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quinta-feira, 29 de agosto de 2019

CHURCHILL E AUSTIN: O Destino de uma Nação – NOTA E ESBOÇO


O Destino de uma Nação me permite tratar hoje de um tema que tem me atraido muito em relação à Churchill. A reconhecida natureza performativa dos seus discursos e uma possível relação com Austin que, na mesma guerra, mesma época e país desenvolvia, provavelmente enquanto auxiliava a inteligência militar e civil inglesa na contra informação e na análise de informação, a sua já consagrada é indispensável teoria dos atos de fala. Antes disso trato do filme e depois dos atos de fala de Churchill com socorro da teoria de Austin.

O FILME

O destino de uma nação também contém um ótimo conteúdo contra o fascismo e em defesa do acesso a verdade para o povo de um país. Os discursos de Churchill possuem um caráter altamente popular e apelam para o sentido de liberdade de cada um dos seus interlocutores. Desistir nunca, se entregar jamais, lutar sempre e defender a liberdade e a democracia. Parte do que o filme não mostra, fazendo certa sombra sobre isso inclusive, é que haviam ingleses e americanos - tanto quanto franceses - simpatizantes ao nazismo porque viam nele uma possibilidade de impedir o alastramento de partidos comunistas e também o crescimento de posições trabalhistas mais à esquerda. Ao ver o filme fui provocado a pesquisar um pouco mais sobre o período para além dos discursos e nos bastidores das relações entre Inglaterra e EUA.

Apesar de ter uma coleção de críticas assimiladas sobre Churchill, tenho muita admiração sobre este aspecto dele ao ponto que, dentro dos meus limites de conhecimento, considero ele o melhor orador e líder político da segunda guerra. Em uma obra de um historiador de certa forma reconhecido, John Lukacs, Cinco dias em Londres, temos a defesa da importância de Churchill na derrota a Hitler e ao nazismo na segunda guerra mundial. Esse extremo papel é expresso por lukacs assim: “sem Churchill a Alemanha e Hitler jamais teriam sido derrotados. É preciso, ainda, esclarecer uma questão de natureza problemática e histórica que é apresentada no filme.

Alguns críticos apontam que Halifax e Chamberlain não eram os traidores que aparecem na tela de Darkest Hour. Ora, de fato Halifax cumpre papel importante na estratégia de guerra inglesa. Porém, parte do mis em scene entre Churchill e seus dois colegas de partido conservador, um ex-primeiro ministro com grande resistência a entrar em guerra e que foi de certa forma o responsável – não solitariamente, veja-se Lidell Hart a este respeito - pelo total despreparo militar dos ingleses para resistir ou enfrentar Hitler, marcado por algumas simpatias de ingleses poderosos por ele, e Halifax o preferido do Rei e de nove entre dez conservadores para suceder Chamberlain, não pode encobrir o fato apontado no filme que o próprio Halifax indica – após ser aclamado pelos membros do partido – Churchill como o sucessor ideal ao cargo tendo em vista seu destemor e também sua abordagem completamente avessa aos não aos alemães, mas a Hitler. Em Dunkirk, o filme, fica em aberto o mistério de porque Hitler não exterminou todos os ingleses e franceses abandonados, sem perspectiva de remoção, naquelas praias tenebrosas, porém, é preciso considerar que o fio tênue de negociação entre os ingleses e os alemães via intermediação – remunerada – dos italianos se manteve até o último período da retirada completa dos ingleses daquelas praias. É curiosa também que essa façanha só foi possível ser mantida por diversos vazamentos de um americano que assessorava Joseph Keneddy na embaizada americana em Londres. Esses vazamentos davam conta de tendências de enegociação de uma paz por Chamberlain e Halifaz e da intransigente posição de Churchill que apesar de considerar e balançar essa possibilidade tinha completa aversão a isso. Duas cenas do filme ajudam a encobrir ou a fazer algum mistério disso. A primeira é o passeio de metrô de Churchill e sua consulta aos súditos e súditas às cidadãs e cidadãos britânicos. Ora, parece ser inverossímil que o Sir Churchill faria tal coisa ou precisa de tal atitude para se convencer da opinião ou tirar febre da opinião do povo inglês. Mesmo assim a cena para mim é brilhante, pois o Never expresso em uníssono pelos passageiros do trem dá um sinal claro da expressão política e do sentimento do povo inglês de jamais se entregar ou se render a qualquer invasor. É importante apontar que aquela ilha jamais foi invadida, salvo pelo romanos que acabaram por fortalecer e contribuir na formação daquele povo. Franceses e espanhóis que o digam. A segunda cena é a pausa nas discussões entre Neville e Halifax contra Churchill perante todo o gabinete, em que eles ficam à sós, somente os três, para confabular sobre a tática perante os alemães e Hitler. Apesar da cena não enunciar qual o encaminhamento da reunião, é bem plausível se compreender que tratava-se de manter na perspectiva inglesa uma linha de diálogo com os alemães, via italianos basicamente para ganhar tempo, encontrar uma alternativa de retirada de Dunkirk e ser capaz de sobreviver aquela situação tenebrosa para todos eles sem exceção. Os detalhes da história dos motivos pelos quais os alemães não liquidaram passam por diversas hipótese ainda hoje.                       

Os discursos e performativos de Churchill, como se pode atestar no filme e em outros textos que já circulam, são exemplares. Muito além de sangue, suor, labuta/trabalho e lágrimas o que Churchill fez, foi, nas palavras com que Halifax aponta, no momento crucial do filme, “mobilizar a língua inglesa para a guerra.”

DISCURSOS DE CHURCHILL - EXCERTOS

AUSTIN E CHURCHILL

Sempre quis saber se Churchill teve algum tipo de influência, contato ou diálogo com Austin. Fico curioso com a hipótese inclusive de ter sido um bom case para a análise dos atos de fala. A força da palavra e da expressão dos atos de fala de Churchill bem que merece uma análise minuciosa considerando-se contextos e suas respostas a cada um deles e dos elementos nos cenários de fala. Vemos durante o filme todo as proezas retóricas de Churchill, sua capacidade de emular um sentimento de resistência contra o perigo alemão ou nazista, contra Hitler de tal modo que não é difícil enquadrar ele como um orador de força ilocucionária extremamente eficaz. Churchil, e isso é muito notável no filme, assumiu o cargo de primeiro ministro num momento muito trágico da Inglaterra. Em dez de maio assume e em 13 faz seu discurso de posse. Mas logo em seguida é informado da eminente invasão da Holanda, da Bélgica e da França pela blitzkrieg nazista. Logo mais se defronta com a terrível situação dos mais de 300 mil soldados ingleses e franceses sitiados em Dunquerque.

O filme possui muitas virtudes, além disso que vou destacar aqui e que foram textualmente assinaladas por Pablo Villaça que cito abaixo para começar:

"Gary Oldman, um dos atores mais talentosos de sua geração, oferece mais uma grande performance; o design de produção é impecável, fazendo um trabalho de recriação de época formidável; e Winston Churchill é um personagem fascinante por natureza – e não só por sua história, mas também por sua aparência, seus maneirismos e sua dicção particular.
Para mim aquilo que é uma desvantagem para o Pablo o filme que "só traz diálogos memoráveis quando estes são citações diretas de Churchill ou do Cícero que este tanto admira" é uma vantagem porque me permite analisar literalmente os atos de fala de Churchill e o arcabouço geral e a efetividade histórica ou fatual  dos seus perfomativos. Assim, excluindo-se a duvidosa viagem de metrô em que Churchill conversa com populares, praticamente todo o resto das suas falas consta em biografias e em relatos quase oficiais dos acontecimentos entre 9 e 29 de maio de 1940.

Segundo Pablo, a citação literal "compreensivelmente, já que o dom deste para a oratória era tamanho que acabou por revolucionar a língua, refletindo os talentos do próprio político britânico".

A crítica mais detalhada, ampla e completa que conheço é do exímio Pablo Villaça. Nela ele fala também do Universo Estendido, ou seja d conjunto deste filme somado a Dunkirk e ao Discurso do Rei, do qual o filme faz parte e ajuda a explicar.

Austin estudou Aristóteles e Leibniz durante sua formação e de ambos herdou uma tradição que se fortaleceu em seu espírito com duas vertentes bem originais. De Aristóteles a idéia de analisar as diversas formas de dizer, já de Leibniz sofreu certa inspiração em relação ao projeto leibniziano de construir uma linguagem universal.    Dentre os vários modos possíveis de se dizer uma mesma coisa, o modo escolhido está relacionado com o sentido do que é dito. Designa-se duas formas básicas para o que é dito uma forma é a “constatativa” de natureza mais descritiva e a outra forma é a “performativa” de natureza mais prática para aquilo que tem o objetivo de gerar uma ação ou expressar uma ação. Nesse sentido as expressões na descoberta de sua teoria a partir da observação dos nossos usos comuns da linguagem teriam uma “força elocucionária”. Desse modo, Austin após perceber que jamais uma coisa dita é exclusivamente indicativa acabou por caracterizar melhor os tipos de expressões ou as formas como expressamos coisas diferentes com objetivos diferentes. Esta teoria ganhou o nome de Teoria dos Atos de Fala e uma distinção mais fundamental foi estabelecida entre atos locucionarios, ilocucionários e perlocucionários. Austin, de certa forma, escreveu: Sense and Sensibilia e Quando dizer é fazer, ambas obras publicadas postumamente em 1962. Suas teorias foram ganharam muitos adeptos na filosofia analítica e em especial nos Estados Unidos seu discípulo John Searle deu um desenvolvimento nova a sua teoria de certa forma complementando e analisando mais ainda as formas das expressões ou tipos de expressões. Já, na França, a Teoria da Linguagem de Jacques Derrida se baseia em parte também em seu trabalho.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Austin serviu no British Intelligence Corps. Foi dito já que "ele mais do que ninguém era responsável vital pela precisão da inteligência do dia D" (relatado em Warnock 1963: 9). Austin deixou o exército em setembro de 1945, com o cargo de tenente-coronel. Ele foi homenageado e reconhecido por seu trabalho de inteligência com uma Ordem do Império Britânico, a Croix de Guerre francesa e a Legião do Mérito dos Oficiais Americanos. (ver o verbete Austin na Enciclopédia Stanford de Filosofia.)

Perfil e seus riscos


Traçar perfis tem sido uma prática corrente nos dias de hoje. O interessante é que isso tem sido feito a cada dia com mais frequência. Parece até que logo teremos mais perfis em vida do que obituários. Já usei por mais de uma vez o exemplo da questão de saber se uma vida foi feliz ou não, certa ou errada, satisfatória ou não, no momento da nossa passagem para as câmaras da outra vida, a morte. O desaparecimento de alguém do mundo da vida parece ser mesmo o fim de uma obra e de uma existência. Como se uma vida só pudesse ser avaliada após transcorridos todos os seus momentos. Mas fazer perfis tem ultrapassado esse limite. Mesmo sabendo-se que eles são retratos provisórios tem sido mais e mais frequente fazer isso.  
    
É, também, muito comum correr este risco de prejulgar as pessoas com base em alguns traços e características de seu perfil visível. Esse hábito é sim bem comum, mas elide o fato de que sempre será necessário ultrapassar as aparências e aquilo que de si uma personagem torna visível. Nós que lidamos com muitas pessoas em transações, relações e vínculos de todo tipo e de formas diferentes sempre corremos esse risco de rotular, fazer um prejulgamento ou perfilar as pessoas de modo errôneo a partir de seu perfil preferido. Imagine que todos escolhem as imagens de si que serão mostradas e exibidas.  Como pensar nisso quando uma foto é revelada de forma errada e se queima o seu negativo? Assim, muitas vezes, a distorção é privilegiada e a imagem que fica é aquela que é resultado ou de uma escolha ou de um acidente. Quando o reagente, reage por tempo demasiado no negativo perdemos a nitidez. Tendo a imaginar que o tempo e as seleções de perfil e também os acidentes acabam por nos afastar do real e nos fazer ver apenas um resto ou uma sobra, um pequeno fragmento desse perfil. Sendo assim, além dos segredos ocultos e das intimidades não figurarem no perfil, temos a desvantagem de não poder ver o todo – o exemplo do fim da vida ou da obra, e, também, a desvantagem de não ter um retrato resumido e atual que faça justiça ao retratado. É por isso, me parece, que tanto a fotografia como a escritura, e nesse estilo as biografias, parecem ser artes, porque só vira definitivo nesses tipos de registros, aqueles que conseguem superar as aparências ou as circunstancias limitadoras do tempo e da perspectiva de um observador.  

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Fantástico deu Nota Cega sobre as Denúncias de Intercept


Tá melhor que a encomenda. Essa foi a primeira reação da imprensa oficial às denúncias contra a Lava Jato. Mas começaram a disputar a narrativa para depois esvaziar o impacto. Acho importante que todos e todas compartilhem as notícias, a nota da defesa do Lula, criem memes e batam sem dó e nem piedade nesses canalhas de toga e na imprensa que tenta manipular a notícia. A parte importante é que na conjuntura que antecedeu a greve geral contra esse esbulho de governo e presidente que foi construído sob essa farsa. Pau neles!

Nota cega: Eles tratam a notícia desse tipo sempre de uma forma como se parecesse que eles não sabiam de nada antes e que também não sabem de nada que vai acontecer depois. Mas sempre invariavelmente tentam manipular o caminho da informação e a direção das investigações para se proteger, proteger os seus e garantir essa aparente isenção jornalística. Quero dizer com nota cega em ironia a nota pelada que na Globo é sempre a apresentação de uma máscara sem identidade e aparentemente vazia. Porém, só encobrem o que já sabem para dosar a informação e direcionar a interpretação e a compreensão do público ao seu ponto ou target desejado. Foi sempre assim e vai continuar assim. É evidente para mim que eles for beneficiados diretamente pelos vazamentos e contribuíram com os timings de toda essa operação antes do golpe e depois do golpe. Assim como também abafaram todos os escândalos sobre o caso do Queiroz e o assassinato da Marielle. Para eles todas as ligações são acidentais ou coincidências quando se tratam dos seus interesses, mas contra os adversários são sempre causais. Curiosamente, até mesmo a doutrina controversa do Domínio do Fato usada no mensalão contra o PT, para os seus aliados é absolutamente negligenciada.

LOUCO DE SEM VERGONHA


LOUCO DE SEM VERGONHA



Bolsonaro é um louco, é o que afirma em seu texto o ótimo jornalista Gilberto Dimenstein. Ele faz isso ao sugerir que listando algumas das manifestações e posições absolutamente insensatas dele, dá para fechar um quadro de loucura. Eu penso que ele fica na fronteira entre a loucura e a insensatez e o nome disso para as nossas avós e os antigos era outro.

Porém,  essa mensagem também permite perceber justamente essa outra forma de insensatez, que é julgar que um insensato é candidato a alguma coisa, é eleito e recebe um mandato ou mais e continua nessa marcha da insensatez, mas que é alguém que pensa solitário e ganha um crédito acidental dos demais.

O mesmo erro foi cometido com Hitler. Vejam o diagnóstico psicanalítico de 1943 dele publicado pela editora Leya.

A lista de exemplos de Dimenstein está correta e pode ser aumentada, inclusive, só que eu não gostei nada da qualificação ou diagnóstico de loucura, não porque Dimenstein não possa dar o diagnóstico que quiser, mas porque na verdade isso funciona da seguinte forma, assim com esse modelo de abordagem da insensatez política.

Então, o Bolsonaro é o louco, é o pirado, é o esquizofrênico, é o paranóico e, esse bando de gente ruim, perversa, grosseira, essa coleção de demagogos reacionários, estão se escondendo nas costas dele. Vamos dizer que se resolve o problema dele, seja de que forma for, fechando o diagnóstico e internando esse monstro de insensatez, tirando do poder, botando na cadeia, pendurando num poste como Mussolini na Itália, enforcando numa árvore, como no velho oeste, alguém acredita que estará tudo resolvido?

Surge um pequeno probleminha aí: e os outros?

Veja bem, ao contrário, você tem que bater sim na política e nas posições políticas que ele representa, para tirar as pessoas dos braços dessa insensatez e educar as pessoas para criar aversão a isso, mas isso não basta. Veja isso precisa ser feito  - não para eleger o PT ou a esquerda - isso pode ser possível ou não, mas para defender a democracia, para defender a volta de alguma margem de sensatez e a volta de algum progresso e ordem Institucional real para o Brasil voltar a ser feliz de novo, exatamente como diz o Lula, e acabar com essa onda coletiva de insensatez e retrocessos.

É verdade que só bater nisso ou só polarizar em relação a isso não vai derrotar essa mentalidade.  É isso que afirmam os defensores da terceira via. Porém, há também algo insensato na mentalidade deles também. Porque eles se avistam como alternativa para vencer os insensatos sozinhos e sem unidade com os demais. Isso só vai mudar se você não continuar assim. Você precisa se encontrar  com uma sensação real diferente dessa que, de fato, agora entendeu que tem mais gente como ele e passa a ter a certeza de que ele tem eco na sociedade e que esse eco na sociedade tem apenas aumentado devido a sua posição de omissão e de faz de conta que está fora dessa polarização. Para enfrentar isso, portanto, se você quiser se afastar dessa insensata ironia do destino, só com uma grande frente política nacional de resistência democrática muito ampla. Porque, você precisa reconhecer isso, vai ser preciso reeducar a sociedade e as instituições. Veja que isso inclui também setores da elite e de altos escalões da república e em diversos poderes de estado.

É esse, eu acho, que foi o erro de todos aqueles que o rejeitaram a priori e de forma inegociável desde o começo e até hoje, cometemos em relação a ele, durante todo o mandato dele de trinta anos como um príncipe maluco do baixo clero na câmara dos deputados. Veja que na época a proposta era não machucar não tocar nele e ele nesses trinta anos de deputado acabou sobrevivendo e crescendo. Só Maria do Rosário e alguns poucos deputados se ocuparam ou se postaram efetivamente contra ele. O erro foi tratar ele como louco e daí não precisava enfrentar ele porque ele é louco. Passado todo esse tempo alguns perceberam: mas já tem um bando de loucos que acreditam nele. Essa gente concorda com ele, porque essa abordagem grosseira da vida real é a abordagem mais simples e mais fácil dos problemas.

E foi assim que essa coisa maluca e insensata de reduzir dispositivos legais que garantem a segurança e a vida de milhões de pessoas foi jogada para o espaço. Tanto o debate e o raciocínio débil dos eleitores dele em relação às leis do trânsito, quanto em relação às armas, são parte dessa insensatez simplória e grosseira, mas é bom perceber que essa concepção tem um corpo bem mais amplo de propostas em diversos ministérios e não somente na boca do insensato e de alguns destacados seguidores dele..

Nossas avós diriam algo simples assim: esse cara é louco nada, esse cara é louco de sem vergonha. E com ele tem mais um bando de sem vergonhas e insensatos marchando na mesma direção e tentando levar toda a sociedade brasileira junto.

Na imagem a carta Zero do Tarô, o Louco ou The Fool.

O ATAQUE DE MENTIRAS É CONTRA A SAÚDE DO POVO DE SÃO LEOPOLDO


Ao contrário do que alguns afirmam irresponsavelmente ou por comoção, não há nenhum abafamento ou segredo promovido pela Administração Municipal em relação aos dois óbitos por Meningite B e C em São Leopoldo.

Veja que tem sido apresentadas respostas para todas as questões por parte do governo na rede de saúde que está fazendo um grande esforço para zerar o déficit de vacinação causado por boicote e nas demais medidas já anunciadas e nas informações sobre a patologia e seu histórico na cidade divulgadas também.

A vacina C tem na rede e se está promovendo a vacinação preventiva de todos que não a fizeram, cobrando do estado o fornecimento das vacinas e a rede de saúde está toda em alerta e atenção máxima em virtude dessa situação. A quimioprofilaxia da B, o governo irá aplicar nos casos de contato da vítima da B.

Não tem histeria nesse debate. Os que falam em surto é que estão promovendo pânico e estão tratando o assunto assim para gerar insegurança na população.  Nós, portanto, estamos enfrentando uma abordagem irresponsável que argumenta que um há surto de um vírus sem base técnica, médica e científica. Aliás, nenhum dos que afirmam isso faz uso de protocolos ou normativas de Vigilância em Saúde. Portanto, estão exercitando sua retórica sem nenhuma base técnica e científica.

Sobre um surto é preciso ainda dizer que o Guia de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, preconiza que a decretação de surto epidemiologico é declarada conjuntamente pela Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e Ministério da Saúde. Nesse sentido, as três esferas de responsabilidade já estão em vigilância e em regime de colaboração, com toda a responsabilidade exigida.

O debate está sendo protagonizado com muita paixão e irracionalidade, mas nenhuma das informações apresentadas pelo prefeito, pelos gestores municipais e da saúde municipal e pela comunicação social da administração são inverídicas, falsas ou obtusas. Não tem abafamento ou cobertura parcial alguma. Não é essa a postura da administração e nem de seus agentes.

Escrevi um texto mais amplo ontem, apenas para colocar esse debate no quadro geral da grande mentira que há por trás disso. Essa mentira é promovida de forma irresponsável por lideranças políticas de oposição que querem estimular o ódio e a raiva em meio a população e tentando obter dividendos políticos disso, aproveitando-se inescrupulosamente da comoção de familiares e amigos das vítimas. O pânico gerado através da exploração sistemática desses eventos, através de vídeos e discursos, publicações e postagens em redes sociais do Facebook, WhatsApp e outros é criminoso e muito indigno com o sofrimento das famílias que tiveram essas perdas irreparáveis e com as famílias que tem pesadelos e aflições provocadas por esse terrorismo vil. 

É bom lembrar que esses adversários são, em alguns casos, simpatizantes da ditadura militar e de defensores notórios de ditadura militar que, justamente, foi o momento em que ocorreu o abafamento de um surto de meningite em diversas cidades do Brasil em meados dos anos 70. É bom lembrar que essa é a prática autoritária e violenta clássica e bem conhecida de quem censura a verdade e reprime os questionamentos, pois julgam que não precisam responder por seus atos o que marca justamente a psicologia clássica e bem conhecida do carater dos responsáveis. Contra o qual, aliás, muitos lutaram de fato contra os esforços de abafamento acompanhados de repressão do governo militar. É importante perceber isso  com conhecimento também. Agora, a situação é completamente inversa. Pois o governo atual não somente está falando e explicitando suas medidas e ações publicamente e sem censura alguma. Aqueles que são herdeiros ideológicos dos que promoveram o abafamento dos anos setenta, alegam abafamento nos dias de hoje em que a sociedade se encontra livre de qualquer constrangimento institucional. Não há surto ou abafamento da situação de vigilância em saúde, mas sim manipulação e uma promoção de desinformação com objetivo estritamente político e sem nenhum prurido e escrúpulo em explorar o sofrimento dos familiares, colegas e amigos das vítimas.

Isso é muito grave e veja que a imprensa regional e municipal tem tratado dessa situação com cada vez mais responsabilidade também. O que deve servir de alerta para que os irresponsáveis suspendam as iniciativas de insuflar terror através de desinformação.

Dito tudo isso, o mais importante agora é o esforço da população e da rede de saúde para atualizar a vacinação das crianças para essa patologia e valorizar mais a carteira de vacinação e derrubar certo boicote a vacinação que tem sido promovido nos últimos anos também por algumas facções e personagens que surgiram fazendo campanha contra a vacinação das crianças, se aproveitando também de desinformação e disseminando um mito de insegurança sobre as vacinas de que a vacina é desnecessária e/ou faz mal a saúde.

Texto feito para responder a boataria de alguns vereadores de oposição e algumas lideranças de oposição sobre a Meningite em São Leopoldo. De 03 de abril de 2019.

OS FISCAIS DA VENEZUELA NÃO ENXERGAM O BRASIL QUE ESTÃO CRIANDO


Os fiscais da democracia na Venezuela engolem ditaduras, golpes, torturas, perseguições políticas, justiça parcial e seletiva, fraude eleitoral, governos medíocres, privilégios para corporações poderosas, benesses para grandes empresas, massacre de índios e líderes populares e comunitários, mentiras, ofensas, ataques e desrespeito aos professores e professoras, motoristas laranjas, atentados e facadas fakes, queimadas na Amazônia, Dia do Fogo, nomeações de pilantras, estúpidos e despreparados no governo federal e toda essa tragédia que vem acontecendo no Brasil. Quando não engolem, ajudam a produzir, sustentar e promover. Quer saber? Para quem tem um problema como o Brasil atual, falar da Venezuela é chinelagem e canalhice!

domingo, 25 de agosto de 2019

SOBRE A FORMAÇÃO DO PT: PEQUENA NOTA


SOBRE A FORMAÇÃO DO PT: PEQUENA NOTA

É preciso analisar a formação do PT e o tempo histórico que o engendrou sob alguns aspectos bem importantes na história brasileira. Não se trata apenas de afirmar que a retórica está ultrapassada. De fato, creio que a compreensão mesma desse período de engendramento do PT e de seus compromissos, ainda não foi devidamente atualizada.

O PT é produto direto do ciclo de industrialização e urbanização do país iniciado nos anos 30, que levou a ruptura do velho sindicalismo oficial em choque com o ciclo histórico ditatorial, onde também ocorreu a formação do estado nacional brasileiro, com criações de estatais e um ciclo de desenvolvimento nacional.

Além disso, é importante observar que parte decisiva dessa formação histórica é combinada com a luta pela redemocratização do país, o enfrentamento da inflação galopante, a conquista das instituições sindicais, a formação dos movimentos sociais e que tudo isso foi coroado pelo intenso processo de urbanização do país.

É preciso lembrar que nos anos 30 e 40, 80% da população se concentrava no campo e que ao final dos anos 80, mais de 80% estava concentrada nas cidades. É bom lembrar também que a primeira eleição direta após a ditadura militar o Brasil embarcou na onda neoliberal que foi agravada mesmo após a queda de Collor, nos governos de FHC. Foi deste período que o PT, após 22 anos de construção partidária conquistamos a presidência da república com Lula, nós o reelegemos e depois elegemos Dilma e a reelegemos.

Ou seja, vencemos quatro eleições federais no bojo desse projeto de resistência ao neoliberalismo e de tentativa de barrar os impactos do capitalismo e do mercado sobre a nação brasileira. Mas isso atingiu um limite cultural e de compreensão histórica. 

TRAGÉDIAS CULTURAIS E DECADÊNCIAS MORAIS


TRAGÉDIAS CULTURAIS E DECADÊNCIAS MORAIS

Das tragédias culturais do nosso tempo. Algumas das mais graves, vem revestidas de uma retórica modernista e inovadora, progressista e com mira no futuro.  Estes caras que adoram estufar o peito e falar em atualização, modernidade e inovação estão completamente ultrapassados e descartados, só não se aperceberam ainda assim, são decadentes e ultrapassados, não viram ainda isto claramente e as instituições deles também não. Tem uma retórica e uma cultura do atraso enlaçado. É um atraso cultural, conceitual, político, moral e espiritual daqueles. É assombroso ver isto num curto espaço de trinta anos ocorrer tão nitidamente no nosso país e no mundo.

OS FUZIS (1964), DIREÇÃO DE RUY GUERRA.


OS FUZIS (1964), DIREÇÃO DE RUY GUERRA.

O impressionante texto de abertura, no tom exato e no tempo, na dicção árida e na impressão da seca terrível do sertão nordestino

"Quando já não havia mais folha nas árvores e nem frutos na ramada e do céu vinha em devir o castigo para o pecado do sol, cercaram-me o gemido da morte, envolveram-me as dores do inferno em minha angústia, invoquei ao senhor e do seu santo templo ele ouviu, ele ouviu a minha voz, foi quando mandou um castigo terrível, para que os home voltassem a lembrar seu nome.

A terra está numa seca que o coração do home sem crença e ele disse:

 aquele que tiver maior desespero e sofre mais do que eu sofri no calvário, será o portador de minha vontade."

Recomendo.

SOBRE PASTORAL AMERICANA: O FILME – COM SPOILERS


Estou olhando um soco. Parece que nuca acaba, que a tragédia nunca termina. Veja Pastoral Americana na Netflix.

Agora consigo falar. Fiquei muito impactado pelo filme Pastoral Americana baseado na obra homônima de Phillip Roth. 

Até a metade da trama tudo corria bem, mas tive o tempo todo uma sensação massacrante de que se reservava um desfecho terrível e, então, passei o tempo todo com aquela sensação torturadora que aguardava o pior. Haviam diversas sensações da impotência do personagem perante o seu destino. Me lembrou Stoner – Livro fantástico de John Williams em que um homem faz um esforço tremendo para ter uma vida digna e passa a vida navegando e desviando de certas armadilhas, maldades, azares e ardis do destino ou de outros homens e mesmo de sua esposa. São homens de dignidade extrema que fazem diversas escolhas de compromisso ao longo da vida, não de preferência. Ocorre com eles uma espécie de resistência do caráter que apesar de tudo que ocorre a sua volta, não dobram a espinha ou não se curvam às fatalidades, e que apesar de sofrerem e serem infelizes com tudo isso, preservam uma espécie de felicidade subjetiva.

O Sueco, personagem resistente e principal da trama, tem um caráter que percorre toda a trama sem dobrar-se. Então, chega um certo ponto em que o problema não é mais a fatalidade que lhe ocorre, mas sim a atitude correta que ele julga ser a melhor para enfrentar essa fatalidade.

Vi o filme até o fim em sofrimento e reflexão. As vezes parece que as principais lições da vida vêm desse jeito mesmo. Somos curtidos e desafiados pelos problemas, conflitos e pelas horas, dias, meses e anos duros.

As impressões mais didáticas, por assim dizer, são dadas pelo contexto da trama. Ocorre nela o famoso e já tipificado choque de gerações dos anos sessenta, que já foi reencenado antes, mas que continua sendo reencenado por conta do que passam as famílias em meio a um mundo em ebulição e que historicamente parece ser mais desafiador a partir do século XX.

A culpa do pai pela gagueira da filha e a sua punição parecem indicar o efeito principal. E a punição do pai por conta de não ter dado o beijo na boca da filha que em seu momento edípico lhe pede suplicante. Parece que ela acreditava que esse beijo sagrado a transformaria na mãe linda e maravilhosa de concurso e que suprimisse a sua gagueira.

O Nathan Zuckerman – personagem guia e alter ego de Phillip Roth, o Fantasma onipresente que teceu a trama trágica - no começo e no fim do filme coloca o autor como uma testemunha da história trágica e apresenta a sua voz como a de um narrador, um corifeu.

Ao final, a mãe não interpela a filha que chega ao caixão do pai, porque ela sabe que também tem sua parcela de culpa na infelicidade daquele homem. E assim fecha-se a trama com a impotência e a consagração da culpa e a punição final.

O sueco era um homem íntegro e isso se mostra em vários momentos. Aliás, eu gostei muito da firmeza dele e da sua força verbal de reação ao que lhe diziam.

Por fim, isso só mostra mais uma vez que por melhor que você seja, ninguém vai te poupar ou te dar moleza. Nem mesmo aqueles que você ama tanto.

É um grande foda-se para todos os fodidos. Típico do Roth.

Post Scriptum:
O filme tem um delay, um timing torturador. É um filme em que você se sente uma cobaia, porque é arrastado e torturador. Como é uma história trágica. Se arrasta e vai aprofundar o sofrimento, vai nos mergulhar numa purgação ou catarse. Então, é por isso que é tão sofrido ver, mas é também por isso que você continua vendo. Parece que você quer se purgar de algo. Creio que todo pai deveria ver esse filme. Há uma expiação nele. Por isso, os filmes de ação e violência são mais rápidos. Porque colocam mais imagens e ação para ocupar a percepção e fixar nossa atenção, no depois imediato. Nesse filme temos a chave inversa. Ele procura fazer você sofrer junto, pensar junto, sentir junto e sentir a insegurança de um suspense. Você tem a sensação de que sabe o que vai acontecer, e não suporta esperar, mas não desiste. É uma encenação da perversão trágica. Exibe a nossa impotência. E ao exibir ela nos faz sentir empatia pelo personagem. É uma empatia forçada e indesejável. Você não quer sentir a tortura, mas você suporta estoicamente como o personagem. É tão real e plausível que não tem graça alguma. Não parece ficção. Roma, um outro filme com tom trágico, tem um conteúdo que parece ficção e que é um pouco inverossímil e mágico. Mas, Pastoral não. É muito verossímil. É um filme Excessivo na verossimilhança, Doloroso na sua possibilidade real. Não tem nenhum tempero ou requinte. É uma sensibilidade toda mortificada que nos tortura. O personagem do pai está sendo violentado desde a cena do beijo que a filha pede "como da mãe". Temos um complexo de Édipo realizado na negação. A filha mata o pai. Ele é cru e brutal. Temos um cheque mate ao pai. Que vai se repetindo e se aprofundando. E o pai vai ficando sem saída. A sensação de que a sorte dele acabou e que agora é só tragédia, nos apavora. Imagina isso, para o arquétipo masculino é um nocaute. A gagueira da menina projeta a culpa do pai. E o Nathan Zuckerman? Eu já imagino. Parece desenhado como a certa altura da vida o destino para desenhado para todos os homens e mulheres. Para mim, confesso que é algo que me dói. Me lembra meu pai nos seus últimos dias e as expressões de humildade e modéstia que ouvi dele em diversas circunstâncias da vida. Lembra muito, decadência necessária e programada da vida. É difícil não ser pessimista nesse quadro desenhado para nós.

Outra questão é a do feminino perverso que me lembra muito a Lilith – ou lua negra. A maldade no feminino é muito inesperada. Porque sempre se imagina o mal a partir do masculino. Não se acredita e nem se faz estatística desse tipo de fenômeno. O que sei é que no âmbito da criminalística as serial killers são mais raras. Mas nessa obra esse fenômeno parece mais intenso e mais trágico, tanto pelo aspecto da vingança quanto pelo grande ardil. Porque havia beleza ou sua possibilidade de realização de uma idealização. Os homens morrem mais cedo e se matam muito mais. Porém, a gente nunca olha para a relação disso com o feminino. Mesmo o maternal fica escondido. Por isso, é tão surpreendente quando aparece nitidamente esse tipo de personagem no cinema e na literatura e também na vida real. Tu não acredita no que está vendo. Estou falando do modo de recepção. Você torce a cabeça como um cão que avista algo que não compreende e que procura ver de outra forma para conseguir compreender. Você se pergunta: como assim? Essa sensação de estranhamento provém também da pouca Representação desse tipo de personagem feminina. Da rara Representação dessa mulher fatal. Eu reflito aqui um pouco com Cavell. Essa personagem não é só uma ficção, mas uma representação do real. Quando o mal não aparece como resultado de uma fraqueza ou acidente, mas como resultado do exercício consciente de uma força ou intenção. De uma deliberação, você percebe ele enquanto mal fundamental e radical. Esse mal está baseado em um caráter, não numa circunstância  acidental. De uma escolha que distribui culpas e punições. Eu sempre fui capaz de perceber o sadismo feminino por um detalhe estranho na minha vida. É meio que inacreditável. O mal não vindo da grosseria ou da estupidez. Mas de um refinamento ou de uma beleza. O mal que é gerado dentro da inocência. Me defrontei com isso muitas vezes. Creio que a nossa tendência é negar isso sistematicamente. Pensamos: não pode ser. Isso explica a atitude estoica e persistente do pai de Pastoral Americana.  Ele não desiste da filha. A esposa não quer saber de mais nada, ela vende as vacas, desiste de ser a esposa do homem heróico e se transforma ao ponto de ter um amante e fazer uma plástica. Mas o pai não larga a mão, não engole o destino. Parece um homem contemplando a existência e renitente com a injustiça que o destino joga sobre a sua cabeça. Ele não se avista em nenhum momento como culpado, mas sofre profundamente com o infortúnio. No final, você percebe que não adiantou nada. O desmoronamento desconcertante do sonho americano na tragédia da vida familiar de um homem faz jus ao título escolhido. Pastoral Americana é a encenação dramática de uma tragédia típica na América, de uma tragédia típica também da figura masculina em que tudo foi feito direitinho, para acabar tudo errado no final.

TIRANIA E TRAGÉDIA


Sim, a tirania parece ser incompatível com a excelência. É exatamente por isso que ela leva para a tragédia individual, familiar, coletiva e social. Precisa ser produto de uma excrescência vulgar e banal que acaba sendo bem sucedida durante um certo tempo, exaltando vaidades e veleidades, até que as consequências trágicas e deletérias começam a se suceder. Como disse na semana passada o filósofo brasileiro Rogério Lopes parece haver "uma ânsia pela tirania". Poderia ser aquilo que Nietzsche chamava de espírito dionisíaco, porém, considerando a mediocridade vigente, deve ser algo mais banal e trivial do que um efeito de grandeza e de desmedida, mas sim a pura vaidade individual combinada com ambição pessoal e oportunismo político.

Cito Rogério Lopes:

"Entre os gregos antigos havia uma suspeita que volta e meia era vocalizada pelos seus oradores, poetas trágicos, historiadores e filósofos; essa suspeita correspondia a uma hipótese antropológica extrema de que no fundo no fundo todo grego ansiava pela tirania. Platão escreveu boa parte dos dez livros da República para tentar convencer (antes de mais nada a si mesmo) de que essa não era a melhor forma de vida (caso ela pudesse se efetivar, como ocorre na suposição de um agente imaginariamente infalível, como aquele figurado na alegoria do anel de Giges). Os gregos temiam tanto essa possibilidade que elaboraram à sua maneira um sistema de freios institucionais para coibir essas iniciativas. Eles supunham, erroneamente, que apenas os grandes indivíduos eram capazes de cobiçar o poder dessa forma desmedida. Mas suspeito que boa parte dos tiranos que obtiveram sucesso na história foram indivíduos absolutamente medíocres. Diria mesmo que essa mediocridade foi uma condição indispensável para obterem êxito. O povo, esse termo fora de moda, ansiava pela submissão. Os medíocres são os candidatos mais aptos. E sua ousadia e desfaçatez se alimentam ou tiram proveito de sua inteligência absolutamente vulgar. Temos hoje no brasil um candidato que preenche esses quesitos. Não estou me referindo a esse fantoche que está na presidência."

AMOR E POSSE: FEMINICÍDIO


AMOR E POSSE: FEMINICÍDIO

Estou triste com o que ocorreu em São Leopoldo. Um homem de quarenta anos baleou no rosto uma menina de vinte anos porque ela não queria mais manter o relacionamento e havia, inclusive, solicitado medidas protetivas e restritivas contra ele. O fato ocorreu no mesmo dia em que se completou mais um ano da sanção da Lei Maria da Penha que estabelece essas medidas protetivas às mulheres vítimas de todas as formas de ameaças, assédio e violência.

Me dói perceber que persiste essa violência contra as mulheres que partem de homens que acreditam que amar elas, namorar elas, casar com elas ou ter filhos com elas, fazem deles donos da vida e do corpo delas. O conceito de amor e de posse persiste gerando essas violências e causando muitas vítimas de feminicídio no Brasil. E tudo isso ocorre num momento em que somos governados por pessoas que promovem e estimulam diversas formas de violência verbais e não verbais. O escândalo da situação em que hoje vivemos é tão grave que até mesmo o atual Ministro da Justiça ao comentar, em cerimônia oficial, o aniversário da Lei Maria da Penha consegue confessar a sua baixa compreensão desde tema. Disse o ministro Sérgio Moro que "os homens cometem violências contra as mulheres por sentirem se intimidados pelas mulheres".

Dada a expressão dele, a culpa é das mulheres. Pois, eu creio que os homens só se sentem intimidados pelas mulheres porque são incapazes de reconhecer a autonomia e a liberdade delas de serem, pensarem, se vestirem e se portarem e decidirem as suas vidas e os seus destinos como quiserem.

O fato é que há uma ilusão por trás do machismo e da violência dos homens sobre as mulheres, de que somente os homens t esses direitos e sai livres para determinar a vida e a conduta das mulheres. E eles só pensam assim quando julgam que possuem elas, seja por amar elas seja por compartilhar alguns momentos de suas vidas. A ideia de posse se confunde com o amor e essa possessividade é uma violência contra as mulheres que sendo silenciosa e tácita acaba aparecendo nas ações e nos gestos dos homens que não suportam ser frustrados em suas vontades, desejos e decisões pelas vontades, desejos e decisões das mulheres. É o pressuposto de uma imposição natural da vontade masculina sobre a feminina.

DIZEM QUE SOU LOUCO: SOBRE O SEU JEITO DE ANDAR (2014)


Conclusão, após assistir a um filme muito bonito. O seu jeito de andar (2014). Me lembrei da inocência dessa gente pueril e juvenil que faz alguns os julgarem malucos. E da simplicidade e amorosidade que se apresenta no filme que é para mim necessária nas relações humanas. Para não ter frescura e ser de fato importante para o próximo. Em coisas simples como proteção, cuidado, carinho e parceria, cumplicidade e respeito. O personagem masculino é simplesmente desajustado. É um rebelde que odeia às imposições de classe de sua família. Vive numa gangorra de aventuras e encontra uma menina criada sem contato com o mundo por uma mãe esquizofrênica e panóide. A mãe morre e a menina não sabe lidar com absolutamente nada. É internada como doente mental suspeita de ter assassinado a própria mãe. Fim do mini spoiler.

Penso que nos julgam loucos e loucas, mas na verdade não é nós que somos os loucos ou loucas, mas sim as pessoas que vivem, pensam e agem de um jeito absolutamente maluco de doido. Elas fazem muito mal a si mesmas e aos outros. Fazem um mundo maluco e acreditam que ele é normal. Reproduzem grandes loucuras e acham normal. E nós vivemos no meio delas, primeiro, tentando se adaptar, mas num certo momento nossa saúde e sanidade humana nos chama e a gente passa a ficar tentando o tempo todo escapar dessa loucura. Precisamos fazer isso mesmo. E quando dá certo isso descobrimos que a melhor forma de escapar dessa loucura é amar e ser amado, querer bem e ser querido. Contrária a lógica social imposta, contrária a loucura geral do mundo, mas então, quando entendemos isso, começamos a ser felizes. Começamos a encontrar pessoas como nós e começamos a amar elas também. Em alguns casos bem especiais dessa cura, começamos também a amar mais de uma pessoa. Para esses malucos é uma loucura, mas sabemos que não é, que não precisamos mais pirar mesmo por causa disso e nem pirar com quem não e tende isso. Deixa estar, ame e seja feliz. Essa é a mensagem.

LEMBRANDO O ROMANTISMO E LORD BYRON


LEMBRANDO O ROMANTISMO E LORD BYRON

"É esse vazio imenso que nos empurra para o jogo, para a guerra, para as viagens, para uma ação qualquer, mas intensamente vivida, da qual a atração primeira é a excitação necessária para praticá-la".



Lord Byron

Nada mais juvenil e romântico do que lançar-se à aventura, ao risco da morte e expor-se ao domínio da incerteza. O romantismo evoca a imagem do solitário e heroico, daquele que atravessa a tragédia e sobrevive. E muitos procuram exatamente isso mesmo: uma forma de viver perigosamente e arriscadamente, buscando um triunfo existencial para levar pela vida, como se isto apagasse completamente a rotina e o tédio de seus compromissos banais e reais. O cotidiano da normalidade não dá excitações. É um impulso juvenil em busca do prazer e do gozo da aventura, um impulso pueril que é reencenado em toda nova geração por alguns jovens e que faz uma peneira dos jovens que sobrevivem a isso, orgulhosos de suas façanhas e sobrevivência e que compõe o luto de muitas famílias. Irmãos, pais, mães, tios e tias, avôs e avós e os amigos, colegas e vizinhos assistem isso. Essa aventura destemida, imprudente e audaciosa se encena. Alguns são bafejados pela sorte, outros pelo azar ceifados., Outros jovens ainda são preservados  pela proteção de outros adultos ou jovens, outros são fatidicamente retirados desse mundo, desaparecidos. Gerações inteiras viveram isto e muitas outras testemunharam este impulso em alguns de seus contemporâneos.

Uma colega minha lembrou a fala de um analista sobre este tema de que algumas destas pessoas simplesmente não conseguem viver o lúdico. Elas não se adaptam aos acontecimentos aparentemente triviais e banais.  Me parece que isto se apresenta também em uma incapacidade de viver o cotidiano como um domínio também aberto à invenção, à surpresa, ao improviso e à criação. Não conseguem viver o raro momento escondido na vida comum, sem buscar uma grave e radical distorção de sua própria realidade, sem um cenário novo ou excepcional que pudesse remover as amarras da normalidade.

Daí surge isto que Byron chama de vazio imenso – fonte de angustia ou ansiedade - ou que alguns da sua geração de aristocratas e nobres vislumbravam como um aterrorizante e gigantesco tédio. Um tédio oriundo da fartura, da abundância da riqueza granjeada por seus antepassados que conquistaram riquezas explorando o mundo, a natureza, os demais seres humanos e tudo que se lhes apresentasse pela frente.

O mundo é um mundo a ser conquistado na visão deles - o colonialismo, o imperialismo e o radical individualismo burguês olham assim - e as gentes são gentes a serem dominadas, exploradas e submetidas a uma nova ordem. Até mesmo Rimbaud viveu essa experiencia lançando-se aos confins da África.  

Não é isso a tal vontade de poder? Em sua realização máxima...."vamos dominar o mundo" e calhou de acabar por serem escravos desta vontade...escravos de uma paixão pela aventura.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Dirigismo Cultural: Queer Museum e a reação a estética autoritária.


A pretensão de dizer o que deve ser criado, exposto e usufruído é a expressão máxima do dirigismo cultural. Se segue a ela também a determinação de como você deve ou pode viver. Você só pode gostar disso. Você só pode viver assim. Você deve morrer assim. O sacrifício vale a pena. Todos os sinais estão dados.

É muito mais conveniente para o sistema rebaixado e planificado pelo império da burrice, impor uma estética, tal qual um sistema completo de determinações.  Pelo achatamento estético da sociedade e da arte, passa o trem e suas malas carregadas de ódio e raiva. A energia a necessária para o grande sacrifício.

Na Alemanha onde houve talvez um dos maiores laboratórios disso o mau gosto era impuro, degenerado, contra uma tal estética Ariana. Era uma estética clássica mas sem o caráter dionisíaco e livre ou agônico. Por isso, que foi tão fácil sacrificar a metade do povo alemão em duas guerras. Na primeira pela ambição imperial da nação que quer ter supremacia política e econômica na Europa. Um gesto de coragem de um povo e de heroísmo de seus jovens. Depois a raça pura se vinga daqueles que a exploram, com a máxima violência do que segue o sacrifício de milhões de judeus e outros povos. Na Rússia socialista, o realismo impõe a máxima impessoalidade também. Depois, só o grande pai Stalin, a personificação da nação. Por isso, o sacrifício de milhões também foi possível. Tanto na implantação e primeira década de consolidação do regime, depois na perseguição aos traidores internos, por fim, na própria segunda guerra cujo sacrifício dos russos é absolutamente imbatível em números e em consequências. Veja que o gosto dirigido ou bem dirigido permite grandes milagres que vão da estética à demografia. Não vou falar aqui de outros exemplos. Na própria América, a estética foi absorvida pelos esforços de guerra. Na Inglaterra e mesmo na França a resistência aos invasores forjou uma estética ou contra estética de sobrevivência. No Brasil da ditadura militar quase toda a MPB afinou o samba em uma estética de sobrevivência para escapar ao dirigismo cultural da censura.

O que o MBL tenta fazer hoje é justamente isto: tentar impor um metro, uma medida e determinar os limites da arte aceitável e tolerável. Não se trata somente de uma conduta de censura.

Com a militância gaúcha mais conservadora desse movimento surgiu a fração mais reacionária e moralista do MBL. A contradição é tão grande com as frações de SP - e coloque o PSDB "de fé" por traz disso, que talvez a melhor cura seja trazer a musa nua e verde amarela para o sul e fazer ela militar nesse meio por liberdade sexual e orgiástica no movimento. Aqui no sul o MBL caminha então para a sublime purificação da carne, provavelmente num esforço desesperado de encontrar santidade por traz do seu venal pecado golpista. É fácil de entender ou ensaiar uma explicação do fenômeno aqui no Santander: eles estão desesperadamente em busca da pureza estética.

Compatibilizar isso com Alexandre Frota, Dória e sua faxina estética nos grafittis paulistas, Marquezan e seu apaixonado secretário de cultura, que encontrou o novo Caetano na política, são expressões do mesmo dirigismo cultural. Se vingar esse esforço de dissimulação e purificação, só precisamos aguardar os sacrifícios. Como diz a voz da experiência: isso ocorre assim desde que o mundo é mundo. O dirgismo cultural ou o cânone moral fazem um esforço de planificação é achatamento justamente para levar a padronização, a supressão do diverso, do rebelde - do livre? - para permitir a justa e firme direção ao grande sacrifício de purificação e salvação. Não é preciso voltar à idade média ou à Grécia e Roma antigas para saber no que vai dar.

Nietzsche tinha razão na sua grande intuição dialética entre o apolíneo e o dionisíaco. Quanto maior o esforço numa direção, maior o saldo na conta da direção oposta. Ou seja, a sociedade super livre, moral, organizada, limpinha, esconde em seu bojo a realização do maior caos e sacrifício. A beleza de Apolo, solar e celestial é intocável, já o Dionisíaco e seu instinto carnal pode ser destruído. O dirigismo cultural do MBL é uma façanha histórica, pois  ensaia, na estética, aquilo que busca no social: a aniquilação do real, do carnal e da expressão do diverso. Só podemos agradecer a iniciativa de acelerar com seu gesto extremado a reação contrária que precisa ser cada vez mais forte, porque é vital para a sobrevivência da liberdade real de criar, expressar, viver e pensar. O MBL tem, portanto, uma contribuição a dar ao Brasil com essa contradição entre o que chama de liberdade e aquilo que esconde em sua limitação conceitual e estreiteza essencial, onde é apenas um movimento que se quer "livre de alguma coisa", como aliás o nazismo se queria livre dos judeus e de mais alguém, ao ponto de querer e acabar sendo livre do próprio povo. É genial o efeito manada que encontramos ao prosseguir nessa análise, porque podemos perguntar todos aqui agora: o sacrifício vai chegar de que forma e quando?

Pois aviso que já chegou. Você que não está percebendo ou te tocando.  Olhe para os teus direitos, sendo dilapidados e destruídos com  a ironias e metáforas insuperáveis - do que a propaganda do "não importa como você chegou até aqui" do Santander é talvez  símbolo mais insuperável do grupo golpismo curativo e libertário, da agenda golpista inteira, olhe nas reformas trabalhista e previdenciária, olhe para os milhões do Geddel e os milhões do Temer, olhe bem as riquezas nacionais que sofrem mais uma vez a sanha do entreguismo, olhe para os educadores em greve, olhe para as políticas sociais exterminadas, para a democracia vilipendiada, para os abusos e arbitrariedades na justiça, olhe para a fome, a miséria e a desorganização material e espiritual da vida das pessoas. O dirigismo cultural é apenas a contrapartida estética do golpismo, assim como a reforma educacional do novo ensino médio, é apenas a realização na escola sem partido ou do partido único de um projeto de purificação e da supressão da diversidade. O dirigismo cultural não é sintoma, mas justamente o modelo adotado para achatar e preparar a plebe rude e pseudo ilustrada, para o grande sacrifício. A ponte para o futuro nos leva a todos para o abismo. Será que precisamos de mais avisos ainda? Me parece também, para lembrar como está caminhando o santo e seu andor, que precisamos mais uma vez de uma estética articulada e diversa de sobrevivência. E é bom que se aproveite os vãos de liberdade que ainda sobrevivem para fazer uma nova guerrilha cultural e impedir a consolidação desse novo dirigismo cultural. Aqui nosso impulso estético é vital.

P.S.: Texto publicado no ano retrasado por ocasião  da censura ao Queer Museum pelo MBL e que foi aceita pela direção do Santander Cultural de Porto Alegre.

A PAIXÃO PELA FILOSOFIA


A paixão pela filosofia, pela ciência, pela psicanálise ou a busca da sabedoria - que muitos resumem como auto-conhecimento, não é apenas uma paixão para si ou de si mesmo, é a paixão de conhecer e compreender a humanidade inteira ou toda a partir de si mesmo.

Vira paixão e, portanto, te captura a partir de um auto-exame e essa paixão se dá de muitas vezes de forma consciente. Porém, também ocorre – essa paixão – de forma inconsciente ou através da negação e da repressão.

Isso fica consciente, quando você percebe que está usando a si mesmo para fazer isso. Quando você percebe que isso é possível ocorre uma espécie de envolvimento maior com a compreensão e a auto compreensão que parece te levar diretamente para a rede das ciências humanas. Essa sensação parece te fisgar e te atrair para os conhecimentos das humanidades, letras e artes. Você fica capturado por esse tipo de reflexão que eu chamava de transitiva ou transitividade da compreensão. O contrário disso me parece ser a negação do outro, a partir de uma perspectiva de que ele é absolutamente diverso de ti e de que não há reflexão alguma que te faça compreender ele, entender suas razões ou mesmo, para pegar um exemplo paradigmático, colocar-se no lugar dele. Então, quero dizer com isso, que a paixão pela sabedoria, pelas ciências humanas, é um ato de empatia.

Ela pode ocorre, é preciso reconhecer ainda isso aqui ao final, de forma mitigada com menos consciência ou até com mecanismos de negação do conhecimento, entendimento ou compreensão do outro a partir de si mesmo, isto é, essa paixão pode ser inconsciente ou subconsciente. Nesses casos, me parece que ocorre uma espécie de dinâmica de resistência que reprime essa reflexão. Afinal, deve ser difícil comparar-se o igualar-se a um outro que nos gera aversão, a buscar razões naquele sujeito que te parece não possuir razões. Assim, pode ocorrer que essa paixão fique adstrita aos julgamentos morais – de culpa, auto punição ou repressivos, como diria Freud, mas nesses casos as pessoas ficam impossibilitadas de reconhecer as motivações para a ação, mesmo as ações erradas no outro e passam a somente tratar esse outro como um diverso negativo ou inferior de si.

Imagino que essa é a base da discriminação, do preconceito e do raciocínio que leva uma criatura tão miserável quanto as outras, a se sentir superior ou em um nível de justificação superior para a sua existência em relação as existências dos demais.                 

TEORIA DO ESPANCAMENTO DA ESQUERDA


Eu tenho estudado alguns intelectuais de alto nível da direita e de ultra direita, conservadores e fascistas e isso tem sido possível porque algumas obras estão muito acessíveis e baratas para sua aquisição em sebos. Outras obras tive acesso durante minha formação cultural e política nos anos 80 e depois já nos anos 90 tive acesso a todo o doutrinário neoliberal que foi introduzido no Brasil por Collor de Mello e depois foi seguido e aplicado pelos dois governos de FHC o que contaminou de vez a social democracia brasileira com o vírus do neoliberalismo em certa fusão com o conservadorismo e os representantes da ditadura militar. Imagino mesmo que a tomada do poder no Brasil, primeiro via golpe com Temer e o MDB e seus associados “com supremo e com tudo”, depois pela eleição de um candidato de extrema direita que consegue misturar pelo menos quatro concepções controversas para governar o Brasil. 

De um lado, ele é representante de uma facção que defende a Ditadura Militar no Brasil, assinando embaixo da tortura e elogiando torturador, de outro lado, e encontrei uma característica em comum entre todos eles no que se refere ao modo de tratar a esquerda, os governos de esquerda e todas as organizações que possam ter algum vínculo com a esquerda. Trata-se de simplesmente espancar ou agredir sistemática e brutalmente a esquerda. Pouca importância tem, nesse caso, se a esquerda está correta em seus governos, se as teorias são boas ou ruins ou se possuem algo de bom em meio aos seus conceitos. É preciso, segundo a maioria deles, desde Ayn Rand ou Von Hayek, não deixar pedra sobre pedra. 

Isso parece surpreendente para quem acredita que os debates econômicos ou o possam ser travados de um ponto de vista racional ou científico. Porém, é importante dizer, que do que se trata aqui propriamente é de uma disputa cultural  ou guerra de paradigmas. Então, é importante considerar que esse ataque sistemático tem seus efeitos no imaginário da população e tem também impacto nas mentalidades de todos, incluso aqui os militantes de esquerda cuja formação insegura ou titubeante, superficial ou de mera adesão simpática, não conseguem resistir ao confronto mais duro e que não conseguem encontrar argumentos para fazer frente ao espancamento generalizado de suas crenças.

Semana passada eu fiz uma interpretação que leva a questão crucial ou analítica aqui: porque os militantes de esquerda não conseguem reagir a esse espancamento por mais vil, covarde ou mentiroso que ele seja?

Na minha opinião é porque o espancamento tem sido tão intenso e tão sistemático que eles tem hoje introjetado um profundo sentimento de culpa e sentem um desconforto terrível em se expor ou em reagir a esses ataques. Eles estão vivendo - eu me incluo nisso - uma intensa luta interna para superar a sua apatia política. Na ocasião em que participei de um debate bem duro com um monte de gente importante na esquerda eu disse para eles olharem para si mesmos e se fazerem essa pergunta: porque eu não reajo?

No dia seguinte cheguei a conclusão de que vista assim as coisas, também  é muito importante se parar de ficar espancando os militantes e os dirigentes. Porque isso também só contribui para aprofundar a apatia e o desalento na esquerda.

Ou seja, em alto e bom som aqui, é bom parar de vez de promover  em praça pública ou auto espancamento ou flagelo dos dirigentes e militantes de esquerda.

Veja que isso é muito mais importante do que parece.  Porque o que te faz a pergunta tem que fazer não é não é perguntar ou julgar se isso é assim porque as pessoas estão velhas ou estão de cabelo tão branco, se estão com medo, você deve perguntar porque elas não reagem quando são atacadas. E eu cheguei a conclusão no dia seguinte, depois de muita reflexão somando as informações acima e analisando outras, que isso aí tem a ver com uma espécie, no nosso caso da esquerda brasileira, de trauma de governante ou burocrata. Esse é o mesmo trauma de quem é governo e de quem é direção, porque na esquerda a gente tem que provar que é o melhor, sofre uma vigilância interna e externa intensa e nessa vigilância sofre da crítica mais generosa e mais compreensiva até a crítica mais destrutiva, violenta ou agressiva o tempo todo e precisa aprender a suportar isso e a aceitar isso com repostas por assim dizer mais tolerantes e compreensivas e é aí que se abre o flanco para o espancamento indiscriminado na maior parte dos casos e muitas e muitas vezes injusto ou desonesto. É interessante que quase todos nós percebemos esses sinais quando entendemos o vale tudo dos adversários sobre nós. a gente. Porém, pensando agora,  ficou muito encoberto o caráter do espancamento que se seguiu. Nós normalizamos ou naturalizados o espancamento.

Os militantes, dirigentes e governantes ficaram em sua grande maioria sem reação e acostumados com isso. Nossos governos acostumados a ser espancados não tem capacidade de reação e de afirmação de diferenças e em sua maioria se envolveram e se encheram de concessões aos adversários. Isso foi acompanhado de recuos programáticos e de renúncias em concepções cruciais para a esquerda. O espancamento gerou uma demanda de chantagem que foi coberta e concedida.

Assim, no processo de espancamento houve uma renúncia tal que a não reação ficou como que determinada a partir dos escalões superiores. E assim as reações necessárias acabaram só correndo quando um general ou mais reagisse. Então, a tropa e divisões inteiras ficaram excessivamente disciplinadas e sem reação em virtude disso. Assim, o pessoal fica acuado e tem medo ser espancado externamente e, ao mesmo tempo, ocorre também um processo interno de espancamento da militância e dos dirigentes que é recíproco porque fica virado num jogo de culpa. De tal modo que se chega a um ponto em que todo mundo tem culpa, todo mundo é culpado e não tem que acompanhar mais ninguém nas reações. 

Sociologicamente falando perdemos a solidariedade orgânica primeiro com as fragilidades ideológicas e depois o espírito de corpo se esvazia e segue junto o fim da própria solidariedade mecânica mais elementar e primária. Segue-se de que todo mundo fica mais ocupado em se proteger ou se esconder ou em fazer ataques internos que se esquece de atacar os adversários externos e passa a ter um medo até mesmo de conversar sobre isso. Veja que curiosamente os adversários são extremamente covardes em sua coragem porque se servem muito mais de mentiras ou distorções da realidade, o que, aliás, mostra que se recua para quem não tem argumento nenhum. Olhando mais de perto se percebe que eles não tem moral nenhuma para nos atacar em nenhum quesito, mas como a gente ficou muito tempo sob a proteção do governo ou da burocracia ou sob uma disciplina partidária, uma disciplina da corrente, a gente acaba mesmo sem reação. Assim, a gente não tem capacidade de dar um movimento correto no jogo político e de dar o golpe correto e decisivo para responder ou reagir.  Por fim, eu acho que isso é uma questão bem importante: a gente tem que avaliar muito para romper com esse tipo de padrão ao qual fomos habituados com esse espancamento. Para romper com esse padrão de auto espancamento interno e partidária e não aceitar mais ser espancado de forma alguma externamente, até porque esses caras que tão espancando a gente todos os dias são completamente imorais. Veja que eles são gente que nunca militaram  em coisa nenhuma. Eles nunca deram uma hora de suas vidas de graça para coisa nenhuma. 

Então, eu digo que deu já o tempo de sermos espancandos sem resposta para quem gastou a vida militando e lutando por um mundo melhor.

DESINTELIGÊNCIA: O ESTADO NOVO E A CRISE DO INTENDENTE MUNICIPAL DE SÃO LEOPOLDO COM O INTERVENTOR ESTADUAL


“Outro fato veio trazer problemas nos meses iniciais da ditadura estado-novista no Rio Grande do Sul. Em abril de 1938 ocorreu um acidente que novamente preocupou Viriato Vargas. Tratava-se do pedido de demissão do prefeito de São Leopoldo, Theodomiro Fonseca, em decorrência de um desentendimento com Cordeiro Farias, recém empossado no cargo de interventor. A renúncia do prefeito deu espaço às forças oposicionistas ligadas a Flores da Cunha de articularem-se e buscar um nome comprometido com eles. Em carta a Getúlio Vargas, Viriato esclarecia a situação: “Há pouco deu-se uma desinteligência entre Cordeiro de Farias e Theodomiro Fonseca, prefeito de São Leopoldo. (..) Era uma necessidade que ele continuasse, é a única forma organizada que tem o novo regime aqui, afora São Borja. E o Cordeiro via bem isto. Aliás, o Cordeiro não teve culpa alguma”.( nota: 113. FGV/CPDOC, Arquivo Getúlio Vargas, GV.38.04.20/2.)

Como era politicamente importante manter o prefeito, ele acabou ficando no cargo. Esse episódio mostra que o Estado Novo não possuía no Rio Grande do Sul lideranças políticas suficientes para colocar à frente das administrações municipais e até do estado, necessitando angariar apoios de integrantes de partidos opositores a Vargas antes de 1937. Não havia getulistas suficientes para administrar a grande máquina pública criada ao longo do tempo pela experiência dos republicanos rio-grandenses.”  Assim, era preciso confiar em getulistas “de última hora” e conter as oposições mais recalcitrantes.”

IN: KONRAD, Glaucia Vieira Ramos. Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul : um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945). Campinas, SP: [s.n.], 2006, pp. 61-62.


SÃO LEOPOLDO DO MEIO AMBIENTE E O PARQUE IMPERATRIZ LEOPOLDINA


Os alemães, portugueses, afrodescendentes e indígenas, além de todas as outras etnias e culturas que aqui vivem, sempre tiveram no Rio dos Sinos um manancial para a subsistência, para a pesca, o cultivo de alimentos e a navegação.

A cidade é também pioneira em todo o Brasil e no Rio Grande do Sul, no movimento de defesa do meio ambiente, da flora e da fauna. Henrique Luiz Roessler é um dos pioneiros da luta em defesa do meio ambiente no estado do Rio Grande do Sul. Vivia às margens do Rio dos Sinos e fundou a UPAN – União Protetora do Ambiente Natural, esta entidade de defesa do meio ambiente na cidade e que junto com outras entidades e ativistas. Essa luta, que soma as contribuições de Roessler e de muitos outros promoveu mudanças em termos de legislações de proteção ambiental, construiu muitas campanhas de conscientização ambiental e foi decisiva na construção de uma relação mais saudável das cidades e seus cidadãos e cidadãs com a natureza. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente existe desde 1989 e é uma das primeiras Secretarias do Meio Ambiente do estado que cuida do tema com políticas avançadas e efetivas de proteção.       
    
O projeto do Parque Natural Municipal Imperatriz Leopoldina foi idealizado em 1994 por uma Comissão da Sociedade Civil com o principal objetivo de preservar essa área da especulação imobiliária e dando cuidados especiais na proteção da fauna e da flora do local. A partir de 2005, na Administração do Prefeito Ary Vanazzi, o projeto foi retomado com recursos de uma emenda parlamentar pela Administração Municipal, via Secretaria Municipal de Meio Ambiente, destacando os aspectos sócio ambientais, tanto para a recuperação da área, quanto para a transferência das 300 famílias que residiam no local para um loteamento adequado. O Parque foi inaugurado no dia 8 de dezembro de 2006. Ele possui, aproximadamente, 174 hectares, sendo toda a unidade de conservação constituída de Áreas de Preservação Permanente (APP). É um dos maiores Parques Ambientais em Meio Urbano do Brasil. Neste espaço são realizadas trilhas ecológicas com o objetivo de oportunizar ao visitante a vivência e a reflexão e promover educação ambiental. O Parque também possui diversos equipamentos e instalações que tem por objetivo valorizar o espaço ambiental e promover laser aos cidadãos.

Fontes:

Site da Prefeitura Municipal de São Leopoldo.

HARRES, Marluza Marques e RÜCKERT, Fabiano Quadros. A Natureza, o Tempo e as Marcas da Ação Humana: Políticas Públicas e Ambiente em Perspectiva Histórica. São Leopoldo, RS. São Leopoldo: Oikos, 2011.

Prisa – Programa Integrado Sócio Ambiental 2017-2020. São Leopoldo; Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 2018.

PEREIRA, Elenita Maltia. Roessler: O Homem que Amava a Natureza. São Leopoldo: Oikos, 2013.
  
 

UNISINOS


A Sede Antiga da Unisinos, localizada no centro de São Leopoldo, teve sua primeira parte construída no ano de 1880 com o auxílio de padres jesuítas. Seu principal objetivo era de estender o ensino já existente no Ginásio Conceição, considerado o primeiro ginásio oficial do Rio Grande do Sul, e transformá-lo na Faculdade de Filosofia e Teologia.

As primeiras paredes erguidas da construção do prédio da Faculdade contaram com a ajuda de vários padres jesuítas que já lecionavam no local. O estilo do prédio e suas colunas são típicos do estilo alemão do século XIX. Mas nem tudo foi construído ao mesmo tempo e nem mesmo pelas mesmas instituições. A primeira parte construída, hoje localizada ao lado da Igreja Matriz de São Leopoldo, foi no ano de 1880 e serviu também para sediar parte da Prefeitura da Cidade. Ali se encontrava o setor administrativo e também o Presídio Municipal no porão. Conforme lembra Padre Pedro Ignácio Schmitz, diretor da Faculdade durante os anos de 1963 a 1969 e hoje responsável pelo Instututo Anchietano, Museu Indígena e o Herbário (todos localizados na Sede Antiga). A segunda parte foi construída em 1888. Já a terceira foi erguida no ano de 1899 pelas irmãs franciscanas, situada na lateral da rua Bento Gonçalves.

Padre Ignácio conta também das catástrofes naturais sofridas pelas enchentes que alagavam tudo que estava próximo ao Rio dos Sinos, "o rio enchia e transbordava atingindo quase o segundo pavimento dos prédios" e complementa: "tínhamos que correr no meio da noite para os laboratórios e museus salvando, da água, microscópios e livros”.

A nova Unisinos:

Em 1967 a Faculdade passa a ser Universidade é batizada Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, por escolha dos alunos, ainda sediada no prédio antigo, porem, nesse momento foram sendo erguidas as primeiras paredes dos prédios no novo Campus.

A fundação da nova Universidade foi no dia 31 de Julho de 1969, dia de Santo Inácio de Loyola, fundador da comunidade dos jesuítas.

Hoje a Sede Antiga da Unisinos continua sendo sede de diversos grupos e projetos sociais, atendimento judiciário gratuito, núcleo temático a 3º Idade, entre outros, mantendo sempre seu ideal ligado à cultura e o aprendizado.