Lendo uma anotação de 16 de
dezembro de 2015 numa discussão griceana no Blog de Colin McGuinn (http://www.colinmcginn.net/silence-and-speech) sobre: se é
possível dizer algo ficando em silêncio? E pensando em algo do tipo ônus ou
risco interpretativo daquele que está na posição do ouvinte neste diálogo
(surdo e mudo). Este ônus seria reduzido por certa convenção, hábito ou
costume. E McGuinn usa para isso a ideia de um acordo. Imagine a situação bem
específica e geracional quando frente a certas interjeições dizemos algo ou nos
calamos e dizer algo - qualquer coisa no caso significa um sim, salvo se você
disser não. E não dizer nada significa um não ou o já clássico "pare com
esta conversa para cima de mim".
Colin fala três coisas distintas que eu anoto e gostaria de anotar um
pouco mais aqui. A primeira é que podemos combinar este tipo de código para um
diálogo o que usei acima. O silêncio seria convencionado como um sinal
afirmativo ou negativo. O exemplo dele é "Eu quero sair". Mas ele
também fala em longa pausa para exemplificar. Bem no caso que ele expõe
poderiam haver graduações de silêncios. Mas não é isto que realmente me
interessa. A segunda coisa é que o significado não é um ato. Ora da perspectiva
do ouvinte "todo" significado seja por ação ou omissão me parece que
deve ser um ato, pois corresponde a uma operação de significado a ser
interpretada com maior ou menor ônus do ouvinte ou espectador. Ou seja, o
falante mesmo mudo deve dar por convenção algum indício de que sim ou não em
relação a determinado significado. E pensar aqui no teatro e em diversos tipos
de códigos em que o silêncio (do juiz no futebol com o apito na mão por
exemplo) pode significar siga em frente. A terceira coisa que ele diz é a que
me interessa mais porque parece mais suscetível de interpretação equivoca.
Aliás, me parece abrigar o cipoal da ideia metafisica de que o pensamento é um
ato. Quando ele afirma que atos de fala
não precisam ser necessariamente atos ou na versão mais hard dele não são
essencialmente atos dai - por decorrência da segunda anotação - tenho que
pensar aqui como é que ele combina isto. E, por fim, se ele combina, então ouve
um ato na origem do significado do silêncio que torna o silêncio um
significado. Neste caso, para mim com minhas limitações interpretativas e
teóricas, o significado do silêncio é um ato de fala porque possui em sua
matriz um ato de fala que o convenciona como tal. Assim, se a exceção é dada
por convenção, e a convenção é um ato, então esta exceção é um ato de fala ou
tributária de um ato de fala. O acordo sobre o silêncio é um ato de fala... Por
fim, como bem anota um comentário, se o silêncio significa uma omissão é porque
convencionamos tal coisa. Não emitir opinião pode significar negar-se a tomar
parte em um diálogo, pode significar não ter opinião, mas também pode
significar uma negação, tanto quanto um assentimento desde que convencionemos
no nosso jogo de linguagem que terá tal significado. Prossiga...ou...ainda
não...me lembrou aquele jogo de procurar pessoas escondidas quando entre o
quente e o frio você por convenção fica em silêncio...até dizer "está
quente" quando a pessoa se aproxima do objeto escondido ou "está
frio" quando ela se afasta. E é claro que este silêncio diz algo ali do
tipo "você está na encruzilhada e no ponto de decidir". Isto não é um
ato que significa?
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