Bom Dia...aos meus amigos e aos arquitetos e historiadores
Cícero Alvarez, Gabriela Scrinz, Maristela Schmidt, Márcio Linck, Fernando
Fert, Glaucia Peixoto....
Toda vez que vejo uma casa qualquer sendo demolida me dá uma
sensação ruim. Uma sensação que não consigo explicar. Já fiquei pensando sobre
isto várias vezes. Se era porque eu havia trabalhado em casas com meu pai
fazendo instalações elétricas e nesse mêtier pisei em canteiros de obras,
conheci casas na planta e casas reformadas, prédios novos e velhos, aumentos e
garagens transformadas. Abri canaletas, valos, coloquei eletrodutos, puxei
fios, instalei tomadas, interruptores, suportes. Participei, assim, de
reformas, construções e aprendi a cuidar muito da qualidade dos serviços. Ainda
sei trabalhar nisto e tenho certo orgulho de ter aprendido isto com meu pai.
Testei e aprendi a testar com ele, redes, distribuição de energia, disjuntores
e vistoriei conexões, troquei tomadas e etc. Aprendi a fazer um mapa mental da
instalação inteira e também a desenhar. Hoje isso aparece as vezes quando faço
desenhos de certas teorias ou esquemas de textos e uma pitadinha na lógica
também. Vi muitos pedreiros, encanadores, azulejistas, carpinteiros,
marceneiros...verdadeiros artistas trabalhando. Aprendi a respeitar muito um
trabalho manual bem feito. Vi mestres de obras, vi engenheiros, vi arquitetos
debruçados sobre plantas, vistoriando serviços. E também um dia vistoriei
serviços acompanhado por técnicos. Vi ajustes, correções em projetos, vi as
coisas começarem bem e terminarem mal, vi as coisas começarem mal e terminarem
bem. Vi coisas serem feitas e refeitas. Então de certa forma aprendi a levar
muito à sério esta atividade chamada construção que envolve a mão e a cabeça de
vários trabalhadores e técnicos. Assim, olho para cada casa como produto da mão
humana e não gosto de ver demolições de natureza alguma. Depois tive esta breve
passagem de dois anos envolvido com patrimônio histórico e, então, descobri e
conheci mais razões artísticas, estéticas e históricas para ter este
sentimento...além disso tem as razões materiais e do desperdício de matérias primas
nesta onda de demolições. Mas eu sei bem que a conta não é esta. Mas fico
sempre procurando uma razão para preservar e ou desviando os olhos de algumas
demolições que assisto contra minha vontade. Em especial aquelas de casas que freqüentei
ou casas em que me criei a observar na paisagem da minha cidade ou de outras
cidades pelas quais passei.
Dostoievski construiu um texto dando outras razões para este
preservacionismo que passo a citar aqui:
"Para mim, também as casas são velhas amigas. Quando
passeio, cada uma delas parece correr ao meu encontro na rua: olha-me com
todas as suas janelas, dizendo-me algo como isto: «Bom dia! Como estás? Eu vou
bem, graças a Deus, muito obrigada! Em Maio vão-me aumentar um andar.» Ou:
«Como vais? Amanhã vou entrar em
obras.» Ou : «Estive quase a arder e tive bastante medo.» E
outras coisas semelhantes.
Tenho algumas preferidas, íntimas. Uma delas tem intenções
de fazer uma cura, neste Verão, nas mãos de um arquiteto. Irei vê-la todos os
dias, não vá ele matá-la; nunca se sabe. Deus a guarde!
Nunca esquecerei a história de uma linda e pequena casa
cor-de-rosa claro. Era uma casinha de pedra, olhava-me com um ar tão afável e
mirava tão orgulhosamente as suas frias vizinhas, que o meu coração se alegrava
sempre que passava diante dela. Subitamente, na semana passada, ia a passar na
rua, olhei para a minha amiga e que ouço eu? Um grito dilacerante: «Pintaram-me
de amarelo!» Malandros! Bárbaros! Não tiveram piedade de nada, nem das colunas,
nem das cornijas; eis a minha amiga amarelo-canário. Quase tive, por causa
disto, um derramamento de bílis, e até agora não tive coragem para ir ver a
pobrezinha, estropiada, pintalgada com as cores do Celeste Império."
(Noites Brancas, Dostoiévski)
Abaixo uma casa preservada exemplarmente em São Leopoldo. Tirei
as fotos especialmente por conta das gateiras em 2012 que era uma necessidade
ou possibilidade de solução para as gateiras do Museu Do Rio Dos Sinos. E assim
resolvi também tirar umas outras fotos do todo. A casa pertence a um amigo.
Aquele abraço!!!
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