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terça-feira, 22 de julho de 2014

Sobre o Dia Internacional da Mulher eu creio que temos que discutir algumas coisas.

Começando pela natureza e a serventia desta Efeméride que, na minha opinião, dá início ao âmago desta controvérsia.

Primeiro, ela não é uma comemoração como muitos gostam de dizer e reproduzir por ai. Aliás, se você pesquisar 80% dos sites falam em comemoração e isso tem muito mais haver com um descolamento da data do seu real motivo do que propriamente com o sentido da data.

E há ai – como em outras  datas – uma disputa ideológica encoberta que poderia ser dividida em dois pólos. Um primeiro que olha para a data como uma Data de Luta o segundo que olha para data como Comemorativa. É como o Dia do Trabalhador. Para o patronato é para comemorar o Dia do Trabalho, para o Trabalhador e a Trabalhadora é o dia da Luta e da manifestação.

Esta diferença fundamental – simpliciter - diz muito sobre a real dimensão conservadora ou mistificadora de certos usos destas datas e de certas posições sobre esta datas. A única coisa que se preserva em comum entre uma posição e outra é o caráter de homenagem às Mulheres. Mas, mesmo nisto há uma outra diferença.         

Sobre a importância social da data sempre precisamos pensar em como ela é tratada, porque a forma de tratamento confessa sempre a concepção e o tipo de balanço da questão da mulher e das lutas das mulheres no mundo.

Tenho observado que esta data incomoda demais algumas mulheres que se julgam independentes ou que conquistaram certa independência e poder, mas que mesmo assim uma boa parte destas expressam isto hoje em dia fazendo ainda uma espécie de apelo e pedido de ajuda aos homens na conquista dos seus direitos nos demais 364 dias do ano. E vou usar aqui a análise e a opinião de uma amiga sobre isto em que ela diz que “apesar de tudo o que representa, esta comemoração é uma constante reafirmação, ao meu ver, da condição feminina como algo desencaixado.”

Pois eu penso que quando se trata das diferenças estamos mesmo tratando de coisas desencaixadas e que não há problema algum nisto, e que a questão mesmo é se a diferença traz ônus, danos ou prejuízos a quem é diferente, se traz discriminação pejorativa e desrespeitosa a quem é diferente e se não afirma e repete apenas mais uma vez a opressão, ou a exploração ou a dominação – não de categorias – mas de pessoas sobre outras, de forma injusta e que promova não somente uma desigualdade formal, mas material, não a diferença de gênero, mas de poder, de possibilidades, liberdades e direitos.     

Não creio que seja um contra-senso querer igualdade em muitas questões. E o desejo de igualdade ai representa, de um lado, a necessidade de estabelecimento de mecanismos formais de equiparação, seja através de leis ou outros dispositivos legais, por exemplo, as cotas de mulheres candidatas nos partidos e na minha opinião deveria haver tal regra na composição do parlamentos por exemplo e em diversos outros âmbitos; e este desejo também busca a equiparação ou a correção de questões materiais como por exemplo os salários e o acesso a determinadas carreiras ou profissões que ainda possuem um corte discriminatório das mulheres.

E não há nenhum motivo justificado para impedir isto ou a alteração deste quadro que não apenas a força do hábito e a ainda aceitação subjetiva de certa diferença entre as mulheres e os homens. E eu tenho convicção e conhecimento que as mulheres são ainda hoje sub-representadas na política e sub-valorizadas em seus vencimentos.

E isto me basta, porque esta condição ainda traz consigo muita dependência material e subserviência das mulheres e, ao mesmo tempo, a ausência de liberdade e autonomia delas. Você vê a violência sobre as mulheres e sabe que ela é um crime que depende de uma ação individual, mas que é perpretado e muitas vezes tolerado socialmente e culturalmente também. Parece que é um erro que os homens podem cometer, mas de fato não deveríamos tolerar mais isso, e mesmo a forma como a Lei Maria da Penha é tratada no Brasil, desde um programa de auditório e até mesmo as piadinhas que soa feitas com ela demonstram o quanto estamos atrasados na questão da mulher.

Não sou a favor, por isso, de qualquer idéia tipo a do dia do homem, porque o dia do homem já dura longo tempo em nossas civilizações e a maior prova disto é a quantidade de personagens masculinas erguidas na história, nas profissões e nas atividades humanas não somente por exclusivo mérito individual, mas por condições culturais reproduzidas e que dão muito trabalho e  deram muito trabalho para serem enfrentadas e alteradas. Vivemos aqui na questão da mulher uma luta bem árdua que sofre resistência subjetiva e silenciosa, além das formas de resistência mais ostensivas e que pela força do hábito e pelo machismo vigente em nossas sociedades se perpetua.

Sobre o dia da causa feminina como uma proposta, ou algo assim é para mim a questão crucial. Defendo que o dia 8 DE MARÇO É O DIA INTERNACIONAL DA MULHER E QUE É UM DIA DE LUTA, DE BALANÇO DA LUTA. E entendo que a pior forma de preconceito é aquela que não é debatida e que fica sendo apagada através da negação deste dia, ou seja, o preconceito contra a luta social, contra o conflito social e contra qualquer forma de organização ou movimento que propõe lutas coletivas. Não há como conceber uma solução individual para uma questão coletiva. É isto que vejo muito confessado nesta data quando alguém a comemora e apaga a sua dimensão histórica, política e conflitiva.

O próprio nome DIA DA MULHER já é carregado de preconceito em relação à luta, porque o subentendido na data histórica não é compreendido e muitas vezes é negado. A questão, então, da causa feminina não é mesmo a diferença de cromossomo. Portanto, não é uma data comemorativa mesmo, e isso é visto como comemoração justamente para apagara o caráter de luta desta data, comemoram sim sem nem saber porque, sem conhecer a origem histórica da data e fazem isso com aquela cordialidade cínica como se não houvessem ainda altos índices de violência contra a mulher, altos índices de aborto ilegal que leva à morte de mulheres e, ainda, um profundo machismo e sexismo que trata a mulher basicamente como objeto sexual e reprodutivo para o homem, a sociedade e a cultura.


Ligue a tevê, veja os filmes no cinema, e não se trata tanto da exposição dos corpos, mas sim da concepção de uso e finalidade com que eles são vistos, mostrados, admirados e vendidos.    

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