Abandonamos quase completamente as intuições de tal modo que
quase as desaprendemos.
Temos ojerizas às esperanças, insights e nossas emoções,
sentimentos são sempre colocados como suspeitos.
O romantismo e a aventura da vida saíram de moda, porque
ninguém mais corre riscos.
Não seguimos mais sonhos e não podemos mais errar, porque
precisamos ser exatos e precisos.
Estamos tão inseguros que na falta de qualquer prova, a mera
delicadeza não prova mais nada.
A sutileza da beleza não prova mais nada.
A gentileza não prova mais nada.
Temos fixações por certezas na ideias e tudo que é dado à
sensibilidade nos parece suspeito.
Privilegiamos a regra do tudo ou nada, e na falta de uma
certeza, ficamos com o nada.
Andei chamando isso de absolutismo da razão ou perfectismo
em outros momentos.
Porém os prejuízos tem sido grandes para alguns que se
entrincheiram nesta velha fortaleza em ruínas.
Apesar dos tempos atuais não poderem ser comparados com
outros tempos mais antigos neste quesito por diversas razões.
Temos uma grande tendência a privilegiar, nem que seja por
uma questão meramente formal, a análise pormenorizada, mas há muito já sabemos
que ela não dá conta de tudo.
Assim, apesar de estarmos habituados a certa tática da
racionalidade, recomendamos a intuição, a retomada de uma certa confiança na
intuição para nos habituarmos de novo a ela e irmos nos aperfeiçoando com ela
no trato de assuntos da vida que dependem do gosto e dos nossos sentidos não
imediatamente analisáveis em discursos.
Precisamos mesmo reaprender a intuir. Precisamos reaprender
a corrigir nossas intuições cair nelas e desvendar-lhes os descaminhos para
voltarmos a viver sem medo, sem excessivas precauções.
Por certo método que adora detalhes e que evita sempre
chegar ao todo sem passar por cada uma
de suas partes, por certa medida
e disposição reflexiva e intelectual para compreender o mundo, perceber o mundo
e fazer nossa escolhas perante ele, dobramos o mundo, curvamos nosso corpo e
nos perdemos de nós mesmos.
Tendemos assim a tomar um modelo mais racional e reflexivo,
mais analítico e metódico, como um modelo do pensamento mais ajuizado, por
assim dizer e ainda que alguns não o façam com tanto rigor, mesmo estes simulam
tal procedimento e carregam de arrazoados e justificações suas razões.
Assim, tudo se passa como se todas as decisões estivessem
fazendo um uso máximo de raciocínio.
E quando não se consegue raciocinar com os elementos que
aprendemos ou que percebemos de certa forma ficamos tão impactados que o valor
da dúvida e da incerteza, a insegurança e o temor nos impedem de agir ou de nos
aventurar de forma impulsiva sobre determinado tema ou em direção a determinado
curso de ação.
Confiem mais na sua intuição, fiquei pensando ao abordar a
dificuldade que alguns tem de se decidir por suas tarefas.
Em especial aqueles que aguardam uma garantia definitiva
perante pequenas inseguranças, detalhes comezinhos. Este é o conselho mais
importante que eu daria aos jovens hoje em dia.
Não porque eu gostaria de incentivá-los ao irracionalismo, à
insensatez de dar curso a todas as paixões com que se depararem pela frente,
mas porque eu creio que eles precisam descobrir e desenvolver e aprender por si
a usar as suas intuições.
A negação da violência, me parece esta diretamente ligada a
rejeição da intuição.
Tem tanta violência e isto gera um temor e um horror tão
intensos neste mundo atual que as mentes mais inseguras tem certo pânico de
arriscarem qualquer curso de ação
A refutação de toda política de ódio, e a nossa capacidade
de superar esta reação que se gera na sociedade em função das desconfianças e
inseguranças culturais, das faltas de trocas e de convivências.
A aversão à diferença, que gera um mecanismo de defesa que
dispara automática e instintivamente contra o diferente de ti.
O horror à sensibilidade, que invoca a todos evitar os
sentimentos, reprimir a expressão de
amor e afeto entre todos;
A instauração de um regime da dúvida em tudo que pode ser
pensado, em tudo que possa ser dito e que possa ser sentido, tem sua utilidade
teórica e é muito produtiva em muitos processos de pesquisa e reflexão.
Porém na nossa vida precisamos muito mais de nossa
sensibilidade puras, de nosso pensamento livre e de nossas expressões mais
abertas e dinâmicas para sermos felizes.
Não vivemos, porém, num regime de ultra atenção, hiper
crítica e tanto rigor assim e nem suportamos viver neste regime.
Ali onde eu estava afastando meu corpo, fechando meus olhos,
vendo cada vez menos, fechando meus ouvidos, ouvindo cada vez menos, sentindo
cada vez menos, posso parar agora, parar de ficar sentindo o nada...e posso
viver...posso voltar a confiar em minhas intuições e voltar a viver e a pensar
com prazer.
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