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quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Perfil e seus riscos


Traçar perfis tem sido uma prática corrente nos dias de hoje. O interessante é que isso tem sido feito a cada dia com mais frequência. Parece até que logo teremos mais perfis em vida do que obituários. Já usei por mais de uma vez o exemplo da questão de saber se uma vida foi feliz ou não, certa ou errada, satisfatória ou não, no momento da nossa passagem para as câmaras da outra vida, a morte. O desaparecimento de alguém do mundo da vida parece ser mesmo o fim de uma obra e de uma existência. Como se uma vida só pudesse ser avaliada após transcorridos todos os seus momentos. Mas fazer perfis tem ultrapassado esse limite. Mesmo sabendo-se que eles são retratos provisórios tem sido mais e mais frequente fazer isso.  
    
É, também, muito comum correr este risco de prejulgar as pessoas com base em alguns traços e características de seu perfil visível. Esse hábito é sim bem comum, mas elide o fato de que sempre será necessário ultrapassar as aparências e aquilo que de si uma personagem torna visível. Nós que lidamos com muitas pessoas em transações, relações e vínculos de todo tipo e de formas diferentes sempre corremos esse risco de rotular, fazer um prejulgamento ou perfilar as pessoas de modo errôneo a partir de seu perfil preferido. Imagine que todos escolhem as imagens de si que serão mostradas e exibidas.  Como pensar nisso quando uma foto é revelada de forma errada e se queima o seu negativo? Assim, muitas vezes, a distorção é privilegiada e a imagem que fica é aquela que é resultado ou de uma escolha ou de um acidente. Quando o reagente, reage por tempo demasiado no negativo perdemos a nitidez. Tendo a imaginar que o tempo e as seleções de perfil e também os acidentes acabam por nos afastar do real e nos fazer ver apenas um resto ou uma sobra, um pequeno fragmento desse perfil. Sendo assim, além dos segredos ocultos e das intimidades não figurarem no perfil, temos a desvantagem de não poder ver o todo – o exemplo do fim da vida ou da obra, e, também, a desvantagem de não ter um retrato resumido e atual que faça justiça ao retratado. É por isso, me parece, que tanto a fotografia como a escritura, e nesse estilo as biografias, parecem ser artes, porque só vira definitivo nesses tipos de registros, aqueles que conseguem superar as aparências ou as circunstancias limitadoras do tempo e da perspectiva de um observador.  

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