EXPECTATIVAS E NEGAÇÃO DE
EXPECTATIVAS: PRIMEIRA REFLEXÃO E NOTA – IN PROGRESS
Nas nuvens refletidas pelo Sol.
Nos tempos líquidos em que
vivemos, essa expressão cunhada por Bauman, que se tornou uma caracterização de
época, é muito comum e corrente o uso de expressões que tentam minimizar as
expectativas e impor uma certa forma de realismo e uma abordagem finita e não
duradoura das relações que passaram a ser vistas como fugazes e temporárias,
passageiras e não duradouras.
Assim, no que toca, de uma lado,
as ações, relações e expressões políticas e, de outro lado, no que toca também
as ações, relações e expressões afetivas dizer que não devemos ter expectativas
se transformou num lugar comum aceito como correto. O problema objetivo aqui é
que a negação das expectativas pode apenas reproduzir a frustração das
expectativas anteriores e impedir que algo melhor aconteça. Vou tentar analisar
isso preliminarmente. Não estou satisfeito com meu estágio atual nessa arte,
mas creio que compartilhar isso pode ajudar em algum sentido. Que seja para
corrigir ou que seja para aperfeiçoar.
Para ficar em dois exemplos de
aplicação da negação das expectativas que parecem se misturar no nosso jogo
perante as incertezas dos tempos líquidos.
Parte da justificativa contemporânea para essa negação de expectativas
se encontra ancorada numa espécie de mandamento prudencial que orienta as
pessoas a não jogar todas as fichas em uma única aposta ou alternativa. A
prudência aqui aponta direto para o exagero ou excesso.
Tem uma nuance que me parece
importante sobre essa negação prudencial das expectativas excessivas ou
demasiadas que fica razoavelmente exposta quando confrontamos nossas
expectativas à respeito de certas coisas e as possíveis formas de negação
dessas expectativas.
É interessante, nesse aspecto,
que a gente tem que pensar também na grandeza, na medida e na qualidade dessas
expectativas que são afirmadas ou negadas. Não parece razoável negar todas as
expectativas no curso da vida. Mas também não parece razoável se negar
expectativas de um modo absoluto, como se a vida fosse orientada somente pelo
tempo presente ou sobre um balanço negativo do passado.
Então, creio que devemos modular
aqui e identificar diferenças de expectativas e me parece estar associado a
isso também que temos que abordar as perspectivas diferenciadas nesse tema. Ou
seja, as perspectivas daqueles que projetam expectativas e as daqueles que
negam expectativas, além da grandeza ou desmedida de ambas expectativas tanto
as positivas como as negativas. Aqui o ditame prudencial indica que não há
porque afirmar excessivamente e nem negativamente, pois ambos contém em si um
excesso.
Temos que pensar assim também nas
boas expectativas, nas expectativas ruins, pois na verdade, é possível
relativizar ou graduar qualquer expectativa, desde que se tenha uma
interpretação de cada caso. E a questão de fixar ou estabelecer uma
interpretação em comum aqui parece se impor. Pois tanto a abordagem positiva
quanto a negativa precisam ser graduadas e negociadas, dialogadas e
reflexionadas. Na ordem da subjetividade para a objetividade e
intersubjetividade o caminho é inverso do ponto de vista da reflexão do
sujeito.
Porém, é importante pensar e
lembrar porque a negação da expectativa é, na verdade, uma estratégia que
constitui ou impõe também uma expectativa, com o senão desta ser de natureza
negativa. Então, temos aqui uma certa contradição em termos. Se aceitamos que
temos que evitar as expectativas, então, temos que evitar tanto expectativas
positivas quanto as expectativas negativas.
O contra argumento mais razoável
aqui é que cada um dos dois falantes que afirmam ou negam expectativas tem uma
perspectiva própria. Essa perspectiva pode ser constituída por um conhecimento
de si, ou uma experiência acumulada, ou também por uma certa disposição.
Ou seja, muitas vezes a negação
da expectativa é um fenômeno que nos leva para uma abordagem cuja explicação
final é a disposição ou indisposição a ter certa expectativa ou tolerar certa
expectativa. Assim, mesmo a negação de uma expectativa é a afirmação de uma
forma se expectativa de natureza negativa. Desse modo, em relação. a
expectativa temos, portanto, a afirmação de uma expectativa negativa.
Não se trata, porém, apenas de
uma questão lógica que tem solução por uma análise da gramática ou do jogo de
linguagem especifico em que as expectativas figuram. A questão fundamental, ao
meu ver, aqui é da natureza da intencionalidade ou disposição ou, na linguagem
dos afetos, de uma vontade, um querer ou um desejo.
Na lógica da nossa linguagem ter
uma expectativa é esperar que algo ocorra. Ora, a disposição para esperar isso
é simetricamente oposta a disposição ou negação de esperar isso, ou deixar
acontecer isso. Quando há intenção contrária, nenhuma expectativa é possível ou
poderá ser satisfeita, pois lidamos aqui não com um fato, mas sim com uma
intenção deliberada de que tal expectativa não seja satisfeita e quando há
deliberação dessa natureza não há força que faça tal coisa acontecer.
O velho adágio: quando um não
quer, dois não brigam; tem aqui uma tradução simbólica que exibe essa simetria
de responsabilidades que entra em desequilíbrio pela disposição de um entre
dois. Quando um não quer esperar ou ter expectativas, dois não conseguem
realizar elas.
Então, em conclusão, temos que
reconhecer que sim, quando há negação absoluta de expectativas fica de fato
impossível ter expectativas, mas a causa disso não é uma interpretação
especial, mas sim uma disposição a negar seja qual for a contra argumentação
que lhe for oposta.
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