Este Domenico De Masi, que critica agora o pessimismo dos intelectuais brasileiros, tem muitas qualidades, uma delas é que ele apresenta sempre idéias que contradizem certo conformismo. O conceito de intelectuais dele deve incluir mais estruturalistas e marxistas ou ex. do que analíticos. Mas saber quem são os 11 seria interessante. Eu mesmo passei a pensar de forma diferente em relação ao trabalho com a abordagem original e corajosa dele ao ócio criativo. Nesta entrevista do ano passado na Revista Época, que apresento a seguir - se não se importam com a sugestão - ele fala tanto dos intelectuais brasileiros como sociólogos que chega a nos dar certa certeza de que se trata do Cebrap ou da escola cebrapiana ou uspiana - ou paulista - se alguns quiserem. Mas não importa mesmo na verdade, porque provavelmente os intelectuais que ele entrevistou são de fato justamente aqueles que fazem o discurso mais pessimista e que falam em todos os canais de televisão dando seus melhores vatícinios. Mas eu creio que ele bebe direto em Florestam para avaliar os brasileiros e a pontinha da sugestão de que nossa cultura e nosso povo pode acabar construindo um novo projeto de sociedade, com formas de vida e de relações sociais diferentes em "Quando o novo modelo surgir, o brasileiro terá orgulho de seus ancestrais índios", no final da entrevista, me parece bem interessante e que deveria receber nossa melhor atenção, tanto no sentido de desvendamento da história cultural desse povo que habitou o sul do continente com hábitos e elementos culturais tão distintos dos outros povoamentos do planeta, quanto na herança afetiva que ele nos deu e que é - tirando as recaídas autoritárias e violentas do que o Massacre do Carandirú e dos professores nesta semana no PR, e antes em São Paulo contra o professores e também com a forte repressão ao MPL de 2013 que foi o estopim à reação emocional solidária a fragmentada, são as mostras exemplares -. Assim, Macunaíma é a face irônica desta descoberta, mas que corresponde também ao complexo de vira-lata e esta tendência auto depreciativa que foi reforçada pela ferida narcísica e de uma grande culpa herdada dos episódios coloniais de degredo, escravidão e humilhação. E que faz com que a elite dominante e exploradora – cuja auto-consciência requer muita psicanálise para se avistar ao espelho um dia - até hoje olhe para o pobre, não como pobre, mas como inferior, submisso e pretensioso fazendo de si a projeção em um outro que no fundo é seu igual reprimido e que não pode se libertar, não pode se emancipar, não pode ascender socialmente e não pode governar. De Masi fala também hoje deste virus tardio e vigantivo do neoliberalismo contra a Dilma, mas eu aduziria aqui o forte impacto de um relativismo que mesclado com o individualismo e a fragmentação do conhecimento gerou este neoconservadorismo brasileiro que nega ao país a possibilidade de ter e criar um projeto seu, que nega alternativas e que pensa que colocar as coisas em ordem é reinstituir uma velha ordem (a ditadura) da qual esta sociologia sobreviveu e menos ciência ainda se gestou. Estamos em 2015...e isso deveria nos levar a pensar bem mais no nosso projeto e não menos. Vejo que o pessimismo que o Domenico aponta nos intelectuais é somente mais uma recusa a pensar e a conhecer. É uma depressão intelectual, não o produto de uma análise ou de um avanço sobre os dados como ele bem aponta. Os intelectuais brasileiros tem um problema de negação da realidade e se recusam os dados para análise e fazem um esforço tremendo para se manterem na generalidade é por certa necessidade de síntese, que infelizmente está pouco habituada à dialética. Eles discutem tudo a partir de generalizações do senso comum ou do que acham e sentem. Fazem certo reducionismo a partir de si e passam diretamente a interpretar o mundo a partir do seu acervo pessoal de formação, sem enfrentar contradição e pouco afeitos a serem contestados em suas cátedras e inter pares. Uma mera impressão evoluída, desdobrada na solidão, desenvolvida em sua escola de auto-elogio passa a ser guia do juízo deles sobre tudo. E quando tu ou qualquer um mostra os dados objetivos e começa uma analise cuidadosa, evitando o relativismo e o excesso de fragmentação, sobre a evolução da economia, da política, da demografia e da sociedade deles eles vão mudando de opinião. Aquele pessimismo e negativismo vai se diluindo aos poucos. Mas ainda há os que são incorrigíveis.
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