LOUCO DE SEM VERGONHA
Bolsonaro é um louco, é o que
afirma em seu texto o ótimo jornalista Gilberto Dimenstein. Ele faz isso ao
sugerir que listando algumas das manifestações e posições absolutamente
insensatas dele, dá para fechar um quadro de loucura. Eu penso que ele fica na
fronteira entre a loucura e a insensatez e o nome disso para as nossas avós e
os antigos era outro.
Porém, essa mensagem também permite perceber
justamente essa outra forma de insensatez, que é julgar que um insensato é
candidato a alguma coisa, é eleito e recebe um mandato ou mais e continua nessa
marcha da insensatez, mas que é alguém que pensa solitário e ganha um crédito
acidental dos demais.
O mesmo erro foi cometido com
Hitler. Vejam o diagnóstico psicanalítico de 1943 dele publicado pela editora
Leya.
A lista de exemplos de Dimenstein
está correta e pode ser aumentada, inclusive, só que eu não gostei nada da
qualificação ou diagnóstico de loucura, não porque Dimenstein não possa dar o
diagnóstico que quiser, mas porque na verdade isso funciona da seguinte forma,
assim com esse modelo de abordagem da insensatez política.
Então, o Bolsonaro é o louco, é o
pirado, é o esquizofrênico, é o paranóico e, esse bando de gente ruim,
perversa, grosseira, essa coleção de demagogos reacionários, estão se
escondendo nas costas dele. Vamos dizer que se resolve o problema dele, seja de
que forma for, fechando o diagnóstico e internando esse monstro de insensatez,
tirando do poder, botando na cadeia, pendurando num poste como Mussolini na
Itália, enforcando numa árvore, como no velho oeste, alguém acredita que estará
tudo resolvido?
Surge um pequeno probleminha aí:
e os outros?
Veja bem, ao contrário, você tem
que bater sim na política e nas posições políticas que ele representa, para
tirar as pessoas dos braços dessa insensatez e educar as pessoas para criar
aversão a isso, mas isso não basta. Veja isso precisa ser feito - não para eleger o PT ou a esquerda - isso
pode ser possível ou não, mas para defender a democracia, para defender a volta
de alguma margem de sensatez e a volta de algum progresso e ordem Institucional
real para o Brasil voltar a ser feliz de novo, exatamente como diz o Lula, e
acabar com essa onda coletiva de insensatez e retrocessos.
É verdade que só bater nisso ou
só polarizar em relação a isso não vai derrotar essa mentalidade. É isso que afirmam os defensores da terceira
via. Porém, há também algo insensato na mentalidade deles também. Porque eles
se avistam como alternativa para vencer os insensatos sozinhos e sem unidade
com os demais. Isso só vai mudar se você não continuar assim. Você precisa se
encontrar com uma sensação real
diferente dessa que, de fato, agora entendeu que tem mais gente como ele e
passa a ter a certeza de que ele tem eco na sociedade e que esse eco na
sociedade tem apenas aumentado devido a sua posição de omissão e de faz de
conta que está fora dessa polarização. Para enfrentar isso, portanto, se você
quiser se afastar dessa insensata ironia do destino, só com uma grande frente
política nacional de resistência democrática muito ampla. Porque, você precisa
reconhecer isso, vai ser preciso reeducar a sociedade e as instituições. Veja que
isso inclui também setores da elite e de altos escalões da república e em
diversos poderes de estado.
É esse, eu acho, que foi o erro de
todos aqueles que o rejeitaram a priori e de forma inegociável desde o começo e
até hoje, cometemos em relação a ele, durante todo o mandato dele de trinta
anos como um príncipe maluco do baixo clero na câmara dos deputados. Veja que
na época a proposta era não machucar não tocar nele e ele nesses trinta anos de
deputado acabou sobrevivendo e crescendo. Só Maria do Rosário e alguns poucos
deputados se ocuparam ou se postaram efetivamente contra ele. O erro foi tratar
ele como louco e daí não precisava enfrentar ele porque ele é louco. Passado
todo esse tempo alguns perceberam: mas já tem um bando de loucos que acreditam
nele. Essa gente concorda com ele, porque essa abordagem grosseira da vida real
é a abordagem mais simples e mais fácil dos problemas.
E foi assim que essa coisa maluca
e insensata de reduzir dispositivos legais que garantem a segurança e a vida de
milhões de pessoas foi jogada para o espaço. Tanto o debate e o raciocínio
débil dos eleitores dele em relação às leis do trânsito, quanto em relação às
armas, são parte dessa insensatez simplória e grosseira, mas é bom perceber que
essa concepção tem um corpo bem mais amplo de propostas em diversos ministérios
e não somente na boca do insensato e de alguns destacados seguidores dele..
Nossas avós diriam algo simples
assim: esse cara é louco nada, esse cara é louco de sem vergonha. E com ele tem
mais um bando de sem vergonhas e insensatos marchando na mesma direção e
tentando levar toda a sociedade brasileira junto.
Na imagem a carta Zero do Tarô, o
Louco ou The Fool.
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