Tenho aprendido muito com minha
vida em família e olhando para a vida da minha família e de meus amigos,
colegas e também observando o modo como as coisas funcionam na vida real e não
na vida idealizada de propagandas e aparências. Por conta disto tenho
reavaliado muitas coisas. Um dia eu me vi pensando sobre como se aprende a ser
um bom pai ou como se aprende a ser uma boa mãe. E esta pergunta não era por um
manual nem por um guia de regras sobre tal coisa, mas sobre os sentimentos que
deveriam guiar um bom pai. Imagino que deve ter uma tonelada de confissões,
considerações, tormentos e sofrimentos sendo despejado em diversos lugares
sobre isto.
Basicamente porque muita gente de
verdade não consegue ser tudo isso que esperam deles nem sabe muito bem como
ser tal ou qual pai ou mãe ideal. Há uma idealização excessiva sobre isto. E
minha intuição me diz que toda vez que temos idealização excessiva sobre algo é
uma boa atitude simplificar e tentar achar um fio da meada para começara tratar
de tal coisa de forma concreta e objetiva. Além disso, deve ser uma boa
orientação dissipar na discussão e na abordagem todas as nuvens emocionais,
todas as culpas e rancores e também qualquer medida de excessiva apreciação ou
crítica, porque não é de barbada e nem molezinha ser pai ou ser mãe mesmo. E a
pergunta também vale para a mãe da gente ou a mãe de nossos amigos. que a real
é acabar de vez com a culpa de quem não consegue ser mãe e nem pai...
Minha aluna que mais debate estes
assuntos comigo me perguntou: Quando tu
fala "não consegue ser mãe e nem pai" tu tá falando sobre
infertilidade ou sobre não querer e não se sentir bem sendo mãe ou pai? Bem, o
problema é o último caso...
Pois, em geral podemos perceber
que a gente vive numa cultura idiota que acha que toda mulher tem que ser mãe
perfeita e todo homem pai perfeito e a realidade é outra. Pois, mesmo que
tomemos os exemplos de nossos pais em mães, leia manuais de auto ajuda e tenha
boas dicas aqui e ali, não se ensina isso e nem sempre se aprende isso. Os
filhos são diferentes também e nem tudo que dá certo com uns dará certo com
outros. Assim, quando as coisas dão errado e em alguns casos elas podem dar, o
stress e a culpa em torno disso só piora as coisas para a gente que é pai ou
mãe e para os filhos. Penso que quando a gente entende isso para de ficar
esperando certas coisas dos velhos e dos novos também.
E isto envolve algo muito
importante que é aprender a perdoar também e entender que não é porque eles não
conseguem fazer isto ou aquilo, ou que não conseguiram, que eles não nos amam
ou que não tenham tentado e simplesmente sucumbido na tarefa ou em sua
disposição.
A cultura em que a gente vive nos
coloca na cabeça o tempo inteiro o quanto seremos infelizes ou incompletos se
não tivermos filhos. E eu não acredito que seja assim. E eu confesso que amo
ser pai - adoro ver a criança crescendo, mas isso sou eu, que mesmo assim tenho
minhas limitações e não crio minhas duas filhas comigo.
Mas tem também pessoas que pensam
diferente, e isso não é errado. Tem pessoas que não conseguem lidar com os
filhos que não somente se distanciam dos filhos, mas sequer conseguem manter
uma relação constante com eles. Alguns tem problemas materiais e outros tem,
apesar da abundância de recursos, suas
próprias dificuldades.
Um outro exemplo, bem - eu amo
ser professor. Esta é a profissão que eu escolhi. Mas eu também sei que poderia
ter dado errado, que eu poderia não conseguir ser um professor e ter prazer com
esta atividade e saber lidar com seus cavacos, dificuldades e com eventuais
situações que fogem a minha formação para tal.
E não é fácil mesmo. Tanto ser
pai como ser professor – e estou dando estes exemplos aqui porque são os meus,
poderiam aparecer muitos outros exemplos de atividades difíceis nesta vida. E as
dificuldades ou problemas são possíveis com toda preparação ou boa disposição
que você tiver. Eu vejo que muitas vezes tem que ver com uma fase ou situação
ou vibe da vida da gente. Nem sempre um projeto ou um desejo se realiza e em
outros casos outras coisas intervém
nisto. Veja e pensa imagina a mina ou o cara que quer só transar – só
pensa nisto durante uma fase da vida, em encontrar prazer, e dai vira pai e tem
que ser certinho. Não tem esta garantia mesmo. Ele pode tentar com todas as
forças, mas pode não conseguir. Não porque o filho é mais desejado ou não, mas
simplesmente porque as operações e as ações não são só palavras ou um
vocabulário que a gente passa a adquirir porque surge uma outra condição.
Então, segura a onda meu amigo e minha
amiga, vai com calma, porque nada e que nada bem grande é este aqui, vai
garantir uma boa paternidade ou maternidade. Você deve tentar, você vai tentar, mas não vai
conseguir sempre
Como disse minha aluna: Às vezes
eu penso que seria legal ter filho/a pra ensinar um monte de coisa legal pra
ele/a. Mas ao mesmo tempo eu não sinto vontade alguma de ser mãe algum dia.
E eu digo para ela que isso
talvez tenha uma hora na vida dela e que se for legal ela também pode aprender.
Digo que eu acho uma coisa sobre isto eu tenho filhas e não sou casado com as
mães delas, mas eu adoraria amar uma pessoa muito e ter filhos com ela - mas
hoje isso me parece uma idealização brutal tipo MISSÃO IMPOSSÍVEL ou OBRIGAÇÃO
DE DAR CERTO ou aquela OBRIGAÇÃO DE SER FELIZ não é assim que funciona. Todos
estes canais não são tão fáceis de sintonizar ao mesmo tempo.
Minha aluna responde: Eu acho que
essa obrigação de ser feliz tá sendo cada vez mais desconstruída nos dias de
hoje. Não obrigação de ser feliz, mas a obrigação de estar com alguém.
Sim, eu respondo, esta obrigação
e todo o resto.
Eu diria – sem forçar demais e
nem querendo generalizar - que vivemos uma grande libertação ou que, pelo menos,
alguns de nós vivem isto melhor. Mas que tem muita gente boiando ou pegando
isso em pedaços, em partes e mal consegue ver o todo deste processo.
Ao ver em partes entende um lado
e não os outros.
Ela me diz; Eu conheço meninas
até mais novas que eu que ainda se sentem na necessidade de estar sempre com
alguém, ou não conseguem ficar sozinhas.
E eu respondo: Mas eu acho que
estamos caminhando pra geração que não terá essas obrigações e cobranças,
culpas e condenações a ser isso ou aquilo, assim ou assado.
Sim - mas alguns outros obstáculos
temos pela frente e são muitos.
FIM