Sobre a crônica “ego” de David Coimbra
A parte mais estúpida e esdrúxula
do texto de David Coimbra em
Zero Hora da última sexta-feira, é aquela que demonstra a completa falta
de reflexão dele. Ele não impõe seu desprezo retórico sobre José Dirceu, mas sobre a importância de diversas
doutrinas na nossa história, ataca com suas palavras a importância de um Brizola, por exemplo, que foi
considerado um doutrinário terrorista um dia, sobre João Goulart que foi
considerado um homem fraco pela doutrina um dia, sobre Juscelino que foi
considerado um débil sonhador perdulário um dia, sobre Getúlio, sobre Júlio de
Castilhos, sobre Bento Gonçalves, sobre qualquer homem que acreditou em alguma
doutrina um dia para mudar este mundo e a humanidade, ao contrário dos covardes
doutrinários que não aceitam o risco de aderir a qualquer coisa que os imponha
mais do que simplesmente seus meros interesses mesquinhos e pessoais e sua
plena disposição a permanecer em repouso na zona de conforto dos pensamentos
vazios de conteúdo de consciência das diferenças sociais, de idéias e de
projetos. No fundo ele quer um home neutro e insosso e também uma mulherzinha
sem peias e revoltas no coração. Produziu o rapaz o supra sumo do conformismo.
E há que se convir que estão
lendo direitinho o manual do Carlos Lacerda, os preceitos da UDN, de caçar a qualquer
preço e sob qualquer argumento seus próprios adversários políticos, com certa
vocação à criação de fantasmas, fantasmagorias, alegorias e mimeses mal feitas
desta nossa realidade. Manual de redação e de estilo do qual ele mesmo –
Lacerda - se arrependeu ao ver o seu próprio fim coadunado e análogo dos seus
próprios adversários. E também, ao abrigo do lamento dos demais que acreditavam
em alguma coisa realmente relevante e clara do plano existencial bem raso do
comer, beber e dormir. Estamos com ele num tempo sem doutrinas e sem esperanças?
Não creio.
Ele é o personagem de Platão que
volta à caverna. Não volta para resgatar seus irmãos, não volta por queda,
volta por certa perversão. Volta para impedir que eles saiam. Quer que eles
fiquem ali presos e crendo que nada há lá fora para saber, para ver e que nada
há para além das aparências. Vive muito bem assim este jovem escritor, sem
doutrina e com aversão completa aos radicais, vive a manipular e gesticular
suas alegorias que escondem a verdade, julgando-se bom por aparências e conveniências.
Esta é uma belça demonstração do que a força do hábito faz com um espírito que
poderia ser livre
Nunca tinha visto negação tão
plena, não do radicalismo ou de uma doutrina, mas sim da reflexão sobre si
mesmo, sobre este mundo, sua ordem e suas causas. Parece que ele está a dizer como
uma personagem de si mesma “Minha caverninha querida, volto para ti não para
libertar os prisioneiros que abrigas tão pia e alegoricamente, mas para ficar e
reinar entre teus miseráveis.”
Volta ele sem nenhuma gota de fé
de que exista algo melhor lá fora, nem por um bem, nem pela queda, mas pela
perversão mesma esta que me mantém reinando e teimando em dizer que nada pode
ser diferente, nada por de mudar tudo deve ser sempre igual
eternamente....prefiro Platão à qualquer imbecil que julga que sabe pensar
somente porque sabe escrever....mas que coisa mesmo....
Ao ler isso depois, mais uma vez, após talhá-lo com este Cavernismo, fiquei pensando mais um pouco. Esta crônica
também está entremeada de outros elementos nem tão ideológicos ou
anti-doutrinários assim. Aparece nela uma espécie de frustração pessoal com
ideologias e com pessoas posicionadas politicamente, uma péssima experiência
afetiva com mulheres emancipadas pelo visto e me dá a impressão que ele
misturou ali um fúria de alguém que levou um fora com a necessidade de
espinafrar José Dirceu. O uso de Lupícinio é muito pessoal e psicológico ali.
Mas esta é somente uma parte da minha opinião também que se soma à volta às
cavernas que ele promove ali. É incrível o que uma leitura mais analítica
mostra nas entrelinhas. Sob a superfície do texto esconde-se tremenda frustração
que enuncia a perdição ideológica de uma vocação à neutralidade, é uma expressão
da má consciência diria FREUD e MARX em uníssono. A culpa é da doutrina, não da pessoa
que lhe deu o fora. A pessoa é somente egoísta, não há maldade alguma nela.
P. S.: PARTE DESTA REFLEXÃO, se deve aos estudos sobre a Caverna de Platão com os alunos na escola. David Coimbra se encaixa em um personagem perfeitamente possível ali. Aquele que volta à caverna por péssimas razões. Não é aquele que decaiu, aquele que perdeu o conhecimento que havia conquistado, não e´aquele que volta para resgatar ou libertar seus irmãos. O discurso contra doutrinas, contra radicalismos, ideologias, sonhos, idealismos e projetos coletivos que ele reapresenta ali já foi ouvido antes, é um discurso que é praticamente a voz do carrasco da nossa realidade. Aquele que não quer a mudança, aquele que não quer transformações. Aquele que desdenha dos que sonham, dos que julgam possível mudar, dos que acreditam na mudança social, individual e material da vida humana e fazem doutrinas para realizar isto. Para mim é incrível esta coincidência e também triste...porque o idiota é, no afinal de contas, bem pesadas e pensadas as coisas, ele mesmo...
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