Powered By Blogger

domingo, 13 de outubro de 2019

LEITURA DA REALIDADE ATRAVESSADA


LEITURA DA REALIDADE ATRAVESSADA - 13/10/2017

Ter uma percepção clara e uma leitura correta dos acontecimentos, dos personagens e do quadro geral em que eles estão inscritos é bem importante. Talvez te leve a perceber uma determinada realidade da forma mais pessimista de todas as possíveis, porém, talvez seja mesmo isso que precisa ser feito para convencer as pessoas de que certas mudanças são necessárias, inadiáveis e que lutar por elas é um imperativo não só moral, mas existencial. Chamo esta realidade de atravessada, porque ela parece estar num tempo em que certas barreiras e determinadas portas precisam ser atravessadas completa e definitivamente.

Os fatos, os agentes e a conjuntura são elementos essenciais e decisivos para a interpretação e explicação dessa realidade e para a projeção do futuro. Podemos mudar a interpretação dos fatos, corrigir e descobrir mais detalhes ao longo do tempo e compreender aspectos que antes não tinham sido bem divisados. Podemos também compreender melhor os agentes, descobrir agentes e outros personagens que antes não tínhamos percebido, ou que os interpretes não tinham compreendido. Assim como, também, na leitura da conjuntura outros elementos nos escapam e são negligenciados. É cada vez mais difícil ter uma visão de totalidade que não tenha que aceitar no retrato dessa realidade algumas contradições de métodos, conceitos e também de interpretações e explicações. Tenho notado que temos que conviver com o desafio de fazer uso de paradigmas e modelos diversos e conflitivos para ser capaz de enfrentar a realidade e suas dimensões e dinâmicas próprias de um mundo mais complexo e multidimensional.

Na história desse mundo, é comum pensarmos que nossa inteligência e o conjunto de nossas capacidades de produzir uma leitura do mundo e de divisar as coisas é suficiente, pensamos que temos uma ciência adequada e que nossas leituras são suficientes e que com elas encontramos uma saída ou solução aos desafios e problemas do presente, porém, não é bem assim e cada vez tem sido maior o desafio para quem quer ou julga que há de vencer os obstáculos impostos.

Mas a vida numa realidade atravessada não será fácil para ninguém. Entramos com ela, pelos impasses dela numa depressão política muito profunda. Nossa disposição e confiança entra em crise e com isso ficamos numa espécie de impasse. Alguns por conta deste impasse e insegurança não fazem nada, temendo arriscar-se e mergulhar nos mesmos insucessos de outros que tentaram antes. Nesse quadro, lamentos, lamurias, queixas e críticas genéricas abundam, Não vai dar certo e ninguém quer aceitar que de certo. Mergulha-se na desesperança confortável, pois alguns julgam que seu ceticismo ou pessimismo possam manter sob abrigo seguro suas vidas. É uma grande ilusão julgar que alguém escape do destino ou daquilo que tuas condições de existência te impõem. E ilusão maior ainda é julgar que a sorte vá te livrar do destino ou do futuro que está sendo construído e reservado para teu povo. Nesse momento parecem surgir as razões para abandonar as virtudes e as boas considerações. O desespero guia os desesperados para uma tragédia maior. É o reino da barbárie. As qualidades, pois, e as posturas adequadas, tem sido amassadas pela barbárie. Não há espaço para a civilidade e a tolerância e a realidade vai ficando cada vez mais atravessada. O mundo está selvagem e nós não temos as armas e as precauções necessárias. Talvez seja preciso abandonar todos os métodos e abordagens tradicionais para encontrar a saída dessa grande situação em que estamos.

A superação desse quadro é possível, mas não vai ser com as mesmas formas que vamos vencer. Por maior, convenhamos todos, que seja a sabedoria ensinada e acumulada por séculos, o tempo é novo e a saída precisa ser nova. Para dissipar essa noite vamos ter que ver com olhos e medidas novas essa tragédia.

Foto de autor desconhecido de uma rua após o último temporal arrasador que atravessou São Leopoldo, num domingo a noite.

Após a tempestade...



Nenhum comentário:

Postar um comentário