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quinta-feira, 29 de agosto de 2019

CHURCHILL E AUSTIN: O Destino de uma Nação – NOTA E ESBOÇO


O Destino de uma Nação me permite tratar hoje de um tema que tem me atraido muito em relação à Churchill. A reconhecida natureza performativa dos seus discursos e uma possível relação com Austin que, na mesma guerra, mesma época e país desenvolvia, provavelmente enquanto auxiliava a inteligência militar e civil inglesa na contra informação e na análise de informação, a sua já consagrada é indispensável teoria dos atos de fala. Antes disso trato do filme e depois dos atos de fala de Churchill com socorro da teoria de Austin.

O FILME

O destino de uma nação também contém um ótimo conteúdo contra o fascismo e em defesa do acesso a verdade para o povo de um país. Os discursos de Churchill possuem um caráter altamente popular e apelam para o sentido de liberdade de cada um dos seus interlocutores. Desistir nunca, se entregar jamais, lutar sempre e defender a liberdade e a democracia. Parte do que o filme não mostra, fazendo certa sombra sobre isso inclusive, é que haviam ingleses e americanos - tanto quanto franceses - simpatizantes ao nazismo porque viam nele uma possibilidade de impedir o alastramento de partidos comunistas e também o crescimento de posições trabalhistas mais à esquerda. Ao ver o filme fui provocado a pesquisar um pouco mais sobre o período para além dos discursos e nos bastidores das relações entre Inglaterra e EUA.

Apesar de ter uma coleção de críticas assimiladas sobre Churchill, tenho muita admiração sobre este aspecto dele ao ponto que, dentro dos meus limites de conhecimento, considero ele o melhor orador e líder político da segunda guerra. Em uma obra de um historiador de certa forma reconhecido, John Lukacs, Cinco dias em Londres, temos a defesa da importância de Churchill na derrota a Hitler e ao nazismo na segunda guerra mundial. Esse extremo papel é expresso por lukacs assim: “sem Churchill a Alemanha e Hitler jamais teriam sido derrotados. É preciso, ainda, esclarecer uma questão de natureza problemática e histórica que é apresentada no filme.

Alguns críticos apontam que Halifax e Chamberlain não eram os traidores que aparecem na tela de Darkest Hour. Ora, de fato Halifax cumpre papel importante na estratégia de guerra inglesa. Porém, parte do mis em scene entre Churchill e seus dois colegas de partido conservador, um ex-primeiro ministro com grande resistência a entrar em guerra e que foi de certa forma o responsável – não solitariamente, veja-se Lidell Hart a este respeito - pelo total despreparo militar dos ingleses para resistir ou enfrentar Hitler, marcado por algumas simpatias de ingleses poderosos por ele, e Halifax o preferido do Rei e de nove entre dez conservadores para suceder Chamberlain, não pode encobrir o fato apontado no filme que o próprio Halifax indica – após ser aclamado pelos membros do partido – Churchill como o sucessor ideal ao cargo tendo em vista seu destemor e também sua abordagem completamente avessa aos não aos alemães, mas a Hitler. Em Dunkirk, o filme, fica em aberto o mistério de porque Hitler não exterminou todos os ingleses e franceses abandonados, sem perspectiva de remoção, naquelas praias tenebrosas, porém, é preciso considerar que o fio tênue de negociação entre os ingleses e os alemães via intermediação – remunerada – dos italianos se manteve até o último período da retirada completa dos ingleses daquelas praias. É curiosa também que essa façanha só foi possível ser mantida por diversos vazamentos de um americano que assessorava Joseph Keneddy na embaizada americana em Londres. Esses vazamentos davam conta de tendências de enegociação de uma paz por Chamberlain e Halifaz e da intransigente posição de Churchill que apesar de considerar e balançar essa possibilidade tinha completa aversão a isso. Duas cenas do filme ajudam a encobrir ou a fazer algum mistério disso. A primeira é o passeio de metrô de Churchill e sua consulta aos súditos e súditas às cidadãs e cidadãos britânicos. Ora, parece ser inverossímil que o Sir Churchill faria tal coisa ou precisa de tal atitude para se convencer da opinião ou tirar febre da opinião do povo inglês. Mesmo assim a cena para mim é brilhante, pois o Never expresso em uníssono pelos passageiros do trem dá um sinal claro da expressão política e do sentimento do povo inglês de jamais se entregar ou se render a qualquer invasor. É importante apontar que aquela ilha jamais foi invadida, salvo pelo romanos que acabaram por fortalecer e contribuir na formação daquele povo. Franceses e espanhóis que o digam. A segunda cena é a pausa nas discussões entre Neville e Halifax contra Churchill perante todo o gabinete, em que eles ficam à sós, somente os três, para confabular sobre a tática perante os alemães e Hitler. Apesar da cena não enunciar qual o encaminhamento da reunião, é bem plausível se compreender que tratava-se de manter na perspectiva inglesa uma linha de diálogo com os alemães, via italianos basicamente para ganhar tempo, encontrar uma alternativa de retirada de Dunkirk e ser capaz de sobreviver aquela situação tenebrosa para todos eles sem exceção. Os detalhes da história dos motivos pelos quais os alemães não liquidaram passam por diversas hipótese ainda hoje.                       

Os discursos e performativos de Churchill, como se pode atestar no filme e em outros textos que já circulam, são exemplares. Muito além de sangue, suor, labuta/trabalho e lágrimas o que Churchill fez, foi, nas palavras com que Halifax aponta, no momento crucial do filme, “mobilizar a língua inglesa para a guerra.”

DISCURSOS DE CHURCHILL - EXCERTOS

AUSTIN E CHURCHILL

Sempre quis saber se Churchill teve algum tipo de influência, contato ou diálogo com Austin. Fico curioso com a hipótese inclusive de ter sido um bom case para a análise dos atos de fala. A força da palavra e da expressão dos atos de fala de Churchill bem que merece uma análise minuciosa considerando-se contextos e suas respostas a cada um deles e dos elementos nos cenários de fala. Vemos durante o filme todo as proezas retóricas de Churchill, sua capacidade de emular um sentimento de resistência contra o perigo alemão ou nazista, contra Hitler de tal modo que não é difícil enquadrar ele como um orador de força ilocucionária extremamente eficaz. Churchil, e isso é muito notável no filme, assumiu o cargo de primeiro ministro num momento muito trágico da Inglaterra. Em dez de maio assume e em 13 faz seu discurso de posse. Mas logo em seguida é informado da eminente invasão da Holanda, da Bélgica e da França pela blitzkrieg nazista. Logo mais se defronta com a terrível situação dos mais de 300 mil soldados ingleses e franceses sitiados em Dunquerque.

O filme possui muitas virtudes, além disso que vou destacar aqui e que foram textualmente assinaladas por Pablo Villaça que cito abaixo para começar:

"Gary Oldman, um dos atores mais talentosos de sua geração, oferece mais uma grande performance; o design de produção é impecável, fazendo um trabalho de recriação de época formidável; e Winston Churchill é um personagem fascinante por natureza – e não só por sua história, mas também por sua aparência, seus maneirismos e sua dicção particular.
Para mim aquilo que é uma desvantagem para o Pablo o filme que "só traz diálogos memoráveis quando estes são citações diretas de Churchill ou do Cícero que este tanto admira" é uma vantagem porque me permite analisar literalmente os atos de fala de Churchill e o arcabouço geral e a efetividade histórica ou fatual  dos seus perfomativos. Assim, excluindo-se a duvidosa viagem de metrô em que Churchill conversa com populares, praticamente todo o resto das suas falas consta em biografias e em relatos quase oficiais dos acontecimentos entre 9 e 29 de maio de 1940.

Segundo Pablo, a citação literal "compreensivelmente, já que o dom deste para a oratória era tamanho que acabou por revolucionar a língua, refletindo os talentos do próprio político britânico".

A crítica mais detalhada, ampla e completa que conheço é do exímio Pablo Villaça. Nela ele fala também do Universo Estendido, ou seja d conjunto deste filme somado a Dunkirk e ao Discurso do Rei, do qual o filme faz parte e ajuda a explicar.

Austin estudou Aristóteles e Leibniz durante sua formação e de ambos herdou uma tradição que se fortaleceu em seu espírito com duas vertentes bem originais. De Aristóteles a idéia de analisar as diversas formas de dizer, já de Leibniz sofreu certa inspiração em relação ao projeto leibniziano de construir uma linguagem universal.    Dentre os vários modos possíveis de se dizer uma mesma coisa, o modo escolhido está relacionado com o sentido do que é dito. Designa-se duas formas básicas para o que é dito uma forma é a “constatativa” de natureza mais descritiva e a outra forma é a “performativa” de natureza mais prática para aquilo que tem o objetivo de gerar uma ação ou expressar uma ação. Nesse sentido as expressões na descoberta de sua teoria a partir da observação dos nossos usos comuns da linguagem teriam uma “força elocucionária”. Desse modo, Austin após perceber que jamais uma coisa dita é exclusivamente indicativa acabou por caracterizar melhor os tipos de expressões ou as formas como expressamos coisas diferentes com objetivos diferentes. Esta teoria ganhou o nome de Teoria dos Atos de Fala e uma distinção mais fundamental foi estabelecida entre atos locucionarios, ilocucionários e perlocucionários. Austin, de certa forma, escreveu: Sense and Sensibilia e Quando dizer é fazer, ambas obras publicadas postumamente em 1962. Suas teorias foram ganharam muitos adeptos na filosofia analítica e em especial nos Estados Unidos seu discípulo John Searle deu um desenvolvimento nova a sua teoria de certa forma complementando e analisando mais ainda as formas das expressões ou tipos de expressões. Já, na França, a Teoria da Linguagem de Jacques Derrida se baseia em parte também em seu trabalho.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Austin serviu no British Intelligence Corps. Foi dito já que "ele mais do que ninguém era responsável vital pela precisão da inteligência do dia D" (relatado em Warnock 1963: 9). Austin deixou o exército em setembro de 1945, com o cargo de tenente-coronel. Ele foi homenageado e reconhecido por seu trabalho de inteligência com uma Ordem do Império Britânico, a Croix de Guerre francesa e a Legião do Mérito dos Oficiais Americanos. (ver o verbete Austin na Enciclopédia Stanford de Filosofia.)

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