“Eu penso assim: a solidão é
absoluta. É uma ilusão uma pessoa convencer-se de outra coisa. Tome consciência
disso. E tente agir em coerência com isso. Não espere nada, nada, a não ser um
inferno na Terra. Se acontecer algo de agradável, melhor. Não acredite nunca
que você poderá quebrar a solidão. Ela é absoluta. Você poderá fazer poesia
sobre coexistência em vários planos, mas ainda assim será apenas poesia sobre
religião, política, amor, arte e assim por diante. A solidão é total da mesma
maneira. A ratoeira está na possibilidade de poder ser alguma vez dominada por
uma miragem de coexistência. Esteja consciente de que é uma ilusão. Assim, você
não ficará decepcionada depois, quando tudo voltar ao seu normal. Uma pessoa
tem de viver pelo instinto da solidão absoluta. Nessa altura, uma pessoa deixa
de lamentar-se, deixa de afligir-se. É aí que uma pessoa, de fato, passa a
sentir-se bastante segura e aprende a aceitar a falta de sentido da vida com
uma certa satisfação. Com isso, não quero dizer que uma pessoa se torna
passiva. Acredito que uma pessoa deve lutar o mais possível e o melhor
possível. Por nenhuma outra razão a não ser aquela de que uma pessoa se sente
melhor fazendo o seu melhor do que desistindo.”
Bergman, Cenas de um Casamento
Sueco.
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