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domingo, 22 de dezembro de 2019

EM TEMPOS DE GUERRA: O OBJETIVO É ARRUINAR AS VIDAS DAS PESSOAS


EM TEMPOS DE GUERRA: O OBJETIVO É ARRUINAR AS VIDAS DAS PESSOAS

Entre alguns comentários que eu ouvi sobre os tempos de guerra, um dizia uma coisa muito interessante.

O comentário lembrava à esquerda e aos progressistas que tem dificuldade para encarar a realidade e admitir o que todos os sinais indicam de que de fato estamos em uma guerra.

Esse comentário dizia simplesmente: você pode achar que não estamos em guerra e que tudo não passa de um processo normal da democracia, mas pode ter certeza que se você não sabe que está em guerra, toda a direita sabe muito bem que está em guerra com você ou vocês e esta se comportando completamente a partir desse pressuposto básico e orientador de suas condutas.

Uma das implicações disso, eu entendi assim, é que se é uma guerra então não importa quais armas sejam usadas, não importam os escrúpulos – às favas com os escrúpulos, disse Jarbas Passarinho no agravamento da ditadura militar, antecedendo o AI-5 e todas as  condutas de perseguição, tortura, assassinatos e outras violências. Desse ponto de vista, que marca a tradição radical conservadora brasileira e em qualquer parte do mundo,  trata-se de tratar de aniquilar o adversário à qualquer preço e sem nenhum impedimento moral, jurídico ou político. Nessa perspectiva, não há negociação e nem diálogo. É o estado de guerra, o estado de natureza mais puro e sem regras.

Nesse sentido, não se trata mais de adversário aquele que se opõe ao projeto ou as medidas, mas sim de um inimigo. O que o comentário está a dizer, na ponta mais aguda do lápis de notas, é que não vivemos uma disputa entre adversários, sob regras, que seja regulada por limites ou dispositivos limitadores, mas sim de uma guerra em que todas as regras são abolidas e o que importa não é apenas derrotar o adversário, mas sim aniquilar o inimigo, exterminar o inimigo, destruir o inimigo.

Uma das consequências mais duras disso é aquela que todos devem lembrar: nunca se sabe como vai terminar isso. Tal coisa deve perturbar muito ambos os lados, porque se passa a viver, em especial, aqueles que são agentes conscientes nesse processo, sob a égide da ameaça permanente. O “medo da morte violenta”, como dizia Hobbes para designar o estado permanente de insegurança no estado de natureza, passa a perturbar gravemente a vida e o caráter de todos. E é assim que para isso trata-se também de usar todos os meios para colocar o mundo e a existência do inimigo em ruínas de tal modo que este não tenha mais nenhum instrumento de defesa, sobrevivência ou resistência. Quem leu até aqui deveria se perguntar não porque há uma polarização ou como ficar fora disso. Nesse estado, é mais racional perguntar em qual dos dois balaios você está ou pode acabar, no caso do rumo dos acontecimentos se acelerar. E a escolha desse lado tem um caráter profundamente moral e histórico para a humanidade.       

Nosso estado gaúcho vive hoje claramente um estado de guerra e o nosso país também. Veja que talvez mesmo alguns professores estaduais, por exemplo, aqui no Rio Grande do Sul, tem dificuldade para entender que essa greve é produto direto de um estado de guerra, porque envolve sim reagir e tomar lado contra uma clara e nítida tentativa de destruição da carreira e provavelmente, por consequência direta e indireta, de toda a educação pública estadual. Esse comentário que eu ouvi há dias atrás dizia uma coisa muito simples, apesar de muitos da esquerda e policias não reconhecerem que estamos em tempos de guerra, toda a direita, todos os reacionários fascistas neoliberais olham exatamente assim para o tempo atual.

Para eles, é sim uma guerra e é uma guerra que lembra muitos episódios de guerra que ao longo da história envolveram lutas entre civilizações, ocupações de territórios, imposição de governos aos povos, derrotas, massacres, humilhações e violências de toda ordem e de todo tipo, inclusive com muitos traços de cinismo, covardia perversidade e também de extrema violência contra aqueles que são. Boa parte das guerras mostram uma situação em que existe um povo que está vivendo em um determinado lugar com determinada situação e aparece, então, um invasor ou um tirano que é aquele que tenta ocupar esse lugar de forma imposta e que rigorosamente trata de eliminar os possíveis adversários ou opositores. Assim, aqueles que promovem a ocupação fazem questão de colocar abaixo ou em ruínas todas as estruturas da sociedade que eles estão ocupando e é exatamente isso que Bolsonaro, Eduardo Leite e vários outros dessa nova geração de fascistas ou neofascistas históricos estão fazendo em prol do reacionarismo ou do retrocesso, estão fazendo.

Estão tentando colocar abaixo o edifício inteiro da civilização que foi estruturada no Brasil a partir da Constituição de 1988 e no Rio Grande do Sul, a partir das lutas históricas dos trabalhadores e também dos progressistas do nosso Estado. Tentaram construir um estado forte pra promover o bem-estar social, mas esse estado vem sendo dilapidado praticamente desde os anos noventa, quando o PMDB e alguns neoliberais resolveram promover a primeira onda de tunga ao Estado privatizar os instrumentos do Estado e conceder fartos benefícios fiscais para vários empresários, que hoje já não estão mais satisfeitos com a partilha e querem mais.  

Eles querem expandir suas empresas e interesses sobre o estado e precisam de mais recursos para financiar ou retroalimentar essa política perversa de caráter neoliberal. No Brasil acontece a mesma coisa trata-se, portanto, de destruir o estado de bem-estar para aumentar a capitalização do empresariado.

Estão, então, pondo abaixo a Constituição de 1988 e todo o sistema de proteção social. Para fazer isso estão destruindo todos os direitos dos trabalhadores e dos cidadãos e também os direitos dos indefesos. Fazem a sociedade olhar para o passado tentando culpar o passado como responsável pelas ruínas do tempo que vivemos hoje. É uma disputa de versão. Ocorre aqui a mesma coisa que ocorre em todas as guerras: a primeira sacrificada é a verdade. Veja que isso é feito através de um bombardeio massivo de mídia com caráter covarde e perverso, não somente ao atacar os direitos dos trabalhadores ou culpar esses direitos pela crise, mas também ao combinar isso com um ataque também sistemático aos valores e aos laços sociais, mais elementares de fraternidade, solidariedade e também de generosidade e tolerância entre os seres humanos. 

E é isso, enfim, que essa ultra direita combinada com os interesses de mercado está promovendo no Brasil e no Rio Grande do Sul. Portanto, é sim uma guerra e uma guerra de destruição e extermínio das vidas dos trabalhadores e das sociedade que vivemos.

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