LEITURA SOCIOLÓGICA – ENTENDENDO
O BRASIL E A SOCIEDADE HOJE E DO PASSADO
Sobre a “Modernização
Conservadora” no Brasil cito o primeiro parágrafo da página 226, do didático
Sociologia para o Ensino Médio, de Nelson Dacio Tomazi, recomendando a leitura
e a interrogação sobre o texto inteiro.
“A ideia de mudança social no
Brasil sempre esteve presente nas análises da nossa sociedade, desde o tempo do
Império. Além disso, houve múltiplas revoltas contra o poder dominante, mas
sempre foram aniquiladas.”
O tema da Modernização
conservadora aparece em análises muito interessantes e foi utilizado pela
primeira vez em uma análise da mudança social na Alemanha e no Japão é aplicado
ao contexto social brasileiro por derivação e com algumas adequações. Posto que
a Modernização Conservadora no Brasil não se deu sem resistências, sem
sistemáticas ameaças de retrocessos aparentemente insuperáveis que são
recorrentes ainda hoje. Exemplos, as tentativas de desregulamentação das leis
trabalhistas, os lobbyes dos grandes latifundiários, a eleição de bancadas
anti-modernização e os ataques repetidos aos direitos sociais, aos direitos
humanos e aos direitos trabalhistas. Vale também citar este vírus autoritário
que campeia no cenário político. Ao mesmo tempo, me parece que no Brasil a
modernização tem um caráter conservador porque ela sempre passa não só por uma
forma conservadora, um modo conservador, mas porque ela é uma com cessão do segmento
conservador que devido à estrutura de classes e a hegemonia da elite no estado
brasileiro trata sob pressão da modernização sempre pela via de uma concessão
negociada. Assim,. Tanto o que é chamado de modernização no Brasil quanto o que
pode ser chamado de revolução no Brasil é sempre um processo mediado e
arbitrado. Mesmo os ensaios de revoltas, rupturas, cisão, dado o caráter
conservador da elite e também de parte relevante da sociedade é atenuado. Isto
é, a mudança só ocorre com algum assentimento ou consentimento da elite
dominante no país, mesmo em circunstancias em que aparentemente os partidos de
esquerda detém por algum tempo o poder executivo via sufrágio. E isso se mostra
em muitos níveis. No nível municipal, estadual e federal. Eu diria que
sociedade brasileira não tem caráter mudancista e que todas as mudanças sociais
no Brasil são produto de intervenção estatal e só se realizam de fato por
medidas estatais. Ou seja, os hábitos culturais, os costumes e os valores
brasileiros sempre se apõem com certa resistência à mudança social e mesmo nas
camadas que mais deveriam se interessar pelas mudanças ou por uma modernização,
pois seriam as maiores beneficiadas por novos direitos, redução da desigualdade
e geração de oportunidades de ascenção social, ocorre uma grande resistência a
isto e aos portadores destas propostas. Assim, o Brasil sofre por seu “habitus”
conservador um processo lento de modernização e como direi mais adiante, sempre
eleva-se a outros patamares de organização com ameaças de regresso. A impressão
que eu tenho é que no Brasil o pacto sempre é ameaçado de um retrocesso por uma
característica altamente reacionária estimulada assim me parece por uma forma
autoritária de resolução de conflitos. O Brasil parece assim um vulcão cuja calmaria
externa é produto de um grande temor de sua possível erupção.
Porém, Modernização conservadora
é um conceito elaborado por Barrington Moore Jr, em sua obra As origens sociais
da ditadura e da democracia: senhores e camponeses na construção do mundo moderno.
São Paulo: Martins Fontes, 1975. Do qual ele se serve para retratar o caso de
desenvolvimento capitalista na Alemanha e no Japão. A revolução burguesa,
segundo ele, bem como o processo de industrialização desses países, fez-se
através de um pacto político entre a burguesia industrial e a oligarquia rural
– este pacto foi orquestrado no interior do Estado -, sem rupturas violentas.
Num dos exemplos de análise dele os Junkers alemães, no caso da Alemanha,
conseguiram controlar a transição para a modernidade sem se contrapor a ela e
sem deixar de estimulá-la, sobretudo no que se refere à industrialização, e sem
tampouco perder o controle do campo - mantendo suas propriedades herdadas do
período feudal. (faço uso aqui neste parágrafo, ainda que alterado e adequado,
do verbete da Wikipedia sobre Modernização Conservadora.)
Já no Brasil este processo à
quente e á frio tem uma grande lista que é entremeada por diversas ocasiões em
que se deu por conflitos que passam do interior do estado para sociedade civil,
acontecendo em tempos anteriores ao período do império (Tiradentes é somente um
dos exemplos, pois deve se agregar as revoltas dos Quilombos), as diversas
revoltas do império aos levantes do período da primeira república ( Canudos,
Contestado, Ciclo de Greves de 1917, ao Tenentismo, Coluna Prestes), seguindo
pela revolução de trinta, com reações conservadoras e medidas modernizadoras,
com a redemocratização do pós guerra, até a morte de Getúlio Vargas, a posse
sustentada pelo Marechal Lott de Juscelino Kubstchek, a renuncia de Jânio, a
reação Parlamentarista, a posse do João Goulart e o golpe militar de 1964,
durante toda a Ditadura Militar houve resistência e presença de pleitos de
mudança social, na luta pela Anistia que se inicia em 1977, pela Redemocratização,
o movimento da Diretas já, os ciclos de greves contra os arrochos salariais, o
movimento pela Constituinte, e estas ocasiões avançam com instabilidades
políticas até praticamente 1989 e tardiamente 1991, com a crise do Governo
Collor. Na quadra atual, dos governos FHC a Lula e Dilma deixo os comentários
guardados no cofrinho da razão.
Questões:
1. Mudança social no Brasil é
somente uma categoria de análise?
2. O desejo de Mudança social no
Brasil é um acontecimento que só passa a ocorrer com o Império?
3. Quem é ou quem representa o
“poder dominante” no texto?
4. Cite alguns exemplos de
revoltas contra ele.
5. Porque o autor usa o termo que
as revoltas foram “aniquiladas” como estratégia de solução do poder dominante
aos revoltosos?
Exemplos de análise:
1. Poder dominante pode ser
entendido histórica e sociologicamente de uma forma sistêmica no contexto de
uma categoria que envolve a elite, as classes sociais dominantes,
latifundiários, quadros superiores de estado, suas relações institucionais com
os três poderes e as armas, a mídia monopolista
2. Mudança social como categoria
de análise e como impulso, desejo ou projeto de grupos sociais, lideranças e
sujeitos históricos.
3. O “aniquilamento” de
Tiradentes como símbolo da lógica e do método conservador de enfrentamento dos
pleitos de mudança social.
4. O “aniqulamento” como
estratégia clássica da elite brasileira contra as demandas populares, os
representantes das demandas populares, que se apresenta com características
violentas, políticas de ódio e de raiva ao outro e de promoção de perseguições
e dos discursos que pregam não somente a vitória mas de fato a extinção dos
segmentos, grupos, partidos e lideranças portadoras de um projeto de mudança
social.
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