Estes
dias, após a noite em que assisti a um debate em que o acusado por N situações,
respondia simplesmente por ofensas ( é "mentira", a senhora é "leviana'), sem
apor nenhuma prova ou contra-prova às acusações, sem apresentar um contra-argumento sequer e ainda gracejar, dei então, no dia seguinte, um
bom dia àqueles que tem argumentos e que gostam de argumentação.
Não
fiz isto por ironia, mas sim por pensar que o nosso mundo fica melhor com argumentos e argumentação. Por pensar que
nossa vida pode ser mais feliz - se alem de sermos sensíveis e humanos -
cuidarmos de seguir e construir argumentos em nosso discursos, diálogos e
debates.
Argumentar
é dar razões. A negação de um argumento, ou o deboche, não transforma sua
expressão em contra-argumento, nem imuniza aquele que o faz às exigências da
razão. Pode passar em branco, pode ser o caso que ninguém lhe cobre o
compromisso ou o sentido de suas palavras, mas isso não abala em nada um
argumento bem formado. Para termos um contra-argumento precisamos refutá-lo ou
prová-lo, demonstrá-lo como invalido ou falso. Quem não entende isto ou não
compreende isto deveria se calar nos debates públicos e deixar suas questões de
opinião ou preferências para sua esfera privada. Não se determina da
possibilidade de diversas versões que não possamos paulatinamente ir avaliando
uma por uma e encontrar a mais razoável ou verdadeira. Relativizar razões e
fatos é somente um exercício retórico e quem o faz pressupõe de forma arrogante
que pode ludibriar o outro ou enganá-lo.
Todos
os nossos sonhos mais progressistas, republicanos e democratas tentam de alguma
forma encontrar e se associar com homens e mulheres, jovens e idosos e
construir um tempo em que se esgote de vez o triunfo e o tempo dos espertos,
dos exploradores, dos aproveitadores, dos usurpadores, dos mercenários e dos
vendilhões. Um país justo depende muito disto. No chão no qual eu caminho não
há espaço mais para certas coisas. Talvez tenha algum interesse e satisfaça a
boa curiosidade dos meus alunos e alunas, colegas e amigos que estou super
ocupado agora - neste momento e nestes últimos dias - apesar das desafiadoras
situações políticas e também por elas, com
a lógica da argumentação. Sim, que estou de braços dados e ocupados com
isso e que ando estudando lógica e filosofia da lógica para as aulas dos
terceiros anos sobre Argumento e Argumentação. E as bases são Aristóteles e
Frege que estou revisitando.
Aristóteles
por conta daquele beabá de formas do raciocínio ou dos silogismos. Ao olhar
para os "modus" tento estimular os alunos a terem consciência e a
adotarem certos modelos de dedução ou demonstração nos desenvolvimentos dos
seus textos dissertativos. E todos sabemos que quanto mais consciente de sua
argumentação e de seu modelo argumentativo mais caprichado fica o nosso
raciocínio, a nossa expressão e a nossa argumentação.
Mas
Frege tende a me cativar sempre muito mais. Em sua simplicidade e precisão,
inteligência e economia argumentativa. Nossa, fico realmente impressionado com
a sacada do Frege em Função e Conceito e nos outros ensaios dele. A ideia de
formalizar raciocínios com mais de um argumento me estimula muito em diversas
áreas do conhecimento. principalmente neste momento em que tento - via
seminário integrado - discernir claramente opiniões de informações e
informações de conhecimentos, numa perspectiva que marque definitivamente a
formação deles e também na distinção entre conteúdos formais e materiais do
nosso pensamento que nos possibilita - agora já via Pacto pelo Fortalecimento
do Ensino Médio - a tratar melhor dos conhecimentos de diversas disciplinas,
integrá-los mais e aproximá-los mais e produzir traduções, por exemplo, de
fórmulas matemáticas em narrativas e de descrições históricas ou de outros
ramos das ciências humanas e artes em fórmulas ou em expressões
formalizadas. Pensar em argumentos nunca
me pareceu um desafio tão grande e a pesquisa tem me alegrado muito. Para
efeitos de ilustração e compreensão uso duas acepções de Argumento. Num
primeiro sentido, A1 = Argumento é um elemento de um raciocínio, já, num
segundo sentido, A2 = Argumento é o
conjunto de um raciocínio que pode possuir um ou mais de um argumento. A minha opção por raciocínio aqui responde a
necessidade de afirmar a natureza da complexidade e a assertividade do
pensamento. Portanto, onde você ler raciocínio aqui leia também algo que pode
ser pensado e que pode ser apresentado em um discurso, mas cuja natureza combina
sempre mais de um elemento e jamais uma ideia não predicada ou não
categorizada. por mais formal que possa parecer, por mais que possamos eliminar
tudo e reduzir tudo a uma função, há ai algo complexo seja Fx, ou F(X), se diz
algo de alguma coisa, ainda que a natureza, o gênero ou mesmo a determinação
ainda esteja por se completar.
Em
um argumento nós apresentamos nossos pensamentos encadeados por proposições e
provas. Mas podemos encarar como argumentos também estas últimas por cumprirem
a função de dar conteúdo ou justificar nosso raciocínio. Assim, por exemplo na
operação 2+X=5, X=3 e sabemos que a variável X ocupa o lugar do argumento 3, e
que, portanto, 3 é o argumento que precisamos para provar a verdade da operação
ou do nosso raciocínio matemático. Se X tiver qualquer outro valor, então ela
não é um argumento para aquela operação. Faço uso aqui e me parece evidente da
mesma ideia luminosa de Frege de que podemos pensar melhor aqui em termos de
função e argumento, tomando emprestada da matemática estas noções. As minhas
diferenças aqui é que trato o todo de uma função também como argumento, no
sentido de que um argumento pode conter dentro de si outros argumentos - ou que
- no sentido de que uma função pode entrar em outra função - por inclusão de
novos símbolos - também como um argumento e assim sucessivamente à medida da
nossa necessidade e de forma parcimoniosa e refletida.
Além
disso, incluo aqui toda a terminologia proposicional tradicional, sentido,
significado, referência e validade e verdade - se é que posso chamar isto assim
de teoria da proposição tradicional já - e atribuo às proposições o papel de
comporem em um raciocínio com suas respectivas provas em um raciocínio. Sei
também que existem diferentes tipos de argumentos segundo a natureza dos seus
conteúdos e poderia ilustrar isto aqui com proposições standard ("The book
is on the table." ou "o gato está no mato.") e/ou proposições e
demonstrações científicas de diversas áreas.
Neste
ano da graça de 2014, já se fazem cem anos que o jovem Ludwig Wittgenstein
entrou na primeira guerra com seus Notebooks dentro da mochila e que começou a
escrever o Tractatus Logico-Philosophicus, mas cada vez me entusiasmo mais e
mais pelos problemas que ele enfrentou e pelas soluções que ele deu a eles,
mesmo que depois tenha descartado algumas, ainda em desafia a pensar como
formalizar nosso pensamento e como traduzir nossas fórmulas em um discurso com
palavras e proposições claras e inteligíveis para todos.
Assim,
num discurso, num diálogo ou em um debate ou discussão importa em respeito ao
próximo não somente afirmar proposições, mas também acompanhá-las de
demonstrações ou provas de tal modo que nãos e vendam afirmativas sem razões
que as justifiquem.
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