LEMBRANDO O ROMANTISMO E LORD
BYRON
"É esse vazio imenso que nos
empurra para o jogo, para a guerra, para as viagens, para uma ação qualquer,
mas intensamente vivida, da qual a atração primeira é a excitação necessária
para praticá-la".
Lord Byron
Nada mais juvenil e romântico do
que lançar-se à aventura, ao risco da morte e expor-se ao domínio da incerteza.
O romantismo evoca a imagem do solitário e heroico, daquele que atravessa a
tragédia e sobrevive. E muitos procuram exatamente isso mesmo: uma forma de
viver perigosamente e arriscadamente, buscando um triunfo existencial para
levar pela vida, como se isto apagasse completamente a rotina e o tédio de seus
compromissos banais e reais. O cotidiano da normalidade não dá excitações. É um
impulso juvenil em busca do prazer e do gozo da aventura, um impulso pueril que
é reencenado em toda nova geração por alguns jovens e que faz uma peneira dos
jovens que sobrevivem a isso, orgulhosos de suas façanhas e sobrevivência e que
compõe o luto de muitas famílias. Irmãos, pais, mães, tios e tias, avôs e avós
e os amigos, colegas e vizinhos assistem isso. Essa aventura destemida, imprudente
e audaciosa se encena. Alguns são bafejados pela sorte, outros pelo azar
ceifados., Outros jovens ainda são preservados pela proteção de outros adultos ou jovens,
outros são fatidicamente retirados desse mundo, desaparecidos. Gerações
inteiras viveram isto e muitas outras testemunharam este impulso em alguns de
seus contemporâneos.
Uma colega minha lembrou a fala
de um analista sobre este tema de que algumas destas pessoas simplesmente não
conseguem viver o lúdico. Elas não se adaptam aos acontecimentos aparentemente
triviais e banais. Me parece que isto se
apresenta também em uma incapacidade de viver o cotidiano como um domínio
também aberto à invenção, à surpresa, ao improviso e à criação. Não conseguem
viver o raro momento escondido na vida comum, sem buscar uma grave e radical distorção
de sua própria realidade, sem um cenário novo ou excepcional que pudesse
remover as amarras da normalidade.
Daí surge isto que Byron chama de
vazio imenso – fonte de angustia ou ansiedade - ou que alguns da sua geração de
aristocratas e nobres vislumbravam como um aterrorizante e gigantesco tédio. Um
tédio oriundo da fartura, da abundância da riqueza granjeada por seus
antepassados que conquistaram riquezas explorando o mundo, a natureza, os
demais seres humanos e tudo que se lhes apresentasse pela frente.
O mundo é um mundo a ser
conquistado na visão deles - o colonialismo, o imperialismo e o radical
individualismo burguês olham assim - e as gentes são gentes a serem dominadas,
exploradas e submetidas a uma nova ordem. Até mesmo Rimbaud viveu essa
experiencia lançando-se aos confins da África.
Não é isso a tal vontade de
poder? Em sua realização máxima...."vamos dominar o mundo" e calhou
de acabar por serem escravos desta vontade...escravos de uma paixão pela
aventura.
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