HISTÓRIA
POLÍTICA DA PRAÇA DO IMIGRANTE – PEQUENAS ANOTAÇÕES
A Praça do Imigrante foi construída em
diversas etapas entre 1922 e 1934. Sua mais difícil e vultosa edificação foi o
cais que envolveu escavações e
edificação de uma barreira de pedra grês e o posterior aterro da margem do rio
e a antiga passagem da Rua do Passo entre 1926 e 1928. O término da obra
envolveu o ajardinamento e a colocação do mobiliário, bancos e iluminação. Mas
essa não era uma mera obra pública para a época.
No mesmo período de construção da praça,
muitas outras obras públicas importantes foram realizadas. O período abrange
1920 a 1938 e é um dos períodos de maior êxito econômico da cidade e de
incremento de sua influência política no estado, apesar da crise econômica
estadual. É um período de incremento comercial e industrial e também de aumento
da sociabilidade e das confraternizações locais que, apesar dos diversos tipos
de conflito por terra, por poder e também por visibilidade e legitimidade
social
Subjaz a construção da praça e as
comemorações do Centenário uma larga contenda política entre Republicanos e
Liberais na cidade e também entre Católicos e Luteranos. Tudo começou com a
morte do Intendente Florêncio da Silva Câmara em meio ao exercício do seu
mandato em janeiro de 1902.
As novas eleições conduziram Guilherme
Gaelzer Neto, o qual se manteve por um longo período no governo local. Ocorre
que Gaelzer ou o “Kayser de São Leopoldo” e este é reeleito ainda em 1904, 1908
e 1912, gerando um inconformismo político agravado também por este ser nascido
luterano, numa comunidade Mucker da Ferrabrás e representava de certa forma a
ascensão dos luteranos ao poder.
Tal contenda esta que está na base do
movimento de emancipação de Novo Hamburgo e também na conformação política da
cidade até os anos 60. E não parece ser mera coincidência, também, que a
proposta das comemorações tenha sido primeiro discutida pelo então interventor
Mansueto Bernardi e sua equipe e, depois
disto, apresentada por seu vice-intendente, então Presidente da Câmara
Municipal, João Frederico Wolfenbuttel em reunião específica na Câmara de
Vereadores.
Isso provavelmente respondia a
necessidade de comemorar o Centenário, mas principalmente de integrar diversas
facções políticas em disputa à época.
É bom citar que Mansueto até 1919 era
Secretário particular de Borges de Medeiros na capital. Este assume uma árdua
missão que é manter o PRR no poder em São Leopoldo, e num quadro de disputas
acirradas tentar conquistar o eleitorado com medidas pacificadoras e saneadoras
da crise da cidade. Com a renúncia do intendente Gabriel de Azambuja Fortuna
também interventor designado por Borges de Medeiros, transferido de Passo Fundo
para São Leopoldo para tentar apaziguar os ânimos entre alemães e portugueses,
luteranos e católicos, hamburguenses e leopoldenses, este sente que não logrou
êxito. A mesma tarefa foi posta a Mansueto e este, como veremos, de certa forma
cumpriu bem esta missão, ou seja, até o limite de sua própria tolerância. Foi
nomeado interventor em 1919 e eleito em 1921 com a maior parte dos votos contra
o, adversário do Partido Libertador.
Assim, para o glaúdio dos locais, surge
a tal proposta de comemorações do centenário. Wolfenbuttel assume a prefeitura
com a renúncia de Mansueto em 1923 e procura acelerar o objetivo também olhando
para a sua própria sobrevivência política. Ele acaba eleito deputado federal
constituinte alguns anos depois com muitos méritos também em outras áreas de governo, em especial na saúde pública e saneamento. Nesta famosa reunião da Câmara em que é
apresentado o plano de erigir o monumento e de, finalmente, construir a praça
que já constava nos planos de 1833 do piloto português Manoel Gonçalves dos
Santos, é que Frederico consegue integrar, por assim dizer, os interesses de
todos.
A inauguração do monumento
também foi retardada, segundo este reconhecido historiador, para permitir os
festejos sem chuva e sem enchentes do mês de julho de 1924 para setembro de
1924. E mais tarde em 1934 foi feita a inauguração da praça como Praça do
Centenário com todo o ajardinamento do seu entorno já concluído como vemos nas
fotos do período.
Para construí-la, através de um
trabalho de comissões, foram colhidas diversas contribuições e subscrições dos
cidadãos da cidade. Estas subscrições eram publicadas na imprensa local e
também serviam como forma de publicidade e de divulgação das empresas locais
que apoiavam a causa da importante comemoração do centenário da imigração
alemã.
Desta vez, ela marca também, após a
revolução de 1923 contra o Borgismo, e a construção da sucessão através de
Getúlio Vargas e da adoção de um novo padrão de relação política entre os
gaúchos para superar as contendas, promover a conciliação e a pactuação de
facções opostas no estado e, também, com uma maior participação política dos
imigrantes e seus descendentes e, também, com a superação necessária dos
conflitos regionais no Rio Grande do Sul que construíram, pavimentaram e
permitiram as novas bases para as políticas urbanas, modernizadoras e de industrialização
do Brasil, apresentadas e desenvolvidas a partir da Revolução de 30.
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