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sábado, 30 de novembro de 2019

RELAÇÕES HUMANAS E EDUCAÇÃO – TEXTO ORIGINAL DE 30 DE NOVEMBRO DE 2015 REVISTO E PUBLICADO


RELAÇÕES HUMANAS E EDUCAÇÃO – TEXTO ORIGINAL DE 30 DE NOVEMBRO DE 2015 REVISTO E PUBLICADO

Hoje surpreendi alguns colegas ao responder a um comentário sobre a forma como algumas pessoas se comportam em grupo e em relação aos outros indivíduos ou grupos com qual convivem cotidianamente. Tratava-se tanto de uma questão ética relativa à conduta individual da pessoa quanto de uma relação política a respeito do seu compromisso com o grupo. Muitas vezes essa relação tem uma assimetria de poder de decisão ou apresenta uma relação vertical ou hierárquica de poder.  

Comentei que algumas pessoas tem muita dificuldade para pedir, aceitar e ouvir conselhos de outros e mesmo consultar as outras a respeito de assuntos que tocam a elas também e que lhes dizem respeito, preferindo na maior parte dos casos decidir ou avaliar a partir de informações ou insuficientes ou subjetivas - seja por ter o poder, por ter influência ou por ter acesso e possibilidade de interferir - sem consultar aos outros.

Não gostaria de usar aqui as palavras de que isso é um desrespeito, desprezo ou desconsideração ou imposição, pois ocorre algo mais simples que isso - e aqui tem um desafio moral e político, ético e cultural também – elas não reconhecem o outro como alguém habilitado a fazer juízo sobre si mesmo e se sentem superiores ao outro. Assim, isso é marcado por um costume, hábito ou prática comum naqueles que não aprenderam a agir de outra forma, não tiveram este exemplo e simplesmente desconsideram esta possibilidade como uma alternativa de se fazer justiça e ter a devida consideração ou um toque suave e tranquilo de reconhecimento do outro.

Sabemos - e quem me leu até aqui deve imaginar muito bem isso - que este é um problema de método, que esta escolha de método incide sobre a qualidade da democracia e das relações de igualdade ou horizontais necessárias as relações humanas justas, mas que também versa sobre o nível de inteligência emocional e sobre nossas sensibilidades em relação aos outros. Eu disse, dada esta caracterização e consideração inicial, que isto se devia a uma certa forma dominante de como somos quase todos nós educados e forjados nas lidas da vida a partir de uma perspectiva verticalizada e como todos tentam ao máximo poder estar acima, nessa hierarquia, para poder julgar assim com este método também. Aqui a pergunta que precisa ser posta é: pode ser diferente?  Eu acredito que sim. E não creio ser um sonho ou devaneio pensar assim.

Trata-se na tradição de educar as pessoas para trabalhar, competir e ganhar dinheiro e a última consideração possível para alguns é que vamos viver a vida inteira nos relacionando com os outros, vamos precisar deles, vamos depender deles. Isto é, não somos educados para nos relacionarmos satisfatoriamente com o próximo, nos relacionar com o próximo e dever algo ao próximo é um desprazer. Para os mais ambiciosos isso é desnecessário e não precisa ser considerado importante. Os outros são descartáveis e substituíveis. Devemos ser produtivos e lucrativos e disso se segue inclusive a priorização de conhecimentos uteis ou necessários e, também, da nossa forma pouco confiante e semi-paranóica de construir relações sociais, compromissos e desta imensa quantidade de burlas à confiança pessoal, ao compromisso político ou ao comprometimento real e existencial com o próximo.

Bem ditos ou malditos individualismos e seus modos de produção que incrementam até mesmo a existência generalizada de tal coisa como síndrome de pânico e estas formas permanentes de baixo envolvimento em temas coletivos saudáveis e prazerosos. Precisamos mudar isto. Precisamos educar as pessoas para relações mais saudáveis, mais compreensivas e de compromisso e lealdade.

Por isso, a vida é tão difícil e tão dura, porque vivemos nesse jogo de perde ou ganha em relação ao próximo e isso é ótimo para o sistema produtivo e nada bom para a saúde mental e social de nossos próximos. Pode sim ser diferente. E é mais do que necessário se acreditamos mesmo que um outro mundo é possível.

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