Powered By Blogger

sábado, 30 de novembro de 2019

RELAÇÕES HUMANAS E EDUCAÇÃO – TEXTO ORIGINAL DE 30 DE NOVEMBRO DE 2015 REVISTO E PUBLICADO


RELAÇÕES HUMANAS E EDUCAÇÃO – TEXTO ORIGINAL DE 30 DE NOVEMBRO DE 2015 REVISTO E PUBLICADO

Hoje surpreendi alguns colegas ao responder a um comentário sobre a forma como algumas pessoas se comportam em grupo e em relação aos outros indivíduos ou grupos com qual convivem cotidianamente. Tratava-se tanto de uma questão ética relativa à conduta individual da pessoa quanto de uma relação política a respeito do seu compromisso com o grupo. Muitas vezes essa relação tem uma assimetria de poder de decisão ou apresenta uma relação vertical ou hierárquica de poder.  

Comentei que algumas pessoas tem muita dificuldade para pedir, aceitar e ouvir conselhos de outros e mesmo consultar as outras a respeito de assuntos que tocam a elas também e que lhes dizem respeito, preferindo na maior parte dos casos decidir ou avaliar a partir de informações ou insuficientes ou subjetivas - seja por ter o poder, por ter influência ou por ter acesso e possibilidade de interferir - sem consultar aos outros.

Não gostaria de usar aqui as palavras de que isso é um desrespeito, desprezo ou desconsideração ou imposição, pois ocorre algo mais simples que isso - e aqui tem um desafio moral e político, ético e cultural também – elas não reconhecem o outro como alguém habilitado a fazer juízo sobre si mesmo e se sentem superiores ao outro. Assim, isso é marcado por um costume, hábito ou prática comum naqueles que não aprenderam a agir de outra forma, não tiveram este exemplo e simplesmente desconsideram esta possibilidade como uma alternativa de se fazer justiça e ter a devida consideração ou um toque suave e tranquilo de reconhecimento do outro.

Sabemos - e quem me leu até aqui deve imaginar muito bem isso - que este é um problema de método, que esta escolha de método incide sobre a qualidade da democracia e das relações de igualdade ou horizontais necessárias as relações humanas justas, mas que também versa sobre o nível de inteligência emocional e sobre nossas sensibilidades em relação aos outros. Eu disse, dada esta caracterização e consideração inicial, que isto se devia a uma certa forma dominante de como somos quase todos nós educados e forjados nas lidas da vida a partir de uma perspectiva verticalizada e como todos tentam ao máximo poder estar acima, nessa hierarquia, para poder julgar assim com este método também. Aqui a pergunta que precisa ser posta é: pode ser diferente?  Eu acredito que sim. E não creio ser um sonho ou devaneio pensar assim.

Trata-se na tradição de educar as pessoas para trabalhar, competir e ganhar dinheiro e a última consideração possível para alguns é que vamos viver a vida inteira nos relacionando com os outros, vamos precisar deles, vamos depender deles. Isto é, não somos educados para nos relacionarmos satisfatoriamente com o próximo, nos relacionar com o próximo e dever algo ao próximo é um desprazer. Para os mais ambiciosos isso é desnecessário e não precisa ser considerado importante. Os outros são descartáveis e substituíveis. Devemos ser produtivos e lucrativos e disso se segue inclusive a priorização de conhecimentos uteis ou necessários e, também, da nossa forma pouco confiante e semi-paranóica de construir relações sociais, compromissos e desta imensa quantidade de burlas à confiança pessoal, ao compromisso político ou ao comprometimento real e existencial com o próximo.

Bem ditos ou malditos individualismos e seus modos de produção que incrementam até mesmo a existência generalizada de tal coisa como síndrome de pânico e estas formas permanentes de baixo envolvimento em temas coletivos saudáveis e prazerosos. Precisamos mudar isto. Precisamos educar as pessoas para relações mais saudáveis, mais compreensivas e de compromisso e lealdade.

Por isso, a vida é tão difícil e tão dura, porque vivemos nesse jogo de perde ou ganha em relação ao próximo e isso é ótimo para o sistema produtivo e nada bom para a saúde mental e social de nossos próximos. Pode sim ser diferente. E é mais do que necessário se acreditamos mesmo que um outro mundo é possível.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Thomas Wolfe, Of time and the River.




"Naquele momento ele viu, em um fulgor de luz, uma imagem de veracidade indescritível, a razão pela qual o artista trabalha e vive e tem o seu lugar — a recompensa que procura — a única recompensa com que realmente se importa, sem a qual não há nada. É para engodar os espíritos da humanidade em redes de magia, para fazer sua vida prevalecer através de sua criação, para desafogar a visão da sua vida, a rude e dolorosa substância de sua própria experiência, na congruência de imagens ardentes e encantadas que são elas mesmas o âmago da vida, o padrão essencial de onde todas as outras coisas provém, o miolo da eternidade."

"At that instant he saw, in one blaze of light, an image of unutterable conviction, the reason why the artist works and lives and has his being—the reward he seeks—the only reward he really cares about, without which there is nothing. It is to snare the spirits of mankind in nets of magic, to make his life prevail through his creation, to wreak the vision of his life, the rude and painful substance of his own experience, into the congruence of blazing and enchanted images that are themselves the core of life, the essential pattern whence all other things proceed, the kernel of eternity."

Excerto de Thomas Wolfe, Of time and the River.

Prá não dizer que não falei de flores


Prá não dizer que não falei de flores
Geraldo Vandré

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Nas escolas nas ruas campos construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Vem vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações

Pelas ruas marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Vem vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Ha soldados armados amados ou não

Quase todos perdidos de armas na mão

Nos quarteis lhes ensinam uma antiga lição

De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Vem vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O MASSACRE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA GAÚCHA TAMBÉM SE DÁ NA NOVA GRADE CURRICULAR


O MASSACRE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA GAÚCHA TAMBÉM SE DÁ NA NOVA GRADE CURRICULAR



Saiu no Diário Oficial do RS hoje a nova matriz curricular.

É um massacre covarde e insensato à Área de Ciências Humanas e suas Linguagens, que tem todos os conteúdos reduzidos.

O componente curricular História no 2º e 3º anos do ensino médio ficou reduzido a apenas um período semanal. Preserva dois períodos no primeiro ano.

O componente curricular Geografia permanece nos três anos do ensino médio, mas ficou reduzido a apenas um período semanal.

O componente curricular Sociologia fica apenas no 1º e 2º ano do ensino médio e ficou reduzido a apenas um período semanal.

O componente curricular filosofia fica apenas no 1º e 2º ano do ensino médio e ficou reduzido a apenas um período semanal. É excluído do 3º ano.

É uma faxina nas disciplinas de humanas que ataca diretamente a possibilidade de aquisição de instrumentos, conceitos, métodos, teorias por parte dos alunos e alunas para lerem a realidade humana e a sua relação com o mundo.  

Para quê aprender história? Para quê relacionar, interpretar, criticar e avaliar os processos históricos? Para quê compreender a relação do homem com a natureza e o mundo? Para quê compreender a sociedade, as dinâmicas sociais, os processos sociais e a mudança social? Para quê pensar e refletir, julgar e formar pensamento crítico e adquirir elementos analíticos e sistemáticos de reflexão sobre a realidade, as ciências, as religiões e a totalidade do mundo e das nossas relações com ele?

Querem tirar da escola pública o direito do povo ser cidadão. Além disso, com o fim da sociologia e dá filosofia promovem o desmantelamento de carreiras do magistério e de formações acadêmicas muito importantes para a compreensão da sociedade e da humanidade.

Teremos mais professores sem oportunidade de trabalho e o esgotamento da capacidade de se enfrentar esse mundo cuja dinâmica é cada vez mais perversa, fascista e autoritária. Sem estudantes de humanas e sem o ensino de humanas, caminhamos para a consagração da desumanidade e da barbárie automatizada, naturalizada e mais banal.

É uma proposta que exibe mais claramente a face tirânica desse governo do Eduardo Leite e do PSDB.

É preciso denunciar isso também!

sábado, 23 de novembro de 2019

SOBRE GREVE E VAGABUNDOS, por Fernando Temporão


SOBRE GREVE E VAGABUNDOS, por Fernando Temporão

"Quando um sujeito de classe média diz que greve é coisa de vagabundo, eu fico com vontade de sentar com ele numa pracinha, comprar um algodão doce, respirar fundo e falar:

"Sabe fulaninho esperto, há 100 anos atrás não existia classe média. Não existia você. Não existia autonomia. Não existia profissional liberal. Nem existia assalariado. Há 100 anos atrás, fulaninho, existia uma pequena elite difusa que se transformou em burguesia, herdeira secular de terras, privilégios, favores e negócios que remetem aos regimes monárquicos, seja no Brasil ou na Europa. Essa elite era dona de tudo: das terras, das fábricas, dos meios de produção. E tudo o que o povão tinha era fome, sede, frio, calor e força de trabalho pra vender por QUALQUER merreca que essa elite quisesse pagar.

Sabe fulaninho, esse povão trabalhador, durante décadas, foi explorado, torturado, privado de tudo, em nome do lucro de poucos. E durante décadas esse povão precisou se unir, e lutou, combateu, apanhou, foi preso....até ser ouvido para, pouco a pouco (bem lentamente mesmo), à duras penas, conquistar direitos trabalhistas que hoje regulam o que você faz.
E foi esse povo que, consolidados os seus direitos, passou a ser um negócio chamado: classe média. Esse povo, com muito suor e sangue, inventou uma classe social potente e enorme que, no caso, Fulaninho, é a SUA classe social. Você é o resultado prático da luta, das greves, das manifestações, e de toda organização política feitas por gente que, por sua força de MASSA, de CONJUNTO, conseguiu mudar o paradigma do século 20.

Seja você um autônomo, dono de uma pequena ou média empresa, seja você um profissional liberal, um prestador de serviços...seja você o que for, você foi inventado por GREVISTAS e só existe porque GREVISTAS permitiram que você pudesse existir e ser livre.

Sem os grevistas, fulaninho espertalhão, hoje você estaria dormindo 3 horas por dia e almoçando água com pedra. Sempre na nobre companhia de um senhorio com uma CHIBATA na mão para que você nunca se esqueça quem manda.
O tempo passou, o mundo mudou, mas nem tanto. Eles continuam tendo o poder e sendo poucos. E os trabalhadores continuam sendo a maioria e fazendo da sua UNIÃO a única arma para garantir sua sobrevivência e seus direitos.

Acorda, fulaninho! O único vagabundo aqui é aquele que teve preguiça e a incapacidade de ler os livros de história: .......!"

Por Fernando Temporão.

A GREVE SÓ CRESCE


A GREVE SÓ CRESCE

A greve dos educadores estaduais do Rio Grande do Sul só cresce!

Os apoios em todas as câmaras de vereadores crescem!

Os apoios dos sindicatos e entidades também!

Essa é a hora de virar o jogo contra o desrespeito e a desvalorização da educação gaúcha!

Vamos derrotar o Pacote de Maldades do Leite!

Pressão nos deputados estaduais!

Diálogo com alunas e alunos, país e mães!

Boa luta!

A MAIOR GREVE DA HISTÓRIA DO RS


A maior greve da história. Ao atacar de forma completa os direitos dos educadores e servidores públicos do estado do Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite e seus apoiadores conseguiram acender um rastilho de pólvora que se alastra e se amplia a cada dia com mais força.

É um incêndio de grandes proporções, porque qualquer professor ou servidor que compreende o impacto de as medidas do Pacote de Maldades, adere ao movimento com muita facilidade.

A aprovação e implantação desse projeto significa simplesmente a destruição da carreira dos educadores do Rio Grande do Sul e por consequência da Educação Pública Gaúcha.

GREVE NO OLINDO FLORES 2019: A EDUCAÇÃO MERECE RESPEITO


GREVE NO OLINDO FLORES 2019: A EDUCAÇÃO MERECE RESPEITO

A nossa escola e o grupo de professores e alunos merecem muito respeito. Esse respeito foi construído por muitos educadores que já lecionaram aqui, muitos alunos e alunas que por aqui passaram e pelas nossas relações com toda a comunidade escolar. Nossas relações com o Cpers Sindicato são históricas e muito consistentes – muitas lideranças sindicais se constituíram a partir da nossa escola e muitas decisões sindicais de caráter regional e estadual forma discutidas e apreciadas na nossa sala dos professores. A escola tem também uma relação com diversas outras escolas da rede estadual e municipal com as quais também travamos diálogos e projetos em comum.

Esse respeito também é construído nas relações com entidades sociais e com as Universidades de São Leopoldo. Tanto a Unisinos, quanto a EST tem nossa escola como uma escola de referência na educação e na gestão. Desenvolvemos ao longo da nossa história muitos projetos e intercâmbios. Recebemos estagiários em todas as áreas de educação superior com atenção e muita dedicação do nosso quadro de professores, da supervisão e da direção. E também somos reconhecidos pelos grandes contingentes de ex-alunos e ex-alunas que saem da escola para construírem carreiras profissionais importantes.

É uma escola com muita história de educação com democracia e com muitas lutas sindicais. É uma escola que contribuiu decisivamente para a implantação da Gestão Democrática lá na primeira eleição de diretores nos anos 80. Isso construiu uma cultura de debates, de respeito às diferenças e de muita consistência na reflexão e na ação coletiva. Numa escola assim ou você veste a camiseta e se integra e se entrega completamente ou não consegue ficar.

O impacto cultural disso nos alunos e alunas é notável também. Pois podemos encontrar diversos ex-alunos e ex-alunas egressos da nossa escola praticando a democracia em seus locais de trabalho e de convivência. E também encontramos ex-alunos e ex-alunas, bem como, professores e professoras atuando com vigor e determinação na esferas públicas e no serviço público. É um patrimônio cultural e social inestimável.

Nós professores e professoras e demais servidores disseminamos essa dinâmica e cultura democrática para muito além das salas de aula ou reuniões da escola. Somos todos Olindo para as horas boas e as horas ruins.

E eu poderia ser apenas mais um indiferente a isso, mas não consigo deixar de fazer esta homenagem e registro no momento mais duro enfrentado pela educação gaúcha, por nossa escola e nossos colegas.

Tenho a mais absoluta certeza de que estou honrando muitos colegas que já se foram e que fariam ou diriam algo semelhante ao que faço e digo aqui. Muitos alunos e alunas que já passaram e muitos que estão com a gente hoje tem esse entendimento muito claro. Nós todos merecemos muito respeito. É exatamente por isso que estamos em greve. Por causa desse compromisso histórico e inalienável. Por causa da democracia e da educação que merece respeito.

O Governador Eduardo Leite – seguindo a onda do Bolsonaro em destruir a educação pública e essa perversidade global contra a concepção de educação libertadora e de valorização dos educadores - apresentou um Pacote de Maldades – veja as características e elementos do pacote em minha postagem anterior, que destrói completamente as carreiras dos educadores e servidores do nosso estado e que, por consequência, destrói a educação estadual da qual fazemos parte com muito orgulho. Repete o modelo ultra neoliberal que não deu certo em lugar nenhum com algumas pitadas de sadismo dos fascistas que perseguem educadores e desvalorizam o conhecimento. Não há, por isso, o que negociar nesse projeto. Todos os seus componentes são destrutivos.

Agora, estamos em greve, numa queda de braço cujos resultados podem ser ou a extinção de nossas carreiras e o caos na educação estadual que irá ocorrer tão logo o pacote seja aprovado ou a afirmação altiva de um projeto de educação com respeito aos educadores e às carreiras de estado dos professores e funcionários. Por isso precisamos derrotar Leite, entrar em greve contra isso não é uma opção ou alternativa, nem uma possibilidade, é uma necessidade, é a última batalha e a última defesa que temos.

Muito orgulho, portanto, do lado que eu escolhi. Por estar nessa lista de educadores tão bem acompanhado e também por ter vivido e viver muitos momentos de reflexão, solidariedade, debates e luta contra aqueles que sempre tentam nos oprimir, que são indiferentes ao sofrimento do próximo e que não conseguem ir para além dos seus umbigos.

Mais orgulho ainda de ser professor estadual, lecionar e lutar a partir e no Olindo Flores. Aprender e ensinar com meus colegas de todas as redes sempre. A gente merece muito mais respeito e se não recebemos de bom grado ou com boa vontade, vamos conquistar respeito com luta, coragem e muita determinação.

Grande abraço em todos e todas!

Boa Luta!



Dedico esse texto a todos os meus colegas de escola, aos ex-professores e ex-alunos, aos professores do futuro e aos alunos do futuro de todas as escolas.

E aproveito para homenagear o nosso grande decano da educação de São Leopoldo, ao Professor João, Joao Carlos Alves Rodrigues que me confessou que sente uma grande emoção quando é chamado ou convocado pelo sindicato para contribuir e que persiste com fé na nossa luta em defesa da educação. Ele me disse instantes atrás que precisamos apontar nessa luta que estamos resistindo a uma grande onda global - que contagia Leite e Bolsonaro no RS e Brasil que querem nos exterminar e descartar, mas que podemos vencer, se apontarmos contra ela todos os nossos esforços.

A EDUCAÇÃO PÚBLICA E A VIDA DOS EDUCADORES SOB AMEAÇA DE DESTRUIÇÃO


A EDUCAÇÃO PÚBLICA E A VIDA DOS EDUCADORES SOB AMEAÇA DE DESTRUIÇÃO

Se esse pacote for aprovado vai ser o caos mesmo. Prevejo abandonos da carreira e uma tragédia e um sofrimento terrível na vida de professores e professoras aos milhares. Além disso, com a precarização das condições de trabalho, salários atrasados e o endividamento dos educadores vai ser insuportável trabalhar sem nenhuma perspectiva de progresso, reajuste ou melhorias na carreira. Vão faltar mais professores, mais professores ficarão doentes e as escolas vão acabar sendo fechadas. Podem ter certeza disso: ou derrotamos esse pacote ou a educação pública gaúcha vai ser completamente destruída.

A FAKE NEWS NEOLIBERAL


A FAKE NEWS NEOLIBERAL

NÃO CAIA NESSA

Em tempos de Fake News, os liberais incorporam como elemento retórico a bandeira da redução da desigualdade. E Armínio Fraga é quem aplica essa agora.

Nunca tiveram compromisso com isso. Agora, devido a crise global e ao fracasso das suas políticas implementadas em todos os lugares, incluso no Brasil com Temer e Bolsonaro, eles vem com essa para tentar se salvar do massacre que deveriam receber nas urnas do povo que toma consciência a cada dia que passa de que as políticas deles são concentradoras de riqueza, formadoras de monopólios e oligopólios, e deletérias para as funções de estado e o patrimônio público. É mais golpe de Fake News mesmo!

A HIPÓTESE NÃO ELIMINADA NO QUADRO DE INVESTIGAÇÕES DO ASSASSINATO DE MARIELLE


A HIPÓTESE NÃO ELIMINADA NO QUADRO DE INVESTIGAÇÕES DO ASSASSINATO DE MARIELLE

Em qualquer romance policial, de detetive, seja ficção ou realidade, ou numa investigação policial criteriosa e detalhada surgiria a hipótese gravíssima de que o terceiro homem é aquele tipo de mandante que estaria obtendo prazer ao testemunhar ou participar da operação de execução ou vendetta. 

É a pior hipótese possível e a mais grave hipótese possível, mas é justamente também a mais trivial, banal e corriqueira em filmes da máfia ou de outro tipo de organização criminosa que tem ou tenta ter algum envolvimento político. Por isso é uma hipótese verossímil e talvez provável.

E a trama fica mais grave ainda com o pai e os irmãos, seus correligionários próximos fazendo arminha e contratando familiares de milicianos e pousando em fotos com milicianos. Para coroar a maldita perfídia o irmão do irmão do irmão do mesmo pai se elege senador, com a vereadora assassinada e executada covardemente fora do páreo.

Poucas vezes vi um enredo tão verossímil e escandaloso expondo a realidade possível e que talvez fosse provável se não tivessem eliminado e apagado providencialmente as filmagens das câmeras de vídeo das redondezas do crime.
Essa história vai acabar sendo contada. Um castelo de cartas inteiro vai cair e com ele toda as estratégia perversa ficará exposta.

A realidade parece imitar a ficção perfeitamente. E não será a primeira vez.

Prá quê tanto?

P.S.: Já vou avisando: é muito clichê isso tudo. Mas esses caras são os reis do clichê mesmo.

PARA QUE SERVE A UTOPIA?


PARA QUE SERVE A UTOPIA?

O escritor uruguaio, Eduardo Galeano, autor de alguns dos livros mais desafiadores para quem pensa na libertação da América Latina e na compreensão de sua história, relata que estava em companhia do diretor de cinema argentino Fernando Birri em uma Encontro na Universidade de Cartagena das Índias e em meio aos questionamentos dos estudantes, um estudante levantou e colocou a seguinte pergunta: para quê serve a utopia?

Galeano relata que ficou olhando para Fernando e lastimando a pergunta terrível do aluno dirigida a ele. Mas relata Galeano que Fernando respondeu estupendamente.

Disse Fernando, no relato de Galeano a resposta de seu amigo, que a utopia está no horizonte, e disse, eu sei muito bem que nunca a alcançarei, que se eu caminho dez passos, ela se afasta dez passos, quanto mais a busque, menos a alcançarei, porque ela vai se afastando a medida que me aproximo.

Boa pergunta heim? Para que serve? Comenta Galeano e conclui seu relato.

Pois, a utopia serve para isso: PARA CAMINHAR

P.S.: aqui vale a analogia com a busca da sabedoria que é ainda parte das tarefas essenciais dos filósofos e de todos os pensadores e pensadoras. Buscar a sabedoria serve, também, para caminhar e num sentido final para viver buscando sempre que possível o melhor.



SÓ UMA REVOLUÇÃO EM TODA A AMÉRICA LATINA?


SÓ UMA REVOLUÇÃO EM TODA A AMÉRICA LATINA?
Me dá nos nervos ver essas covardias de disseminando em toda América Latina. Nem vou fazer a lista das barbáries desse nosso tempo.
Na Bolívia, no Chile, etc
E no Brasil.
Será que a verdadeira emancipação e libertação dos nossos povos, só será possível mesmo, se fizermos uma revolução latino americana do México a Patagônia?
Me parece mesmo que esses acontecimentos e a história da América Latina, nos indicam que essa é realmente a única via.
Não adianta resolver aqui ou acolá por um tempo, pois a noite volta após um tempo. Não adianta olhar para o processo democrático e se fiar na estabilidade de um pacto social.
Só a revolução em toda a América Latina, articulada e organizada em uma única força e diretriz massiva, com brigadas disciplinadas e sem voluntarismos, poderá libertar todos nos países e seus povos explorados, oprimidos, expoliados e violentados dessa dominação perversa das elites herdeiras do colonialismo e dessa onda fascista, nazista e autoritária que vem chegando.
Podem me chamar de louco, podem dizer que é uma loucura propor isso, mas é o que essa loucura e insanidade, desumanidade e martírio me leva a pensar. E eu me sentiria um pensador e um agente político covarde, se não tivesse a ousadia e audácia de dizer isso.

Me dá nos nervos ver essas covardias de disseminando em toda América Latina. Nem vou fazer a lista das barbáries desse nosso tempo.

NADA QUER DIZER NADA, TUDO QUER DIZER TUDO, por Ricardo Rangel


NADA QUER DIZER NADA, TUDO QUER DIZER TUDO,

título meu para o texto de Ricardo Rangel:

"Com essa confusão do porteiro e da brigalhada dela decorrente, tenho visto muita gente indignada e furiosa com as recorrentes afirmações de que a família Bolsonaro teria ligações com as milícias, que isso é calúnia e tal.

Sobre isso, vale explicar que...

O suposto assassino de Marielle, o ex-PM Ronnie Lessa, é vizinho do presidente Bolsonaro — mas isso não quer dizer nada, ninguém escolhe vizinho.

Descobriu-se que o filho de Bolsonaro (o Zero Quatro) namorou a filha de Lessa — o que não quer dizer nada, namoro entre vizinhos é comum.

Lessa pertencia a uma quadrilha de matadores de aluguel cujo homem-forte era o ex-PM e miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega. Em 2003, Flávio Bolsonaro homenageou Adriano na ALERJ — não quer dizer nada, Adriano tinha ficha limpa.

Em 2004, Adriano foi preso por assassinato. Flávio lhe concedeu a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria do parlamento fluminense — não quer dizer nada: na época, talvez Flávio acreditasse na inocência de Adriano.

No ano seguinte, quatro dias após Adriano ser condenado a 19 anos de cadeia, Jair Bolsonaro discursou na Câmara pedindo a reversão da condenação — não quer dizer nada, na época, talvez Bolsonaro acreditasse na inocência de Adriano.

Em 2007, Flávio Bolsonaro nomeou a mulher de Adriano como assessora — não quer dizer nada, Adriano acabou absolvido (por tecnicalidades) em segunda instância, e ninguém é responsável pelos atos do cônjuge.

Em 2008, Adriano foi preso temporariamente por tentativa de assassinato. No mesmo ano, Flávio Bolsonaro votou contra a CPI das milícias — não quer dizer nada, porque talvez Flávio acreditasse que, diante do tráfico, as milícias eram um mal menor.

Ainda em 2008, Jair Bolsonaro discursou na Câmara criticando a CPI das Milícias — não quer dizer nada, porque talvez Bolsonaro acreditasse que, diante do tráfico, as milícias eram um mal menor.

Em 2011, a juíza Patrícia Acioli foi assassinada por milicianos. “Que Deus tenha essa juíza, mas a forma absurda e gratuita com que ela humilhava policiais nas sessões contribuiu para ter muitos inimigos”, tuitou Flávio — não quer dizer nada, discordar da conduta da juíza não significa concordar com seu assassinato.

Ainda em 2011, Adriano foi novamente preso pela tentativa de assassinato de 2008 (no ano seguinte, o processo seria arquivado porque as testemunhas se retrataram ou simplesmente sumiram). Em 2014, depois de cinco anos de processo disciplinar, Adriano foi expulso da corporação por atuar como segurança da máfia dos caça-níqueis. No mesmo ano, Flávio foi o único deputado a votar contra a CPI para investigar autos de resistência, e comentou "vejam como está a cabeça do policial hoje, preocupando-se mais com o Judiciário, com o juiz" — não quer dizer nada, porque Flávio poderia crer que os PMs estivessem sendo perseguidos pelo juízes.

Em 2016, Flávio nomeou a mãe de Adriano como assessora — não quer dizer nada, ninguém é responsável pelos atos do filho.

Adriano Magalhães da Nóbrega foi apresentado a Flávio Bolsonaro no início dos anos 2000 por Fabrício Queiroz, ex-PM, amigo íntimo da família Bolsonaro há mais de 30 anos. No ano passado, Queiroz tornou-se suspeito de desviar dinheiro por meio de “rachadinha” (foi quando a mãe e a filha de Adriano foram dispensadas). Para esconder-se do MP, Queiroz refugiou-se na favela Rio das Pedras, controlada pela milícia. Este ano, confessou ter desviado o dinheiro; pouco depois, sumiu de circulação. Mas nada disso quer dizer nada, porque Flávio pode ter sido ludibriado pelo assessor.

Quando se descobriu que Queiroz depositou 24 mil reais na conta da primeira-dama, Bolsonaro explicou que se tratava de parte do pagamento de uma dívida — é curioso que alguém que movimenta 1,2 milhão precise de um empréstimo de 40 mil, mas não quer dizer nada, porque o empréstimo pode ter ocorrido mesmo. Flávio recebeu 48 depósitos de 2 mil reais em dinheiro — não quer dizer nada porque Flávio tem uma loja de chocolates.

Nada quer dizer nada, mas tudo junto quer dizer algumas coisas:

Quer dizer que a família Bolsonaro cultiva uma estranha e preocupante proximidade com criminosos.

Que Bolsonaro não fica bem no figurino de paladino na luta contra o crime.

Que Moro e os militares ficam numa saia justa.

Que o presidente fica mais fraco para aprovar as reformas no Congresso.

Que fica difícil governar quando tanto se fala da vida pessoal do presidente."

Ricardo Rangel

OBRIGADO HENRI SOBEL


OBRIGADO HENRI SOBEL

Eu também respeito muito Henri Sobel.

Minha disposição a iniciar a militância foi muito incentivada pelo exemplo dele e de Dom Paulo Evaristo Arns. Mais tarde descobri que havia uma trinca de lideranças religiosas que enfrentarsm juntos a ditadura e faziam a defesa dos direitos humanos em meio a treva da tortura e assassinato do Herzog e das torturas e perseguições de muitos outros. Então, cito também o pastor Jaime Wright que completa essa trinca e que foi certamente fundamental para o fim do silêncio contra a selvageria, covardia e barbárie dos ditadores e lambe botas no Brasil. A humanidade precisa ser defendida, a dignidade humana precisa ser defendida e esse é o limite a partir do qual se dividem os justos no nosso país. Henri Sobel cumpriu esse papel e merece nosso reconhecimento público sim.

Morre o último da trinca de grandes líderes religiosos a enfrentar a ditadura via mídia e comunidades religiosas. Que sirva de lembrança e que batam os sinos por ele para marcar a memória e bater na moleira de quem ainda não entendeu ou não acordou para a importância de lembrar isso e de voltar a isso de novo por insensatez e irresponsabilidade, covardia, indiferença e omissão.

Discurso de Lula no Congresso Nacional do PT: 23 de novembro de 2019


Discurso de Lula no Congresso Nacional do PT:

23 de novembro de 2019

Companheiras e companheiros do PT,

Convidados de todo o Brasil e de outros países,

Minhas amigas, meus amigos,

Esperei muito tempo para poder falar livremente ao povo brasileiro. Esse dia finalmente chegou, e minha primeira palavra tem de ser de agradecimento, pela solidariedade, pelo carinho e pelas manifestações de quem não desistiu de lutar e vai continuar lutando pela verdadeira justiça.

Durante 580 dias fui isolado da família, dos amigos e companheiros, apartado do povo, mesmo tendo o direito constitucional de recorrer em liberdade contra a sentença injusta e fraudulenta de um juiz parcial. Um direito que somente agora foi proclamado pelo Supremo Tribunal Federal, para todos, sem exceção.

Com as armas da verdade e da lei, continuarei lutando para que os tribunais reconheçam, agora, que fui condenado por quem sequer poderia ter me julgado: um ex-juiz que atuou fora da lei, grampeou advogados, mentiu ao país e aos tribunais, antes de desnudar seus objetivos políticos. Lutarei para que seja anulada a sentença e me deem o julgamento justo que não tive.

Aos 74 anos de idade, não tenho no coração lugar para ódio e rancor. Mas quem nesse país já sofreu a humilhação de uma acusação falsa, por causa da cor de sua pele ou por sua origem social humilde, conhece o peso do preconceito e é capaz de sentir o quanto fui ferido em minha dignidade. E isso não se apaga.

Nada nem ninguém vai devolver o pedaço arrancado da minha existência, mas quero dizer que aproveitei esses 580 dias para ler, estudar, refletir e reforçar meu compromisso com o Brasil e com nosso povo sofrido. Voltei com muita vontade de falar sobre o presente e principalmente sobre o futuro do Brasil.

Mas logo depois da minha primeira fala, de volta ao sindicato onde passei o último momento de liberdade, disseram que eu deveria ter cuidado para não polarizar o país. Que seria melhor calar certas verdades para não tumultuar o ambiente político, para o PT não provocar uma ameaça à democracia.

Vamos deixar uma coisa bem clara: se existe um partido identificado com a democracia no Brasil é o Partido dos Trabalhadores. O PT nasceu lutando pela liberdade durante a ditadura. Não tentem negar essa verdade porque nós apanhamos da repressão, fomos perseguidos, presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional por defender essa ideia.

Desde que foi criado, há quase 40 anos, o PT disputou dentro da lei e pacificamente todas as eleições neste país. Quando perdemos, aceitamos o resultado e fizemos oposição, como determinaram as urnas. Quando vencemos, governamos com diálogo social, participação popular e respeito às instituições.

Outros partidos mudaram as regras da reeleição em benefício próprio. Nós rejeitamos essa ideia, mesmo gozando de uma aprovação que nenhum outro governo jamais teve, porque sempre entendemos que não se pode brincar com a democracia.

Não fomos nós que falamos em fechar o Congresso, muito menos o Supremo, com um cabo e um soldado. Em nossos governos, as Forças Armadas foram respeitadas e os chefes militares respeitaram as instituições, cumprindo estritamente o papel que a Constituição lhes reserva. Nenhum general deu murro na mesa nem esbravejou contra líderes políticos.

Não fomos nós que pedimos anulação do pleito só para desgastar o partido vencedor; que sabotamos a economia do país para forçar um impeachment sem crime; que sustentamos uma farsa judicial e midiática para tirar do páreo o candidato líder nas pesquisas.

Não fomos nós os responsáveis, ativos ou omissos, pela eleição de um candidato que tem ojeriza à democracia; que foi poupado de enfrentar o debate de propostas, que montou uma indústria de mentiras com dinheiro sujo, sob a complacência da mesma Justiça Eleitoral que, desacatando uma decisão da ONU, cassou o candidato que poderia derrotá-lo.

São essas pessoas que agora nos dizem para não polarizar o país. Como se polarização fosse sinônimo de extremismo político e ideológico. Como se o Brasil já não estivesse há séculos polarizado entre os poucos que têm tudo e os muitos que nada têm. Como se fosse possível não se opor a um governo de destruição do país, dos direitos, da liberdade e até da civilização.

Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho: somos e seremos oposição a esse governo de extrema-direita que gera desemprego e exige que os desempregados paguem a conta.

Somos e seremos oposição a um governo que rasga direitos dos trabalhadores e reduz o valor real do salário mínimo. Que aumenta a extrema pobreza e traz de volta o flagelo da fome. Que destrói o meio ambiente. Que ataca mulheres, negros, indígenas e a população LGBT; ataca qualquer um que ouse discordar.

Somos, sim, radicais na defesa da soberania nacional, da universidade pública e gratuita, do Sistema Único de Saúde, público, gratuito e universal. Nós não somos meia oposição; somos oposição e meia aos inimigos da educação, da cultura, da ciência e da tecnologia. Nós não aceitamos mais censura, tortura, AI-5 e perseguição a adversários políticos.

Andam negando essa verdade científica, mas a Terra é redonda e nós estamos, sim, em polos opostos: enquanto eles semeiam o ódio, nós vamos mostrar a eles o que o amor é capaz de fazer por este país.

Companheiras e companheiros,

Já foi dito que o PT nasceu para mudar o Brasil. E mudou. Porque trazemos na origem o compromisso com os trabalhadores, com os mais pobres, com os que carregaram ao longo de séculos o peso da exclusão e da desigualdade. Porque pela primeira vez fizemos um governo para todos os brasileiros e brasileiras, e isso fez toda a diferença em nosso país.

Se fosse para governar apenas para uma parte da população, o Brasil não precisaria do PT.

Para o mercado decidir quem pode e quem não pode se aposentar, quanto vai custar o gás de cozinha, o combustível, a energia elétrica, visando somente o lucro, o Brasil não precisaria do PT.

Se fosse para entregar ao estrangeiro as riquezas naturais, o petróleo, as águas, as empresas que o povo brasileiro construiu, o Brasil não precisaria do PT.

Se fosse para queimar a floresta, envenenar a comida com agrotóxicos, deixar impunes crimes como os de Marielle, Mariana, Brumadinho, ignorar desastres como o óleo no litoral do Nordeste, quem precisaria do PT?

Para o filho do rico estudar nas melhores universidades do mundo e o filho do trabalhador ter de largar a escola pra sustentar a família, o Brasil não precisaria do PT.

Se é para alguns terem mansão em Miami e muitos viverem debaixo do viaduto; para o rico ficar isento até do imposto de herança e o trabalhador carregar o peso do imposto de renda, o Brasil não precisaria do PT.

Para manter a mais escandalosa concentração de renda do planeta Terra, para o rico continuar cada vez mais rico e o pobre ficar cada dia mais pobre, aí mesmo é que o Brasil não precisaria do PT.

Porque o maior inimigo do Brasil hoje e desde sempre é a desigualdade, esse vergonhoso fosso em que 1% da população detém 30% da renda nacional e para a metade mais pobre sobram 17%, as migalhas de um banquete indecente.

Mas se este país quer superar a chaga imensa da desigualdade, recuperar a soberania e o seu lugar no mundo, se quer voltar a crescer em benefício de todos os brasileiros e brasileiras, o Partido dos Trabalhadores é mais do que necessário: ele é imprescindível.

Esta é a enorme responsabilidade que estamos recebendo. O Brasil nunca precisou tanto do PT. E o PT tem de ser grande o bastante para corresponder ao que o país espera de nós. Tem de estar unido, forte e cada vez mais conectado com o povo brasileiro.

Temos a responsabilidade de renovar o partido, compreender o que mudou na sociedade brasileira nesses 40 anos e buscar as respostas para os novos desafios. Fomos forjados na luta em defesa da classe trabalhadora.

O peso da injustiça recai hoje sobre os motoristas de aplicativos, os jovens que perdem a saúde e arriscam a vida fazendo entregas em motos, bicicletas, ou mesmo a pé. Os que não têm a quem recorrer por seus direitos, porque a única relação de trabalho que conhecem não é a carteira profissional, mas um telefone celular que ele precisa recarregar desesperadamente.

Esse é o lugar que resta aos deserdados de um modelo neoliberal excludente, cada vez mais desumano. Um mundo em que o mercado é deus e em que a solidariedade deixa de ser um valor universal, substituída por uma competição individualista feroz.

É com esse mundo novo que o PT precisa dialogar, sem abrir mão de nossos compromissos históricos, mantendo os pés firmes no presente e mirando sempre o futuro. Se as formas de exploração mudaram, a injustiça e a desigualdade permanecem e são cada vez mais cruéis. Temos de estar mais organizados, mais fortes, conscientes e mais decididos do que nunca a construir um país mais generoso, solidário e mais justo. É por isso que o Brasil precisa tanto do PT.

Companheiras e companheiros,

Salvar o país da destruição e do caos social que este governo está produzindo não é tarefa para um único partido. Fomos eleitos e governamos em aliança com outras forças do campo popular e democrático. Por mais que tentem nos isolar, estamos juntos na oposição com partidos da centro-esquerda e estamos com os movimentos sociais, as centrais sindicais e importantes lideranças da sociedade.

Embora tantos tenham cometido erros antes e depois dos nossos governos, é somente do PT que exigem a autocrítica que fazemos todos os dias. Na verdade, querem de nós um humilhante ato de contrição, como se tivéssemos de pedir perdão por continuar existindo no coração do povo brasileiro, apesar de tudo que fizeram para nos destruir. Preciso dizer algumas verdades sobre isso.

O maior erro que nós cometemos foi não ter feito mais e melhor, de uma forma tão contundente que jamais fosse possível esse país voltar a ser governado contra o povo, contra os interesses nacionais, contra a liberdade e a democracia, como está sendo hoje.

Deveríamos ter feito mais universidades do que fizemos, mais reforma agrária, mais Luz Pra Todos, mais Minha Casa Minha Vida, mais Bolsa Família e mais investimento público.

Teríamos de ter conversado muito mais com o povo e com os trabalhadores, conversado mais com os jovens que não viveram o tempo em que o Brasil era governado para poucos e não para todos.

Também tínhamos de ter trabalhado muito mais para democratizar o acesso à informação e aos meios de comunicação, apoiado mais as rádios comunitárias, fortalecido mais a televisão pública, a imprensa regional, o jornalismo independente na internet.

Antes que a Rede Globo me acuse outra vez pelo que não disse nem fiz, não ousem me comparar ao presidente que eles escolheram. Jamais ameacei e jamais ameaçaria cassar arbitrariamente uma concessão de TV, mesmo sendo atacado sem direito de resposta e censurado como sou pelo jornalismo da Globo.

Eu sempre disse que jamais teria chegado onde cheguei se não tivesse lutado pela liberdade de imprensa. Hoje entendo, com muita convicção, que liberdade de imprensa tem de ser um direito de todos, não pode ser privilégio de alguns.

Não pode um grupo familiar decidir sozinho o que é notícia e o que não é, com base unicamente em seus interesses políticos e econômicos.

Entendo que democratizar a comunicação não é fechar uma TV, é abrir muitas. É fazer a regulação constitucional que está parada há 31 anos, à espera de um momento de coragem do Congresso Nacional. É fazer cumprir a lei do direito de resposta. E é principalmente abrir mais escolas e universidades, levar mais informação e consciência para que as pessoas se libertem do monopólio.

Enfim, penso que teríamos de ter lutado com mais vontade e organização, fortalecido ainda mais a democracia, para jamais permitir que o Brasil voltasse a ter um governo de destruição e de exclusão social como voltou a ter desde o golpe de 2016.

A autocrítica que o Brasil espera é a dos que apoiaram, nos últimos três anos, a implantação do projeto neoliberal que não deu certo em lugar nenhum do mundo, que vai destruir a previdência pública e que ao invés de gerar os empregos que o povo precisa está implantando novas formas de exploração.

A autocrítica que a democracia e o estado de direito esperam é daqueles que, na mídia, no Congresso, em setores do Judiciário e do Ministério Público, promoveram, em nome da ética, a maior farsa judicial que este país já assistiu.

O mundo hoje sabe que, ao contrário de combater a impunidade e a corrupção, a Lava Jato corrompeu-se e corrompeu o processo eleitoral e uma parte do sistema judicial brasileiro. Deixou impunes dezenas de criminosos confessos que Sérgio Moro perdoou e que continuam muito ricos.

Como podem dizer que combateram a impunidade se soltaram pelo menos 130 dos 159 réus que ele mesmo havia condenado? Negociaram todo tipo de benefício com criminosos confessos, venderam até o perdão de pena que a lei não prevê, em troca de qualquer palavra que servisse para prejudicar o Lula.

Que ética é essa que condena 2 milhões de trabalhadores, sem apelação, destruindo empresas para salvar os patrões acusados de corrupção?

Não tem moral, não tem autoridade para discutir ética quem deu cobertura aos procuradores de Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot quando eles entregaram a Petrobrás aos tribunais dos Estados Unidos, um crime de lesa-pátria que já custou quase 5 bilhões de dólares ao povo brasileiro.

Temos muito o que falar sobre ética, sobre combate à corrupção e à impunidade. Mas acima de tudo temos que falar a verdade.

Meus amigos e minhas amigas,

Alguns professores de deus defendem um modelo suicida de austeridade fiscal e redução do estado, que não deu certo em nenhum lugar do mundo. Tiveram o apoio da mídia e das instituições para culpar os governos do PT por tudo de ruim que havia no Brasil. Mentiram que tirando o PT do governo tudo se resolveria, por obra do mercado e do ajuste fiscal. E os problemas se agravaram ainda mais.

Os indicadores econômicos do Brasil pioraram: a balança comercial em queda, a economia paralisada, setores da indústria destruídos, o investimento público e privado inexistente, o rombo nas contas aumentado irresponsavelmente por razões políticas. O custo de vida dos pobres aumentou e as pessoas voltaram a cozinhar com lenha porque não podem comprar um botijão de gás.

É preciso dizer umas verdades sobre isso também.

A primeira delas é que o Brasil só não quebrou ainda por causa da herança dos governos do PT. Por causa dos 370 bilhões de dólares em reservas internacionais que acumulamos e querem queimar na conta dos juros. Por causa dos mercados internacionais que abrimos e que uma política externa irresponsável está fechando. Por causa do pré-sal que descobrimos e que estão vendendo na bacia das almas.

O Brasil só não está passando por uma convulsão social extrema por causa da herança dos governos do PT. Porque não conseguiram acabar com o Bolsa Família, último recurso de milhões de deserdados. Porque milhões de famílias ainda produzem no campo, para onde levamos água, energia, tecnologia e recursos em nosso governo. E também porque não conseguiram destruir ainda os sistemas públicos de saúde, educação e segurança, mas fatalmente isso irá ocorrer pela criminosa política de cortes do investimento público.

Sempre acreditei que o povo brasileiro é capaz de construir uma grande Nação, à altura dos nossos sonhos, das nossas imensas riquezas naturais e humanas, neste lugar privilegiado em que vivemos. Já provamos que é possível enfrentar o atraso, a pobreza e a desigualdade, desafiando poderosos interesses contrários ao país e ao povo.

Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário é dependência, servidão, submissão. É o que está acontecendo hoje. Estão entregando criminosamente a outros países as empresas, os bancos, o petróleo, os minerais e o patrimônio que pertence ao povo brasileiro. Trair a soberania é o maior crime que um governo pode cometer contra seu país e seu povo.

A Petrobrás está sendo vendida em fatias a suas concorrentes estrangeiras.

Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra de entreguismo e privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o país.

Tão importante quanto defender o patrimônio público ameaçado é preservar os recursos naturais e nossa riquíssima biodiversidade.

Utilizar esse patrimônio, fonte de vida, com responsabilidade social e ambiental.

Um país que não garante educação pública de qualidade a todas as suas crianças, adolescentes e jovens não se prepara para o futuro.

Mas parece que enfiaram o Brasil à força numa máquina do tempo e nos enviaram de volta a um passado que a gente já tinha superado. O passado da escravidão, da fome, do desemprego em massa, da dependência externa, da censura, do obscurantismo.

O Brasil precisa embarcar de volta para o futuro. E não tem ninguém melhor para pilotar essa máquina do tempo do que a juventude desse país. Porque essa juventude, seja ela branca, negra ou indígena, ela quer ensino de qualidade, quer adquirir conhecimento, quer de volta as oportunidades de trabalho digno, sem alienação e sem humilhações.

Essa juventude quer e merece um mundo melhor do que este em que estamos vivendo.

Hoje me coloco à disposição do Brasil para contribuir nessa travessia para uma vida melhor, vida em plenitude, especialmente para os que não podem ser abandonados pelo caminho.

Sem ódio nem rancor, que nada constroem, mas consciente de que o povo brasileiro quer retomar a construção de seu destino; de que temos de fazer juntos um Brasil soberano, democrático, justo, em que todos e todas tenham oportunidades iguais de crescer e sonhar.

O futuro será nosso, o futuro será do Brasil!

Muito obrigado!

Luiz Inácio Lula da Silva