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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

HISTÓRIA POLÍTICA DA PRAÇA DO IMIGRANTE – PEQUENAS ANOTAÇÕES


HISTÓRIA POLÍTICA DA PRAÇA DO IMIGRANTE – PEQUENAS ANOTAÇÕES

A Praça do Imigrante foi construída em diversas etapas entre 1922 e 1934. Sua mais difícil e vultosa edificação foi o cais  que envolveu escavações e edificação de uma barreira de pedra grês e o posterior aterro da margem do rio e a antiga passagem da Rua do Passo entre 1926 e 1928. O término da obra envolveu o ajardinamento e a colocação do mobiliário, bancos e iluminação. Mas essa não era uma mera obra pública para a época.

No mesmo período de construção da praça, muitas outras obras públicas importantes foram realizadas. O período abrange 1920 a 1938 e é um dos períodos de maior êxito econômico da cidade e de incremento de sua influência política no estado, apesar da crise econômica estadual. É um período de incremento comercial e industrial e também de aumento da sociabilidade e das confraternizações locais que, apesar dos diversos tipos de conflito por terra, por poder e também por visibilidade e legitimidade social

Subjaz a construção da praça e as comemorações do Centenário uma larga contenda política entre Republicanos e Liberais na cidade e também entre Católicos e Luteranos. Tudo começou com a morte do Intendente Florêncio da Silva Câmara em meio ao exercício do seu mandato em janeiro de 1902.

As novas eleições conduziram Guilherme Gaelzer Neto, o qual se manteve por um longo período no governo local. Ocorre que Gaelzer ou o “Kayser de São Leopoldo” e este é reeleito ainda em 1904, 1908 e 1912, gerando um inconformismo político agravado também por este ser nascido luterano, numa comunidade Mucker da Ferrabrás e representava de certa forma a ascensão dos luteranos ao poder.

Tal contenda esta que está na base do movimento de emancipação de Novo Hamburgo e também na conformação política da cidade até os anos 60. E não parece ser mera coincidência, também, que a proposta das comemorações tenha sido primeiro discutida pelo então interventor Mansueto Bernardi  e sua equipe e, depois disto, apresentada por seu vice-intendente, então Presidente da Câmara Municipal, João Frederico Wolfenbuttel em reunião específica na Câmara de Vereadores.

Isso provavelmente respondia a necessidade de comemorar o Centenário, mas principalmente de integrar diversas facções políticas em disputa à época.

É bom citar que Mansueto até 1919 era Secretário particular de Borges de Medeiros na capital. Este assume uma árdua missão que é manter o PRR no poder em São Leopoldo, e num quadro de disputas acirradas tentar conquistar o eleitorado com medidas pacificadoras e saneadoras da crise da cidade. Com a renúncia do intendente Gabriel de Azambuja Fortuna também interventor designado por Borges de Medeiros, transferido de Passo Fundo para São Leopoldo para tentar apaziguar os ânimos entre alemães e portugueses, luteranos e católicos, hamburguenses e leopoldenses, este sente que não logrou êxito. A mesma tarefa foi posta a Mansueto e este, como veremos, de certa forma cumpriu bem esta missão, ou seja, até o limite de sua própria tolerância. Foi nomeado interventor em 1919 e eleito em 1921 com a maior parte dos votos contra o, adversário do Partido Libertador.   

Assim, para o glaúdio dos locais, surge a tal proposta de comemorações do centenário. Wolfenbuttel assume a prefeitura com a renúncia de Mansueto em 1923 e procura acelerar o objetivo também olhando para a sua própria sobrevivência política. Ele acaba eleito deputado federal constituinte alguns anos depois com muitos méritos também em outras áreas de governo, em especial na saúde pública e saneamento. Nesta famosa reunião da Câmara em que é apresentado o plano de erigir o monumento e de, finalmente, construir a praça que já constava nos planos de 1833 do piloto português Manoel Gonçalves dos Santos, é que Frederico consegue integrar, por assim dizer, os interesses de todos.

                A inauguração do monumento também foi retardada, segundo este reconhecido historiador, para permitir os festejos sem chuva e sem enchentes do mês de julho de 1924 para setembro de 1924. E mais tarde em 1934 foi feita a inauguração da praça como Praça do Centenário com todo o ajardinamento do seu entorno já concluído como vemos nas fotos do período.

                Para construí-la, através de um trabalho de comissões, foram colhidas diversas contribuições e subscrições dos cidadãos da cidade. Estas subscrições eram publicadas na imprensa local e também serviam como forma de publicidade e de divulgação das empresas locais que apoiavam a causa da importante comemoração do centenário da imigração alemã.

Desta vez, ela marca também, após a revolução de 1923 contra o Borgismo, e a construção da sucessão através de Getúlio Vargas e da adoção de um novo padrão de relação política entre os gaúchos para superar as contendas, promover a conciliação e a pactuação de facções opostas no estado e, também, com uma maior participação política dos imigrantes e seus descendentes e, também, com a superação necessária dos conflitos regionais no Rio Grande do Sul que construíram, pavimentaram e permitiram as novas bases para as políticas urbanas, modernizadoras e de industrialização do Brasil, apresentadas e desenvolvidas a partir da Revolução de 30.


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