Tenho pensado muito nisso também.
Nessas horas, é bom lembrar o velho Marx. Ele não prescrevia uma Ditadura do
Proletariado porque simplesmente tinha um ódio venal e de classe à burguesia ou
considerava uma prioridade vingar toda exploração e dominação, explicação e
submissão imposta ao proletariado ao longo da história. Marx não era um revanchista.
Tratava de uma outra questão muito mais crucial: a burguesia não vai conceder
de mão beijada ou por boa vontade qualquer grande alteração no sistema
econômico e político de exploração e dominação, seja a um partido eleitoral ou
a um grande líder do proletariado, através da via democrática. A disputa de
classe ou a luta de classes em que interesses opostos se enfrentam, não tem
essa dimensão negociada ou mediada. Toda
vez que o proletariado quiser obter algum ganho ou melhoria para além de meras
concessões conjunturais, haverá de ser pelo uso da força e pela imposição
inarredável de seu poder. Por isso, também a mudança efetiva e real das estruturas da sociedade, na perspectiva de
Marx e outros socialistas e comunistas que são considerados radicais, só será
possível pela via revolucionária e através da ruptura violenta e impiedosa do
regime jurídico e estamental que sustenta esse sistema de exploração e
dominação de uma classe sobre a outra. É por isso que a Ditadura do
Proletariado, o vaticínio odioso para a burguesia, é a única via de mudança
social efetiva e sustentável e que permite conquistar, manter e solapar de vez
com as bases jurídicas e materiais de classe do sistema político e econômico
dominante no capitalismo. Você pode não gostar de violência, você moralmente
pode desejar a paz e preferir sempre a democracia e é razoável que pense assim
e que deseje isso com convicção, mas toda vez que o fizer deves pensar que a
não violência de teu método e propósito, há de deixar espaço para a extrema
violência da exploração e da dominação continua da burguesia sobre o
proletariado e suas frações de classe. Nesse caso, não se trata de comparar o
número de vítimas ou a insensatez do sacrifício de um lado ou do outro, por uma
via ou por outra, como um cálculo de custos e benefícios ou uma contabilidade
de perdas humanas, mas sim de refletir sobre que todos os sacrifícios você se
dispõe a aceitar para sepultar de vez o sacrifício constante e regular da vida
de milhões de pessoas no capitalismo, num aparente regime normal e estável,
cuja normalidade aparente é enganosa, pois através da miséria, da fome, da
doença, da falta de oportunidades e dos diversos procedimentos legais que dão
base ao massacre de uma grande parte da humanidade, se observa o alto preço que
homens e mulheres pagam, com suas vidas e existências para sustentar os
privilégios e prerrogativas de muito poucos das classes dominantes burguesas. A
espada de Dâmocles repousa – a espada da morte e da responsabilidade – paira balançando
sobre as cabeças daqueles que tem o poder ou o talento e a liderança de decidir
qual das duas vias seguir. Não é uma questão pequena essa. Sou daqueles que me
ressinto da condição de Lula e de seu destino e sacrifício pessoal que está
atrelado diretamente ao destino do povo brasileiro, como é fácil ver hoje para
muitos que não queriam aceitar isso antes ou que já haviam esquecido disso. É
preciso reconhecer que a escalada golpista que levou ao atual quadro nacional é
produto direto dessa não concessão e não admissão de alguns ganhos ao
proletariado e a classe proletária brasileira. A pergunta que deve ser feita,
então, quando se adota essa percepção e constatação é: porque será que é tão
difícil para certos sujeitos históricos compreender seu lugar numa revolução
real da sociedade? E por consequência por que a maior parte do proletariado não
se vê num papel revolucionário por necessidade de sobrevivência real de si e de
sua classe?
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