para pensar A HYBRIS ATUAL - A DESMEDIDA - POR PIERRE AUBENQUE, no Prefácio a Edição Brasileira de A Prudência em Aristóteles. Tradução de Marisa Lopes. 2a ed. São Paulo: Discurso Editorial - Paulus, 2008, pp.7-8.
"A hybris, a desmesura - quase se poderia traduzir por imprudência, atribuindo a esta palavra toda sua força - era para os gregos a falta por excelência, causa de todas as infelicidades privadas e públicas. No início, erro, mais do que vício, mas tornando-se vício pela perseverança e obstinação no erro, a hybris era o desafio lançado aos deuses, a ambição quase risível na disputa pelo saber absoluto, a pretensão usurpada à imortalidade e, à partir daí, o desprezo pelos outros, o desdém soberano pela escolha dos meios e o cálculo das conseqüências da ação julgada boa, numa palavra, a irresponsabilidade. Sem dúvida, se reconhecerá nisso alguns traços de um passado recente ou ainda atual: a insistência ideológica, a obstinação axiológica, a arrogância tecnológica e mesmo a boa consciência moralista. A hybris não nasce da falta, mas do excesso de teoria, mais exatamente da inadequação entre a teoria e a prática. Que a teoria, mesmo a mais bem formada, não possa determinar imediatamente a prática, mesmo a mais bem intencionada, nisso reside a lição tirada da prudência aristotélica. A ação bem sucedida requer a mediação concomitantemente intelectual e volitiva que é a única que permite escolher e fazer o que Aristóteles chama o “bem factível”, isto é, não um utópico bem absoluto, mas o melhor possível num mundo contingente e incerto. A prudência é a virtude da boa deliberação, isto é, segundo a expressão de G. Vattimo, do “pensamento fraco” que, após exame refletido das diferentes opções, se inclina, embora não necessite fazê-lo, e, nessa medida, se esforça por conduzir os homens e o mundo na direção do melhor."
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