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quinta-feira, 10 de julho de 2014

NOTAS DA PHYSIS

A physis em Aristóteles não deveria ser usada para aumentar a confusão entre o ser e os entes. O ser se diz de diversas maneiras, mas a natureza guarda a multiplicidade dos entes, as suas manifestações, mas ainda não nos dá a causa. Entre o arché e o logos, a physis nos mostra o que vemos, mas é preciso pensar além e o próprio logos nos diz algo além. Seria bem fácil a vida se as coisas fossem mais simples, mas não é o caso, pois ainda resta a diferença entre o que percebemos e o que pensamos. E mesmo que nosso pensamento avance no encontro de suas próprias regras, categorias e que o logos se torne completamente transitivo em todas as línguas, ainda haveremos de avançar um pouco mais na direção do ser. Nada é revelado, sem que nos coloquemos em dúvida sobre se o que é, é só isso que percebemos ou se tem mais ali para ser revelado, desocultado, compreendido ou vislumbrado. Quando falo no invisível não penso somente num par de óculos novos, ou numa lâmpada mais potente, num telescópio com mais alcance, na luneta nova do almirante, no radar mais potente, na análise das partículas e moléculas, nos quarks ou no bóson de Higgs, na nossa percepção de um Cosmos organizado ou desorganizado, no nosso mundo e nas nossas ordens e desordens preferidas, nas escolhas, opções e em todos os paradigmas possíveis que continuam derivados da visão e da nossa estrutura de contato com o sensível. Penso numa espécie de esquema que dá conta do que é sensível e procura incluir aquilo que está além dele. Sim, exatamente o mesmo esquema cujos espaços vazios no nosso pensamento permitem a ocupação e os aposentos de um Deus, do Big Bang, do Caos Originário, da primeira conexão entre matéria e energia. Penso por analogia aqui na cabala judaica que mostra claramente uma  concepção de que há um visível aos olhos e algo oculto que compreende forças mais poderosas e energias superiores, uma sabedoria que vai para além do nosso cotidiano que toca, de um lado, em nossos ancestrais, mas que também ultrapassa sua existência. Aos poucos vou me dando conta de que uma teoria do Caos, mostra apenas que o caos é uma forma de ver e pensar apenas, pois que se há teoria então mesmo a ordem e as causas mais imprevisíveis estão esquadrinhadas. A phyis de Aristóteles nos permite pensar isso, pois ele subentende um ser e os entes, um ser em potência e em entelequia, mas na vida fáctica só me vejo com os entes. E por isso mesmo cada coisa parece um em si mesma e tudo me parece como um caos, mas o logos reage e tenta ordenar num impulso natural (da phyis) tudo que há, tudo que houve e tudo que haverá e o tempo me aparace não somente como verbo aqui, mas além como a primeira fronteira entre o visível e o invisível.      

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