uma ilusão de liberdade acompanhada de uma grande tentativa de controle do outro. A ilusão de liberdade transfere para o outro a culpa da sua frustração e do seu próprio medo de envolvimento. A tentativa de controle se consagra, ao final, na punição do outro.

É preciso perceber essa dinâmica. Essa talvez seja uma, entre outras formas, de se libertar da dor e da repetição da mesma dor ou sofrimento nas relações humanas. Isso envolve romper essa espécie de compulsão a um comportamento quase automatizado ou/e naturalizado que repete uma espécie de mania.

Essa compulsão evidencia dois mecanismos muito interessantes e que são combinados. Um de ação, que consiste em fazer as mesmas coisas que já não deram certo em outras vezes. O outro, em repetir os mesmos discursos sobre estas experiências. Essa junção entre ação e discurso repetido deixa apenas mais fácil ao discurso de vitimização a condição de passividade: de um lado você acredita que sofreu algo, do outro, a ilusão de que está se libertando disso, ainda que repetindo o mesmo discurso do sujeito que era passivo e vítima da circunstância.

Essa quebra da compulsão não se traduz apenas em abdicar do discurso da vitimização, como se a partir dele ou do abandono dele, você te tornasse livre por uma expressão de consciência do que você mesmo criou. Para sair desse labirinto, a quebra desse mecanismo é fundamental, na ação e na reação às circunstâncias e, assim, impedir a si mesmo de voltar a esse pensamento recorrente.

Quebrar ou não aceitar o jogo de culpa envolve, ainda, fazer certa exclusão dos elementos de um balanço de responsabilidades com o outro, em que é reapresentado o mesmo complexo, esquema ou sistema de avaliação. Para isso, é essencial abandonar o excesso de condescendência com o outro e consigo mesmo. Ou o jogo de empurra-empurra da culpa perseverará e você nunca vai fechar o processo ou equilibrar as relações de forma justa e sensata.

Inclusive, precisamos aprender a negar que você e essas pessoas são vítimas dos astros, das cartas, dos deuses, dos pais e mães e do mundo. Em especial, com aquelas pessoas que já têm o privilégio de realmente pensarem nas suas vidas e fazerem suas próprias escolhas. Aquelas que, por pior que se sintam, têm uma vida repleta de escolhas, em um patamar superior às demais. Claro está que as pessoas que tem esse privilégio nem sempre são aquelas que alegam possuir esse privilégio. Porque mesmo argumentar nesse sentido pode ter por base apenas a fantasia de que se é livre nas escolhas porque se possui um discurso que combina com elas, e que promove a legitimação dessas escolhas.

Pensemos na quantidade gigantesca de pessoas que não têm essa liberdade. Quando fazemos isso, percebemos o quão pueril e infantil é o queixume ou muxoxo de certas pessoas. Daí que eu diria que a análise ou psicanálise foi criada para dar um start nesse processo, mas que hoje temos outras formas de liberação dessa culpa, dessa vitimização, desse tipo de sofrimento.

O crucial é reconhecer o problema e pedir ajuda, mais que isso, se tornar completamente responsável pelo que ocorre antes disso e após a crise. Não se trata de instaurar uma grande culpa ou pecado, porém de construir a compreensão dos dispositivos de transferência e de pseudo-libertação para não repetir eles. Não se trata da abertura de um processo do santo oficio em que as culpas serão distribuídas e desviadas para que se abra, assim, um justo relatório em sua narrativa e um grande purgatório, em suas ações ou decisões, de punição de si mesmo ou do outro. 

É preciso também ser responsável pelas nossas próprias interpretações ou explicações dos fatos e dos sentimentos e pensamentos. São escolhas nossas. A adesão a esta ou outra abordagem deve ser consciente e reflexiva. Por fim, nem você mesmo merece isso, muito menos o outro.

Obs.: tem uma tradição muito grande que chama as manifestações desse tipo de processo de histéricas. Eu acho um nome muito feio para algo que parece apenas uma grande confusão entre os nossos desejos e ideias e a nossa instabilidade e insegurança comum em tempos líquidos.


terça-feira, 24 de dezembro de 2019

QUE O VENTO SOPRE


QUE O VENTO SOPRE

O vento sopra para longe todo este pó  
todas as palavras do mundo
Das palavras, restam letras
Dos corpos, resta o pó
O vento sopra eras

Voltamos todos à terra e ao barro
Nossas letras serão esquecidas
Nossos pecados serão perdoados
Nossos amores com nossas mãos desaparecem
E o vento vai continuar a soprar

Cinzas e redemoinhos nos levam com o tempo
Em espirais infinitas e desaparecem
Todas as nossas dores aflitas
E de nosso suor e lágrimas ficam
vestígios impressos em grãos de areia

Nada restará de nós neste mundo
O significado se dissolve com o vento
E dos outros restará a mesma coisa
Nada para contar ou narrar
O vento vai mesmo assim continuar a soprar

Talvez apenas aquilo que criarmos
O que construirmos e deixarmos de nós escapar
Poderá restar no vento e nos grãos do mundo

 Nossos filhos e netos vão pisar
Um mesmo chão e vão saber que sobre nós estão

 E somente de alguns que restarem
Na humildade e dedicação
Vão fazer jus a este mundo
O vento sopra o orgulho e a vaidade
O vento dissolve tudo que não é humanidade

Da gente ficará a semente mais suave e leve
Para dentro brisa passear e vaguear
E o vento irá guiar cada gota de nós ao seu destino
E o tempo vai colher cada grão de desatino
O vento vai continuar a soprar

Aqui restaremos para tudo que deixamos
Daqui partiremos para tudo que buscamos

Afinal, como já diz a escritura,
Do pó viemos e para o pó voltamos

E, se assim quiser o vento deixar
Em letras nossas cinzas, nossas retas, nossas linhas e diretas.
A terra nos recebe, pois de ti saímos e para ti voltamos.

Daniel Adams Boeira – de dezembro de 2016 – revisado e alterado

domingo, 22 de dezembro de 2019

A HISTÓRIA DA HUMANIDADE CONTRA A HISTÓRIA DAS MÁQUINAS


A HISTÓRIA DA HUMANIDADE CONTRA A HISTÓRIA DAS MÁQUINAS

Na pior hipótese, tudo que é humano, demasiado humano, há de desaparecer. Daqui há uns duzentos anos, talvez, quando as máquinas se derem ao trabalho de reconstruir a história da humanidade e civilização perdida no início do Século XXI, a partir de registros digitais cruzados e de pistas e informações várias, terão um panorama sistêmico do que ocorreu de fato e nas mentes dos seres humanos.

É possível que percebam que o surto de mentiras e covardias foi cevado pelo formalismo mais tacanho, por uma casta de pseudo moralistas, por um tecnicismo desumano, pela estupidez e pelo economicismo mais covarde. Descobrirão, pelas omissões e covardias, quem e quais seres humanos tentaram fazer frente a esta desumanidade que se aproxima de nós todos e descobrirão todos os ases, valetes e Reis desse baralho da tragédia.

Nós que estamos a resistir e a lutar todos os dias e noites desses últimos tempos, podemos perder sim, saibam todos e todas disto, mas a culpa não será daqueles que lutaram e nem dos que tentaram lutar, mas sim de um bando de idiotas, néscios e estúpidos que acreditam sempre que a responsabilidade é dos outros e não deles mesmos.

Não basta votar, ser esclarecido e honesto, pagar impostos e ficar cobrando ou criticando partidos e políticos sem fazer partidos e políticos melhores. E fazer partidos e políticos, bem como, políticas melhores não é apenas descartar ou destruir os valores do outro. As ruínas da nossa civilização e sociedades que começam a aparecer em todos os lados com o fim dos direitos, com o fim da proteção social, com o desaparecimento da tolerância e da empatia, com o fim da generosidade e mesmo com o fim da caridade ao próximo e aos desvalidos, há de fazer sucumbir a pirâmide social inteira. Se enganam muito aqueles que se encontram nós andares superiores esfregando suas mãos sem calos, sorrindo com todos os seus dentes nas bocas, triunfando sobre a miséria e a fome do próximo, desdenhando dos nossos esforços, se pensam que sobreviverão.

A posição covarde ou limpinha é muito boa para quem quer ficar sentadinho na cadeirinha sem errar, sem se arriscar e sem ousar compreender mais os limites daqueles que tentam e que conseguem alguma coisa e que ainda não é tudo, mas é alguma coisa, pois tentam ainda não retroceder, tentam ainda não sucumbir a essa lógica perversa. 

Os covardes venceram muitas vezes ao longo da História, muito mais do que aqueles que lutam, porém, o sinal da sobrevivência está fechado para muitos hoje e eu espero que todos entendam que só haverá avanço e reconquista com muita disposição e que sem se arriscar coletivamente nada será possível.

O que perdemos pode ser recuperado sim, mas não resistirá e nem será reconstruído sem essa consciência, porque não são apenas leis, nem apenas instituições e nem  apenas direitos, mas um espírito humano sem o qual a humanidade não vai sobreviver.

Eu prefiro que essa história seja contada e escrita por homens e mulheres dignos da humanidade.



Obs.: Se esse Apocalipse ocorrer não será por obra de algum agente externo a humanidade, mas sim por seres humanos desumanizados e despidos de humanidade. E é elevada a probabilidade de que, ao contrário dos pesadelos das carolas e dos crentes, nada disso será produto de uma ideologia comunista, mas sim da consagração do capitalismo mais selvagem e daqueles que defendem ardentemente a manutenção da desigualdade social a qualquer preço.

EM TEMPOS DE GUERRA: O OBJETIVO É ARRUINAR AS VIDAS DAS PESSOAS


EM TEMPOS DE GUERRA: O OBJETIVO É ARRUINAR AS VIDAS DAS PESSOAS

Entre alguns comentários que eu ouvi sobre os tempos de guerra, um dizia uma coisa muito interessante.

O comentário lembrava à esquerda e aos progressistas que tem dificuldade para encarar a realidade e admitir o que todos os sinais indicam de que de fato estamos em uma guerra.

Esse comentário dizia simplesmente: você pode achar que não estamos em guerra e que tudo não passa de um processo normal da democracia, mas pode ter certeza que se você não sabe que está em guerra, toda a direita sabe muito bem que está em guerra com você ou vocês e esta se comportando completamente a partir desse pressuposto básico e orientador de suas condutas.

Uma das implicações disso, eu entendi assim, é que se é uma guerra então não importa quais armas sejam usadas, não importam os escrúpulos – às favas com os escrúpulos, disse Jarbas Passarinho no agravamento da ditadura militar, antecedendo o AI-5 e todas as  condutas de perseguição, tortura, assassinatos e outras violências. Desse ponto de vista, que marca a tradição radical conservadora brasileira e em qualquer parte do mundo,  trata-se de tratar de aniquilar o adversário à qualquer preço e sem nenhum impedimento moral, jurídico ou político. Nessa perspectiva, não há negociação e nem diálogo. É o estado de guerra, o estado de natureza mais puro e sem regras.

Nesse sentido, não se trata mais de adversário aquele que se opõe ao projeto ou as medidas, mas sim de um inimigo. O que o comentário está a dizer, na ponta mais aguda do lápis de notas, é que não vivemos uma disputa entre adversários, sob regras, que seja regulada por limites ou dispositivos limitadores, mas sim de uma guerra em que todas as regras são abolidas e o que importa não é apenas derrotar o adversário, mas sim aniquilar o inimigo, exterminar o inimigo, destruir o inimigo.

Uma das consequências mais duras disso é aquela que todos devem lembrar: nunca se sabe como vai terminar isso. Tal coisa deve perturbar muito ambos os lados, porque se passa a viver, em especial, aqueles que são agentes conscientes nesse processo, sob a égide da ameaça permanente. O “medo da morte violenta”, como dizia Hobbes para designar o estado permanente de insegurança no estado de natureza, passa a perturbar gravemente a vida e o caráter de todos. E é assim que para isso trata-se também de usar todos os meios para colocar o mundo e a existência do inimigo em ruínas de tal modo que este não tenha mais nenhum instrumento de defesa, sobrevivência ou resistência. Quem leu até aqui deveria se perguntar não porque há uma polarização ou como ficar fora disso. Nesse estado, é mais racional perguntar em qual dos dois balaios você está ou pode acabar, no caso do rumo dos acontecimentos se acelerar. E a escolha desse lado tem um caráter profundamente moral e histórico para a humanidade.       

Nosso estado gaúcho vive hoje claramente um estado de guerra e o nosso país também. Veja que talvez mesmo alguns professores estaduais, por exemplo, aqui no Rio Grande do Sul, tem dificuldade para entender que essa greve é produto direto de um estado de guerra, porque envolve sim reagir e tomar lado contra uma clara e nítida tentativa de destruição da carreira e provavelmente, por consequência direta e indireta, de toda a educação pública estadual. Esse comentário que eu ouvi há dias atrás dizia uma coisa muito simples, apesar de muitos da esquerda e policias não reconhecerem que estamos em tempos de guerra, toda a direita, todos os reacionários fascistas neoliberais olham exatamente assim para o tempo atual.

Para eles, é sim uma guerra e é uma guerra que lembra muitos episódios de guerra que ao longo da história envolveram lutas entre civilizações, ocupações de territórios, imposição de governos aos povos, derrotas, massacres, humilhações e violências de toda ordem e de todo tipo, inclusive com muitos traços de cinismo, covardia perversidade e também de extrema violência contra aqueles que são. Boa parte das guerras mostram uma situação em que existe um povo que está vivendo em um determinado lugar com determinada situação e aparece, então, um invasor ou um tirano que é aquele que tenta ocupar esse lugar de forma imposta e que rigorosamente trata de eliminar os possíveis adversários ou opositores. Assim, aqueles que promovem a ocupação fazem questão de colocar abaixo ou em ruínas todas as estruturas da sociedade que eles estão ocupando e é exatamente isso que Bolsonaro, Eduardo Leite e vários outros dessa nova geração de fascistas ou neofascistas históricos estão fazendo em prol do reacionarismo ou do retrocesso, estão fazendo.

Estão tentando colocar abaixo o edifício inteiro da civilização que foi estruturada no Brasil a partir da Constituição de 1988 e no Rio Grande do Sul, a partir das lutas históricas dos trabalhadores e também dos progressistas do nosso Estado. Tentaram construir um estado forte pra promover o bem-estar social, mas esse estado vem sendo dilapidado praticamente desde os anos noventa, quando o PMDB e alguns neoliberais resolveram promover a primeira onda de tunga ao Estado privatizar os instrumentos do Estado e conceder fartos benefícios fiscais para vários empresários, que hoje já não estão mais satisfeitos com a partilha e querem mais.  

Eles querem expandir suas empresas e interesses sobre o estado e precisam de mais recursos para financiar ou retroalimentar essa política perversa de caráter neoliberal. No Brasil acontece a mesma coisa trata-se, portanto, de destruir o estado de bem-estar para aumentar a capitalização do empresariado.

Estão, então, pondo abaixo a Constituição de 1988 e todo o sistema de proteção social. Para fazer isso estão destruindo todos os direitos dos trabalhadores e dos cidadãos e também os direitos dos indefesos. Fazem a sociedade olhar para o passado tentando culpar o passado como responsável pelas ruínas do tempo que vivemos hoje. É uma disputa de versão. Ocorre aqui a mesma coisa que ocorre em todas as guerras: a primeira sacrificada é a verdade. Veja que isso é feito através de um bombardeio massivo de mídia com caráter covarde e perverso, não somente ao atacar os direitos dos trabalhadores ou culpar esses direitos pela crise, mas também ao combinar isso com um ataque também sistemático aos valores e aos laços sociais, mais elementares de fraternidade, solidariedade e também de generosidade e tolerância entre os seres humanos. 

E é isso, enfim, que essa ultra direita combinada com os interesses de mercado está promovendo no Brasil e no Rio Grande do Sul. Portanto, é sim uma guerra e uma guerra de destruição e extermínio das vidas dos trabalhadores e das sociedade que vivemos.

sábado, 21 de dezembro de 2019

O CORAÇÃO


“Eis o meu segredo, é muito simples, só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.  Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que a fez tão importante.”

Antoine de Saint-Exupêry 

Estou cada vez mais convicto que é preciso escutar o coração e compreender melhor o coração. Eu tenho tentado muito isso. Mas confesso que erro muito. E erro quando acerto também. Porque quando você acerta, você não acredita e começa a desconfiar que está errado. É tão difícil acertar esse tom próprio e manter a fé nele. Mas um dia eu acerto e fico nele. E, então, vou escutar muito e falar essa língua o tempo todo com muita alegria. O resto da minha vida. E se você quiser, tente isso também.

domingo, 15 de dezembro de 2019

MUITA GENTE SOFRENDO NO MUNDO


Tem muita gente sofrendo no mundo.

Lindas por fora e cheias de vidraças quebradas por dentro.

Sabe aquele salão cheio de quadros?

Imagina tudo isso no chão e quebrado.

Assim é o interior de muitas pessoas.

Cheio de imagens tristes, memórias tristes, traumas e frustrações.

É preciso reconstruir o salão e ter uma noção melhor de cada experiência.

Compreender e superar a grande negação da vida.

(Como olhar a vida acima dela? Como sair do labirinto dos afetos e desafetos e contemplar o todo e ao mesmo tempo ser capaz de julgar com justiça o que é de sua responsabilidade e dos outros em cada processo ou relação?)

Também tem muita gente se especializando em fazer os outros sofrerem no mundo.