Traçar perfis tem sido uma
prática corrente nos dias de hoje. O interessante é que isso tem sido feito a
cada dia com mais frequência. Parece até que logo teremos mais perfis em vida
do que obituários. Já usei por mais de uma vez o exemplo da questão de saber se
uma vida foi feliz ou não, certa ou errada, satisfatória ou não, no momento da
nossa passagem para as câmaras da outra vida, a morte. O desaparecimento de
alguém do mundo da vida parece ser mesmo o fim de uma obra e de uma existência.
Como se uma vida só pudesse ser avaliada após transcorridos todos os seus
momentos. Mas fazer perfis tem ultrapassado esse limite. Mesmo sabendo-se que
eles são retratos provisórios tem sido mais e mais frequente fazer isso.
É, também, muito comum correr
este risco de prejulgar as pessoas com base em alguns traços e características
de seu perfil visível. Esse hábito é sim bem comum, mas elide o fato de que
sempre será necessário ultrapassar as aparências e aquilo que de si uma
personagem torna visível. Nós que lidamos com muitas pessoas em transações,
relações e vínculos de todo tipo e de formas diferentes sempre corremos esse
risco de rotular, fazer um prejulgamento ou perfilar as pessoas de modo errôneo
a partir de seu perfil preferido. Imagine que todos escolhem as imagens de si
que serão mostradas e exibidas. Como
pensar nisso quando uma foto é revelada de forma errada e se queima o seu
negativo? Assim, muitas vezes, a distorção é privilegiada e a imagem que fica é
aquela que é resultado ou de uma escolha ou de um acidente. Quando o reagente,
reage por tempo demasiado no negativo perdemos a nitidez. Tendo a imaginar que
o tempo e as seleções de perfil e também os acidentes acabam por nos afastar do
real e nos fazer ver apenas um resto ou uma sobra, um pequeno fragmento desse
perfil. Sendo assim, além dos segredos ocultos e das intimidades não figurarem
no perfil, temos a desvantagem de não poder ver o todo – o exemplo do fim da
vida ou da obra, e, também, a desvantagem de não ter um retrato resumido e atual
que faça justiça ao retratado. É por isso, me parece, que tanto a fotografia
como a escritura, e nesse estilo as biografias, parecem ser artes, porque só
vira definitivo nesses tipos de registros, aqueles que conseguem superar as aparências
ou as circunstancias limitadoras do tempo e da perspectiva de um observador.
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