Muitos pensam sobre a relação e
as fronteiras entre filosofia e as ciências e podemos pensar também sobre estas
mesmas coisas a partir das próprias relações entre as ciências. Sabemos que
muitas ciências tem em suas fronteiras e, em geral, estas fronteiras são móveis
e não fixas como alguns podem supor, questões cujas respostas mobilizam tanto
investigações empíricas, objetivas e determinadas, quanto questões cujas
respostas envolvem uma elucidação conceitual, um incremento conceitual ou mesmo
uma inovação completa na teoria e nos seus elementos descritivos ou formais.
Nos últimos termos parece para alguns que se esgota o desafio aqui, mas eu
creio que não. Ainda restam as questões que mobilizam ou nos desafiam a dar um
salto especulativo ou a abordar a questão com uma reflexão ou abstração maior a
que se estava habituado já ou mudar completamente o formato e a composição a
partir da qual se elucida e se esclarece ou mesmo se problematiza uma questão
da experiência ou conceitual. Veja bem, meu caro, aqui não temos muitas
alternativas esclarecedoras mais e temos que encarar a nova abordagem de forma
muito generosa para compreender seus termos e sua estrutura de abordagem. Tem
ocorrido isso em toda a história da ciência e também da filosofia. Em algumas
abordagens chama-se isto de um modelo e em outras de paradigma, mas o que
importa mesmo é que estas coisas novas não surgem dissociadas de uma
experiência subjetiva de seus autores e na maior parte dos casos surgem
justamente das relações de contato, diálogo ou fronteira, até em alguns casos
atingirem o núcleo das teorias que vão acabar por substituir ou manter-se em
confronto por longo tempo. Para alguns cientistas e em algumas ciências seria muito difícil admitir a concorrência em
aberto entre teorias, já em certas ciências isto é prática comum, desejável e
recomendável. De um lado para evitar o dogmatismo e a cristalização de um
modelo de abordagem da realidade ou de alguma dimensão da realidade, de outro
lado para manter a ciência em uma dinâmica especulativa, interrogativa e
criativa. A perspectiva crítica, antes de fechar a questão do limite de
razoabilidade deixa em aberto e aponta a fronteira a partir da qual se pode
avançar. Então, como já disse em uma aula, a parte mais interessante da
abordagem crítica é positiva e negativa ao mesmo tempo.
E eu tenho pensado neste tema
também sobre uma forma um pouco mais relaxada. Eu creio que a relação entre
ciência e filosofia e filosofia e outras coisas sempre existiu e se realiza sim
como um diálogo intenso, mas aparentemente invisível. Eu uso aquela expressão
"rebatimento"! (do Brum Torres) para isto também e para mais
relações. Na minha metáfora há um jogo entre filosofia e ciência, filosofia e
política e filosofia e cultura. E é quase como um jogo de tênis - tênis de mesa
para poupar a imaginação das pessoas e facilitar um pouco. São feitos saques de
um para outro e muitas vezes ocorre uma inversão de posições e de jogadas. Não
creio que só a filosofia dê um saque ou produza aces. nem que ela seja a
primeira a abrir uma partida sempre. Quem joga este jogo sabe que não dá muito
tempo para ficar pensando na última jogada, pois o jogo continuou e prossegue.
Mas eu concordo com uma visão mais holista no sentido de quem nem as fronteiras
são mais tão nítidas assim e que esta divisão do trabalho ou especialização
muitas vezes é rompida pelo talento dos jogadores ou pela grandiosidade das
questões que são colocadas ou descobertas. Então, o contato ocorre quando dá
jogo entre ambas e tem ocorrido muitos jogos ultimamente. Penso até mesmo que
quanto mais importante as questões em jogo maior a fecundidade para ambas.
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