Quando iniciei as aulas da
última semana antes do recesso e do nosso ciclo de formação dos professores desta
semana de julho, apresentando e compartilhando com os alunos e alunas um resumo
da Teoria do Desenvolvimento Moral de Kohlberg, pensei em dar uma espécie de
resposta aos desafios lançados antes em minhas aulas durante o primeiro e o
início do segundo trimestre letivo. A Teoria foi apresentada para os Terceiros
Anos e Primeiros Anos em Filosofia e para um Segundo ano em Sociologia. Em
filosofia somou-se ao tema e objetivo relacionado a leitura de um excerto da
Apologia de Sócrates ou Defesa de Sócrates, sendo que o Julgamento de Sócrates nos
apresenta o temas da justiça e da moralidade. Em filosofia, nos terceiros anos,
e, também, no Seminário Integrado, o tema geral dos juízos morais, da
justificação e da moralidade nas escolhas e na ação está relacionado. Para a
filosofia como base de reflexão das pesquisas e interesses dos alunos e para o
Seminário Integrado na compreensão da trama do filme Hair. Em sociologia o tema do social e do moral e
os graus de sociabilidade e moralidade na sociedade e nas relações sociais em
relação à normas e em relação às idéias.
O Resumo da Teoria de Kohlberg
que utilizei me pareceu razoavelmente bem construído para um primeiro
tratamento e facilitar o acesso aos alunos e a sua apresentação. Assim, para
realizar uma discussão especialmente focada nas diferenças dos estágios e
níveis de juízo e de ação moral apresentei este resumo que foi retirado da
Wikipedia em Português (PT) (no seguinte LINK: pt.wikipedia.org/wiki/Lawrence_Kohlberg).
Copio e colo aqui a seguir o
texto usado com grifos meus para marcar ,minhas ênfases, para depois, fazendo
as referências necessárias, prosseguir na discussão do tema:
Teoria
do Desenvolvimento Moral
A
teoria do desenvolvimento moral é a mais conhecida de Kohlberg. Sua teoria,
assim como a de Piaget, é universalista. Não afirma a universalidade das
normas, mas a das estruturas que permitem a aplicação das normas em contextos
precisos e proporcionam critérios para o juízo moral. Acredita que através de
um processo maturacional e interativo, todos os seres humanos têm a capacidade
de chegar à plena competência moral, medida pelo paradigma da moralidade
autônoma, ou, como prefere Kohlberg, pela da moralidade pós-convencional.
Os
seis estágios de Kohlberg podem ser, generalizadamente, agrupados em três
níveis de dois estágios cada: pré-convencional, convencional, e
pós-convencional.
Seguindo
as exigências construcionistas de Piaget de um modelo de estágios, como exposto
em sua teoria do desenvolvimento cognitivo, é extremamente raro regredir em
estágios – perder o uso de capacidades de estágios mais altos. Não se pode
pular estágios, cada um fornece uma nova e necessária perspectiva, mais
abrangente e diferenciada de seu predecessores, mas integradas com eles. Os
estágios não avançam em "bloco", podendo a pessoa estar em
determinado estágio em uma área, e em outro estágio em outra área. Sua teoria é
dinâmica, e não apenas estática. Potencialmente, todo indivíduo é capaz de
transcender os valores da cultura em que foi socializado, ele não apenas os
incorpora passivamente. Com isso, a própria cultura pode ser modificada.
Podemos
esquematizar a teoria de Kohlberg da seguinte maneira:
Nível
1 (Pré-Convencional)
1.
Orientação "punição obediência"
(Como
eu posso evitar a punição?)
2.
Orientação auto-interesse (ou "hedonismo instrumental")
(O
que eu ganho com isso?)
Nível
2 (Convencional)
3.
Acordo interpessoal e conformidade
(Normas
sociais)
(Orientação
"bom moço"/"boa moça")
4.
Orientação "manutenção da ordem social e da autoridade"
(Moralidade
"Lei e Ordem")
Nível
3 (Pós-Convencional)
5.
Orientação "Contrato Social"
6.
Princípios éticos universais
(Consciência
principiada)
Nível
pré-convencional
O
nível pré-convencional de argumentação moral é particularmente comum em
crianças, embora adultos também possam exibir esse nível de argumentação. Nesse
nível, o juízo da moralidade da ação é feito com base em suas consequências
diretas. O nível pré-convencional consiste apenas do primeiro e segundo
estágios de desenvolvimento moral, e está preocupado apenas com o próprio ser
de uma maneira egocêntrica. Alguém com uma moral pré-convencional ainda não
adotou ou internalizou as convenções da sociedade sobre o que é certo ou
errado, mas, em vez disso, foca-se grandemente em consequências externas que
certas ações possam ter.
O
estágio 1 é o do castigo e obediência. Nesse estágio, a moralidade para a
criança consiste em observar literalmente as regras, obedecer à autoridade e
evitar o castigo. Por exemplo, uma ação é vista como errada apenas porque
aquele que a cometeu foi punido. "Da última vez que fiz tal coisa,
apanhei, então não farei de novo". Quanto pior a punição, pior é visto o
ato. O ponto de vista é egocêntrico, o ator não distingue entre seus interesses
e os dos outros, que o ponto de vista dos outros pode ser diferente do seu. Há
uma deferência para aqueles vistos como de maior poder ou prestígio.
O
estágio 2 é aquele em que a pessoa é movida apenas pelos próprios interesses. O
comportamento moral consiste em seguir regras quando forem do interesse
imediato do ator, e em reconhecer que os outros também têm seus próprios
interesses, o que pode justificar uma troca entre atores, integrando interesses
recíprocos, mas apenas até o ponto em que isso serve aos interesses do próprio
ator. O ponto de vista inclui, portanto, o de outros indivíduos, numa base
instrumental, ocorrendo uma certa descentração, embora mínima. O respeito pelos
outros não está baseado em lealdade ou respeito mútuo, mas no sentido de "uma
mão lava a outra". A falta de perspectiva do estágio 2 também não pode ser
confundida com o estágio 5, pois aqui todas as ações têm o propósito de servir
os próprios interesses ou necessidades do próprio indivíduo.
Nível
convencional
O
nível convencional de argumentação moral é típico de adolescentes e adultos.
Aqueles que argumentam de uma maneira convencional julgam a moralidade das
ações comparando-as com as visões do mundo e expectativas da sociedade. A
moralidade convencional é caracterizada por uma aceitação das convenções
sociais a respeito do certo e do errado. Nesse nível um indivíduo obedece
regras e segue as normas da sociedade mesmo quando não há consequências pela
obediência ou desobediência. Aderência a regras e convenções é de algum modo
rígida, entretanto, a adequação da aplicação de uma regra ou a justiça dela é
por vezes (poucas) questionada.
O
estágio 3 é o das expectativas interpessoais mútuas, e do conformismo, em que o
ser entra na sociedade preenchendo papéis sociais (identidade dos papéis). O
correto é atender às expectativas das pessoas de referência, ser um "bom
moço", no papel de filho, irmão ou amigo, tendo sido ensinado que há um
valor inerente a tal comportamento. O ponto de vista inclui as perspectivas dos
outros e sentimentos compartilhados, que têm precedência sobre os interesses
individuais. A argumentação do estágio 3 pode julgar a moralidade de uma ação
valorando as suas consequências em termos dos relacionamentos de uma pessoa, a
qual agora começa a incluir coisas como respeito, gratidão, e a "regra de
ouro". Desejo de manter as regras e autoridade existe apenas para manter
esses papéis sociais. As intenções das ações desempenham um papel mais
significante na argumentação neste estágio; "eles têm boas
intenções…".
O
estágio 4 é aquele em que a pessoa se move com base na obediência a autoridade
e ordem social. O correto é cumprir seu dever na sociedade, preservar a ordem
social, e manter o bem-estar da sociedade ou do grupo. O ponto de vista é o do
sistema ou do grupo social como um todo, e considera os interesses individuais
dentre desse quadro de referência mais amplo. O argumentação moral no estágio
quatro está além da necessidade de aprovação individual exibida no estágio
três; a sociedade deve aprender a transcender necessidades individuais. Um
ideal (ou ideais) central frequentemente prescreve o que é certo ou errado,
como no caso do fundacionalismo. Se uma pessoa viola uma lei, talvez todo mundo
possa – portanto, há uma obrigação e um dever em manter leis e regras. A
maioria dos membros ativos da sociedade permanecem no estágio quatro, onde a
moralidade é predominantemente ditada por uma força externa.
Nível
pós-convencional
O
nível pós-convencional, também conhecido como "nível principiado",
consiste dos estágios cinco e seis do desenvolvimento moral. Há uma crescente
percepção de que os indivíduos são entes separados da sociedade, e de que a
perspectiva do próprio indivíduo pode tomar precedência sobre a visão da
sociedade; eles podem desobedecer regras inconsistentes com princípios
universais que possam ser justificados. Essas pessoas vivem de acordo com seus
próprios princípios abstratos sobre o certo e o errado – princípios que
tipicamente incluem direitos humanos básicos. Devido ao fato desse nível
colocar a "natureza do ser antes dos outros", o comportamento de
indivíduos pós-convencionais, especialmente daqueles no estágio seis, podem ser
confundido com o daqueles no nível pré-convencional. As pessoas que exibem uma
moralidade pós-convencional vêem as regras como necessárias e como mecanismos
mutáveis – idealmente, as regras podem ajudar a manter a ordem social geral e a
proteger os direitos humanos. As regras não são ditos absolutos que devem ser
obedecidos sem questionamentos, podendo ser desobedecidas ou modificadas com
base em justificativas universais.
O
estágio 5 é o dos direitos pré-existentes e do contrato social ou utilidade. A
visão de mundo de quem está neste estágio é a de que no mundo existem pessoas
de diferentes opiniões, direitos, e valores. O correto é apoiar os direitos,
valores e contratos jurídicos de uma sociedade, mesmo quando estão em conflito
com as normas concretas do grupo. As leis são consideradas como contratos sociais
em vez de um mandamento rígido. Aquelas que não promovem o bem-estar geral
devem ser modificadas quando necessário para adequar-se ao "bem máximo
para o maior número de pessoas". Isso é atingido através da decisão da
maioria, e do comprometimento inevitável. Muitos dos atos de um governo
democrático são baseados no estágio cinco.
O
estágio 6 é o dos princípios universais éticos. As leis e acordos sociais só
são válidos na medida em que derivam de tais princípios. Assim, quando a lei
viola esses princípios, é preciso agir de acordo com eles. Os princípios em
questão são os da igualdade dos seres humanos e o respeito por sua dignidade
como indivíduos, considerados como fins e não enquanto meios, como na filosofia
de Immanuel Kant. Existe uma capacidade de se imaginar no lugar do outro. O
ponto de vista é universalista, transcendendo grupos e sociedades particulares,
e se baseia numa ética válida para todos, da qual derivam arranjos e
instituições concretas. Os direitos escritos formalmente não são necessários,
pois os contratos sociais não são essenciais para a ação moral deôntica. O
indivíduo age porque é o correto a ser feito, não porque tal ação é
instrumental, esperada, legal, ou foi previamente acordada. Para Kohlberg,
raras pessoas atingem este estágio.”
Uma primeira anotação sobre
a motivação aqui. Em parte fiz esta introdução da Teoria do Desenvolvimento
Moral de Kohlberg por uma provocação relativa a juízos morais e sobre outras
situações conjunturais na escola e, também, em parte porque estava pensando já
em fazer isto há mais tempo e me preparando para tal.
Fiz uso, para efeitos de
apresentação aos alunos e alunas deste resumo razoável da concepção dos três
níveis e seis estágios de desenvolvimento moral, dando ênfase inicial às
dimensão etária e relacional, ou seja, a Maturação e a Interação em relação às
convenções. Ocorreu um ótimo debate com a 3M1 sobre o tema a partir da nossa
experiência da semana passada do filme analisado por uma parte da turma e de um
grupo de meninas sobre a Doce Vingança e tentei claramente destacar e situar a
Vingança e a Violência Sexual, respectivamente nos estágios 1 e 2 de Kolhberg.
Em sociologia já havíamos tratado antes do exemplo ou case do Anti-social no
que respeita à regras sociais ou convenções e a partir deste exemplo eu creio
que ficará mais nítida a ênfase à estrutura dos juízos morais e seus elementos,
e não tanto sobre normas, regras, leis ou convenções. (Ainda que eu tenda
sempre a diferenciar sempre princípios mais fundamentais e universais de regras
mais convencionais e sociais. Mas esta discussão não vem ao caso agora.).
Esta teoria do
Desenvolvimento Moral de Lawreence Kohlberg, além disto, ao meu ver se encaixa e
contribui para desenvolver melhor alguns dos objetivos das disciplinas e dos
conteúdos trabalhados nos três anos de filosofia, em sociologia e,
sinceramente, creio que pode contribuir para o debate de muitas outras questões
na escola também sobre condutas, juízos e a compreensão entre alunos,
professores e a sociedade em geral.
Em especial, creio que pode
se somar ao nosso esforço coletivo no Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio,
que vem dando à Educação uma nova série de formação Nacional para se discutir e
debater sobre a imagem dos professores e dos alunos, onde podemos tratar de
produzir juízos morais e em estágios superiores sobre condutas e comportamentos
dos mesmos e auferir e corrigir e aperfeiçoar percepções, ações e projetos de
ambos os segmentos na escola de forma democrática, integrada, transparente e
racional.
VALESKA POPOZUDA
É bom lembrar que a teoria
de Kohlberg apareceu com destaque no Brasil este ano pelo debate gerado sobre a
controvérsia a respeito de uma prova de filosofia apresentada por um professor
em sala de aula, em uma escola em Taguatinga-DF que um aluno tirou uma foto da
“questão absurda” e divulgou na internet e que foi promovida inicialmente como
mais um escândalo na educação porque citava um trecho de uma canção da "filósofa"
Valeska Popozuda, no início do ano. As reações ao tema foram diversas.
Primeiramente ou ingênuos e mal informados arrancaram os cabelos e se
horrorizaram com a hipótese de considerar-se Valeska uma filósofa. Depois aos
poucos foram sendo esclarecidos os termos da prova e o contexto da prova por um
aluno e o efeito manada contrário foi sustado. Isto não fez com que as pessoas
discutissem mais o tema, pois envolvia discutir também o amadurecimento moral e
cognitivo da opinião pública brasileira e também da mídia. (Quem estiver mais interessado
em uma parte mais “racional”, digamos assim, do debate recomendo que veja este
link: joaoalcimo.com/materia/professor-que-polemizou-sobre-valesca-popozuda-e-defendido-por-aluno.)
Penso que é possível traçar
uma relação deste debate sobre os níveis de desenvolvimento moral com meu tema das diferenças entre opinião,
informação e conhecimento. Penso que isso pode ser excelente no tratamento
do tema geral da formação do senso-comum, pois toca justamente no fato de que
por falta de informação suficiente e bem apurada, por falta também de
conhecimento básico sobre filosofia em geral e em especial sobre a teoria de
Kohlberg, a opinião pública espontânea e os ditos “formadores” de opinião se
atiraram como piranhas a morder uma miragem que só povoa a imaginação deles por
associação livre e impulso espontâneo irrefletido (posso ilustrar isto melhor
depois).
Primeiramente, quero
informar que pelo gosto da análise
proposicional e judicativa, há uma tendência corrente em mim de sempre
tratar o tema da moralidade, a justiça e todas as questões relacionadas a estes
temas práticos em juízos ou proposições com formas lógicas, sintaxe e
semântica, cuja naturezas e elementos conceituais e valorativos avaliam e
fazem, referências a ações, condutas, atitudes ou comportamentos. Na forma
lógica, os juízos morais ficam assim: "_______ é moral." ou
"______ é uma ação moral." e a qualificação destas formas lógicas
segundo os estágios de desenvolvimento moral
agregam predicados e conceitos e também razões a estes juízos. Quando
digo razões é porque é preciso aduzir de um lado a justificativa do juízo, da
ação ou da sua aplicação a um caráter moral.
Ou, podemos pensar também que em um outro nível, estes são juízos ou
proposições que conferem e avaliam outros juízos e proposições sobre ações
morais e também razões morais e suas respectivas justificativas. Quero ainda
anotar que há para mim uma sutil e simples diferença entre o falso moral e o
falso cognitivo que é dado na intersubjetividade ou, na nossa linguagem, nas
relações sociais. Isso é chamado de deontologia, ou seja, a lógica das
convenções e obrigações sociais e morais. Saber a diferença entre uma
proposição verdadeira ou falsa é uma questão cognitiva e de correção cognitiva,
mas quando alguém diz o falso para outrem este pode nos dar uma pista sobre o
que não é o caso na realidade, mas também sobre o caráter e o estágio moral de
um individuo.
Vejamos os níveis e estágios
em uma outra grade agora:
NÍVEL I - Pré-convencional
O valor moral localiza-se nos acontecimentos
externos, "quase" físicos, em atos maus ou em necessidades
"quase" físicas, mais do que em pessoas ou padrões.
Estágio 1 - orientação para a obediência e
castigo. Deferência egocêntrica, sem questionamento, para o poder ou prestígio
superior ou tendência para evitar aborrecimentos.
Estágio 2 - orientação ingenuamente egoísta. A
ação correta é a que satisfaz instrumentalmente às próprias necessidades e,
eventualmente, às de outrem. Consciência do relativismo do valor relativo das
necessidades e perspectivas de cada um. Igualitarismo ingênuo e orientação para
troca e reciprocidade.
NÍVEL II – Convencional
O valor moral localiza-se no desempenho
correto de papéis, na manutenção da ordem convencional e em atender às
expectativas dos outros.
Estágio 3 - orientação do bom menino e boa
menina. Orientação para obtenção de aprovação e para agradar aos outros.
Conformidade com imagens estereotipadas ou papéis naturais e julgamento em
função de intenções.
Estágio 4 - orientação de manutenção da
autoridade e ordem social. Orientação para cumprir o dever e demonstrar
respeito para com a autoridade e para a manutenção da ordem social como um fim
em si mesmo. Consideração pelas expectativas merecidas dos outros.
NÍVEL III - Pós-convencional, autônomo ou
nível de princípios
O valor moral localiza-se na conformidade para
consigo mesmo, com padrões, direitos e deveres que são ou podem ser
compartilhados.
Estágio 5 - orientação contratual legalista.
Reconhecimento de um elemento ou ponto de partida arbitrário nas regras, no
interesse do acordo. O dever é definido em termos de contrato ou de evitar, de
forma geral, a violação dos direitos dos outros e da vontade e bem-estar da
maioria.
Estágio 6 - orientação de consciência ou
princípios. Orientação não apenas para regras sociais realmente prescritas, mas
para princípios de escolha que envolvem apelo à universalidade lógica e
consistência. Orientação para a consciência como agente dirigente, e segundo
respeito e confiança mútua.
Piaget
é considerado o pai da teoria sobre a formação dos juízos morais nas
crianças e é justamente dele que Lawrence Kohlberg tira a idéia de trabalhar em
um esquema sobre tipos de desenvolvimento moral a partir dos valores e das
atitudes que os indivíduos estabelecem em relação às convenções. Piaget
diferenciava e compreendia três situações ou estágios na formação moral da
criança: Anomia, Hereteronomia e Autonomia. Na primeira se trata de
ausência de normas, para Kohlberg
trata-se ai do Nivel Pré-Comvencional; já na segunda situação da heteronomia
trata-se da existência de uma multiplicidade de normas e de um conflito entre
elas que disputa na consciência moral da criança que regras e normas seguir,
porém agora no caso Kohlberg opta ai por fixar o período como Convencional
tratando não tanto da dimensão de clara conflitividade sobre que orientação
seguir ou de disputa, mas sim de uma situação já positiva de orientação do
comportamento social a partir destas convenções sociais, já na última situação
pode-se dizer que vale para Piaget e após para Kohlberg a tradução de Autonomia
num estágio Pós-Convencional, tendo em vista que o indivíduo passa a seguir
regras e fazer isso inclusive no sentido de alterá-las.
Ao mesmo tempo, percebo
claramente que podemos explorar melhor um paralelo entre os três discursos
diferentes – que correspondem a padrões reativos, reprodutivos e cognitivos
diferentes em relação a verdade, e os três niveis em relação às convenções, ou
do comportamento em relação à uma convenção determinada. Assim, discurso de
opinião corresponde ao pré-convencional, o discurso de informação corresponde
ao convencional e o discurso de conhecimento ao pós-convencional.
Desta forma também, aquela
minha atitude de alargar a clássica diferença entre doxa e episteme platônica,
introduzindo algo que não havia na Grécia, que são os discursos informativos e
em especial o surgimento de uma esfera de produção de discursos na idade
moderna com o jornalismo, que não é propriamente nem discurso científico e nem
mesmo discurso de opinião, me parece ajudar aqui a se compreender tanto a
maturação quanto a forma de interação (e as diferentes cognições envolvidas
nisto), no desenvolvimento moral da criança ao adulto, e também do cidadão
egocêntrico e hedonista ao cidadão civilizado, responsável socialmente,
autônomo e que aposta em soluções racionais, negociadas e esclarecidas tanto na
aplicação da justiça, nas escolhas dos seus próprios cursos de ação, quanto na
sua relação a um sistema de normas que precisam sofrer mudanças e
transformações.
Já nos primeiros anos do
ensino médio, nos propomos fazer uma atividade de exposição do conteúdo,
leitura de um texto e para avançar na avaliação do debate sobre o caráter do
julgamento de Sócrates, dos eu posicionamento e defesa, qual é bem o estágio de
desenvolvimento moral e como ele se configura neste processo, bem como, que
debates podem ser pautados a partir disto.
Por fim, no seminário
integrado temos os temas, condutas, juízos e posições presentes ao longo do
filme, em sua trama, roteiro e personagens e instituições que também permitem
uma avaliação dos niveis e dos estágios de desenvolvimento moral, neste caso,
de indivíduos e grupos sociais. Um exemplo importante é a reconfiguração da
posição do grupo hippie do filme de um hedonismo centrado na busca do prazer e
da diversão pré-convencional, para uma militância política efetiva e
transformadora - pelo menos na intenção - do movimento contra a guerra do
Vietnã em frente a Casa Branca.
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