Powered By Blogger

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

TEORIA DO ESPANCAMENTO DA ESQUERDA


Eu tenho estudado alguns intelectuais de alto nível da direita e de ultra direita, conservadores e fascistas e isso tem sido possível porque algumas obras estão muito acessíveis e baratas para sua aquisição em sebos. Outras obras tive acesso durante minha formação cultural e política nos anos 80 e depois já nos anos 90 tive acesso a todo o doutrinário neoliberal que foi introduzido no Brasil por Collor de Mello e depois foi seguido e aplicado pelos dois governos de FHC o que contaminou de vez a social democracia brasileira com o vírus do neoliberalismo em certa fusão com o conservadorismo e os representantes da ditadura militar. Imagino mesmo que a tomada do poder no Brasil, primeiro via golpe com Temer e o MDB e seus associados “com supremo e com tudo”, depois pela eleição de um candidato de extrema direita que consegue misturar pelo menos quatro concepções controversas para governar o Brasil. 

De um lado, ele é representante de uma facção que defende a Ditadura Militar no Brasil, assinando embaixo da tortura e elogiando torturador, de outro lado, e encontrei uma característica em comum entre todos eles no que se refere ao modo de tratar a esquerda, os governos de esquerda e todas as organizações que possam ter algum vínculo com a esquerda. Trata-se de simplesmente espancar ou agredir sistemática e brutalmente a esquerda. Pouca importância tem, nesse caso, se a esquerda está correta em seus governos, se as teorias são boas ou ruins ou se possuem algo de bom em meio aos seus conceitos. É preciso, segundo a maioria deles, desde Ayn Rand ou Von Hayek, não deixar pedra sobre pedra. 

Isso parece surpreendente para quem acredita que os debates econômicos ou o possam ser travados de um ponto de vista racional ou científico. Porém, é importante dizer, que do que se trata aqui propriamente é de uma disputa cultural  ou guerra de paradigmas. Então, é importante considerar que esse ataque sistemático tem seus efeitos no imaginário da população e tem também impacto nas mentalidades de todos, incluso aqui os militantes de esquerda cuja formação insegura ou titubeante, superficial ou de mera adesão simpática, não conseguem resistir ao confronto mais duro e que não conseguem encontrar argumentos para fazer frente ao espancamento generalizado de suas crenças.

Semana passada eu fiz uma interpretação que leva a questão crucial ou analítica aqui: porque os militantes de esquerda não conseguem reagir a esse espancamento por mais vil, covarde ou mentiroso que ele seja?

Na minha opinião é porque o espancamento tem sido tão intenso e tão sistemático que eles tem hoje introjetado um profundo sentimento de culpa e sentem um desconforto terrível em se expor ou em reagir a esses ataques. Eles estão vivendo - eu me incluo nisso - uma intensa luta interna para superar a sua apatia política. Na ocasião em que participei de um debate bem duro com um monte de gente importante na esquerda eu disse para eles olharem para si mesmos e se fazerem essa pergunta: porque eu não reajo?

No dia seguinte cheguei a conclusão de que vista assim as coisas, também  é muito importante se parar de ficar espancando os militantes e os dirigentes. Porque isso também só contribui para aprofundar a apatia e o desalento na esquerda.

Ou seja, em alto e bom som aqui, é bom parar de vez de promover  em praça pública ou auto espancamento ou flagelo dos dirigentes e militantes de esquerda.

Veja que isso é muito mais importante do que parece.  Porque o que te faz a pergunta tem que fazer não é não é perguntar ou julgar se isso é assim porque as pessoas estão velhas ou estão de cabelo tão branco, se estão com medo, você deve perguntar porque elas não reagem quando são atacadas. E eu cheguei a conclusão no dia seguinte, depois de muita reflexão somando as informações acima e analisando outras, que isso aí tem a ver com uma espécie, no nosso caso da esquerda brasileira, de trauma de governante ou burocrata. Esse é o mesmo trauma de quem é governo e de quem é direção, porque na esquerda a gente tem que provar que é o melhor, sofre uma vigilância interna e externa intensa e nessa vigilância sofre da crítica mais generosa e mais compreensiva até a crítica mais destrutiva, violenta ou agressiva o tempo todo e precisa aprender a suportar isso e a aceitar isso com repostas por assim dizer mais tolerantes e compreensivas e é aí que se abre o flanco para o espancamento indiscriminado na maior parte dos casos e muitas e muitas vezes injusto ou desonesto. É interessante que quase todos nós percebemos esses sinais quando entendemos o vale tudo dos adversários sobre nós. a gente. Porém, pensando agora,  ficou muito encoberto o caráter do espancamento que se seguiu. Nós normalizamos ou naturalizados o espancamento.

Os militantes, dirigentes e governantes ficaram em sua grande maioria sem reação e acostumados com isso. Nossos governos acostumados a ser espancados não tem capacidade de reação e de afirmação de diferenças e em sua maioria se envolveram e se encheram de concessões aos adversários. Isso foi acompanhado de recuos programáticos e de renúncias em concepções cruciais para a esquerda. O espancamento gerou uma demanda de chantagem que foi coberta e concedida.

Assim, no processo de espancamento houve uma renúncia tal que a não reação ficou como que determinada a partir dos escalões superiores. E assim as reações necessárias acabaram só correndo quando um general ou mais reagisse. Então, a tropa e divisões inteiras ficaram excessivamente disciplinadas e sem reação em virtude disso. Assim, o pessoal fica acuado e tem medo ser espancado externamente e, ao mesmo tempo, ocorre também um processo interno de espancamento da militância e dos dirigentes que é recíproco porque fica virado num jogo de culpa. De tal modo que se chega a um ponto em que todo mundo tem culpa, todo mundo é culpado e não tem que acompanhar mais ninguém nas reações. 

Sociologicamente falando perdemos a solidariedade orgânica primeiro com as fragilidades ideológicas e depois o espírito de corpo se esvazia e segue junto o fim da própria solidariedade mecânica mais elementar e primária. Segue-se de que todo mundo fica mais ocupado em se proteger ou se esconder ou em fazer ataques internos que se esquece de atacar os adversários externos e passa a ter um medo até mesmo de conversar sobre isso. Veja que curiosamente os adversários são extremamente covardes em sua coragem porque se servem muito mais de mentiras ou distorções da realidade, o que, aliás, mostra que se recua para quem não tem argumento nenhum. Olhando mais de perto se percebe que eles não tem moral nenhuma para nos atacar em nenhum quesito, mas como a gente ficou muito tempo sob a proteção do governo ou da burocracia ou sob uma disciplina partidária, uma disciplina da corrente, a gente acaba mesmo sem reação. Assim, a gente não tem capacidade de dar um movimento correto no jogo político e de dar o golpe correto e decisivo para responder ou reagir.  Por fim, eu acho que isso é uma questão bem importante: a gente tem que avaliar muito para romper com esse tipo de padrão ao qual fomos habituados com esse espancamento. Para romper com esse padrão de auto espancamento interno e partidária e não aceitar mais ser espancado de forma alguma externamente, até porque esses caras que tão espancando a gente todos os dias são completamente imorais. Veja que eles são gente que nunca militaram  em coisa nenhuma. Eles nunca deram uma hora de suas vidas de graça para coisa nenhuma. 

Então, eu digo que deu já o tempo de sermos espancandos sem resposta para quem gastou a vida militando e lutando por um mundo melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário