LEITURA DA REALIDADE ATRAVESSADA - 13/10/2017
Ter uma percepção clara e uma
leitura correta dos acontecimentos, dos personagens e do quadro geral em que
eles estão inscritos é bem importante. Talvez te leve a perceber uma
determinada realidade da forma mais pessimista de todas as possíveis, porém,
talvez seja mesmo isso que precisa ser feito para convencer as pessoas de que
certas mudanças são necessárias, inadiáveis e que lutar por elas é um
imperativo não só moral, mas existencial. Chamo esta realidade de atravessada,
porque ela parece estar num tempo em que certas barreiras e determinadas portas
precisam ser atravessadas completa e definitivamente.
Os fatos, os agentes e a
conjuntura são elementos essenciais e decisivos para a interpretação e
explicação dessa realidade e para a projeção do futuro. Podemos mudar a
interpretação dos fatos, corrigir e descobrir mais detalhes ao longo do tempo e
compreender aspectos que antes não tinham sido bem divisados. Podemos também
compreender melhor os agentes, descobrir agentes e outros personagens que antes
não tínhamos percebido, ou que os interpretes não tinham compreendido. Assim
como, também, na leitura da conjuntura outros elementos nos escapam e são
negligenciados. É cada vez mais difícil ter uma visão de totalidade que não
tenha que aceitar no retrato dessa realidade algumas contradições de métodos,
conceitos e também de interpretações e explicações. Tenho notado que temos que
conviver com o desafio de fazer uso de paradigmas e modelos diversos e
conflitivos para ser capaz de enfrentar a realidade e suas dimensões e
dinâmicas próprias de um mundo mais complexo e multidimensional.
Na história desse mundo, é comum
pensarmos que nossa inteligência e o conjunto de nossas capacidades de produzir
uma leitura do mundo e de divisar as coisas é suficiente, pensamos que temos
uma ciência adequada e que nossas leituras são suficientes e que com elas
encontramos uma saída ou solução aos desafios e problemas do presente, porém,
não é bem assim e cada vez tem sido maior o desafio para quem quer ou julga que
há de vencer os obstáculos impostos.
Mas a vida numa realidade atravessada
não será fácil para ninguém. Entramos com ela, pelos impasses dela numa
depressão política muito profunda. Nossa disposição e confiança entra em crise
e com isso ficamos numa espécie de impasse. Alguns por conta deste impasse e
insegurança não fazem nada, temendo arriscar-se e mergulhar nos mesmos
insucessos de outros que tentaram antes. Nesse quadro, lamentos, lamurias,
queixas e críticas genéricas abundam, Não vai dar certo e ninguém quer aceitar
que de certo. Mergulha-se na desesperança confortável, pois alguns julgam que
seu ceticismo ou pessimismo possam manter sob abrigo seguro suas vidas. É uma
grande ilusão julgar que alguém escape do destino ou daquilo que tuas condições
de existência te impõem. E ilusão maior ainda é julgar que a sorte vá te livrar
do destino ou do futuro que está sendo construído e reservado para teu povo.
Nesse momento parecem surgir as razões para abandonar as virtudes e as boas
considerações. O desespero guia os desesperados para uma tragédia maior. É o
reino da barbárie. As qualidades, pois, e as posturas adequadas, tem sido
amassadas pela barbárie. Não há espaço para a civilidade e a tolerância e a
realidade vai ficando cada vez mais atravessada. O mundo está selvagem e nós
não temos as armas e as precauções necessárias. Talvez seja preciso abandonar
todos os métodos e abordagens tradicionais para encontrar a saída dessa grande
situação em que estamos.
A superação desse quadro é
possível, mas não vai ser com as mesmas formas que vamos vencer. Por maior,
convenhamos todos, que seja a sabedoria ensinada e acumulada por séculos, o
tempo é novo e a saída precisa ser nova. Para dissipar essa noite vamos ter que
ver com olhos e medidas novas essa tragédia.
Foto de autor desconhecido de uma
rua após o último temporal arrasador que atravessou São Leopoldo, num domingo a
noite.
Após a tempestade...
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