QUEM ESTÁ FALANDO SOBRE EDUCAÇÃO?
- REPLAY DE 2015
Em Janeiro de 2011, ao tomar
posse a Presidenta Dilma Rousseff expressou em seu discurso um compromisso em
ouvir os educadores. De lá para cá as coisas não tem melhorado neste sentido
não. Penso que ao saber que precisamos ouvir mais os professores que estão em
sala de aula não estamos dizendo que não podemos ouvir os demais cidadãos e
sujeitos sociais. Agora creio que precisamos retomar este debate e melhorar em
muito o nível e a qualidade desta consideração.
Precisamos abandonar de vez este
impulso de buscar soluções para a educação em grandes intelectuais que estão
fora das escolas fundamentais e secundárias. Não se trata de negligenciar suas
opiniões, posições e convicções, nem de desprezar novas abordagens e propostas,
muito menos de proibir alguém de dar opinião ou falar sobre educação. Por
melhores que sejam as idéias, os teóricos, as leituras e os diagnósticos e
propostas, é preciso muita práxis educativa e concreta para construir
alternativas dentro das escolas e em diálogos com os educadores.
Penso que este processo de
esvaziamento da educação e de afastamento da comunidade e dos pais das escolas
se deve também ao esvaziamento do sentido da escola e de sua importância pelo
especialista ou palpiteiro externo, mas também pela adoção de um hábito pernicioso
e irresponsável e que é carregado de desprezo e desconsideração pela voz dos
educadores.
Eu expresso isto não por
preconceito com intelectuais, teóricos ou cidadãos, mas é que percebo um
processo pesado de aumento da responsabilidade, censura e intervenção
tecnicista na educação e um esvaziamento do papel reflexivo e político do
sujeito educador. O exemplo é que está cheio de imbecil falando besteira sobre
educação, inclusive com mandatos e a última coisa que fazem é perguntar
democrática e coletivamente aos educadores o que eles acham, pensam, sabem,
consideram melhor e etc.
Nos tratam, em muitos e
demasiados casos, como se nossa pauta fosse exclusivamente economicista, como
se nós fossemos exclusivamente funcionários desta sociedade em que vivemos e
não sujeitos comprometidos e que dão sentido a suas existências participando
deste processo social. Esquecem ou não refletiram ainda que se a questão
economicista fosse determinante e prioritária de nossa escolha pela profissão
com educação, não estaríamos mais trabalhando nisto. E a imprensa tem sido
muito hábil e perfeccionista em excluir a voz do educador de suas páginas. Não
vemos os professores serem perguntados sobre a escola.
Agora mesmo no RS, em SP e em PR,
e também em São Leopoldo, os educadores tem muito a dizer e o que vemos são
gestores públicos, secretários de educação e técnicos que sequer botaram um pé
em sala de aula na condição de professores do ensino básico. A grande maioria
deles são gerentes de contas ou produtos de barganhas políticas conjunturais e
eleitorais. Há um sequestro da educação e uma tunga do nosso trabalho e
reflexão sobre educação, por sujeitos que mal compreendem nossas condições,
ideias e atividades reais. A educação e os educadores merecem muito mais
respeito e muito mais consideração e o fato de termos no Rio Grande do Sul um
governador eleito que fez piada sobre o salário dos educadores demonstra que
este respeito não deve vir apenas da classe política, que esta conta não é
somente uma conta política, mas sim também uma conta social, porque também nos
deve mais respeito a maioria da sociedade.
O que tem de nababo,
especialista, consultor, sabidinho e metido falando em educação isto e educação
aquilo que não trabalharam um dia com tal atividade e com ares de especialista
por ai é um negócio para lá de estúpido. Estão completamente por fora, emitindo
opinião e juízo sem saber da missa a metade. E a maioria gera apenas mais
confusão sobre o assunto. Um exemplo disto foi a lei de gestão democrática de
nosso estado e outro é a proposta de promover censura ou filtro ideológico na
escola.
Curiosamente também conheço
milhões de pessoas que vivem dando palpite, mas que já recusaram a educação
básica como opção de trabalho. Assim, baseiam suas opiniões em grande parte em suas
frustrações próprias e incompreensões próprias do processo educacional, de sua
realidade, desafios, objetivos e dos próprios cavacos do ofício. Dai fica fácil
falar...
Alguém acredita mesmo que a
solução da educação será construída por quem não está comprometido com ela? Ou
por quem frente ao primeiro insucesso, ou boato ou desafio, opta por correr da
atividade e não encarar e superar suas mazelas? Por quem está de passagem ou
circunstancialmente envolvido com a educação? Ora, já faz muito tempo que todos
sabemos e que nos ensinaram que não é razoável perguntar ao inexperiente como
tornar a experiência melhor. A voz da experiência não pode ser negligenciada e
aqueles que são comprometidos com a educação devem ser mais considerados e
ouvidos.
Para terminar e contemplar
aqueles que já devem estar refletindo sobre as implicações do que digo, vou
enunciar algo que é para mim radicalmente fundamental no tema da educação: se
queremos uma sociedade realmente democrática, e se reconhecemos que para tal
precisamos de uma educação democrática, então todo projeto educacional deve
passar sim pelo crivo, discussão, debate, apreciação e reflexão dos educadores
e ser bem adequado a uma “vontade geral dos educadores” senão será sempre um
projeto passageiro, transitório e episódico que não irá contribuir para a
consolidação de uma educação de qualidade para todos. Sendo assim, poderemos
finalmente superar e consolidar avanços na educação brasileira, gaúcha e
leopoldense, sem sofrer tanto com suscetibilidades eleitorais e prioridades
alheias e externas à educação e sujeitas ao sabor e flutuação da ignorância, da
insensatez ou do capricho coletivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário