O
artigo toca num dos pontos essenciais de uma ciência ou filosofia numa
sociedade democrática: diálogo ou
dialética com a sociedade para superar o internalismo. Mas creio que falar em culpa aqui deve ser
relativizado. Pois também cabe a sociedade realizar diálogos e ao estado
produzir mecanismos reais para promovê-los. Mas a análise e a exposição é muito
boa e deveria virar alguma diretriz
geral tanto na crise agora quanto após ela. Me fez lembrar de nossas
discussões em defesa dos recursos da Fapergs em 1991 (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Rio Grande do Sul) durante o governo Collares, bem como, depois os cortes de verbas do CNPq
e Capes do Governo FHC – e inclui aqui toda luta pela sobrevivência das
universidades e institutos de pesquisa durante o período neoliberal. E tudo
isto deveria ser cotejado - para efeitos
de balanço e ilustração – com aquele esbulho do Projeto Chiarelli para o Ensino
Superior Brasileiro no Governo Collor, para se ter uma ideia de quão longe
estamos do fundo do poço e de quanto nos afastamos em 25 anos disto. Além de outros
dramas de sucateamento e inviabilização paulatina do ensino superior público e
privado e do incentivo a ciência que foram superados. Não digo com isto que não
há problemas e sérias dificuldades que ainda persistem e muitos projetos
importantes não contemplados. Abro aqui o quadro no tempo para lembrar algo que
alguns desesperados de hoje sequer lembram, registraram ou viveram bem. E
também é importante mostrar que isso pode ser superado e pode ser passageiro e
que podemos construir um futuro com outra concepção e outras práticas de
diálogo com a sociedade. Precisamos sim
superar a mão única de recursos públicos para a ciência sem diálogo ou retorno
com a sociedade ou do diálogo restrito ciência e instituições de fomento,
agências e órgãos governamentais. A sociedade não irá valorizar a ciência e
nem a ciência vai dar a mínima para a
sociedade se a superação disto não for constituída. E uma sociedade democrática, uma cultura ampla
e a promoção da ciência e da educação científica só tendem a ganhar com isto.
Uma sociedade democrática exige justificação pública dos investimentos e, além
disso, mais comunicação e acessibilidade aos resultados gerados com recursos
públicos. Dar visibilidade a isto pode contribuir em muito também com a a
tração de mais recursos por outras fontes – além das públicas – e gerar mais
interesse da população em relação ao tema em geral e em alguns casos
específicos constituir um novo paradigma na formação e educação para a ciência,
a tecnologia e a cultura. Tenho observado como professor do ensino básico, para
terminar e fugir um pouco do enfoque ao tema, uma nova geração inteira de novos
talentos que poderiam estar já sendo focados, apoiados e mantidos pelo estado
na formação de novos cientistas e isto também poderá ampliar nossa capacidade
de produzir ciência e evitar o desperdício de recursos numa formação que se
inicia apenas ao meio termo do ensino universitário. Há sim uma crise, corte de
recursos, mas não podemos perder de vistas as saídas, as urgências e avaliar
sempre prioridades e fazer a crítica sim de equívocos. Neste texto o autor a
ponta que a culpa não é só do governo e que precisamos dividir as
responsabilidades, mas também mudar nossa conduta em relação ao tema. Ao meu
ver, superar o internalismo e dialogar com a sociedade o que é uma exigência da
democracia e viável com as atuais tecnologias disponíveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário