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quinta-feira, 3 de julho de 2014

FREUD E A FILOSOFIA DA CONSCIÊNCIA

A amiga Mariane Farias dixit: “O que eu mais gosto, do pouco que conheço de Freud, é sua plena consciência de que não está fazendo filosofia e de onde se insere seu discurso, embora reconheça os precedentes filosóficos de suas discussões. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito de uma parte considerável de seus leitores contemporâneos, especialmente os que estudam filosofia.

A título de ilustração:

"Para muitas pessoas que foram educadas na filosofia, a idéia de algo psíquico que não seja também consciente é tão inconcebível que lhes parece absurda e refutável simplesmente pela lógica. Acredito que isso se deve apenas a nunca terem estudado os fenômenos pertinentes da hipnose e dos sonhos, os quais - inteiramente à parte das manifestações patológicas - tornam necessária esta visão. A sua psicologia da consciência é incapaz de solucionar os problemas dos sonhos e da hipnose. (...) A experiência demonstra que um elemento psíquico (uma idéia, por exemplo) não é, via de regra, consciente por um período de tempo prolongado. Pelo contrário, um estado de consciência é, caracteristicamente, muito transitório; uma idéia que é consciente agora não o é mais um momento depois, embora assim possa tornar-se novamente, em certas condições que são facilmente ocasionadas. (...) Podemos dizer que esteve latente, e, por isso, queremos dizer que era capaz de tornar-se consciente a qualquer momento. Ora, se dissermos que era inconsciente, estaremos também dando uma descrição correta dela. Aqui ‘inconsciente’ coincide com ‘latente e capaz de tornar-se consciente’. Os filósofos sem dúvida objetariam: - Não, o termo ‘inconsciente’ não é aplicável aqui; enquanto a idéia esteve em estado de latência, ela não foi algo psíquico de modo algum. - Contradizê-los neste ponto não conduziria a nada mais proveitoso que uma disputa verbal."

(O Ego e o ID e outros trabalhos)” Fim da citação.

Meu comentário:


Se nossa consciência fosse uma coleção completa de todas as nossas experiências e idéias que nos permitisse tomar cada uma em particular no momento que quisermos; se tivéssemos este gigantesco recurso de memória e referência para todas as nossas idéias, com índices perfeitos e recursos não somente de busca, mas de exibição, reapresentação, correção e atualização muito precisos e que não sofressem nenhuma distorção com o tempo, ou seja, se nossa consciência fosse plena sempre e em qualquer instante - salvo aqueles instantes de gozo ou de embriaguez prazerosa, e não somente uma seleção ou amostragem diria afetiva e emocional - que permanece numa narrativa de ligações de fatos antecedentes, isto é, se não houvesse esquecimento e as lembranças, bem, aí talvez o inconsciente ou a latência seriam quimeras. Mas, penso diferente em um ponto: Freud sabe que tem um caráter experimental na sua teoria, mas tem plena consciência de que isso se choca com as concepções que os filósofos prefeririam que fossem verdadeiras. Nesse sentido, o discurso de Freud me parece filosófico sim, porque responde ao tema da consciência e de seu alcance e limite que tanto nos fascina em filosofia e que me parece nos ocupar mais ainda quando temos acesso a nossa consciência como um fenômeno da linguagem. E a lógica ainda não inventou um lugar ou um arquivo para estas informações, idéias e lembranças que agora não me são conscientes, nem se apresentam para mim enquanto me ocupo e escrevo sobre este teu post. Mas parabéns pelo teu ponto, Freud me parece mais honesto e franco do que muitos que zelam pela clareza, mas que também fazem encobrimento e seleção do que querem que seja lido, mostrado ou pensado pelos seus interlocutores a partir de suas palavras e textos.

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