Neste sábado, estivemos no Portas
Abertas da UFRGS e ao passear, num intervalo entre uma atividade ou outra, com
minha filha Isabella Fortes em frente ao Pátio da Faced, encontro uma Banca da
Editora da Universidade, sendo capitaneada por seu Diretor e, muito feliz,
descubro no balcão entre diversas obras que, passados trinta anos do
falecimento de Ernani Maria Fiori (faleceu aos 71 anos, em abril de 1985), um
dos grandes professores de Filosofia da UFRGS que foi mestre de quase todos os
meus professores e que foi cassado covardemente na Ditadura Militar, teve suas
obras, póstumas, republicadas pela Editora da UFRGS. Elogio muito a ideia de
recuperar a memória de um dos grandes pensadores gaúchos que surgiu de uma
iniciativa bem acolhida que levou ao Gabinete da Reitoria, de Carlos Alexandre Neto
pelos professores Luiz Osvaldo Leite, aposentado da Psicologia, e Balduino
Andreola, aposentado da Filosofia a ideia de Reeditar estas obras.
Adquiri logo após tomar um café
na Antônio e também cumprimentar o próprio e contar para minha filha a história
do Centro Acadêmico da Filosofia da UFRGS na resistência a ditadura. E estou
gostando muito de ler tudo junto ali. Coisas que li em artigos e também algumas
das aulas dele sobre Filosofia Política que tão influentes nos são até hoje em
nossa estruturação das aulas e problematização de conteúdos.
Destaco que a republicação das
duas obras de Ernani Fiori “Metafísica e História”, de 1987, e Educação e
Política, de 1992, que foram publicadas postumamente através de esforço de
muitos amigos, fazem justiça e reparam em parte a covardia que tocou pelas mãos
e ideias brutais dos ditadores e seus lacaios, ao grande mestre que tanto
contribuiu para o avanço cultural e educacional do nosso estado e que, apesar
de ter sido cassado, deixou grande marca em todos os seus ex-alunos e ex-alunas
e, portanto, a todos aqueles que talvez sequer saibam receberem lições
indiretas dele. Se observa muito bem isto simplesmente ao ler seus textos e
lições.
Tendo sido um dos alvos mais
covardes e irracionais dos expurgos da UFRGS na Ditatura Militar, ao ser
cassado e expulso da UFRGS em 1964, acabou num exílio no Chile contribuindo
para a educação naquele país. Fora do Brasil, Ernani Fiori atuou em institutos
de formação política e deu palestras e aulas em muitas universidades pelo mundo.
Foi também colaborador de Paulo Freire na discussão da temática da educação
popular tendo escrito o prefácio da Pedagogia do Oprimido, cujo título
“Aprender a dizer a sua palavra”, carrega consigo todo o sentido libertária e
emancipatória da educação popular preconizada por Paulo Freire.
A publicação da reedição e o
lançamento das obras de Fiori, na última feira do livro de Porto Alegre de 2014
me escapou, mas toda alegria e reflexão que ganhei, as trocas e diálogos com
minha filha sobre a história da universidade e da filosofia da UFRGS e do RS de
ontem até hoje me deixaram muito orgulhoso e homenageiam também a nossa
universidade que completou 80 anos no ano passado e para onde quero conseguir
enviar muitos alunos e familiares ainda.
Termino com uma confissão e um
reconhecimento ao Fiori. É dele que tiro - através de uma leitura bem
específica lá em 1993 - esta máxima pedagógica de que a grandeza de um
professor se mede, não por seu mais sábio ou insuperável, mas pelo fato de seus
alunos irem para muito além dele mesmo.
Vale a pena ler Fiori, bem mais
que um Olavo de Carvalho...
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