Andei pensando sobre a relação entre o amor e a alma. E penso
nisto porque consigo perceber a relação entre a graça e a alma também. E
suponho, assim, que a principal e talvez mais significativa ação de nossa alma
seja mesmo o amor. Talvez faça uma pequena concessão apenas para a sabedoria,
mas vejo o amor em uma escala superior. Já tenho pensado com certa convicção
que a sabedoria sem o amor não é algo muito desejável. E já andei pensando
sobre os atos e também sobre os sentimentos relacionados a isto.
Também poderia pensar mais sobre a relação entre o amor e as
virtudes, em especial as virtudes cardinais que são aquelas das quais dependem
todas as demais para que os atos sejam considerados como bons. Não vejo, no
fundo, nada de original nestes meus pensamentos considerando-se o que encontro
em abundância em Platão, Aristóteles e em outros pensadores e pensadoras, mas
me saiu, por conta destes pensamentos, isto:
"o amor é a melhor medida da nossa alma"....
Que foi a versão matinal do meu pensamento, já sobre uma
versão primeira e epistolar que foi feita pensando numa retribuição e
reconhecimento carinhoso e reflexivo, a
uma bela amizade, uma forma de amizade que possuí amor, como todas as
demais amizades. Então me saiu isto:
“O amor é o medidor mais preciso do tamanho da nossa alma”
Acho, ou melhor julgo, pensando com meus sentidos e letras,
que assim fica melhor e mais claro...pois responde à pergunta qual o tamanho da
vossa alma?
E o tamanho da vossa alma talvez seja uma pergunta que
realmente só interesse a quem vos ama e sobre quem você ama. Ainda que você não
queira mesmo uma medida quantitativa, mas sim procure entender qualitativamente
esta medida, o que é uma contradição em termos.
Um escritor do século XIX que é muito mais importante disse,
em meio a um romance: que:
“A medida de uma alma é a dimensão de seu desejo.” Gustave
Flaubert
Aqui não está mais em questão um amor efetivo ou uma
disposição amorosa, mas sim um desejo e sua medida, sendo ele aqui – na visão
de Flaubert – superior ou antecedente ao amor, na hierarquia das disposições. Sempre penso que quem ama, deseja o objeto do
seu amor. E em surpreendeu muito a leitura de Fragmentos de um discurso amoroso
de Roland Barthes, justamente por isto.
E já estamos entrando nos discursos sobre o amor no século
XX. Também é importante aqui o tema do Amor Sublime.
Tal pergunta, por sua vez, pelo peso ou medida de sua alma, poderia
também ser feita pelo barqueiro Caronte para avaliar o que vai levar em seu
barco e o custo desta viagem.
Fiquei penando, portanto, em uma certa gravidade de nossa alma,
em seu peso próprio e em sua própria medida.
Um amigo acusou após ler isto que eu devia cuidar do sufoco.
E eu sorri comigo e em resposta disse que o sufoco sempre é uma questão de
cuidado...as pessoas querem menos onde precisa mais e mais onde precisa menos.
Assim, emendando a resposta, o sufoco é provocado ou pela falta de cuidado ou
pelo excesso...e sendo assim eu prefiro sempre nesta altura da vida mais
cuidado do que menos...
Escrevi que o “amor é o medidor mais preciso do tamanho da
nossa alma” pensando, na verdade, também em várias outras coisas, ao mesmo
tempo, em outras experiências e pessoas que neste meu tempo atual tem esta
dimensão de medida. Ao me dar conta
disto não fiquei pensando só na alma. Não tanto na sua relação com outra alma
em especial. Que é o modo como todos pensam no amor, ainda que sem a presença
do seu amor, mas sim no modo, no nosso modo de nos relacionarmos uns com os
outros que deve ser a principal forma de medir nossa alma.
Fiquei pensando numa disposição, numa certa forma de ser, numa
certa forma que poderia dizer de abertura para o outro, num modo que dá a nossa
medida e talvez para usar uma outra expressão a nossa afinação própria. Falei
em medida como capacidade e disposição e pensando no que torna uma alma grande
ou de alguma importância efetiva e me dei conta disto...de que só o amor mesmo
nos dá uma certa medida real das pessoas, pois que não depende nem de palavras,
nem de ações, nem de sabedoria ou precisão na ação...todo o resto deveria então
estar subordinado a isto...E não é difícil reconhecer que somente grandes
espíritos amam de verdade, amam para além dos seus, amam a própria humanidade...
E tudo começou numa reflexão sobre quais são e quem são os
espíritos criativos do nosso tempo e o que é a base de suas ações mais
originais e progressistas...A partir da leitura de um livro de filosofia para
não filósofos em que é citada uma expressão de François Mitterand de que “os
espíritos criativos são o barômetro da humanidade” usada por Albert Jacquard
para ilustrar certo aspecto que ele ia desenvolvendo. Isto, inadvertidamente me
provocou e gerou uma longa reflexão também, entre outras coisas, sobre o nosso
modo de ser no mundo e na relação como os outros...Isto é, em como percebemos
os outros e como somos capazes de compreender e reconhecer os tais espíritos
criativos que tanta diferença fazem em nossas vidas.
Havia na sua origem uma
grande dose de surpresa também com algumas poucas linhas de Gomperz sobre
Sócrates e também uma certa dose de muita metafísica que fala da raridade de
certos espíritos neste mundo, o que foi mesclada com romantismo e também com
uma boa dose de compreensão....
E eu estou pensando mesmo sobre isto...depois de tanto
Platão, Sócrates e poesia....não é muito comum me dedicar a isto, mas estou
pensando nisto por conta também da idade, das perdas, dos ganhos e de planos
sobre o que realmente importa fazer nos próximos anos...a famosa meia idade
sempre chega mais cedo em quem estuda um pouco de filosofia e se não chega ao
meu ver é porque a filosofia não é tão boa assim...agora entendo muito melhor
porque refletir sobre a ALMA é um leitmotiv clássico...a questão da
imortalidade por mais absurda que pareça de um ponto de vista materialista
também se coloca ai...nem que seja a imortalidade pela glória ou pelas suas
próprias obras e ações....claro que eu também ando lendo muitos gregos nesta
história...começando por Homero...o que seria mesmo o amor em Homero, na Ilíada
e na Odisséia? Para começarmos pro onde este peso se constituiu para nós...
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