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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

SOFREMOS O MAIOR ATAQUE DA NOSSA HISTÓRIA – PROFESSORES DO RIO GRANDE DO SUL


SOFREMOS O MAIOR ATAQUE DA NOSSA HISTÓRIA – PROFESSORES DO RIO GRANDE DO SUL

O Governo é tão ruim que a maioria dos professores que fizeram greve sequer receberam seus salários independentemente de terem começado mais cedo ou mais tarde, saído mais cedo ou mais tarde do movimento.

Se formos levar a sério o calendário letivo de 2019, para efeitos de pagamento ou remuneração, o máximo que poderia não ser pago dos salários é o período equivalente entre 18 ou 19 de novembro e 20 de dezembro. Nem o final do mês de dezembro e nem mesmo o mês de janeiro poderia ser cortado com o famigerado e absurdo corte de ponto. Esperamos receber nossos salários e que a justiça repare a covardia e a chantagem do corte de ponto que viola nosso direito de greve e a tradição de recuperarmos os dias letivos.

Para terminar o nível da covardia estadual, não há nenhum educador de fato que posso ficar satisfeito com o estrago aprovado na Assembleia Legislativa ontem. Mesmo atenuado o estrago nas carreiras e a usurpação dos diretos foram cometidos. O mais impressionante é o facínora que atacou a nossa carreira dizer que vai reduzir impostos com esse projeto. Trata-se apenas, portanto, de medida que visa beneficiar os empresários mais um pouco e manter em seus caixas recursos que faltam ao estado para pagar salários e investir nos serviços públicos e na infraestrutura, na saúde, na educação e na segurança e mesmo em outras áreas que precisam muito de apoio do estado. Vão apenas aumentar a concentração de riqueza no estado. Enquanto isso, os altos salário de outros poderes e do poder executivo vão continuar em festa.

Que meus colegas e os demais servidores se dêem conta disso e tenham Indignação. Não há dignidade possível quando se sofre injustiça e se é atacado tão covardemente, sem reagir.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

HISTÓRICO DA SÃO LEOPOLDO FEST - NOTAS


HISTÓRICO DA SÃO LEOPOLDO FEST - NOTAS

A São Leopoldo Fest foi concebida e realizada pela primeira vez em 1990. Inspirada nas tradicionais comemorações, festividades e atividades culturais realizadas pelos imigrantes alemães e seus descendentes em clubes sociais, com danças, jogos, feiras, comidas e bebes com bandas típicas que faziam muito sucesso. Assim, no mês de julho a cidade entra em festa para celebrar a imigração alemã e o aniversário de fundação da Colônia alemã. A SL FEST é a maior festa do vale do rio dos sinos. Recebe milhares de pessoas e turistas. A festa tem gastronomia originária, diversos shows com artistas e bandas famosas, comércio, artesanatos, parques de diversões, passeios, oficinas, exposições e palestras.

As primeiras edições até 2004 ocorreram sob a égide de uma concepção mais folclórica, apesar de trazerem já atrações nacionais e estaduais de diversas formas de expressão. A partir de então a festa ganhou uma expressão mais intensificada, com as atrações nacionais e estaduais e incluindo com mais força as locais. Ocorreu um incremento tanto no seu planejamento e estruturação quanto no seu papel institucional, histórico e cultural passou a ser mais salientado. Agregou-se um componente de intercâmbio com culturas latinas e os artistas locais passaram a fazer papel protagonista nos diversos tipos de palcos que foram sendo diversificados. Debates históricos e cerimônias oficiais são realizados. A mudança para o Centro de Eventos em 2012, garante estrutura permanente para a festa e outras feiras.

O evento faz não só o resgate da cultura alemã, através do encontro dos imigrantes, danças, teatro, artesanato, música, com apresentação de bandas típicas, visitação aos museus e variada gastronomia, bem como, permite fortalecer a integração de todas as identidades étnicas e religiosas que formaram e povoaram a região do Vale do Rio dos Sinos. A SL FEST consolidou-se como uma grande festa popular, envolvendo a comunidade e expandindo sua influência cultural e as atividades comemorativas a muitos municípios da região. Esta festa reintegra culturalmente as populações que habitam hoje os municípios da antiga São Leopoldo.

Em 2018, a SL FEST segue no Centro de Eventos, divulga um conjunto de atrações nacionais e populares na programação de shows e movimenta a economia municipal e regional comemorando a história da cidade, a contribuição alemã e todos os imigrantes que produzem a atual diversidade étnica e cultural do povo da região do vale do rio dos sinos.

Já em 2019, a SL FEST voltou para o Centro da Cidade, no Largo Rui Porto e foi um grande sucesso de público com muitas atividades ligadas aos preparativos Bicentenário da Imigração Alemã, com acendimento da Pira no Monumento ao Imigrante, e um Festival de Música Extraordinário, além das atrações musicais.

HISTÓRIA POLÍTICA DA PRAÇA DO IMIGRANTE – PEQUENAS ANOTAÇÕES


HISTÓRIA POLÍTICA DA PRAÇA DO IMIGRANTE – PEQUENAS ANOTAÇÕES

A Praça do Imigrante foi construída em diversas etapas entre 1922 e 1934. Sua mais difícil e vultosa edificação foi o cais  que envolveu escavações e edificação de uma barreira de pedra grês e o posterior aterro da margem do rio e a antiga passagem da Rua do Passo entre 1926 e 1928. O término da obra envolveu o ajardinamento e a colocação do mobiliário, bancos e iluminação. Mas essa não era uma mera obra pública para a época.

No mesmo período de construção da praça, muitas outras obras públicas importantes foram realizadas. O período abrange 1920 a 1938 e é um dos períodos de maior êxito econômico da cidade e de incremento de sua influência política no estado, apesar da crise econômica estadual. É um período de incremento comercial e industrial e também de aumento da sociabilidade e das confraternizações locais que, apesar dos diversos tipos de conflito por terra, por poder e também por visibilidade e legitimidade social

Subjaz a construção da praça e as comemorações do Centenário uma larga contenda política entre Republicanos e Liberais na cidade e também entre Católicos e Luteranos. Tudo começou com a morte do Intendente Florêncio da Silva Câmara em meio ao exercício do seu mandato em janeiro de 1902.

As novas eleições conduziram Guilherme Gaelzer Neto, o qual se manteve por um longo período no governo local. Ocorre que Gaelzer ou o “Kayser de São Leopoldo” e este é reeleito ainda em 1904, 1908 e 1912, gerando um inconformismo político agravado também por este ser nascido luterano, numa comunidade Mucker da Ferrabrás e representava de certa forma a ascensão dos luteranos ao poder.

Tal contenda esta que está na base do movimento de emancipação de Novo Hamburgo e também na conformação política da cidade até os anos 60. E não parece ser mera coincidência, também, que a proposta das comemorações tenha sido primeiro discutida pelo então interventor Mansueto Bernardi  e sua equipe e, depois disto, apresentada por seu vice-intendente, então Presidente da Câmara Municipal, João Frederico Wolfenbuttel em reunião específica na Câmara de Vereadores.

Isso provavelmente respondia a necessidade de comemorar o Centenário, mas principalmente de integrar diversas facções políticas em disputa à época.

É bom citar que Mansueto até 1919 era Secretário particular de Borges de Medeiros na capital. Este assume uma árdua missão que é manter o PRR no poder em São Leopoldo, e num quadro de disputas acirradas tentar conquistar o eleitorado com medidas pacificadoras e saneadoras da crise da cidade. Com a renúncia do intendente Gabriel de Azambuja Fortuna também interventor designado por Borges de Medeiros, transferido de Passo Fundo para São Leopoldo para tentar apaziguar os ânimos entre alemães e portugueses, luteranos e católicos, hamburguenses e leopoldenses, este sente que não logrou êxito. A mesma tarefa foi posta a Mansueto e este, como veremos, de certa forma cumpriu bem esta missão, ou seja, até o limite de sua própria tolerância. Foi nomeado interventor em 1919 e eleito em 1921 com a maior parte dos votos contra o, adversário do Partido Libertador.   

Assim, para o glaúdio dos locais, surge a tal proposta de comemorações do centenário. Wolfenbuttel assume a prefeitura com a renúncia de Mansueto em 1923 e procura acelerar o objetivo também olhando para a sua própria sobrevivência política. Ele acaba eleito deputado federal constituinte alguns anos depois com muitos méritos também em outras áreas de governo, em especial na saúde pública e saneamento. Nesta famosa reunião da Câmara em que é apresentado o plano de erigir o monumento e de, finalmente, construir a praça que já constava nos planos de 1833 do piloto português Manoel Gonçalves dos Santos, é que Frederico consegue integrar, por assim dizer, os interesses de todos.

                A inauguração do monumento também foi retardada, segundo este reconhecido historiador, para permitir os festejos sem chuva e sem enchentes do mês de julho de 1924 para setembro de 1924. E mais tarde em 1934 foi feita a inauguração da praça como Praça do Centenário com todo o ajardinamento do seu entorno já concluído como vemos nas fotos do período.

                Para construí-la, através de um trabalho de comissões, foram colhidas diversas contribuições e subscrições dos cidadãos da cidade. Estas subscrições eram publicadas na imprensa local e também serviam como forma de publicidade e de divulgação das empresas locais que apoiavam a causa da importante comemoração do centenário da imigração alemã.

Desta vez, ela marca também, após a revolução de 1923 contra o Borgismo, e a construção da sucessão através de Getúlio Vargas e da adoção de um novo padrão de relação política entre os gaúchos para superar as contendas, promover a conciliação e a pactuação de facções opostas no estado e, também, com uma maior participação política dos imigrantes e seus descendentes e, também, com a superação necessária dos conflitos regionais no Rio Grande do Sul que construíram, pavimentaram e permitiram as novas bases para as políticas urbanas, modernizadoras e de industrialização do Brasil, apresentadas e desenvolvidas a partir da Revolução de 30.


PERSONA, Ingmar Bergman 1966


“Acha que eu não entendo isso? O impossível sonho de ser. Não parecer, mas ser. Consciente o tempo todo. Vigilante. Ao mesmo tempo veja o abismo entre o que você é para si e para os outros. Um sentimento de vertigem e o desejo de finalmente ser exposta. Ser vista por dentro, cortada, até mesmo aniquilada. Cada tom de voz uma mentira, cada gesto, uma falsidade, cada sorriso, uma tristeza. Cometer suicídio? Oh, não, nem pensar. Isso é feio. Não se faz coisas deste tipo. Mas você pode se recusar a se mover e ficar em silencio. Então, pelo menos, não está mentindo. Você pode se fechar, se fechar para o mundo. Então, não tem que interpretar os papéis, fazer caras ou gestos falsos. Assim acreditaria que sim, mas... a vida e a realidade é diabólica. Seu esconderijo não é a prova d’água...a vida penetra por todos os poros. A vida engana em todos os aspectos. Você é forçada a reagir. Ninguém pergunta se é real ou não, se é sincera ou mentirosa. Isso só é importante no teatro. Mas ...talvez nem nele. Eu entendo muito bem por que não fala, por que não se movimenta. Sua apatia tornou-se um papel fantástico. Eu te entendo Elizabet, entendo e admiro você. Acho que deveria representar esse papel até o fim… até que não seja mais interessante. Assim como você, pouco a pouco, deixa todos os outros papéis. Então… pode esquecer, como esquece seus papéis... É realmente importante não mentir, falar de forma que tudo soe verdadeiro? Pode-se viver livremente, sem mentir e inventar desculpas? Não é melhor ser preguiçoso, negligente e enganador? Minhas palavras não significam nada para você. Pessoas como você não podem ser alcançadas. Eu me pergunto se a sua loucura não é o pior tipo. Você age saudável, representa tão bem que todo mundo acredita em você - todos, exceto eu - porque eu sei como você é podre."



Monólogo da Doutora com Elisabet. Persona. Ingmar Bergman. 1966.



Nota: O texto é uma adaptação que junta diversas traduções e citações e também transcrições de legendas do filme. Em algumas passagens optei livremente por escapar da concisão e incluir dois sinônimos usados para a mesma expressão em uma ou outra legenda. O texto do monólogo é soberbo e tem mais subliminares do que parece. Recomendo ler pausadamente e se refletir como aquele que profere e aquele que escuta. No caso do filme, como a doutora que profere refletida e duramente, amargamente até, num sinal de talvez inveja e em outros momentos de provocação e pancadas e daquela que Elizabet que escuta catatônica e aparentemente indiferente. É um filme, um monólogo e um texto maravilhoso. Recomendo que vejam o filme, porque nada substitui a obra de arte em si mesma fechada e complexa. Me perdoem.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O POETA É UM AMANTE PRAGUEJADOR, para Walt Whitman


O POETA É UM AMANTE PRAGUEJADOR - para WALT WHITMAN




Sonhei com o que é o ser do poeta. Deve ser meu inconsciente querendo me dizer alguma coisa do tipo: faça. Faça poesias e faça amor. Se fizer pode dar certo e pode dar errado. E o poeta vai praguejar em ambos os casos. E o amante pode sofrer em muitos casos também. E pode praguejar também se assim lhe aprouver. Se é poeta e amante por excesso ou por falta. Porque esse fazer aborrece a alma em sua intensidade e descontrole. Envolve romper uma barreira. Envolve aceitar algo indomável e incontrolável, intenso e livre na gente. É preciso dar voz a esse ser. É preciso deixar ser o que se é. 

E pensei em você quando acordei. Não tenho certeza porquê. Mas minha intuição me leva a pensar em você. E as intuições sempre dispensam as certezas e adoram confundir e contrariar a razão. Não sei, portanto, se tenho razão e como esse pensar é pura poesia, que importância faz? Nenhuma. Não é preciso ter razão para pensar em amor. E amar demais não pode ser proibido. E quanto mais reprimido for, maior será a pressão para sair para a fora. Então, eu deixo sair para fora. Não fico com medo ou vergonha de amar demais.

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O poeta deve ser, então, essa espécie de praguejador suavizado ou bruto que anuncia sem medo ao mundo seu sentimento, lamento ou encantamento. Ele não tem saída e nem precisa ter mais saída. Por isso, ele o faz, sem medo e não há nada que o impeça de fazer. Deve e não pode, porque é necessário que faça. Não poderia, com ele ser diferente. Porque fazer a poesia e sentir o amor que ele sente pelo sentido e pela vida é uma libertação. Ele pragueja porque sabe que isso é difícil. Só ele sabe o quão difícil é sentir isso, amar assim e pensar assim. Não se trata para ele de uma escolha ou opção.

Não se escolhe amar só um pouquinho ou amar demais. Nem a poesia é dessa natureza opcional. Você sente e ama e ponto. Você escreve e aceita e ponto. Talvez ele pragueje mais quando começa a tentar. Lá no início dessa caminhada em que ele pensa mais em porquê do que para quê. Faz isso porque não acredita mesmo, não aceita o que aparece ou que faz. Fica insatisfeito e aborrecido com o resultado. É insuficiente para o seu sentimento e pensamento. Exclama: não está a altura. Isso é pouco. Então ele prossegue resmungando e esboçando um modo de expressar melhor o que sente. Até que chega no ponto em que ele dá de ombros, pragueja mais um pouco, mas passa a fazer. O poeta, então, deve ser aquele que não cala e que aprende a dizer e ensina a dizer, o que se sente.

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Dentro dele devem brigar e se abrigar dois gênios: o do amor mais puro e sublime, que é quase indizível, e o gênio da perfeição e da palavra. Ele deve passar um bom tempo tentando satisfazer a ambos e fazer ambos chegar num acordo e ponto comum. Quando consegue isso a poesia está pronta. Mas ele também pode praguejar para ambos e se libertar deles. Dessas exigências tão tradicionais de um passado e não de um presente.  

O poeta, apesar desses grandes gênios em si, em disputa, deve ser livre, inclusive deles. Deve aceitar a inspiração. Deve aceitar o que lhe vem a mente e ao coração e tentar lhe dar forma. Deve ser sem censura, seja para ser um fingidor seja para ser o mais verdadeiro dos homens ou mulheres. Quando é um fingidor é por uma dor que deveras sente, e talvez, nesse sentido, o que ele finge sentir sempre será menos ou mais do que aquilo que ele realmente sente. Talvez por isso mesmo seja um praguejador. Por que precisa ser verdadeiro e porque precisa fingir ao mesmo tempo. Deve ter algo errado, mas não parece ser com ele, então ele faz, ele escreve e ela ama assim mesmo, em toda a sua incompleta perfeição.

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O poeta deve encontrar a palavra ali onde há o espanto, ali onde há a surpresa, ali onde há aquela pergunta sem resposta ou aquela resposta errada. Deve encontrar a palavra onde falta o sentido, onde falta a expressão. Onde o seu impulso é maior que o desafio ou o obstáculo e, convenhamos, é exatamente isso que ele faz.

O poeta deve ser também um praguejador modulado por todas as misérias e glórias deste mundo e, talvez, por isto mesmo o poeta deve estar e repousar além deste mundo. Ele está fora do mundo, fora de casa, fora da caverna e fora de si. Vive no excesso e numa intensidade que não é natural, que é humana e ao mesmo tempo sobre humana. E talvez seja por isso também que quando a gente lê o que ele escreve e o que ele faz, nós também praguejamos. E praguejar é proferir um palavrão, você sabe, ali onde as palavras tranquilas não tem mais lugar.     

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Não admire o poeta por ser um deus, por mais divino que ele parece ele é apenas poeta por ser homem, por ser mulher, por ser criança e, enfim, por ser nada ou quase nada em meio a criação. Ele é um maldito praguejador que faz barulho e incomoda ali onde a maioria cala, onde a maioria fica em silêncio ou apenas chora. Ele faz aquilo que todos querem fazer, mas não podem, porque ele aceitou que praguejar e resmungar em nossa linguagem é parte integrante de nossa vida. Ele é poeta porque é humano.   

Daquela moita onde ele estava escondido e de onde ele sai nada mais virá, mas já foi o bastante. O poeta deve ser o que é, quase ser mais do que é e praguejar muito mesmo, quando sentir isso. Porque conseguiu deixar ser o seu próprio ser e se libertou do silencio, do sofrimento e do mero pesar e acabou respondendo ao mundo do seu jeito e com seus gênios. Se você entendeu, e para o poeta a maioria entende mesmo, então pode praguejar também. Não há nenhum mal nisso, não há nenhum mal na poesia, não há nenhum mal em amar em demasia.    

domingo, 26 de janeiro de 2020

O RISCO DE SER GESTOR PÚBLICO NO BRASIL


Este é um pequeno comentário em lembranças e memórias que me ocorrem com o falecimento de Ibsen Pinheiro e a situação do Brasil.Vou postar algo aqui. Porque o buraco é muito mais embaixo do que a discussão da perseguição injusta que Ibsen sofreu no erro de cálculo que o jogou no meio do escândalo dos Anões do Orçamento. Tem uma cadeia inteira de coisas que precisam conspirar para uma injustiça dessas ser cometida. Ou seja, muita gente deixou passar a denuncia como certa. O próprio Ibsen representou durante um bom tempo a Resistência ao entreguismo e ao anti nacionalismo nas hostes do PMDB e dos partidos de centro. O que explica ou a omissão ou o endosso de seus pares.

Seis anos atrás, um pouco antes de assumir o Ministério da Educação do Brasil, após convite da Presidente Dilma Rousseff, na sequência da demissão do Gomes, o Professor de Filosofia Renato Janine Ribeiro, fez uma postagem em que tratava do ambiente perverso da política.

Eu fiz um comentário confirnando a opinião e impressão dele. Eu dizia, com algumas atualizações, veja que com os níveis de exposição à chantagens, vendettas, canalhices, erros jurídicos e administrativos, erros de gestão financeira e exposição à perseguições políticas e jornalisticas possíveis e o vale tudo nas disputas da esfera política, ser gestor público hoje é mesmo um ALTO RISCO. Principalmente para quem só quer mesmo trabalhar bem e honestamente, ser absolutamente responsável por seus atos e contribuir para a melhoria do estado brasileiro no atendimento às diversas necessidades e demandas estruturais do país. Esse ambiente de risco é perverso mesmo porque afasta quase que a priori todos que tem conhecimento das tradicionais conspirações, manobras e equívocos possíveis. É preciso muita coragem para entrar, muita persistência para se manter e muita sorte e juízo para sobreviver ao ambiente. Isso inibe qualquer disposição de pessoas razoáveis a entrar nessa Seara arriscada. Não quer dizer que os que entram não são razoáveis. Significa apenas que aceitam esse risco, como quem entra numa roleta russa com muita fé no seu trabalho, estrela e de olho atento ao tambor do revólver que gira na mesma velocidade que a roda da vida

Eles corajosamente e em muitos casos cheios de precauções e arranjos de proteção, laços de confiança sólidos e muita determinação ingressam nesse ambiente.

Quando se expõem a esse risco todo de cair em vendetas, armadilhas e toda sorte de confusão que não depende exclusivamente de suas competências, desempenhos e habilidades, fazem uma aposta pela sociedade e pelo bem dos cidadãos. Sobreviver nesse meio, portanto, é uma façanha que deve ser muito respeitada dada essa ambiência de disputa selvagem e também de alta exposição seja aos mal entendidos, seja a má fé, seja a incompreensão ou também a uma espécie de juízo de expectativas que quer solução absoluta aos males sociais.

Nesse quadro muita gente boa já foi massacrada, perseguida e nefastamente atingida pelo interesse de ocasião ou estratégico que órgãos de comunicação, partidos políticos, camarilhas e esquemas de elites ou frações organizadas muito poderosas e inescrupulosas. Não é nada fácil esse ambiente e ele parece estar reproduzindo claramente a dominação da esfera política pelo interesse econômico maximizado e impositivo.

Poderia dar a lista aqui de como isso se distribui, numa lógica perversa por partidos e instituições aparentemente respeitosas, mas deixo para pensarem não em ilações, mas em hipóteses explicativas alternativas aos problemas que o país enfrenta e não consegue resolver. E a lista é grande e pode começar pelo esquema de juros bancários vigente, passar pela justiça desigual e também pela gritante diferença salarial entre servidores públicos e carreiras públicas, bem como, pela não tributação de grandes fortunas e também por esse absurdo que é o patrimonialismo brasileiro dos grandes latifúndios e da falta de terra, moradia e também dignidade básica da maioria da população brasileira, mesmo num país cujas riquezas naturais, o clima e todo o território é fértil, produtivo e praticamente sem par em relação a nenhum outro país do planeta.

Agora, com esse acirramento da reação das elites brasileiras e de uma classe média com ilusões burguesas e conservadoras, se assiste ao descalabro da entrega de mais patrimônio nacional aos interesses adversos a nossa soberania. E isso ocorre com o testemunho do exército e de partidos cujo interesse nacional não poderia ser negociável ou transigido jamais.

IBSEN PERTENCEU A UMA DIGNA GERAÇÃO QUE LUTOU CONTRA A DITADURA


Por outro lado, podemos deixar esse texto escrito de súbito. Sem problemas. Se for escrever algo mais pensado, sopesado talvez fique muito sério mesmo. Em demasia.

Por exemplo, cito ele no rol dos homens públicos gaúchos de elevado jaez, dos quais posso discordar das ideias, das ações e também de posições, mas devo respeitar eles em muitas coisas.

Chego a imaginar uma prosa entre eles. Alguns do MDB e outro do PT que creio que pertenciam a mesma geração e que cursaram quase todos a Filosofia e o Direito da UFRGS. Ibsen Pinheiro, João Carlos Brum Torres, Rui Carlos Ostermann - meu conterrâneo de São Leopoldo, Marco Aurélio Garcia, Nelson Jobim e talvez mais uns oito que pertenceram todos a geração dos anos 60 na UFRGS e que viram a ditadura militar se agravar com cassação de Professores e líderes políticos e que ajudaram a reconstruir a democracia no Brasil nos anos 80. 

Tive o privilégio de conhecer ou ser aluno de alguns deles e também de assistir ao tipo muito especial de intervenção deles em assuntos públicos ou acadêmicos.

Fui também rever a questão da denúncia que levou a cassação.

Ela exibe o quanto esse tipo de denúncia e também de procedimento deve ser usado com responsabilidade e que provavelmente no Brasil seria necessário se adotar um regime mais rígido nesse e em outros casos.

A atuação política no Brasil é uma atividade de alto risco para todos. E eu não tenho nenhuma convicção de que aquilo que ocorre nos tribunais de contas, assembleias legislativas, câmaras de vereadores e outros foros possa ser chamado de justiça. O denuncismo e essa ótica da suspeita combinado com uma coleção de artifícios casuístas e muito pragmáticos tem causado sérios danos a democracia. Qualquer um de nós se abordar com serenidade e responsabilidade o que tem ocorrido no nosso país sabe que temos mais excessos do que acertos. Prefeitos e prefeitas tem sido cassados injustamente em todo o país. E não há praticamente nenhum regime de correção disso. Tenho dois exemplos no RS. Rita Sanco em Gravataí e o último com o prefeito de Caxias do Sul. No qual, aliás, o MDB teve parte decisiva segundo informações.

Esse tipo processo e vale tudo não começou com Ibsen e nem terminou com Dilma. Desde a ditadura por outros e diversos meios isso tem ocorrido. Ibsen Pinheiro foi uma vítima notável disso, mas teve a grandeza de perdoar publicamente e, na minha opinião de forma sincera, o tal erro de contabilidade da assessoria do José Dirceu que o Zé instrumentalizou e tocou em frente. Só não tenho a fonte e nem a notícia pública aqui em mãos e acessível, mas se não me engano o próprio Zé Dirceu ficou muito arrependido desse episódio.

É uma tristeza esse aspecto e tom acirrado e sectário na política brasileira.

Eu creio que todos os democratas devem refletir seriamente sobre isso e pensar como superar esse quadro. Sei que nos dias de hoje será muito difícil revisar o sistema e atingir um padrão mais elevado em todas as etapas. Mas é necessário, portanto, para começar elevar isso a uma disposição moral e um limite aos políticos, juízes, procuradores, promotores e também na imprensa.

Fui buscar, enfim, um extrato da notícia sobre o caso. Uso aqui, na falta de fazer uma seleção maior de fontes, mas também na certeza de que o que apresento é resumo razoável dos fatos que pode ser encontrada em qualquer lugar hoje. Então, vamos passar para o ALTO RISCO como nosso tema.

IBSEN PINHEIRO - SE VAI UM DIGNO


Eu sempre tive o maior respeito por esse homem. Mesmo EU sendo militante do PT e adversário do PMDB em diversas questões, eleições e situações, eu reconheço plenamente a dignidade e a grandeza de Ibsen Pinheiro. Merece homenagens verdadeiras e muito respeitosas.

Além disso, muito aprendi com ele sobre como se portar perante o destino, a infelicidade e a falta de grandeza ou caráter dos outros. Ele era extremamente altivo e gentil. E é algo muito admirável essa característica.

Também foi um grande dirigente do Sport Club Internacional. Jovem ainda foi dirigente de futebol nos anos 70 daquele time glorioso e maravilhoso.

Pertenceu a uma geração de homens públicos gaúchos de extremo valor. Foi injustiçado naquele escândalo dos Anões do Orçamento. Um episódio lamentável. Mas nunca se dobrou ou arquejou.

Mesmo nos últimos tempos do golpe e também na eleição de Bolsonaro manteve o bom senso preservado como muitos outros históricos do PMDB, ao contrário da corja de casuístas e pragmáticos desse mesmo PMDB - e do PSDB - que foram capazes de sacrificar a democracia pelo poder. Que é o que fizeram com Temer. Claro que muitos não vão reconhecer isso nunca, mas é a pura verdade.

Aliás, com Ibsen sempre conseguia esperar uma expressão de lucidez, serenidade e bom senso. Ele não era exatamente um moderado, mas era firme e sereno. E tinha um bom humor fantástico.

Um espírito elevado e fé grandeza se despede desse mundo, mas deixa muitos exemplos a serem seguidos e para mim o principal não é a resignação, mas o sentido radical de dignidade que não se curva ao rancor e à mágoa, apesar de tudo e de todo mal.

Talvez nisso, além de sua importante contribuição legislativa e política, ele nos deixa a lição de sua vida: ser resistente e resiliente sem perversidade ou vilanias em resposta ao perversos e aos vilões.

Como disse Gilberto Gil nessa semana: os maus não tem direito de condenar aqueles que são bons. Isso é justo e é muito digno lutar por justiça e reparar os males sofridos e as injustiças imputadas aos homens e mulheres desde país que são sacrificados pelo moedor de moralidades dos usurpadores, golpistas, fascistas e pseudo liberais.

A Democracia Deve Prestar Homenagem a Ibsen Pinheiro e que seus correligionários se lembrem disso sempre!

Com respeito e muita consideração.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

MEUS 55 ANOS DE VIDA


MEUS 55 ANOS DE VIDA



"É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte".

É a vida, e eu agradeço muito todas as mensagens pelo Facebook, Instagram e Whatsapp e os muitos abraços no trabalho e nas ruas. No dia do meu aniversário tive até parabéns a você dentro de elevador.

Agradeço também aos meus companheiros e companheiras de viagem, que nesse ano andaram mais pertinho de mim e me deram belas surpresas na caminhada e na luta, muito obrigado!

É está minha última postagem mais despersonalizada, em preto e branco, desse período de avaliação, revisão e balanço do ano, porque o mundo é muito mais cheio de cores e liberdades do que um sim ou não e o talvez tem mais nuances ou tantas nuances quanto um sim e um não também podem ter.

Adorei esse logo. Pertence a uma empresa chamada Soluções. Que 2020 ou meu ano de vida que começa agora tenha muitos desafios, mais soluções e vitórias!