RELAÇÕES HUMANAS E EDUCAÇÃO –
TEXTO ORIGINAL DE 30 DE NOVEMBRO DE 2015 REVISTO E PUBLICADO
Hoje surpreendi alguns colegas ao
responder a um comentário sobre a forma como algumas pessoas se comportam em
grupo e em relação aos outros indivíduos ou grupos com qual convivem
cotidianamente. Tratava-se tanto de uma questão ética relativa à conduta
individual da pessoa quanto de uma relação política a respeito do seu
compromisso com o grupo. Muitas vezes essa relação tem uma assimetria de poder
de decisão ou apresenta uma relação vertical ou hierárquica de poder.
Comentei que algumas pessoas tem
muita dificuldade para pedir, aceitar e ouvir conselhos de outros e mesmo
consultar as outras a respeito de assuntos que tocam a elas também e que lhes
dizem respeito, preferindo na maior parte dos casos decidir ou avaliar a partir
de informações ou insuficientes ou subjetivas - seja por ter o poder, por ter
influência ou por ter acesso e possibilidade de interferir - sem consultar aos
outros.
Não gostaria de usar aqui as
palavras de que isso é um desrespeito, desprezo ou desconsideração ou
imposição, pois ocorre algo mais simples que isso - e aqui tem um desafio moral
e político, ético e cultural também – elas não reconhecem o outro como alguém
habilitado a fazer juízo sobre si mesmo e se sentem superiores ao outro. Assim,
isso é marcado por um costume, hábito ou prática comum naqueles que não
aprenderam a agir de outra forma, não tiveram este exemplo e simplesmente
desconsideram esta possibilidade como uma alternativa de se fazer justiça e ter
a devida consideração ou um toque suave e tranquilo de reconhecimento do outro.
Sabemos - e quem me leu até aqui
deve imaginar muito bem isso - que este é um problema de método, que esta escolha
de método incide sobre a qualidade da democracia e das relações de igualdade ou
horizontais necessárias as relações humanas justas, mas que também versa sobre
o nível de inteligência emocional e sobre nossas sensibilidades em relação aos
outros. Eu disse, dada esta caracterização e consideração inicial, que isto se
devia a uma certa forma dominante de como somos quase todos nós educados e
forjados nas lidas da vida a partir de uma perspectiva verticalizada e como
todos tentam ao máximo poder estar acima, nessa hierarquia, para poder julgar assim
com este método também. Aqui a pergunta que precisa ser posta é: pode ser diferente?
Eu acredito que sim. E não creio ser um
sonho ou devaneio pensar assim.
Trata-se na tradição de educar as
pessoas para trabalhar, competir e ganhar dinheiro e a última consideração
possível para alguns é que vamos viver a vida inteira nos relacionando com os
outros, vamos precisar deles, vamos depender deles. Isto é, não somos educados
para nos relacionarmos satisfatoriamente com o próximo, nos relacionar com o
próximo e dever algo ao próximo é um desprazer. Para os mais ambiciosos isso é
desnecessário e não precisa ser considerado importante. Os outros são descartáveis
e substituíveis. Devemos ser produtivos e lucrativos e disso se segue inclusive
a priorização de conhecimentos uteis ou necessários e, também, da nossa forma
pouco confiante e semi-paranóica de construir relações sociais, compromissos e
desta imensa quantidade de burlas à confiança pessoal, ao compromisso político
ou ao comprometimento real e existencial com o próximo.
Bem ditos ou malditos
individualismos e seus modos de produção que incrementam até mesmo a existência
generalizada de tal coisa como síndrome de pânico e estas formas permanentes de
baixo envolvimento em temas coletivos saudáveis e prazerosos. Precisamos mudar
isto. Precisamos educar as pessoas para relações mais saudáveis, mais
compreensivas e de compromisso e lealdade.
Por isso, a vida é tão difícil e
tão dura, porque vivemos nesse jogo de perde ou ganha em relação ao próximo e
isso é ótimo para o sistema produtivo e nada bom para a saúde mental e social
de nossos próximos. Pode sim ser diferente. E é mais do que necessário se
acreditamos mesmo que um outro mundo é possível.
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