Conversando com uma pessoa que
passou parte razoável de sua vida prestando serviços comercializando, atendendo
e servindo artistas – pintores, desenhistas, gráficos e outros – com seus
materiais, folhas e papéis, tintas, canetas, lápis e outros, me dei por conta
de perguntar para ela o que ela imaginava que fazia um artista virar artista,
que tipo de impulso impelia alguém a ser artista? Esse ela observava algo nos
artistas que nos desse uma pista sobre isto? E ai perguntei também se ela observava
uma paixão ou uma compulsão muito forte no comportamento deles? Claro que minhas
perguntas no contexto em que fiz envolviam como ela olhava e o que ela percebia
nos diversos artistas com os quais negociou e se relacionou em sua vida. Ela me
disse que eles eram seus fregueses porque eram muito exigentes e que sabiam que
receberiam materiais em ótima qualidade, papeis bem cortados e que em tudo que eles pediam para ela podiam
contar com o seu, completei, perfeccionismo e precisão. Eu olhei para ela me lembrando também dos
artistas que conheci e que conheço que se portavam sempre de forma excitada,
apaixonada e pareciam estar coma cabeça nas nuvens ou numa espécie de sonho na vigília,
um delírio permanente. E ela concordou não com um estereótipo mas com a
evidencia desta paixão e impulso vital neles para arte e disse que via neles
algo como que essencial e constante na relação com as artes que eles escolhem
fazer arte e só fazem aquilo mesmo. Mas reconheceu também que alguns são artistas
por certa vaidade e ambição e que nem sempre o que produzem pode ser chamado de
arte – pelo menos para ela e eu fiquei então pensando em tipos de
artistas. Também me perguntando sobre os
artistas tardios, ou seja, aqueles que resolvem virar artistas mais tarde na
vida, que passam uma parte razoável da vida fazendo outras coisas e de repente
escolhem fazer arte e se atiram nisto. Ela me olhou espantada pensando. E a
surpresa dela me parecia porque a coloquei a lembrar de seus outros conhecidos.
Daí ela lembrou de duas artistas opostas para ela. Uma com a qual ela se dava
muito bem e que, entretanto, não produzia coisas de valor artístico flagrante e
uma outra que era de difícil relacionamento, mas que, todavia, produzia coisas
maravilhosas. Daí lembrei de Aristóteles e sua tekne. Disso seguimos definitivamente
no nosso bate papo para recapitular e rever sobre os tipos de artistas. Os técnicos
e reprodutores, os criativos e inventivos, e os impulsos diferentes de cada um
deles. Restaram diversas outras questões debatidas também. Quando um artista
decide ser artista? Se um artista pode ser um bom gestor? (este é um resumo rápido
de um papo que precisa ter seu relato reconstruído para ser ampliado...)
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