QUE O VENTO SOPRE
O vento sopra para longe todo este pó
todas as palavras do mundo
Das palavras, restam letras
Dos corpos, resta o pó
O vento sopra eras
Voltamos todos à terra e ao barro
Nossas letras serão esquecidas
Nossos pecados serão perdoados
Nossos amores com nossas mãos desaparecem
E o vento vai continuar a soprar
Cinzas e redemoinhos nos levam com o tempo
Em espirais infinitas e desaparecem
Todas as nossas dores aflitas
E de nosso suor e lágrimas ficam
vestígios impressos em grãos de areia
Nada restará de nós neste mundo
O significado se dissolve com o vento
E dos outros restará a mesma coisa
Nada para contar ou narrar
O vento vai mesmo assim continuar a soprar
Talvez apenas aquilo que criarmos
O que construirmos e deixarmos de nós escapar
Poderá restar no vento e nos grãos do mundo
Nossos filhos e netos
vão pisar
Um mesmo chão e vão saber que sobre nós estão
E somente de alguns
que restarem
Na humildade e dedicação
Vão fazer jus a este mundo
O vento sopra o orgulho e a vaidade
O vento dissolve tudo que não é humanidade
Da gente ficará a semente mais suave e leve
Para dentro brisa passear e vaguear
E o vento irá guiar cada gota de nós ao seu destino
E o tempo vai colher cada grão de desatino
O vento vai continuar a soprar
Aqui restaremos para tudo que deixamos
Daqui partiremos para tudo que buscamos
Afinal, como já diz a escritura,
Do pó viemos e para o pó voltamos
E, se assim quiser o vento deixar
Em letras nossas cinzas, nossas retas, nossas linhas e
diretas.
A terra nos recebe, pois de ti saímos e para ti voltamos.
Daniel Adams Boeira – de dezembro de 2016 – revisado e alterado
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