Tudo
começou em uma aula do Seminário Integrado da turma 3N2 da Escola Estadual Olindo Flores da Silva, em São Leopoldo , em que
um grupo escolheu a tarefa de produzir alguma forma de conhecimento sobre a
Copa do Mundo de 2014 no Brasil. É uma turma que eu peguei andando já tendo em
vista que acabei substituindo a professora de seminário deles. O fato é que a
abordagem inicial de alguns membros do grupo estava fixa na contraposição ou
comparação entre o Brasil fazer copa do mundo e olimpíadas e não ter um
excelente sistema de saúde. O grupo, por outro lado, não evoluía com produção e
resultados, para afinal tratar da Copa do Mundo propriamente dita ou, então,
mudar para outro enfoque que pode ser do tipo as condições do sistema de saúde
brasileiro. Ficávamos ali, durante um tempo, eu o orientador formal geral
olhando aquele rame-rame e eles repetindo a ladainha já conhecida e amplamente
divulgada por ai.
Algumas
aulas antes eu havia sinalizado com uma conjunto de razões o que o Brasil ganha
com a Copa do Mundo, em investimentos, em estádios que serão certamente
freqüentados pelo povo, em turismo, hotelaria, transporte e consumo, em
empregos de diversas categorias e, também, em infra-estrutura. Lembrei
aos alunos que tudo fica para ser usado após a copa e que os empregos são
oportunidades – ainda que temporárias, mas importantes - para muitos jovens e
para aqueles que estão se preparando para tudo isso. Houve discussão também
sobre o tema geral da segurança e as exigências da FIFA e etc. Eu perguntei
para eles no que eles estavam se preparando para a copa. Perguntei se eles tinham algum plano ou ambição e, se
eles, por um acaso, já pararam para pensar e se estavam vislumbrando alguma
perspectiva positiva para eles mesmos. Perguntei se eles já estavam estudando
outras línguas e etc. Eles ficaram me olhando meio boquiabertos e arregalaram
os olhos. Aquele reflexo da descoberta.
Mas
estes dias veio à carga de novo a questão da saúde. Eu acho esta uma das
maiores questões que nós podemos discutir mesmo em sala de aula e em qualquer
espaço de discussão. Junto com a educação e a segurança – eu posso perguntar,
concordando com as críticas ao estado brasileiro, concordando que a gestão tem
problemas em todos os níveis, concordando que faltam recursos, concordando que
falta médico e investigando porque – olha os médicos cubanos ai gente - mesmo
assim, posso e devo perguntar: mas o que o povo brasileiro tem feito pela saúde
mesmo? Posso perguntar se o povo – e me incluo nisto - tem parado de fumar, se
o povo tem parado de beber, se a alimentação deste povo é saudável, se os
hábitos e atividades são saudáveis, e etc. É uma lista grande de perguntas que
inclui, também, várias outras dirigidas aos portadores de doenças crônicas, aos
portadores de carteiras de motorista que dirigem de forma imprudente
cronicamente e – mais – etc. Por mais que eu pense nisto como um viés da
questão, acho que chegamos ao momento de começar a responder mais e melhor
estas perguntas. Não pergunto estas coisas para eximir, diminuir e esconder as
grandes responsabilidades dos governantes, mas para lembrar a nossa grande
responsabilidade neste assunto da saúde pública. Porque eu nem gostaria de mandar
você leitor investigar que está em fila de hospital ou quem está investigado
para saber que não há dinheiro que resolva a saúde pública brasileira enquanto
estas perguntas ali atrás continuarem sendo respondidas negativamente por nós
mesmos. E isto vale também para a educação e a segurança pública. Nem vou citar
a grande lista de problemas e perguntas que precisam ser respondidas pelos meus
concidadãos e concidadãs de forma positiva para que a educação brasileira de um
grande passo para o futuro e para que a segurança pública volte a ter atenção
correta de todos.
Agora
vou tratar do exemplo do amigo Bado no Facebook que resumidamente disse que se
a família de Frank Sinatra tivesse emigrado para o Brasil, o destino de Frank
seria outro. Eu disse para ele então que o que você indiretamente toca ai é
também no complexo de vira latas, agora encenado de outra forma. Primeiro, a
gente não sabe o que seria se Sinatra tivesse sido criado no Brasil ou em
alguma colônia italiana na serra gaúcha. Isso não aconteceu. Segundo, o destino
vale para todos e ele não é somente afetado por para onde você vai ou como você
vai. Parte dele depende do que você é e dos talentos que você desenvolve. E uma
outra parcela depende do seu meio e das relações que você estabelece com ele,
os conselhos que você segue ou não e os estímulos que recebe. Discordo de você.
Penso que o teu conceito de destino ai - a sorte de ir para os EUA - é somente
mais um reflexo de um complexo que o Nelson Rodrigues chamava de complexo de
vira lata do brasileiro. Poderia ser muito diferente com Sinatra, mas não há
nada que me diga ou convença de que ele não seria um grande cantor mesmo que
tivesse nascido na serra gaúcha.
Que
bom que o exemplo matinal deste complexo de vira lata, veio com Frank Sinatra
que provavelmente é o maior cantor mesmo da história da música...toda vez que
eu escuto ele fico virando a cabeça como um cachorro pra um lado e para o outro
tentando entender como ele faz aquelas coisas maravilhosas com a voz...mas devo
confessar que outro é o nosso João Gilberto...ou você não sabe disso?
Claro
que há aí um desejo negativo inconfesso de que isso não seja possível e ai
aparece aquela outra praga que o Érico Veríssimo - se não estou enganado -
chamava de espírito de caranguejos na cesta de vime. Que para ele era típico do
RS, tá todo mundo no fundo do cesto e em qualquer hipótese de um caranguejo
poder sair os demais o impedem de fazê-lo.
Nelson
Rodrigues escreveu sobre o complexo de vira-latas e disse assim:
“por 'complexo de vira-lata'
entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em
face do resto do mundo”
“o brasileiro é um narciso às
avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos
pessoais ou históricos para a auto-estima”
“por
'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se
coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”
“o
brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade:
não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima”
Lula fala do Complexo de
vira-latas e do Brasil grande: “O Brasil está vivendo um momento especial,
venceu o complexo de vira-latas, virou gente grande e tem que ser mais ousado
em sua política externa. O país deveria estar no G7, pois já é a sexta economia
do mundo. Não está porque o G7 é uma confraria. O Brasil precisa disputar em
todas as partes do mundo. Tem que ir entrando e conquistando espaço. Precisamos
oferecer à África e à América Latina uma perspectiva não-colonizadora. Para
isso, temos que ajudar a financiar as economias menores. Se não fizermos, os
chineses, os americanos e os europeus o farão”
Lula também disse que o Brasil
conquistou seu lugar no mundo com uma política internacional “que não precisa pedir
licença a ninguém”. Ele ressaltou as importantes conquistas de cargos
internacionais que tivemos nos últimos anos com a escolha de candidatos
brasileiros para a direção da Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO) e da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Ao criticar um suposto pessimismo
da imprensa, Lula afirmou que "se um investidor estrangeiro chegar de
Londres no Brasil e ler o Estadão, O Globo, a Veja, a Época, ele vai embora
correndo!". "Parece que o País acabou!", exclamou.
Lula também disse que se pergunta
"como é um grande editor de um jornal desse País, daqueles que sabem tudo,
aquele cara porreta, como é que ele compreende a geração de 22 milhões de
empregos nos anos que tem mais desemprego no mundo".??? - duvido que no
fundo ele não compreende isso...
Por fim, Lula também pode dizer
muito mais “Eu acho um absurdo que determinados setores da comunicação do
Brasil estejam exilados no Brasil. Eles não estão compreendendo o que está
acontecendo no País”, disse o ex-presidente..
Mas
vou citar a palavra da Dilma aqui:
“Acho
que nós somos umas das vozes que se erguem no que se refere a dar ao mundo uma
alternativa que não seja à desesperança e inexistência de perspectiva. Ao
contrário de muitos segmentos no País que fazem o papel de pessimistas
sistemáticos, a visão que se tem no País é muito mais realista, porque se
percebe o imenso potencial que se tem”,
disse
a presidente em evento que tinha como temática a geopolítica e a posição
brasileira no cenário internacional ocorrido em Porto Alegre.
Segundo
Dilma, uma das críticas prediletas contra seu governo tem sido sobre uma
suposta fragilidade da Petrobras, enquanto os números sugeririam o oposto. “Um
dos pratos prediletos a críticas tem sido a fragilidade da Petrobras. E aí é
extraordinário que a Petrobras, há três dias, tenha captado R$ 11 bilhões. Hoje
houve um leilão de blocos de petróleo e foram arrecadados R$ 2,8 bilhões”,
disse.
A
presidente rebateu ainda críticas sobre a infra-estrutura do Brasil para
receber a Copa do Mundo de 2014. “Diziam que os estádios não iam ficar prontos
e temos cinco estádios prontos para a Copa das Confederações. Todos os estádios
vão aparecer, todos os aeroportos, todas as obras previstas para a Copa do
Mundo”, disse.
Em
uma avaliação sobre a estratégia externa do Brasil, Dilma atribuiu a vitória de
Roberto Azevêdo para presidir a Organização Mundial do Comércio (OMC) à
política multilateral desenvolvida pelo ex-presidente Lula durante os oito anos
em que governou o Brasil.
“Roberto
Azevêdo foi eleito pelos países emergentes, pela América do Sul, pelos países
africanos, países asiáticos, países da América Central e foi eleito por países em desenvolvimento. Isso
mostra claramente a estratégia que levou o Brasil a ter uma presença no mundo.
Não foi um terceiro-mundismo, porque não se trata disso, mas uma estratégia de
multilateralismo”, afirmou
Além
disso, na Inauguração do Estádio Mané Garrincha, em 20 de maio último, ela
aproveitou para prosseguir nesta prosa sobre o complexo de vira-latas e o
derrotismo local.
Cito
aqui parte da matéria da Agência Reuters “O nome do ex-jogador chegou a gerar
polêmicas com a Fifa, entidade que comanda o futebol mundial, que queria se
referir à nova arena somente como Estádio Nacional durante a Copa das
Confederações e o Mundial do ano que vem.
"Esta
homenagem é merecida e feita na capital federal do nosso país, Brasília. É a
homenagem a um atleta brasileiro que era um gênio na arte do futebol, um grande
improvisador", disse a presidente antes de citar outro personagem
histórico do futebol brasileiro, o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues e
sua famosa expressão "complexo de vira-lata".
"(Garrincha)
tinha na imensa capacidade de jogar futebol sua arma para demonstrar para o
mundo e para o Brasil aquilo que o nosso grande cronista esportivo Nelson
Rodrigues disse que era algo que o Brasil tinha que superar, que era o complexo
de vira-lata."
Como
fez em outros momentos de seu governo, como quando anunciou a desoneração da
cesta básica e a redução nas tarifas de conta de luz, Dilma criticou os
"pessimistas de plantão, que dizem sempre que não somos capazes".
"Nós
temos superado de forma bastante radical essa atitude diante da vida nacional.
Da vida política, da vida econômica, da vida social do nosso pais." (fim
da citação da Reuters.)
Discordo
das abordagens que resumem o lugar aonde eu quero chegar com este debate como
sendo o da defesa absoluta e inconteste do PT contra o PSDB ou coisa que lhe
chegue próxima. E não tem nada de maniqueísmo nisto. Alguns estão construindo de
novo esta ideologia do vira-lata de forma inconsciente e outros fazem a mesma
coisa também de forma intencional, na busca de dividendos políticos e de
diminuendos programáticos. Toda vez que há a possibilidade de uma certa
emancipação ou consolidação de conquistas da classe trabalhadora e do povo no
Brasil acontece exatamente isto: os partidos de direita e aqueles que não estão
no poder fazem a mesma ladainha de sempre aquele discurso da terra arrasada, da
desgraceira, do desespero e do que está tudo perdido. E este discurso às vezes
gera situações favoráveis para eles reconquistarem o poder perdido, o que é o
único objetivo deles.
Aqui
em São Leopoldo ,
por exemplo, com a ajuda do senso comum de alguns foi feito exatamente isto e o
resultado já está ai para vermos: um governo do PSDB e PMDB completamente
inoperante e inábil, com amplo desacordo interno e conflito de interesses que
bloqueia a resolução de conflitos e problemas, ao mesmo tempo, que desativa
quase todas as obras e projetos que dependem da máquina pública. A redução do
horário de atendimento ao público e do orçamento municipal é um sintoma
disto.
Parece
que eles no fundo querem que este pais sempre seja dependente e submisso ou,
que para se manterem como únicas alternativas, querem que o povo pense assim
indefinidamente. É uma ideologia perversa que rebaixa a auto-estima dos
brasileiros e que fazendo isso sempre acaba botando a culpa dos problemas do Brasil no seu próprio
povo e não na elite ou nas elites. É como Raimundo Faoro caracterizava a
ideologia dos Donos do Poder, classe superior e dirigente que na hora H nunca
era a responsável por nada do que ocorria e que tratava de editar o passado com
certidão à limpo e registro cartorial atualizado. Sempre são eles os únicos
responsáveis pelo progresso a muito custo obtido e quando ocorrem atrasos a
culpa é do Zé povinho.
É
uma ideologia do derrotismo e eles lêem o que eu escrevo aqui e o que outros
escrevem aqui e ali e ficam julgando a gente de ufanista. Já fizeram isso antes
e trouxeram péssimos resultados para o nosso pais e o nosso povo. E agora
começaram a fazer a mesma coisa sistematicamente de novo. Às vezes eu imagino
que eles são os únicos que não se dão mal em cenário algum, pois independem da
democracia para tratar das suas questões e quanto menos estado o Brasil
possuir, melhor para eles, menos regulamentadas ficam as cosias que impedem a
supremacia escancarada dos seus interesses na sociedade brasileira.
E
a comparação com o discurso da UDN dos anos 50, a comparação com o
Lacerdismo que nos carregou para uma ditadura militar, contra Getúlio, contra
Juscelino, contra Jango, contra Brizola e etc, é notória.
Eu
ao contrário admiro a sociedade americana em diversos aspectos e não é esta a
questão. Mas tenho muito mais admiração pelo povo brasileiro que não foi
colônia inglesa, mas que sustentou às turras com ouro e atraso econômico o
império inglês via Portugal no séculos XVII e XVIII...como demonstrou muito bem
Eduardo Galeano no já Clássico As Veias Abertas da América Latina.
Ao
assistir o maravilhoso documentário sobre a Bossa Nova percebi que devo pensar e escrever sobre isto mais
ainda. Assim como percebi na aula do seminário que quando falei sobre este
COMPLEXO no que toca a Copa do Mundo ou as Olimpíadas no Brasil os alunos se
deram conta de outra dimensão das coisas. Perguntei para eles se eles tinham pensado
em estudar inglês ou se prepararem para de repente trabalhar na Copa Ddo Mundo?
Perguntei se os estádios novos são os estádios que eles freqüentam e se mais
segurança e melhores condições nos estádios interessava ou não ao povo
brasileiro? Não perguntei se interessava a quem não ia aos estádios ou quem não
gosta de futebol, é claro. Falei, enfim, também sobre o fato de que alguns
brasileiros ficam procurando razões para não ser...ou justificativas para não
ser...dando azo a um discurso depressivo que só mantém as pessoas reclamando do
presente e não creditando que um futuro melhor pode ser construído.
Numa
boa, eu disse aos meus alunos, esta onda ideológica tem propósito e endereço
certo....e eu sei que isso não será bom para o povo, como já não tem sido aqui em São Leopoldo. Não
dá para usar este exemplo da copa do mundo pensando em tudo isso, mas dá para a
gente pensar mais sobre o Brasil e este co0mplexo de vira-latas que precisa ser
superado sim.
Entendo
que é assim com este tipo de pensamento que a canalha vai tentar voltar a
entregar o Brasil de novo e atrasar o nosso maravilhoso destino...ou alguém
acredita que a Ditadura Militar nos salvou do grande mal?....como aqueles
tíbios ousam em falar...ao contrário foi um atraso....basta ler a pauta das
reformas de base que o Jango propôs e estava construindo...aquilo seria algo
fantástico se tivesse acontecido cara....e não tem nada de comunismo ou
socialismo naquilo...aquilo é tão comunista quanto o governo Obama propor um
sistema público de saúde para os EUA ou propor o desarmamento....ora essa...
OS VERDADEIROS COMEDORES DE
CRIANCINHAS E TORTURADORES É QUE GOSTAM DESTE COMPLEXO DE VIRA-LATAS E SE
COMPORTAM COMO CARANGUEJOS.....
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