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domingo, 26 de janeiro de 2020

O RISCO DE SER GESTOR PÚBLICO NO BRASIL


Este é um pequeno comentário em lembranças e memórias que me ocorrem com o falecimento de Ibsen Pinheiro e a situação do Brasil.Vou postar algo aqui. Porque o buraco é muito mais embaixo do que a discussão da perseguição injusta que Ibsen sofreu no erro de cálculo que o jogou no meio do escândalo dos Anões do Orçamento. Tem uma cadeia inteira de coisas que precisam conspirar para uma injustiça dessas ser cometida. Ou seja, muita gente deixou passar a denuncia como certa. O próprio Ibsen representou durante um bom tempo a Resistência ao entreguismo e ao anti nacionalismo nas hostes do PMDB e dos partidos de centro. O que explica ou a omissão ou o endosso de seus pares.

Seis anos atrás, um pouco antes de assumir o Ministério da Educação do Brasil, após convite da Presidente Dilma Rousseff, na sequência da demissão do Gomes, o Professor de Filosofia Renato Janine Ribeiro, fez uma postagem em que tratava do ambiente perverso da política.

Eu fiz um comentário confirnando a opinião e impressão dele. Eu dizia, com algumas atualizações, veja que com os níveis de exposição à chantagens, vendettas, canalhices, erros jurídicos e administrativos, erros de gestão financeira e exposição à perseguições políticas e jornalisticas possíveis e o vale tudo nas disputas da esfera política, ser gestor público hoje é mesmo um ALTO RISCO. Principalmente para quem só quer mesmo trabalhar bem e honestamente, ser absolutamente responsável por seus atos e contribuir para a melhoria do estado brasileiro no atendimento às diversas necessidades e demandas estruturais do país. Esse ambiente de risco é perverso mesmo porque afasta quase que a priori todos que tem conhecimento das tradicionais conspirações, manobras e equívocos possíveis. É preciso muita coragem para entrar, muita persistência para se manter e muita sorte e juízo para sobreviver ao ambiente. Isso inibe qualquer disposição de pessoas razoáveis a entrar nessa Seara arriscada. Não quer dizer que os que entram não são razoáveis. Significa apenas que aceitam esse risco, como quem entra numa roleta russa com muita fé no seu trabalho, estrela e de olho atento ao tambor do revólver que gira na mesma velocidade que a roda da vida

Eles corajosamente e em muitos casos cheios de precauções e arranjos de proteção, laços de confiança sólidos e muita determinação ingressam nesse ambiente.

Quando se expõem a esse risco todo de cair em vendetas, armadilhas e toda sorte de confusão que não depende exclusivamente de suas competências, desempenhos e habilidades, fazem uma aposta pela sociedade e pelo bem dos cidadãos. Sobreviver nesse meio, portanto, é uma façanha que deve ser muito respeitada dada essa ambiência de disputa selvagem e também de alta exposição seja aos mal entendidos, seja a má fé, seja a incompreensão ou também a uma espécie de juízo de expectativas que quer solução absoluta aos males sociais.

Nesse quadro muita gente boa já foi massacrada, perseguida e nefastamente atingida pelo interesse de ocasião ou estratégico que órgãos de comunicação, partidos políticos, camarilhas e esquemas de elites ou frações organizadas muito poderosas e inescrupulosas. Não é nada fácil esse ambiente e ele parece estar reproduzindo claramente a dominação da esfera política pelo interesse econômico maximizado e impositivo.

Poderia dar a lista aqui de como isso se distribui, numa lógica perversa por partidos e instituições aparentemente respeitosas, mas deixo para pensarem não em ilações, mas em hipóteses explicativas alternativas aos problemas que o país enfrenta e não consegue resolver. E a lista é grande e pode começar pelo esquema de juros bancários vigente, passar pela justiça desigual e também pela gritante diferença salarial entre servidores públicos e carreiras públicas, bem como, pela não tributação de grandes fortunas e também por esse absurdo que é o patrimonialismo brasileiro dos grandes latifúndios e da falta de terra, moradia e também dignidade básica da maioria da população brasileira, mesmo num país cujas riquezas naturais, o clima e todo o território é fértil, produtivo e praticamente sem par em relação a nenhum outro país do planeta.

Agora, com esse acirramento da reação das elites brasileiras e de uma classe média com ilusões burguesas e conservadoras, se assiste ao descalabro da entrega de mais patrimônio nacional aos interesses adversos a nossa soberania. E isso ocorre com o testemunho do exército e de partidos cujo interesse nacional não poderia ser negociável ou transigido jamais.

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