Passei,
na última terça-feira desta semana, a manhã inteira às voltas com a feitura da
Cronologia da vida e obra com o contexto histórico de Immanuel Kant (1724-1804),
para o último trimestre de filosofia no segundo ano (obs.: A CRONOLOGIA SERÁ CONCLUÍDA E PUBLICADA NESTE BLOG NESTA PRÓXIMA SEMANA).
Ele
viveu 80 anos, produziu muito e suas principais obras foram feita após o 57
anos de idade. Uma coincidência aqui também com John Locke que também publicou
suas principais obras após os 57 anos.
Sendo
que Kant teve aproximadamente de 1781 a 1798, um grande período produtivo no
qual publicou suas três críticas, que são consideradas indiscutivelmente suas
principais obras.
A
Crítica da Razão Pura (1781 & 1787), a Crítica da Razão Prática (1788) e a
Crítica do Juízo ( 1790 - ou da faculdade de Julgar).
E
foi muito bom ficar examinando verbetes sobre ele da Wikipedia traduzidos e
também revisando algumas cronologias em diversas obras e em verbetes de
instituições renomadas como Stanford e outras. Bem como foi bom reler,
reavaliar e reorganizar durante todas esta semana parte da minha bibliografia
sobre Kant, que foi coletada a partir de 1980 e incrementada mesmo em meus anos
de universidade de 1989 a 1997, inserindo ela nos meus planos de aula e
balanceando o que já fiz antes, o que estou fazendo e o que posso fazer mais
ainda neste sentido de dar uma boa formação em filosofia aos meus alunos,
combinando conhecimento, sensibilidade e boas provocações, sem esquecer a
contextualização histórica e uma possível aplicação das principais idéias de
Kant no nosso tempo atual.
Uma
das idéias que com certeza tem ampla aplicação e que me vale muito nos dias de
hoje está presente naquele texto Sobre a pergunta: O que é o esclarecimento?
Pois uso de forma direta o tema de “sair da sua menoridade” em aulas tanto
sobre política, ética e moral e também sobre a importância de adquirir uma
formação em filosofia.
A
minha conexão da internet estava naquele dia bem ruim, e isso ocorreu após
algumas correções que fiz ontem nas configurações do PC e do Google Chrome que
mais uso para escrever em casa. Daí porque fiquei exclusivamente focado também
nos livros e em alguns textos digitais já coletados em sites anteriormente e outros escritos por mim. Então, desta
forma, fiquei sem ver quase nada do que rolou aqui no Face ou na Rede pela
manhã. Ao final da manhã vi a postagem de um amigo sobre meu comentário à
Depressão e as Drogas com a morte do grande ator Robin Williams, que me deixou
muito tocado e li este poema sobre O Quarto de Um suicida de Szyborska que uma
amiga postou e que repostei ( tanto no meu blog como no meu perfil). E também
li a notícia da morte da atriz Lauren Bacall cuja silhueta e olhar eram
memoráveis. Ao final da manhã, mais surpresas nos aguardavam a todos, em
especial, o acidente e a morte de Eduardo Campos e sua equipe com a queda de
seu avião em Santos SP.
Mas
no fundo, então, passei a manhã toda pesquisando e lendo sobre Kant. E pensando
sobre isto e tendo meus tradicionais insights e pensamentos fora de curso que
sempre me fazem reavaliar, rememorar, rever e escrever sobre o que se passa em
minha cabeça. Lembrei que meu curso de filosofia para o Ensino Médio já tem
quase 20 anos e que em suas diferentes versões e formatos já avançou até
Heidegger certa feita mas sempre teve os pilares fundamentais assentados em
Aristóteles, Descartes e Wittgenstein por uma escolha minha lá em 1994-1995.
Nos
últimos sete anos, após a criação da disciplina de filosofia na escola e a posterior
ampliação da carga horária de filosofia, tenho apresentado com mais vagar e cuidado,
os Pré-Socráticos, os Sofistas, Platão, e nos últimos dois anos Leibniz, Hobbes
e Marx tem sido apresentados também em minha aulas com mais atenção e Kant
agora definitivamente ganha seu lugar. Neste ano, por conta da carga horária e
de certa normalização do tempo para dedicar mais ao trabalho de planejar, desenvolver
e qualificar alguma forma de ensino e introdução á filosofia no Ensino Médio
também a Filosofia Política e uma proposta de Seminário dos temas e autores de
Interesse dos Próprios Alunos tem sido apresentado. Em especial, destaco que a
história da Filosofia Política Moderna, com reflexos na compreensão da história
moderna e na formação política dos alunos tem ingressado na disciplina. Por
fim, sob este aspecto, com a ampliação da carga horária de filosofia no
terceiro ano tem sido possível trabalhar praticamente um curso completo de história da filosofia com
abertura para muitos temas de estética, ética, lógica e filosofia da ciência.
Pois
bem, já andava bem desconfiado que minha passagem quase ao largo, de certos
capítulos da filosofia moderna e antiga em meus anos de formação, se devia a
uma incompreensão e a minha "descoberta de Platão" no ano passado confirmou
isso. Platão me fez pensar muito mais nisso e muita coisa mudou na minha forma
de encarar tanto o idealismo, como as ideias inatas e também a relação entre
literatura, poesia e retórica com a filosofia.
Pois
agora, tal como uma espécie de âncora nova ao meu navio se agrega aos poucos
certa compreensão da grandiosa importância de John Locke - que considero
apresentar uma inflexão muito fundamental tanto para filosofia pura quanto para
a filosofia aplicada, pelo empirismo e pelo liberalismo, com efeitos bem
práticos e históricos (e com isso também recolocar em tela de forma mais
adequada todo o empirismo inglês, Bacon, Hobbes, Hume e Bekerley) para o
racionalismo, em especial em seu desfecho kantiano que é o que me interessa e
sempre me interessou mais por conta da relação de equilíbrio ( transcendental
aqui como um sistema) que vejo ele traçar entre sensibilidade e entendimento,
paixão e razão e dos desafios que a racionalidade dele foi capaz de
compreender, mas cuja solução deixa em aberto para a reflexão de cada um de
nós. Vejo0 Kant como aquele filósofo que foi capaz de acertar muitas contas da
filosofia moderna e que nos desafia ainda hoje a entender melhor nossa relação
com o poder de julgar, a capacidade de conhecer, de fazer escolhas, de agir e
de fazer de nossa vida algo melhor e mais digno.
Kant
tinha um criado ou secretário que se chamava Lampe - na biografia dele isso
jamais é negligenciado e consta que este soldado licenciado do exército
prussiano tornou-se seu criado e começou a trabalhar com Kant em sua residência
a partir de 1761 até os últimos dias de vida de Kant - mas o papel deste criado nas ideias e nas
obras de Kant deve ter lá sua importância mais testificada por assim dizer.
Kant
afirmava que Hume o havia despertado de um sono dogmático e eu sei bem o quão
longe a filosofia de Leibniz nos leva numa crença nos poderes da razão. Mas
quando começo a ler Locke me lembro muito do papel que na filosofia precisa ser
sempre exercido por alguém mais prático e mais realista para não nos perdermos
em devaneios.
Pois
creio que Lampe era em certo sentido o bom senso de Kant, o senso terreno e
concreto de viver. Segundo as narrativas que temos ele só abandona Kant quando
se desentendem definitivamente poucos dias antes de Kant morrer.
Assim
Lampe era, portanto, presumivelmente aquele criado que com o tempo deva ter se
tornado mais que isso, um amigo, que olhava para Kant e dizia: tu tá viajando
demais, desce na terra e vai viver um pouco. Vamos caminhar meu amigo. As
piadas que são feitas desde a criada de Tales de Mileto a respeito destes
homens viverem parte de suas vidas em um mundo da lua, ou com a cabeça nas
estrelas, perdidos em sonhos, delírios e outros excessos reflexivos deveriam
nos bastar não para fugirmos do real mas para encarar que por traz desta
ironia, há uma verdade a ser preservada, uma lição a ser registrada.
Nenhum
navio pode viajar tão longe sem voltar ao seu porto de partida e ir registrando
com clareza por onde passou, o que ganhou, o que perdeu e o que aprendeu. E
evitar tropeços ou excessos pode ser uma forma razoável de garantir bons
registros e balanços a respeito de nossos itinerários. Nem sempre é fácil, nem
sempre é corrente haver esta possibilidade, mas eu desejo que cada um tenha os
eu próprio Lampe a lhe provocar e mostrar que a vida real, o mundo empírico tem
lá suas razões e demandas a serem vencidas e que vencê-las, compreendê-las e
perceber seu valor dá um estatuto superior á nossa razão, nossa reflexão e
nossas muitas possibilidades.
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