Debater a educação é muito
importante e precisamos aproveitar a proposta das Bases Curriculares Nacionais
e avançar neste debate sem perdas e sem retrocessos. O debate em educação
precisa, então, parar de desacumular também e tratar da temática construída a
partir das áreas de conhecimento e das relações entre as disciplinas.
Por exemplo, com a organização
por áreas do conhecimento se ergueram os desafios de integrar e construir
pontes metodológicas, conceituais e teóricas ali aonde elas existem, e onde elas
não existem e apontar claramente isto, mas parece que certo autismo intelectual
e solipsismo didático não reconhece isto. Há uma espécie de divisão social do
trabalho do conhecimento brasileiro que promove basicamente um cada um por si.
E isto tem provocado talvez mais dificuldades do que as necessárias ou
possíveis na integração e articulação
das disciplinas em áreas.
Temos que melhorar ainda mais,
para avançar no debate das bases, as relações interdisciplinares,
transdisciplinares sob qualquer forma que se designe. Isso não significa
dissolver diferenças, especificidades ou singularidades de cada disciplina.
Significa tornar muito claras as aproximações e aplicações mútuas, significa
situar bem e localizar com precisão os tais problemas de fronteira para educar
criticamente os alunos. E acabar com esta mitologia e hierarquia cognitiva que
tem sido erguida entre as ciências. Não existe ciência mais dura e ciência mais
mole, ciência mais importante ou menos importante. O conhecimento não é um território a ser
ocupado ou habitado que pode ser dividido entre castelos e choupanas como
alguns parecem querer sugerir.
Tanto nas ciências humanas como
nas áreas das linguagens e das artes temos fortunas sendo construídas e muito
capital cultural sendo produzido. Há predileção pragmática de alguns por certas
ciências é apenas sintoma de falta de informação e percepção da realidade. Nem
as técnicas e nem as tecnologias dão conta ou tem resoluções finais para a
nossa existência. A necessidade de pontes entre as disciplinas, de integração
dentro das áreas e também de esvaziar este discurso dominante de que tal
disciplina é mais séria, teórica ou formalmente do que outra precisa ser
encarada.
Mas aponto aqui uma questão que
talvez toque nisto: onde isto é feito sobre as ciências naturais? Qual a
proposta apresentada que faça ocorrer integração entre as ciências naturais?
Biologia, química e física já possuem tantas áreas de encontro e pontes de
contato no mundo da ciência real e não da ciência pedagógica que não podemos
continuar lecionando, pensando e debatendo isto como conhecimentos estanques ou
dissociados.
Outro exemplo que me parece de
natureza estratégica para o conhecimento científico e também tecnológico no
Brasil é como se fará a necessária ponte ou integração mais efetiva entre
física e a matemática? As áreas de contato continuam intocadas, na minha
opinião e gostaria muito de estar errado neste aspecto, e por conta disso a
base não construiu ainda esta organização do conhecimento. Mas quais as respostas
e propostas que temos apresentadas para encarar isto e enfrentar este desafio?
Esta discussão requer muito
diálogo com os educadores e um esforço científico coletivo da academia em
contato com as escolas e os educadores, em contato com os alunos e os cidadãos.
Nada contra os trabalhos em comissão e nem as especialidades dos cientistas e
das linhas de pesquisa afastadas disto e deste tema do ensino. Mas se queremos
de fato produzir mais ciência neste país não é chegada a hora de um esforço
nesta direção?
Se queremos de fato que a
educação brasileira avance e tenha um salto qualitativo e sistemático não seria
a hora da academia dar coletivamente uma atenção maior a este desafio?
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