Voltar a um lugar e perceber que não é mais o mesmo e que não significa a mesma coisa que um dia nos valeu. Reencontrar uma pessoa e perceber que aquilo que ela era para nós um dia já se esvaneceu e já deixou de fazer sentido como um dia teve antes. Surpreender-se com a súbita aversão ou indiferença a certas coisas, hábitos, assuntos, lugares e atividades. Tudo isso eu enquadro na categoria do estranhamento. Algo que um dia nos foi tão próprio, tão íntimo ou que teve tanto sentido e carga afetiva parece deixar de existir, seja porque mudou, seja porque mudamos. Não é um sentimento comum e uniforme este do estranhamento em relação ao meio e às pessoas circundantes, e também o de estar fora de lugar e fora do tempo. Eu intuí estes dias que cada um de nós está na real em um tempo diferente, num tempo próprio e que talvez isso signifique que é realmente um fenômeno de importância conseguirmos estar juntos no tempo e no espaço com os outros. Cada um sente isto de alguma forma distinta não somente pelos objetos muito particulares e os eventos muito particulares de cada um. Mas porque nossos seres e sentidos são diversos também. Nossa vida parece ter um relógio próprio e eu sinto isto muito cotidianamente quando descubro que algo que para mim é trivial é extraordinário para outro ou vice e versa. O ponto a partir do qual olhamos para os mesmos eventos é diverso também. Nossa biografia, nosso mundo, nossos espaços e tempos próprios aparecem ai. Eu sinto a mesma coisa que você expressa tão belamente em sua postagem Eduardo no teu mural, mas tenho notado também com isso que aqueles lugares e aqueles tempos nunca foram nossos nem de ninguém, sei que estamos apenas de passagem. Aqueles lugares não tem sentido somente quando tiveram sentido para nós. E tanto eu como você poderíamos dar exemplos aqui de coisas que tais - como símbolos - atingem quase todos os jovens leopoldenses que circulavam no mesmo circuíto nos anos 70 e 80 por exemplo. Trata-se de uma estadia e tanto antes quanto agora cabe à nós dar sentido a isto ou encontrar aquilo que nos intriga nisto. Quando penso nestas coisas amigo Edu e ontem foi um dia para isso por conta de vários acontecimentos que incluem os lutos por Pai, Irmão e Irmã, que ainda em mim estão presentes e contínuos, que incluem as lembranças algo inacreditáveis da nossa adolescência e mesmo a caminhada até os dias atuais - que aparecem em um filme como Estamos todos bem aqui, um poema grego, francês, inglês, alemão, italiano ou português ali, uma outra história ou detalhe de uma história acolá. Então, sim eu sinto também saudades, mas me dou por conta de que não é o passado onde alguns dos meus sentimentos estão aprisionados, não são os que passaram dos quais sinto saudade, nem os lugares e emoções que já perdemos em sua intensidade e das quais temos lembranças tão vívidas, o lugar e o tempo e as relações em que vivo.. o hoje e o amanhã, com grandes lembranças, saudades e sentidos do passado e do que ainda é recente, com menos de dez anos por exemplo, mas que já passou....Obrigado por me fazer escrever sobre isto amigo, um bom domingo para você...
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