EM TEMPOS DE GUERRA: O OBJETIVO É
ARRUINAR AS VIDAS DAS PESSOAS
Entre alguns comentários que eu
ouvi sobre os tempos de guerra, um dizia uma coisa muito interessante.
O comentário lembrava à esquerda
e aos progressistas que tem dificuldade para encarar a realidade e admitir o
que todos os sinais indicam de que de fato estamos em uma guerra.
Esse comentário dizia
simplesmente: você pode achar que não estamos em guerra e que tudo não passa de
um processo normal da democracia, mas pode ter certeza que se você não sabe que
está em guerra, toda a direita sabe muito bem que está em guerra com você ou
vocês e esta se comportando completamente a partir desse pressuposto básico e
orientador de suas condutas.
Uma das implicações disso, eu
entendi assim, é que se é uma guerra então não importa quais armas sejam
usadas, não importam os escrúpulos – às favas com os escrúpulos, disse Jarbas
Passarinho no agravamento da ditadura militar, antecedendo o AI-5 e todas
as condutas de perseguição, tortura,
assassinatos e outras violências. Desse ponto de vista, que marca a tradição
radical conservadora brasileira e em qualquer parte do mundo, trata-se de tratar de aniquilar o adversário à
qualquer preço e sem nenhum impedimento moral, jurídico ou político. Nessa perspectiva,
não há negociação e nem diálogo. É o estado de guerra, o estado de natureza
mais puro e sem regras.
Nesse sentido, não se trata mais
de adversário aquele que se opõe ao projeto ou as medidas, mas sim de um
inimigo. O que o comentário está a dizer, na ponta mais aguda do lápis de
notas, é que não vivemos uma disputa entre adversários, sob regras, que seja
regulada por limites ou dispositivos limitadores, mas sim de uma guerra em que
todas as regras são abolidas e o que importa não é apenas derrotar o
adversário, mas sim aniquilar o inimigo, exterminar o inimigo, destruir o
inimigo.
Uma das consequências mais duras
disso é aquela que todos devem lembrar: nunca se sabe como vai terminar isso.
Tal coisa deve perturbar muito ambos os lados, porque se passa a viver, em
especial, aqueles que são agentes conscientes nesse processo, sob a égide da
ameaça permanente. O “medo da morte violenta”, como dizia Hobbes para designar
o estado permanente de insegurança no estado de natureza, passa a perturbar
gravemente a vida e o caráter de todos. E é assim que para isso trata-se também
de usar todos os meios para colocar o mundo e a existência do inimigo em ruínas
de tal modo que este não tenha mais nenhum instrumento de defesa, sobrevivência
ou resistência. Quem leu até aqui deveria se perguntar não porque há uma
polarização ou como ficar fora disso. Nesse estado, é mais racional perguntar
em qual dos dois balaios você está ou pode acabar, no caso do rumo dos
acontecimentos se acelerar. E a escolha desse lado tem um caráter profundamente
moral e histórico para a humanidade.
Nosso estado gaúcho vive hoje
claramente um estado de guerra e o nosso país também. Veja que talvez mesmo
alguns professores estaduais, por exemplo, aqui no Rio Grande do Sul, tem
dificuldade para entender que essa greve é produto direto de um estado de
guerra, porque envolve sim reagir e tomar lado contra uma clara e nítida tentativa
de destruição da carreira e provavelmente, por consequência direta e indireta,
de toda a educação pública estadual. Esse comentário que eu ouvi há dias atrás
dizia uma coisa muito simples, apesar de muitos da esquerda e policias não
reconhecerem que estamos em tempos de guerra, toda a direita, todos os
reacionários fascistas neoliberais olham exatamente assim para o tempo atual.
Para eles, é sim uma guerra e é
uma guerra que lembra muitos episódios de guerra que ao longo da história
envolveram lutas entre civilizações, ocupações de territórios, imposição de
governos aos povos, derrotas, massacres, humilhações e violências de toda ordem
e de todo tipo, inclusive com muitos traços de cinismo, covardia perversidade e
também de extrema violência contra aqueles que são. Boa parte das guerras
mostram uma situação em que existe um povo que está vivendo em um determinado
lugar com determinada situação e aparece, então, um invasor ou um tirano que é
aquele que tenta ocupar esse lugar de forma imposta e que rigorosamente trata
de eliminar os possíveis adversários ou opositores. Assim, aqueles que promovem
a ocupação fazem questão de colocar abaixo ou em ruínas todas as estruturas da
sociedade que eles estão ocupando e é exatamente isso que Bolsonaro, Eduardo
Leite e vários outros dessa nova geração de fascistas ou neofascistas
históricos estão fazendo em prol do reacionarismo ou do retrocesso, estão
fazendo.
Estão tentando colocar abaixo o
edifício inteiro da civilização que foi estruturada no Brasil a partir da
Constituição de 1988 e no Rio Grande do Sul, a partir das lutas históricas dos
trabalhadores e também dos progressistas do nosso Estado. Tentaram construir um
estado forte pra promover o bem-estar social, mas esse estado vem sendo
dilapidado praticamente desde os anos noventa, quando o PMDB e alguns
neoliberais resolveram promover a primeira onda de tunga ao Estado privatizar
os instrumentos do Estado e conceder fartos benefícios fiscais para vários
empresários, que hoje já não estão mais satisfeitos com a partilha e querem
mais.
Eles querem expandir suas empresas
e interesses sobre o estado e precisam de mais recursos para financiar ou
retroalimentar essa política perversa de caráter neoliberal. No Brasil acontece
a mesma coisa trata-se, portanto, de destruir o estado de bem-estar para
aumentar a capitalização do empresariado.
Estão, então, pondo abaixo a
Constituição de 1988 e todo o sistema de proteção social. Para fazer isso estão
destruindo todos os direitos dos trabalhadores e dos cidadãos e também os
direitos dos indefesos. Fazem a sociedade olhar para o passado tentando culpar
o passado como responsável pelas ruínas do tempo que vivemos hoje. É uma
disputa de versão. Ocorre aqui a mesma coisa que ocorre em todas as guerras: a
primeira sacrificada é a verdade. Veja que isso é feito através de um
bombardeio massivo de mídia com caráter covarde e perverso, não somente ao
atacar os direitos dos trabalhadores ou culpar esses direitos pela crise, mas também
ao combinar isso com um ataque também sistemático aos valores e aos laços
sociais, mais elementares de fraternidade, solidariedade e também de
generosidade e tolerância entre os seres humanos.
E é isso, enfim, que essa
ultra direita combinada com os interesses de mercado está promovendo no Brasil
e no Rio Grande do Sul. Portanto, é sim uma guerra e uma guerra de destruição e
extermínio das vidas dos trabalhadores e das sociedade que vivemos.
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