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domingo, 28 de abril de 2019

NÃO TENHA PENA DE MIM

Cheguei destruído em casa estes dias atrás. Foi um daqueles dias de cão em que você chega ao final do dia e não sabe nem como descansar e nem como desligar. Muito trabalho intenso e agendas se sobrepondo umas sobre as outras. Como precisava muito me distrair um pouco e relaxar, fui olhar um filme. Caçada Mortal, com o Liam Nesson. Um filme razoável de 2014 e com uma trama violenta que, porém, traz um aspecto sensível e profundamente humano. Há uma sequência de diálogos ótimos entre o investigador e ex-policial arrependido por ter matado por acidente uma criança em um tiroteio com bandidos quando estava bêbado. Ele conversa com um menino negro que vive nas ruas de Nova York e que frequenta a biblioteca da cidade fazendo pesquisas e passando o tempo e que vai acabar por ser seu parceiro na investigação que ele realiza. Os dois, bem vistas as coisas, são no fundo dois miseráveis que resumem a sua dignidade própria e seu senso de responsabilidade por suas vidas num diálogo reciprocamente repetido assim:

- Não tenha pena de mim.

- Eu não tenho.

Os dois miseráveis resumem sua dignidade própria e seu senso de responsabilidade por suas vidas num diálogo reciprocamente repetido assim, creio, porém, que esse diálogo apresenta o tipo de linha de corte e emancipação que a gente precisa estabelecer sempre na relação com quem sofre e com quem vive dificuldades. Não se trata de perder a sensibilidade ou a piedade ou empatia perante o próximo. Mas sim de preservar a sua dignidade acima de tudo. Se não se quer sucumbir a uma vitimização e a lamúria típica de relações que são apenas mais um capítulo da humilhação, submissão, dependência e indignidade doentia entre as pessoas. Todos sofrem, mas não é digno ter dó ou sentir pena do outro ou de si mesmo, porque isso só consagra mais ainda a situação desprezível da qual se deveria fazer um esforço para escapar, seja por disposição psicológica, seja por condução, luta ou trabalho material.

E nas relações de amizade, afeto e familiares, isso me parece ser mais do que interessante. É necessário. Sob pena - maldita pena - de apenas se reproduzir o sofrimento sem vencer ele no seu primeiro campo de combate que é a consciência.

Respeito, um profundo e inegociável ou indeclinável respeito. Ter pena não é mesmo a melhor atitude para com o outro. É trazer a miséria do mundo e sua dinâmica para dentro de uma relação com o outro. No caso específico, ambos trocam migalhas de afetos, mas preservam acima de tudo sua dignidade.

Um pouquinho disso ou daquilo. Nesse caso, pouco importa de que lado se está na condição de coitados. O filme é exemplar nisso e carrega essa mensagem. Pois apesar da assimetria de condição material dos dois, há uma simetria de certa miséria em ambos. Eles se encontram frágeis e tocados pela dor e dificuldade de sobreviver. É, portanto, quando você sabe que o outro está ferrado, mas não toca no assunto diretamente e conduz a relação com extremo respeito a ele. Não trata ele como um coitado ou ela como uma coitada, carente ou miserável.

Eu acho que isso é algo presente na cultura civilizada inglesa. Pelo menos é o que eu percebo sutilmente nas relações entre eles. Posso estar errado. Talvez tenha que pensar mais. De qualquer modo, encontrei um exemplo de simetria que parece ajudar a abordar essa questão da dignidade e do respeito ao outro.

Falei em respeito acima, mas parece envolver também a visão de que a integridade do outro deve ser preservada de modo absoluto. Lembrei de uma parábola do Jesus. O que a mão direita dá, a mão esquerda não percebe. Na caridade deveria ser assim para não haver humilhação do próximo. Aqui surge talvez um ditame da impessoalidade ou anonimato do homem generoso, mas no fundo trata-se mesmo de manter o respeito a autonomia do outro.

Ambos personagens tem plena consciência de sua condição miserável. Não se precisa dizer nada um ao outro. Isso faz a simetria.

Veja que, no meu caso, pode acontecer muitas vezes de dizer que: pareço estar melhor que você, mas não se engane porque eu também tenho minhas dores e misérias.
Ou quando te digo: não fique achando que você é a única pessoa que sofre neste mundo ou que é a pessoa que mais sofre. Todo mundo, de uma forma ou de outra, sofre nesse grande vale de lágrimas que é o mundo.

Shakespeare usava muito essa expressão e essa dimensão: somos todos miseráveis e seremos todos atingidos, mais cedo ou mais tarde, pelas dores do mundo. Expressava ai um fato inarredável que ninguém escapa das dores desse mundo. É a condição humana.

É a condição humana geral. Ninguém, ninguém mesmo, escapa dessa condição. Pode dissimular, disfarçar, negar, esconder, maquiar, negligenciar ou, inclusive, ser na maior parte das vezes indiferente. Mas não escapa.

Além disso, temos que pensar nos tipos de sofredores que surgem dessa condição humana. Tem o sofredor ressentido e tem o sofredor com dignidade. Parece haver uma diferença aí. Nietzsche dizia que o ressentido é muito indigno, porque jamais enfrenta a sua real condição. Apenas projeta no outro ou no sistema essa condição. Em virtude disso é alguém que já entra derrotado e submisso na luta pela vida.

É o famoso homem que usa as muletas da fé para sobreviver nesse mundo. Precisa de um amparo transcendental para andar sobre a terra. É um pacifista por covardia. Tem medo de lutar e de enfrentar de fato sua real condição. Daí para a submissão ou covardia política e moral é um passo. Por isso, quando se leva mesmo a sério isso, não tem solução mais ou menos. Também por isso, a revolta, organizar a revolta e a revolução é um ato de extrema dignidade moral e política, em especial, quando não é baseada no coitadismo ou na vitimização, no ressentimento ou no desejo de vingança, mas na mais plena consciência de dignidade e de disposição para defender ela sobre tudo e sobre todos ou todo e qualquer um que parar a tua frente.

Nenhum dos dois personagens, então, se refugiava em sua dor e gostava de dar meia pataca nos assuntos dos quais tratavam.

NÃO TENHA PENA

NÓS VAMOS SOBREVIVER, MAS O QUE REALMENTE IMPORTA É A SOBREVIVÊNCIA DO POVO


O diálogo do Uber ontem em uma corrida rápida foi algo. O motorista, primeiro, me explicou que corridas curtas eram boas porque significavam um bom valor na cobrança de curta distância em virtude da taxa mínima. Também falou que quanto mais corridas, melhor, porque aumentava a pontuação dele e incluía o motorista em promoções e premiações.

Depois mudamos de assunto. Ele me perguntou sobre a minha profissão. Respondi que era professor. Depois ele falou que a coisa estava bem feia. Eu disse que sim. Que no meu caso e dos meus colegas, professores estaduais do RS, estamos 40 meses com salários atrasados e congelados sem nenhum reajuste por mais de quatro anos. Ele me perguntou o que eu ensinava. Respondi que lecionava Filosofia e História e, também, Sociologia e Geografia, quando necessário. Ele então exclamou que as coisas estão feias para professores de filosofia e sociologia. Eu disse que sim, que o atual governo do Brasil negligenciava a importância das nossas disciplinas e da educação.

Ele me olhou e disse, então, está difícil, mas a gente vai sobreviver e isso vai passar. Eu olhei para ele e disse que sim. A gente vai sobreviver, com mais dificuldades, mas vamos sobreviver. Mas disse, então, que o problema disso tudo que está acontecendo não é exatamente a nossa sobrevivência, o problema é se os outros – todo o povo que não tem defesas - vão sobreviver. O problema é a vida do povo brasileiro que já está sofrendo muito. Terminou a corrida. O jovem me deu cinco pontos na avaliação. Me despedi, desci ou desembarquei do carro e sai pensando nisso. Depois fui, em casa, ver a entrevista do Lula. E ele disse praticamente a mesma coisa afirmando estar muito preocupado com a vida do povo brasileiro. Lula disse que estava na cadeia e que via todas as notícias e que estava muito preocupado com o que estavam fazendo no Brasil.

Muita gente, portanto, ainda precisa entender que a questão atual no Brasil não é a própria sobrevivência, mas a sobrevivência do povo brasileiro, que não é protegido e tem sido atacado pelo atual governo em seus direitos e condições de vida como na reforma trabalhista já aprovada, a reforma da previdência que ataca gravemente os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras e no teto dos gastos que tem impacto profundo nas políticas de saúde, educação, habitação, seguridade social e assistência social que estão sendo dizimadas num ciclo de vinte anos. A miséria e o desemprego, com a fone e o desalento tem aumentado, a economia não se recupera com o receituário neoliberal e o governo do Bolsonaro não funciona direito e passa o tempo todo fazendo maluquices e bobagens que não ajudam em absolutamente nada.

ESTA LUTA SEMPRE FOI DURA


Sempre foi uma luta árdua e muito dura para fazer o Brasil mudar e para defender a dignidade do povo brasileiro, defendendo seus direitos e conquistando mais direitos. Hoje não está pior do que ontem, a diferença é que hoje se agravam as ameaças e a vergonha nacional está escancarada no Governo Federal e suas medidas. O que ocorre é que o golpe, a crise e as manobras políticas no judiciário e na mídia brasileira, fez com que os agentes do atraso, do descaso e dos reacionários colocaram todas as suas cartas na mesa. Porém, também ocorre hoje uma certa inversão de ônus e se entende melhor porque o problema nunca esteve em um ou outro partido, mas sim no sistema político inteiro. As frações das classes dominantes e privilegiadas promoveram esse retrocesso político, como uma reação aos avanços que o ciclo de Lula no Brasil promoveu. Convivemos mesmo, após o interdito com os trezentos picaretas e a entrevista de Lula, com a dura verdade de que isso não é mais questão de opinião ou artifício retórico, mas a expressão mais dura e pura de um quadro escancarado e disseminado em todos os poderes que parecem não possuir mais nenhuma reserva moral ou possibilidade de supremacia moral sobre os desmandos e descaminhos. Não podemos, porém, esmorecer e nem conceder nenhum espaço de manobra para eles sem a nossa reação coletiva e organizada. Esta luta é dura, mas a vida exige de nós sabedoria e coragem, muita coragem para fazer justiça e fazer mais política ainda. É possível e necessário e que cada um ocupe o seu espaço a fazer isso e assumo o seu papel nessa reação e resistência ao atual quadro brasileiro. Pelo bem do Brasil e do seu povo.  

sexta-feira, 26 de abril de 2019

CHINCHAR

Em 2012, no último ano de vida do meu pai, num dia 23 de abril, consegui almoçar com meu pai na casa em que ele estava se recuperando de um AVC isquêmico. Apesar da dificuldade para ver e também se movimentar, foi bem tranquilo e deu para conversar sobre como se colocam os arreios em um cavalo. Tudo começou quando usei a expressão CHINCHAR e ele lembrou o nome de cada uma das peças e o significado de chinchar. Eu usei essa expressão estes dias aplicando a uma situação de acabamento de um processo delicado que chegava ao seu final.  Pelo que ele disse à época, estava certo ao dizer que alguns animais e homens, quando chega a hora de chinchar, corcoveiam ou perdem o controle desperdiçando os esforços anteriores, como se tudo que você fez até ali houvesse sido absolutamente em vão e não significasse a aceitação do que viria depois. Pensei, então, ou você fez algo errado estragando tudo ou está te faltando uma doma de si mesmo meu amigo. E é assim que conhecemos algumas pessoas, quando chega a hora de chinchar, diria o velho sábio de estância, vamos ver se ele consegue montar ao cavalo e ficar firme sobre a cela da montaria. Nessa hora algo sai errado porque ou você sabe o que está fazendo ou você acha que sabe o que está a fazendo.

NÃO TENHA PENA DE MIM


Cheguei destruído em casa ontem. Foi um dia de cão. Muito trabalho intenso e agendas se sobrepondo umas sobre as outras. Como precisava muito me distrair um pouco e relaxar, fui olhar um filme, Caçada Mortal, com o Liam Nesson. Um filme razoável de 2014 e com uma trama violenta que, porém, traz um aspecto sensível e profundamente humano. Há uma sequência de diálogos ótimos entre o investigador e ex-policial arrependido por ter matado por acidente uma criança em um tiroteio com bandidos quando estava bêbado. Ele conversa com um menino negro que vive nas ruas de Nova York e que frequenta a biblioteca da cidade fazendo pesquisas e passando o tempo e que vai acabar por ser seu parceiro na investigação que ele realiza. Os dois, bem vistas as coisas, são no fundo dois miseráveis que resumem a sua dignidade própria e seu senso de responsabilidade por suas vidas num diálogo reciprocamente repetido assim:

- Não tenha pena de mim.

- Eu não tenho.

A NECESSIDADE DA REVOLUÇÃO


Tenho pensado muito nisso também. Nessas horas, é bom lembrar o velho Marx. Ele não prescrevia uma Ditadura do Proletariado porque simplesmente tinha um ódio venal e de classe à burguesia ou considerava uma prioridade vingar toda exploração e dominação, explicação e submissão imposta ao proletariado ao longo da história. Marx não era um revanchista. Tratava de uma outra questão muito mais crucial: a burguesia não vai conceder de mão beijada ou por boa vontade qualquer grande alteração no sistema econômico e político de exploração e dominação, seja a um partido eleitoral ou a um grande líder do proletariado, através da via democrática. A disputa de classe ou a luta de classes em que interesses opostos se enfrentam, não tem essa dimensão negociada ou mediada. Toda vez que o proletariado quiser obter algum ganho ou melhoria para além de meras concessões conjunturais, haverá de ser pelo uso da força e pela imposição inarredável de seu poder. Por isso, também a mudança efetiva e real das  estruturas da sociedade, na perspectiva de Marx e outros socialistas e comunistas que são considerados radicais, só será possível pela via revolucionária e através da ruptura violenta e impiedosa do regime jurídico e estamental que sustenta esse sistema de exploração e dominação de uma classe sobre a outra. É por isso que a Ditadura do Proletariado, o vaticínio odioso para a burguesia, é a única via de mudança social efetiva e sustentável e que permite conquistar, manter e solapar de vez com as bases jurídicas e materiais de classe do sistema político e econômico dominante no capitalismo. Você pode não gostar de violência, você moralmente pode desejar a paz e preferir sempre a democracia e é razoável que pense assim e que deseje isso com convicção, mas toda vez que o fizer deves pensar que a não violência de teu método e propósito, há de deixar espaço para a extrema violência da exploração e da dominação continua da burguesia sobre o proletariado e suas frações de classe. Nesse caso, não se trata de comparar o número de vítimas ou a insensatez do sacrifício de um lado ou do outro, por uma via ou por outra, como um cálculo de custos e benefícios ou uma contabilidade de perdas humanas, mas sim de refletir sobre que todos os sacrifícios você se dispõe a aceitar para sepultar de vez o sacrifício constante e regular da vida de milhões de pessoas no capitalismo, num aparente regime normal e estável, cuja normalidade aparente é enganosa, pois através da miséria, da fome, da doença, da falta de oportunidades e dos diversos procedimentos legais que dão base ao massacre de uma grande parte da humanidade, se observa o alto preço que homens e mulheres pagam, com suas vidas e existências para sustentar os privilégios e prerrogativas de muito poucos das classes dominantes burguesas. A espada de Dâmocles repousa – a espada da morte e da responsabilidade – paira balançando sobre as cabeças daqueles que tem o poder ou o talento e a liderança de decidir qual das duas vias seguir. Não é uma questão pequena essa. Sou daqueles que me ressinto da condição de Lula e de seu destino e sacrifício pessoal que está atrelado diretamente ao destino do povo brasileiro, como é fácil ver hoje para muitos que não queriam aceitar isso antes ou que já haviam esquecido disso. É preciso reconhecer que a escalada golpista que levou ao atual quadro nacional é produto direto dessa não concessão e não admissão de alguns ganhos ao proletariado e a classe proletária brasileira. A pergunta que deve ser feita, então, quando se adota essa percepção e constatação é: porque será que é tão difícil para certos sujeitos históricos compreender seu lugar numa revolução real da sociedade? E por consequência por que a maior parte do proletariado não se vê num papel revolucionário por necessidade de sobrevivência real de si e de sua classe?

FILOSOFIA ARMA E DESARMA


A filosofia faz uma coisa muito louca com a gente. Parece que, após uma experiência de formação e estudo, a gente não muda nada. Porque ela nos arma e nos desarma ao mesmo tempo. Nos arma com uma certa coragem e ousadia para lutar e para fazer e acontecer com a nossa inteligência e existência. Mas, por outro lado, nos desarma com a prudência e a virtude. De tal modo que, por força da exploração máxima de nossa inteligência e existência, podemos não fazer nada pelo extremo sentido de responsabilidade que conquistamos com ela. Então, aparentemente somos iguais ao que éramos antes. Ignorantes, porque aprendemos a reconhecer que não sabemos exatamente o que fazer e temos mais dúvidas do que antes, mas sábios, porque sabemos que temos que fazer alguma coisa, temos um imperativo que se impõe, apesar das dúvidas e apesar de toda a prudência que adquirimos. Quando entendemos isso ficamos iguais ao que éramos, mas um pouco diferentes, porque mais cedo ou mais tarde, logo mais, vamos acabar por agir.

sábado, 20 de abril de 2019

QUO VADIS?


Respeitei a constrição necessária e saudável da páscoa. Por isso, só agora respondo ao grande demérito do renegado. Que se serviu de uma circunstância para transformar em provocação a intolerância um mero e simples evento cultural. Fazendo coro à insensatez e irresponsabilidade dos conhecidos arrivistas locais. Declinar de todos os escrúpulos em plena semana santa é mal sinal. E demonstra claramente a disposição desesperada do ex-candidato que faz mais uma vez o papel de renegado. No primeiro exemplo, ao dar por morto o nosso prefeito que está bem vivo, se serve de maldade e no segundo caso de oportunismo ao explorar a agenda cultural para promover litígio religioso sem escrúpulos.

O EX-CANDIDATO VIROU UM RENEGADO


É impressionante que esse cidadão tenha abandonado a democracia e se bandeado de vez para a típica conduta dos fascistas e dos fanáticos religiosos que adoram espancar a esquerda e promover violência simbólica para autorizar violência física. O ex-candidato, ao dizer que o prefeito está morto, assina recibo de desespero de causa, mas também mostra que é capaz de ultrapassar qualquer limite e abandonar completamente os escrúpulos. Esse é o tipo de coisa que um cidadão que fez juramento para ser um educador da civilização esclarecida e um defensor da humanidade contra a barbárie, jamais pode se dar o direito de fazer. Lamentável e vergonhoso, se não para ele, pelo menos para os seus fiéis seguidores que o avistam como líder, mas que procuram preservar sua sensatez e lucidez, apesar das refregas. Desejo que suas almas sempre andem acompanhadas pelo respeito à dignidade e integridade do próximo. E que sejam preservadas dessa conduta do renegado.

A TRAVESSIA ESTÁ SEGUINDO PARA O FASCISMO


Com todo esse ressentimento do ex-candidato expresso em suas palavras parece ficar claro que ele se encontra incontido e se transformou num instrumento fácil para a exclusiva promoção de ódio e de vingança, em vez de se portar com a compostura necessária e defender o bom senso e a democracia em nossa cidade. Ele atravessou o Rubicão do fascismo e já se encontra em conluio com os métodos dos fascistas. Péssimo exemplo para os jovens que se iniciam na política e um estímulo aos velhacos e insensatos que já andam dando seus sinais de que estão dispostos até mesmo a correr o risco de ser identificados com covardes e mentirosos para atacar o governo do atual prefeito de São Leopoldo.

DISPUTA CULTURAL?


Como espancar a esquerda sem precisar pagar a conta do hospital, sem ser preso pela polícia e sem se preocupar com o destino da humanidade? Essa parece ser a questão fundamental para alguns fascistas, conservadores, neoliberais e crentes em certo fanatismo de natureza política, religiosa e econômica. Trata-se de fazer isso como uma mera disputa de ideias e teorias, enquanto a violência aumenta, os seus crimes, torturas, assassinatos, massacres e violências ficam impunes e a humanidade desce quase inteiramente pelo ralo abaixo da barbárie generalizada. Isso me parece um propósito apocalíptico. O que você me diz?

quinta-feira, 18 de abril de 2019

OS COMENTÁRIOS AGRESSIVOS E A DESUMANIDADE


Lendo comentários agressivos e perversos nas redes sociais. Sobre o suicídio de Alan Garcia e em outros temas percebo a total perde de dignidade e respeito para com o outro ou o próximo. É muito triste ver como os espíritos mais rebaixados e desumanos afloram nas redes sociais. As pessoas que fazem esses tipos de comentários perdem o controle sobre seus impulsos, são impiedosos e jogam todos os escrúpulos na lata do lixo com uma forma de prazer indigna e vil. A partir dessas condutas e expressões tornam o mundo pior e fazem uma lamentável contribuição na promoção do ódio gratuito e inadequado. Eu fico muito triste porque esse extraordinário meio de promoção do diálogo e da comunicação passa a se resumir apenas a uma arena de espancamento, agressão e maldade. O pior argumento que eu vejo ser utilizado nesses casos é o da liberdade de expressão que se reduz ao direito de dizer qualquer coisa de forma insensata, insensível e inconsequente. Minha única esperança é que isso cause vergonha em outros e aversão na maioria dos que lêem isso. Nada de bom há de sair de tanta maldade. Feliz Páscoa e que o amor ao próximo e a todo o próximo ressuscite nesses corações que jogam pedras nos demais seres humanos e que espancam a humanidade inteira com seus ataques e agressões.

um subterrâneo muito escuro


“A obscuridade das distinções e dos princípios de que se servem é a causa de poderem falar de todas as coisas como se as soubessem e de sustentarem o que dizem contra os capazes e os mais sutis, sem que se tenham meios de os convencer. Por isso, tornam-se comparáveis a um cego que para lutar sem desvantagem contra alguém que não é cego, levasse o adversário para o fundo de um subterrâneo muito escuro.” 

Rene Descartes

A EXPERIÊNCIA DA VIDA


A EXPERIÊNCIA DA VIDA



Cada um de nós possui uma existência muito singular, mas em algum sentido ela é comum a muitos outros seres humanos. Pois, nessa existência, penso que somos testados repetidamente numa árdua prova para tentar compreender, interpretar e pouca vezes explicar o que ocorre em nossas vidas e nas vidas das pessoas que conhecemos. Tentamos explicar mesmo a vida de pessoas que vieram antes de nós para esse mundo ou, nos dias de hoje, com larga comunicação e informação, muitas biografias, páginas policiais, colunas sociais, fofocas, obituários e diversos outros exemplos que podem ser obtidos aqui ou ali no mundo, podemos até tentar compreender, interpretar ou até mesmo distorcer e criar versões alternativas para explicar ou julgar a vida de muitos outros distantes de nós ou de quem só muito remotamente temos informação ou pelo papel, por ondas de rádio, tevê ou séries e filmes a que produzimos e temos acesso. Com essas fontes todas e ensaios próprios e de outros tentamos entender a nossa própria experiência de vida e de outros seres humanos.  

Mas o que ocorre conosco quando fazemos estes exercícios? Encontramos uma lógica rigorosa e uma narrativa padrão para fazer esse processo de interpretação de si e do outro? Possuímos a varinha de condão da verdade e da justiça para revelar como essas pessoas eram, são ou serão no futuro, a partir do que apreendemos delas?

Parece que não. Assim como muitas vidas estão expostas ao acaso, ao azar, a sorte, aos planos bons, aos planos não tão bons, aos planos ruins e aos planos muito ruins, em seus destinos, todos nós nos defrontamos com sucessos e insucessos aparentemente explicáveis, mas que, ao fim e ao cabo, vistos mais de perto, melhor analisados, são inexplicáveis. Não se resume a vida de uma pessoa por suas escolhas, sem conhecer as opções que lhes são ofertadas ou reconhecíveis.

Eu diria que nossa tentativa de explicação da experiência de vida é feita, então, com muitas concessões e generosidade ao nosso próprio espírito de síntese e racionalização da existência. Por quê fazemos isso desse modo? Penso que talvez seja uma necessidade nossa - como muitas outras necessidades nossas que ganham instituições para concretizar seus nobres objetivos em prol da saúde psíquica, em prol do bem estar coletivo e muitas vezes em prol de seus autores e seguidores.

Deve ser necessário mesmo dar sentido à nossa experiência de vida ou aquele pontinho da história que representa a nossa vida, ao qual se resume nossa existência e que na vida excepcional ou extraordinária de alguns ganha muitas tintas ou é exemplar e na vida de muitos outros, na vida da grande maioria dos seres humanos que vieram a vagar nesse mundo, mal tem um registro, um número ou tracinho de lápis numa lista qualquer em que somos representados ou figuramos como "alguém", aquele outro ou uma pessoa.

Temos, então, uma certa experiência de vida muito básica aqui: ou somos visíveis e notórios por um tempo ou algum tempo que se resume aos nossos convivas e aos nossos laços sociais ou, então, ao contrário, somos invisíveis, anônimos ou metas imagens de pessoas que se misturam na multidão desses quase oito bilhões de habitantes que vivem hoje nesse mundo ou aos trilhões - suponho eu - que já viveram.

Nossa experiência de vida pode ser, assim, visível e invisível, comum ou incomum. E, se eu seguir nessa toada, podemos descobrir, talvez, algo mais sobre os outros e nós mesmos. Como, por exemplo, porque é tão difícil para os seres humanos aceitar e defender a existência do outro e lutar junto pela dignidade de todos e não apenas de si mesmo? Creio que isso é algo que faz parte da nossa experiência de vida e divide o mundo para mim também de uma outra forma, mais ou menos binária, entre aqueles que se preocupam e se dedicam a isso e aqueles que não dão a mínima pelota para esse assunto.

Talvez aí resida também um dos limites da nossa dificuldade de compreender, interpretar e explicar o outro, porque se nós nos dedicássemos de fato a isso teríamos que assumir certas "responsabilidades e compromissos" frente aos quais, para a grande maioria seriam uma perda de tempo, desperdício de recursos e empenho demasiado com a vida dos outros, a existência dos outros, que não caberiam na nossa experiência de vida.

P.S. Pensando na Páscoa, pensando no sentido da vida, na luta entre nós pela vida e, só para variar, pensando numas leituras e reflexões que me provocam. Paul Auster e muitos outros. Experiência de ou da Vida é uma abordagem mais próxima de tudo que tem me desafiado no que toca à minha compreensão, a compreensão de minhas escolhas e à compreensão de todos os demais seres humanos que me chegam ao conhecimento e reflexão sob diversas formas.

Obs. A imagem é um recorte de dois frisos de quatro da capa de Catatau de Paulo Leminski. Trata-se da capa da edição mais recente pela Iluminuras em 2000. Foi feita por Éder Cardoso e é baseada na capa da primeira ata edição da obra de 1975 que foi executada por Miran. Imagem: Cenas de luta na sala de uma tumba em Beni Hasan (Egito, Circa 2000 a.C., anônimo.)